A primeira coisa que Júlia notou foram as pernas longas de alguém, envoltas em botas de cano alto. A pessoa usava um casaco bege sobre um suéter de tricô branco, e na mão carregava uma bolsa Hermès cinza.Quando Amanda Azevedo viu José, seus olhos brilharam:— Bom dia, professor José!Ele respondeu com um leve aceno de cabeça:— Bom dia.Arthur logo tratou de compartilhar a novidade:— Amanda, deixa eu te apresentar: essa é a nova integrante do nosso grupo, Júlia. Ela é dois anos mais nova que você.Só então Amanda notou que havia uma pessoa nova no laboratório, seu sorriso vacilou por um instante.Antes de Júlia chegar, Amanda era a mais jovem do grupo, e todos sempre a mimavam. E não era sem motivo.Ela tinha um currículo impressionante: mestrado pela Universidade G e doutoranda na Universidade B, com uma trajetória acadêmica de destaque.Além disso, se ela conseguiu entrar no prestigiado grupo de pesquisa de José, suas habilidades e conhecimentos eram certamente de alto nível.Júlia
Amanda mal escondia sua rejeição, claramente pouco disposta a participar da conversa.O ambiente ficou tenso com sua atitude, e Arthur percebeu o clima, rapidamente tentou amenizar a situação:— Eu já fiz a previsão dos dados daquela sua pesquisa. O resultado só sai amanhã de manhã. Vamos aproveitar que está todo mundo aqui e relaxar um pouco…Arthur completou, jogando a última cartada:— Além disso, quando é que o José convida a gente para sair? Você não vai deixar de prestigiar, né?Amanda ainda hesitou por um momento, mas ao olhar para José, não pôde evitar morder os lábios. O professor estava impecável como sempre, com sua postura distante e quase inacessível, que o tornava ainda mais fascinante.Ela finalmente cedeu:— Tá bom, eu vou. Também não quero ser a chata.Arthur suspirou aliviado, mas no fundo ficou um pouco decepcionado. Só José parecia ter o poder de fazê-la mudar de ideia....Após trocar de roupa, o grupo se dirigiu ao restaurante.O local já havia sido reservado: uma
Logo os pratos começaram a chegar.Alan sentiu o aroma tentador e não pôde deixar de pegar um pedaço de frango no molho, que estava macio e suculento:— Nossa, ótimo! Faz tempo que não como um frango com esse sabor tão autêntico. Valeu a pena vir hoje.Ao ouvir isso, Arthur experimentou:— Verdade! Tá ótimo! Amanda, pega um pedaço também!— Não, estou de dieta.Arthur recolheu rapidamente o garfo, colocou a comida no próprio prato e brincou:— Então quando você não estiver mais de dieta, voltamos aqui só nós dois…Amanda revirou os olhos, claramente incomodada:— Quem disse que eu viria com você?Naquela mesa agitada, do outro lado Andressa, de bom humor, olhou para Júlia com curiosa:— Júlia, quantos anos você tem? Se você vai começar o mestrado em setembro, deve ter o quê… 22, 23 anos?Era uma pergunta casual, sem segunda intenção.Júlia respondeu com a mesma simplicidade, sem ver problema:— Na verdade, não. Eu tenho 26.Mas a reação dos outros foi imediata, todos com expressões lev
Então Andressa falou de repente:— Se for um programa integrado de bacharelado, mestrado e doutorado, até que a Universidade B oferece essa opção para algumas áreas, mas o processo de seleção é bastante rigoroso. Júlia, qual foi a sua graduação?— Bioinformática.Andressa então olhou para Arthur:— Você deve saber mais sobre isso. Esse curso oferece a opção de bacharelado-mestrado-doutorado integrado?De repente, todos os olhares, inclusive o de Amanda, se voltaram para Arthur.Arthur colocou os talheres de lado e pensou por um instante:— No plano, esse curso não oferece essa modalidade integrada…Amanda se levantou abruptamente, lançando um olhar frio para Júlia:— Com os fatos expostos, o que você tem a dizer agora?No entanto, Andressa percebeu algo na fala de Arthur:— Arthur, o que você quis dizer com ‘No plano’? Existe alguma exceção?Ele assentiu:— Sim. Todo ano, o Departamento reserva de um a dois ‘lugares com condições especiais’ para estudantes que tenham ganhado medalhas d
