Eu pisquei, tentando assimilar o que aquele macho estava dizendo.
Ele havia dito que eu seria sua refém até receber o meu lobo? Mas isso seria daqui um ano! Meu rosto devia ter empalidecido, porque ele pigarreou e acrescentou:
— Se me obedecer e se comportar, não teremos problemas. Essa marca no seu pescoço indica que será uma loba rastreadora e eu preciso encontrar uma pessoa, quando fizer isso, poderá partir sem problemas.
Ele dizia tudo aquilo como se fosse um acordo irrecusável, como se estivesse me dizendo que ganhei uma bolsa de estudos ou um concurso, e eu podia ver em seus olhos que ele acreditava que estava me fazendo uma espécie de “favor”.
— Não serei sua prisioneira. Encontre quem precisa sozinho. — Foi a primeira coisa que me veio na cabeça e saiu antes mesmo que eu pudesse pensar muito sobre.
Ele franziu o cenho, então jogou outra perna em cima de mim, eu tentei me levantar, mas ele colocou uma mão em meu peito para me empurrar para trás, contra o sofá.
Ao fazer isso, minha blusa que estava completamente precária e amarrada por um laço improvisado que eu havia feito na noite anterior, se desfez.
A mão enorme e áspera de Marius tocou os meus seios e o choque dele foi mais do que estranho, ele praticamente pulou do sofá antes que eu pudesse ter uma reação adequada.
Virando-se de costas, ele gaguejou:
— Vou arranjar algumas roupas para você, mas provavelmente não vão ser femininas.
Puxei a coberta para cima, para me cobrir enquanto encarava suas costas musculosas e vi seus ombros subirem e descerem.
— Eu não precisaria de roupas se você não tivesse me sequestrado. Me deixe ir embora e prometo que quando receber o meu lobo, vou me lembrar que você me salvou e eu o ajudarei. Pode confiar em mim. — falei.
Sem se virar, Marius respondeu asperamente:
— Confiar? Eu não confio em ninguém.
. . .
Já passaram Três dias desde que Marius havia me sequestrado, ele me mantinha em um quarto com a porta e as janelas trancadas. Eu sabia quando era dia ou noite através das frestas das janelas.
Três vezes ao dia, Marius aparecia para me trazer comida e perguntar se precisava usar o banheiro, eu aceitava ir ao banheiro apenas quando não aguentava mais. Mas não havia tomado banho ainda, não me sentia confortável em ficar pelada no banheiro enquanto dividia a cabana com ele.
Marius usava uma espécie de banheiro seco, e eu não tinha ideia de para onde ia os dejetos depois, era muito desconfortável sempre tê-lo atrás da porta. O banheiro ficava do lado de fora da cabana, e eu suspeitava que ele tomava banho em um outro banheiro, perto do sanitário.
Enquanto estava sentada na cama, folheando um livro velho que havia encontrado, vestia uma camiseta velha dele e um short que tive que amarrar várias vezes para caber em mim, a porta se abriu.
Marius estava com os cabelos molhados, sem camisa e com uma bermuda gasta preta.
Ele parecia sempre tomar banho a noite, ao menos ele sempre cheirava a banho quando trazia o jantar.
Todas as roupas dele eram tão velhas assim? É claro, ele devia viver aqui escondido desde o massacre da Alcateia Lua de Prata.
Quando me lembrei de como os corpos foram encontrados, senti um arrepio percorrer minha espinha.
— Trouxe seu jantar. — ele disse, me fazendo retornar a realidade.
A comida de Marius se resumia a frutas, carne e peixes que ele pescava em um rio aqui perto. Não havia nada industrializado e eu suspeitava que ele pegava água em um poço, porque nunca se afastava muito.
Olhei para as carnes e legumes, seu rosto parecia ansioso.
Não falei nada, como sempre, e ele foi até uma mesinha perto da cama e deixou a bandeja com a comida.
Engoli em seco, enquanto sentia o cheiro de banho dele, mas não parecia usar nada como sabonete ou xampu, ainda assim, estava cheiroso.
Imaginei que ele ficava aqui sempre escondido, afinal, o rei Alfa e seus lobos ainda queriam justiça pelo massacre da alcateia Lua de prata.
Antes que ele se virasse e saísse, segurei sua mão e disse:
— Eu preciso de um banho, por favor.
Marius se virou e me olhou, assentindo.
— Vou preparar para você.
Marius saiu do quarto e minutos depois retornou, segurando um pano que parecia ser uma toalha, ele pigarreou e disse:
— Vamos?
Assenti e me levantei, acompanhando-o em direção a sala e em seguida para fora da cabana.
Caminhamos por alguns segundos para trás da cabana, para uma pequena construção de madeira. Marius abriu a porta e eu me deparei com um enorme galão de madeira em um canto com agua, um suporte de madeira com o que parecia ser potes com um liquido transparente com um aroma discreto, outro pote vazio com o que presumi ser usado para pegar agua do galão redondo de madeira.
Me virei e olhei para ele.
