Capítulo 5

Eu pisquei, tentando assimilar o que aquele macho estava dizendo.

Ele havia dito que eu seria sua refém até receber o meu lobo? Mas isso seria daqui um ano! Meu rosto devia ter empalidecido, porque ele pigarreou e acrescentou:

— Se me obedecer e se comportar, não teremos problemas. Essa marca no seu pescoço indica que será uma loba rastreadora e eu preciso encontrar uma pessoa, quando fizer isso, poderá partir sem problemas.

Ele dizia tudo aquilo como se fosse um acordo irrecusável, como se estivesse me dizendo que ganhei uma bolsa de estudos ou um concurso, e eu podia ver em seus olhos que ele acreditava que estava me fazendo uma espécie de “favor”.

— Não serei sua prisioneira. Encontre quem precisa sozinho. — Foi a primeira coisa que me veio na cabeça e saiu antes mesmo que eu pudesse pensar muito sobre.

Ele franziu o cenho, então jogou outra perna em cima de mim, eu tentei me levantar, mas ele colocou uma mão em meu peito para me empurrar para trás, contra o sofá.

Ao fazer isso, minha blusa que estava completamente precária e amarrada por um laço improvisado que eu havia feito na noite anterior, se desfez.

A mão enorme e áspera de Marius tocou os meus seios e o choque dele foi mais do que estranho, ele praticamente pulou do sofá antes que eu pudesse ter uma reação adequada.

Virando-se de costas, ele gaguejou:

— Vou arranjar algumas roupas para você, mas provavelmente não vão ser femininas.

Puxei a coberta para cima, para me cobrir enquanto encarava suas costas musculosas e vi seus ombros subirem e descerem.

— Eu não precisaria de roupas se você não tivesse me sequestrado. Me deixe ir embora e prometo que quando receber o meu lobo, vou me lembrar que você me salvou e eu o ajudarei. Pode confiar em mim. — falei.

Sem se virar, Marius respondeu asperamente:

— Confiar? Eu não confio em ninguém.

. . .

Já passaram Três dias desde que Marius havia me sequestrado, ele me mantinha em um quarto com a porta e as janelas trancadas. Eu sabia quando era dia ou noite através das frestas das janelas.

Três vezes ao dia, Marius aparecia para me trazer comida e perguntar se precisava usar o banheiro, eu aceitava ir ao banheiro apenas quando não aguentava mais. Mas não havia tomado banho ainda, não me sentia confortável em ficar pelada no banheiro enquanto dividia a cabana com ele.

Marius usava uma espécie de banheiro seco, e eu não tinha ideia de para onde ia os dejetos depois, era muito desconfortável sempre tê-lo atrás da porta. O banheiro ficava do lado de fora da cabana, e eu suspeitava que ele tomava banho em um outro banheiro, perto do sanitário.

Enquanto estava sentada na cama, folheando um livro velho que havia encontrado, vestia uma camiseta velha dele e um short que tive que amarrar várias vezes para caber em mim, a porta se abriu.

Marius estava com os cabelos molhados, sem camisa e com uma bermuda gasta preta.

Ele parecia sempre tomar banho a noite, ao menos ele sempre cheirava a banho quando trazia o jantar.

Todas as roupas dele eram tão velhas assim? É claro, ele devia viver aqui escondido desde o massacre da Alcateia Lua de Prata.

Quando me lembrei de como os corpos foram encontrados, senti um arrepio percorrer minha espinha.

— Trouxe seu jantar. — ele disse, me fazendo retornar a realidade.

A comida de Marius se resumia a frutas, carne e peixes que ele pescava em um rio aqui perto. Não havia nada industrializado e eu suspeitava que ele pegava água em um poço, porque nunca se afastava muito.

Olhei para as carnes e legumes, seu rosto parecia ansioso.

Não falei nada, como sempre, e ele foi até uma mesinha perto da cama e deixou a bandeja com a comida.

Engoli em seco, enquanto sentia o cheiro de banho dele, mas não parecia usar nada como sabonete ou xampu, ainda assim, estava cheiroso.

Imaginei que ele ficava aqui sempre escondido, afinal, o rei Alfa e seus lobos ainda queriam justiça pelo massacre da alcateia Lua de prata.

Antes que ele se virasse e saísse, segurei sua mão e disse:

— Eu preciso de um banho, por favor.

Marius se virou e me olhou, assentindo.

— Vou preparar para você.

Marius saiu do quarto e minutos depois retornou, segurando um pano que parecia ser uma toalha, ele pigarreou e disse:

— Vamos?

Assenti e me levantei, acompanhando-o em direção a sala e em seguida para fora da cabana.

Caminhamos por alguns segundos para trás da cabana, para uma pequena construção de madeira. Marius abriu a porta e eu me deparei com um enorme galão de madeira em um canto com agua, um suporte de madeira com o que parecia ser potes com um liquido transparente com um aroma discreto, outro pote vazio com o que presumi ser usado para pegar agua do galão redondo de madeira.

Me virei e olhei para ele.

Marius entrou no banheiro pequeno, se espremendo entre mim e aporta, pegando um dos potes e me mostrando líquido transparente.

— Isso é sabão de saboeiro, uma planta que cresce aqui perto. Use-o, limpa bem a pele e cabelos.

Quando ele abriu ele me entregou o pote, senti o aroma discreto que estava nele e nas roupas que eu usava.

Dei um sorriso discreto e agradeci.

Quando ele não fez menção de sair, olhando para o meu rosto, resolvi me aproveitar disso.

— Eu esqueci as roupas e acho que você também. Pode pegar para mim?

Ele pareceu hesitar por alguns segundos e eu coloquei uma mão em seu ombro.

— Por favor Marius, não vou fugir.

Marius flexionou o maxilar e eu o senti estremecer com o meu toque, ele rapidamente desviou o olhar para o lado e disse:

— Espere aqui.

Assim que o vi se afastar, me virei e entrei na mata atrás do banheiro, correndo com toda a energia que havia reunido durante aqueles três dias comendo tudo que ele me dava.

Infelizmente, era uma noite sem lua e estava tudo uma escuridão, muito parecido com a noite que ele havia me sequestrado.

Continuei correndo, enquanto meu coração batia de modo descompassado, enquanto minhas pernas doíam e minha mente parecia estar como um furacão.

De repente, um trovão retumbou acima, e eu parei de correr por um instante, tentando recobrar o folego.

Se eu já tivesse meu lobo, seria mais forte que isso e não me cansaria tão fácil, poderia ver através da escuridão, mas eu ainda não tinha.

E não podia confiar nas promessas de libertação de Marius, ele havia assassinado sua própria alcateia, como eu poderia confiar em um macho que era um assassino tão sanguinário?

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