Isso foi muito… humilde, quase arrogante!Alan mal podia acreditar que um simples jantar revelaria algo tão surpreendente:— Então você é aquela aluna de quem a professora Larissa Neves sempre fala, a que ela lamenta até hoje? Nossa… e quem é seu orientador agora?Júlia respondeu sem hesitar:— A professora Larissa.Alan bateu palmas, rindo:— A senhora vai ficar nas nuvens com essa!Amanda ainda estava de pé, sem saber o que fazer com a expressão de superioridade que havia se transformado em puro desconforto. Ela ficou imóvel, sem saber se deveria se sentar ou continuar de pé.Felizmente, Arthur entrou na conversa, oferecendo uma saída para Amanda:— Amanda, senta-se aí. Quer que eu te sirva algo? As saladas estão aqui do meu lado, fica mais fácil para eu te passar.— Obrigada.Amanda finalmente se sentou.Arthur se virou para Júlia com uma expressão de desculpas:— Desculpa, Júlia. Amanda tem esse jeito direto de ser, mas ela não tem más intenções. Você vai ver, com o tempo vai perce
O quê?!O tom familiar, como se eles já tivessem andado juntos inúmeras vezes, talvez até morando juntos…Andressa olhava para onde o carro havia desaparecido e então, lentamente, voltou a atenção para Arthur Franco, apertando seu braço:— Arthur, eu vi isso direito?Arthur reclamou com dor:— Andressa, da próxima vez, pode se beliscar em vez de me machucar?Por que ele sempre é o alvo?Andressa respondeu, sem remorso:— Você é jovem, se recupera rápido. Um apertãozinho não vai te matar.Arthur ficou sem palavras…Alan riu, mas não disse nada, preferindo caminhar de volta para casa.Amanda já estava furiosa, e sua expressão de desconforto não poderia ser mais evidente. Sem esperar por Arthur, entrou no carro sozinha e foi embora.Arthur olhou para o chão, escondendo sua decepção.Tudo bem. Ele já estava acostumado.Ele se confortava com a ideia de que, um dia, ela reconheceria o quanto ele se importava....Enquanto isso, José e Júlia não tinham ideia da confusão deixada para trás.Já
Ao ouvir que era uma questão técnica, Andressa não hesitou em ajudar. Após entender o processo do experimento de Júlia, rapidamente deu algumas sugestões para ajustar.Amanda chegou logo em seguida e, ao ver a concentração de Júlia, revirou os olhos. Ela pensou com desdém:“Uma simples estudante de graduação… o que será que ela realmente entende?”Júlia passou a manhã toda focada no experimento.Quando olhou em volta, percebeu que os outros já tinham saído para almoçar e descansar.Ela olhou no relógio e viu que tinha uma hora e meia livre. Planejava sair para comer algo rápido e voltar logo para continuar.No entanto, ao sair pela porta, deu de cara com José, que carregava uma sacola de comida.Ele disse:— Acabei de passar no restaurante aqui embaixo e comprei uma refeição para você.Júlia percebeu que ele já devia ter almoçado, pois trouxe apenas uma porção para ela:— Obrigada.Ela foi até a sala de descanso, onde comeu rapidamente, e preparou uma xícara de café para se manter ale
Patrícia gritou:— Júlia! Conta aí, quantas vezes eu te liguei? E você não atendeu nenhuma! Já faz quanto tempo? Se eu não tivesse ligado, você ia me deixar sem notícias até quando?Patrícia estava realmente irritada, falando sem parar.Júlia olhou as chamadas perdidas e viu uma sequência enorme, todas da Patrícia.Teve algumas vezes que ela quis retornar, mas acabou se distraindo e esqueceu.Se sentindo culpada, ela se apressou a pedir desculpas:— Desculpa, esses dias eu tava muito ocupado e acabei esquecendo… prometo que vou tentar evitar isso no futuro… não, vou parar de vez!Na verdade, desde o segundo dia em que Júlia entrou no laboratório, Patrícia já sabia.Ela e José nunca foram muito próximos.Quando crianças, até se davam bem, mas depois que ele foi estudar fora, a relação esfriou.Agora, ele era o ‘gênio da física’ intocável de quem todos falavam. A distância entre eles só aumentava com o passar do tempo.Após adultos, os encontros entre os dois podiam ser contados nos dedo