Marius entrou no banheiro pequeno, se espremendo entre mim e aporta, pegando um dos potes e me mostrando líquido transparente.
— Isso é sabão de saboeiro, uma planta que cresce aqui perto. Use-o, limpa bem a pele e cabelos.
Quando ele abriu ele me entregou o pote, senti o aroma discreto que estava nele e nas roupas que eu usava.
Dei um sorriso discreto e agradeci.
Quando ele não fez menção de sair, olhando para o meu rosto, resolvi me aproveitar disso.
— Eu esqueci as roupas e acho que você também. Pode pegar para mim?
Ele pareceu hesitar por alguns segundos e eu coloquei uma mão em seu ombro.
— Por favor Marius, não vou fugir.
Marius flexionou o maxilar e eu o senti estremecer com o meu toque, ele rapidamente desviou o olhar para o lado e disse:
— Espere aqui.
Assim que o vi se afastar, me virei e entrei na mata atrás do banheiro, correndo com toda a energia que havia reunido durante aqueles três dias comendo tudo que ele me dava.
Infelizmente, era uma noite sem lua e estava tudo uma escuridão, muito parecido com a noite que ele havia me sequestrado.
Continuei correndo, enquanto meu coração batia de modo descompassado, enquanto minhas pernas doíam e minha mente parecia estar como um furacão.
De repente, um trovão retumbou acima, e eu parei de correr por um instante, tentando recobrar o folego.
Se eu já tivesse meu lobo, seria mais forte que isso e não me cansaria tão fácil, poderia ver através da escuridão, mas eu ainda não tinha.
E não podia confiar nas promessas de libertação de Marius, ele havia assassinado sua própria alcateia, como eu poderia confiar em um macho que era um assassino tão sanguinário?
Meus olhos já estavam mais acostumados com a escuridão, ainda assim, estava cada vez mais difícil de continuar e eu não conseguia me lembrar qual era a trilha que ele havia usado. Eu estava quase inconsciente e de cabeça para baixo, sendo carregada por ele a força.A chuva caía ao meu redor de modo torrencial, uma tempestade retumbava acima, o som dos trovões cada vez mais alto, enquanto eu corria pela mata.— Merda, como vou encontrar o caminho de volta? — murmurei para mim mesma.Parei perto de uma arvore, me apoiando temporiamente, enquanto respirava, minhas roupas estavam ensopadas e eu começava a sentir o frio cortante. Minhas mãos estavam geladas e eu abracei a mim mesma, olhando ao redor e tentando saber para onde deveria ir. Ele conseguiria me achar? Devia ser difícil seguir o meu cheiro através dessa chuva, então eu estava em vantagem, isso se eu não estivesse perdida.Passei as mãos no rosto, tentando tirar o excesso de água, que nublava minha visão, assim que avancei,
Fiquei por um segundo paralisada quando Marius pegou o último cobertor e me ocorreu que aquele quarto já era frio demais, mas agora eu estava molhada e realmente com frio...— Você está tentando me matar! — reclamei e Marius não olhou para trás fechando a porta atrás de si. Ele realmente havia feito isso? Me manter presa molhada em um quarto frio como aquele?Senti meus olhos arderem e rapidamente limpei meu rosto, não deixando que as lágrimas descessem.Eu já devia estar acostumada em ser castigada, eu havia sido castigada e menosprezada desde que me lembro, então porque estava com esse nó na garganta agora?Respirei fundo e comecei a tirar as roupas molhadas, seria melhor ficar nua, logo meu corpo secaria e eu me encolheria no colchão velho.Quando tirei a última peça, me senti imediatamente melhor por não estar mais com as roupas molhadas grudadas em meu corpo.Mesmo assim, meus dentes ainda batiam uns nos outros devido ao frio.Fui para a cama me deitando encolhida como se fosse u
POV MARIUSQuando fechei a porta, ainda podia sentir o cheiro de sangue que vinha do quarto, que vinha da fêmea...Fechei os olhos tentando controlar o terror que senti pelos segundos que acreditei que ela estava ferida, e que aquilo de alguma forma era minha culpa. Eu a havia sequestrado, e por causa disso ela quase morreu caindo daquele barranco, mas em três anos ela era a minha melhor chance de encontrar Alissa...Respirei fundo, minha mente mergulhando no momento que sua expressão pareceu ficar surpresa com o que eu disse. “Eu não tinha permissão de ficar perto de ninguém” porque afinal eu havia compartilhado isso?As palavras haviam saído mais rápido do que eu poderia prever.Minha mente mergulhou nas lembranças do passado, me levando como se eu não pesasse nada, e de repente, eu estava de volta naquele inverno aos sete anos de idade, diante de toda a alcateia Lua de prata. Diante do Alfa e de sua Luna.Minhas pernas tremiam e eu podia ver os olhos de todos os machos e as fêmeas
POV JANE Seus braços ao meu redor eram fortes, musculosos e quentes.Não percebi que meus joelhos estavam cedendo a dor até que ele estivesse praticamente apoiando todo o meu peso com seus braços ao meu redor.Eu daria tudo para um analgésico naquele momento...Marius me olhava assustado e eu fique curiosa sobre como ele poderia ser tão inexperiente com essas coisas, mesmo sendo um macho, ele não deveria parecer tão assustado.— Você está tremendo, isso é muito sério? — ele perguntou, visivelmente preocupado.Ele me olhava com seriedade esperando uma resposta, respirei fundo e me apoiei mais em seu corpo forte e musculoso, enquanto seu rosto estava muito próximo do meu.De repente, Marius olhou para os meus lábios, mas durou apenas um segundo e isso fez com que eu me lembrasse de seu olhar na noite passada, de como havia se demorado em desviar seu olhar.Olhos selvagens, famintos.Engoli em seco, tentando afastar esses pensamentos.Pensamentos como esse não deviam ser permitidos para
Rolei de um lado para o outro na cama, enquanto não conseguia dormir.Não por causa dos desconfortos do meu período, mas porque não saía da minha cabeça sobre o que Marius dissera sobre a loba que desejava encontrar. “Alissa é uma loba especial para mim.” Ele havia dito isso com tanta confiança e tristeza ao mesmo tempo.Minha mente não conseguia parar de criar diversas explicações e cenários para isso, sobre quem ela era, onde estava, o que exatamente eles significavam um para o outro?Eu havia ficado pensando nisso a noite toda e eu já podia ver a luz fraca do sol entrando pelas frestas da janela.Eram companheiros? Não, se fossem, todos saberiam e uma coisa que eu tinha certeza era que lobos negros não tinham companheiras destinadas. A alcateia Garras sombrias, quando essa existia, tomava fêmeas a força. E eu me lembrava de Marius Blaine, ou melhor, do que diziam sobre quem ele era.Um lobo negro que surgiu na Alcateia Lua de prata, e pela generosidade do Alfa Ikenon e sua Luna,
Orfanato DelisterPOV JANEEu respirei fundo, enquanto a senhora Calister nos colocava em filas muito bem-organizadas na sala principal. A Luna da alcateia Delister estava chegando para visitar o orfanato e deveríamos estar todas apresentáveis.De repente, a senhora Calister olhou para mim, então eu soube que ela me bateria.— Mas o que significa isso Jane? — ela apontou para as pequenas manchas de café na barra da minha saia, eu olhei imediatamente para Hayley que sorria maldosamente.— Senhora Calister... — tentei explicar, mas ela desferiu um tapa contra o meu rosto tão forte que eu caí para trás.Arregalei os olhos quando vi um dente meu no tapete.— A Luna Clarisse está vindo para cá ver como eu estou administrando o orfanato e você mancha sua melhor roupa! Ah, sua órfã imunda!Hayley havia jogado seu café na minha roupa de propósito, mas a senhora Calister não se importava com isso.Ela me puxou pelos cabelos e me arrastou para fora da sala, me empurrando em direção as escadas.
Meu sangue gelou enquanto tentava cobrir meus seios com os braços.Olhei para os três machos, me encarando com um olhar de luxuria em seus olhos e engoli em seco, meu coração batia tão forte que parecia que iria explodir.Dany continuava segurando Daiane, que parecia estar horrorizada com o que estava acontecendo.— Dany, me solte. O que estão fazendo? — sua voz estava tremula.Daiane ainda não havia entendido, mas eu sim.— Eu disse, sua órfã imbecil, que haveria uma festa aqui na clareira. E vocês só vão embora quando eu e meus amigos nos cansarmos! — ele rosnou, enquanto segurava o rosto de Daiane com força.A loba já estava chorando e eu senti um ódio terrível, olhei ao redor rapidamente e vi um pedaço de madeira que poderia me servir.Caio foi o primeiro que avançou em minha direção, me abaixei e peguei a madeira, o acertei no rosto com toda a minha força, ele caiu de joelhos por causa de seu olho direito que foi atingido.Nem sequer tive tempo de ficar aliviada com isso, porque
Tudo que passava pela minha cabeça era:Ao menos ele me mataria rapidamente e eu não seria abusada.Eu estranhamente não senti medo, foi como se esse pensamento me confortasse, isso, até ouvir os gritos de horror e medo de Daiane, o que me fez despertar para o fato de que eu estava prestes a morrer, o que era bem ruim...O enorme lobo negro avançou e eu sabia que seria sua primeira vítima, já que estava deitada no chão e era a mais próxima dele, pensei em fechar os olhos e torcer para que ele me matasse rapidamente, mas não os fechei. Afinal, onde estava o meu espírito de luta? Como eu podia desistir assim tão fácil, quando tudo que fiz nos meus dezessete anos foi lutar e sobreviver, suportar todos os abusos e desprezo no orfanato. Eu morreria assim, quieta e conformada?Antes que eu pudesse colocar em prática esse pensamento, o lobo avançou contra mim, por um segundo, eu o vi olhar diretamente para mim, como se estivesse percebendo algo, ele desviou seu caminho. Eu me virei, a temp