Assim que Izobel nos dispensou do refeitório tratei de puxar Brenda pela mão. Teríamos que partir a qualquer momento e eu não queria simplesmente sumir sem dar uma explicação para minha amiga. Procurei chamar a atenção de Izobel e quando ela nos encarou olhei sugestivamente para ela. O pequeno aceno de cabeça dela me confirmou que ela tinha entendido, mesmo sem que eu dissesse uma única palavra. Continuei puxando Brenda pela mão até o quarto de Izobel. Eu tinha esquecido de lhe entregar as chaves e isso era uma tremenda sorte naquele momento. Empurrei Brenda para dentro do quarto e passei o trinco na porta, virando-me para ela com o coração aos pulos. Era agora.
Brenda me encarava com os braços cruzados, e seus olhos azuis me avaliavam curiosamente. Senti o toque quente de Nathaniel na ponta de meus dedos e mordi o lábio inferior. Eu não sabia exatamente o que falar e principalmente eu
— Você roubou essas roupas? - pergunto assim que nossos olhos se encontram. A noite estava fria, o vento bagunçava meus cabelos e fazia com que a barra da minha camisola se movesse com brusquidão. — As suas sim. - deu de ombros se aproximando de mim e me estendendo uma calça jeans escura e um casaco grosso e preto. — Por mais que seja tarde, não quero correr o risco de sermos vistos. Então vamos tentar nos camuflar na escuridão. - sorriu colocando as mãos na barra da minha camisola. Levantei os braços e ele puxou-a pela minha cabeça. Seu olhar se direcionou por um momento para meus seios desnudos e depois se fixou entre minhas pernas, corei ao vê-lo sorrir de lado. Eu tinha certeza de que ele estava lembrando do episódio da calcinha. — Só checando. - murmurou piscando e eu tratei de vestir a calça e a blusa apressadamente, enquanto ele ria.
O som da campainha ecoou nos interrompendo os nossos planos de continuar a brincadeira no quarto. Nathaniel se secou rapidamente e vestiu a roupa que estava jogada na sala. Ele entregou minhas roupas e eu as vesti depois de me secar. Nathaniel esperou que eu estivesse devidamente vestida antes de abrir a porta. — O que faz aqui? - a voz dele ecoou da porta. Eu me encontrava parada próxima ao corredor do banheiro, não conseguia ver quem estava ali com Nathaniel. — Olá para você também. - a voz grave ecoou. Era uma voz masculina e o dono dela logo apareceu em meu campo de visão, pois adentrou a casa sem esperar por um convite. — Ora, ora... agora consigo entender o motivo de você ter desencadeado uma guerra. - seus olhos negros se detiveram em mim por um momento. — Atrapalho algo? - sua cabeça se inclinou para o lado e um sorriso um tan
— Mas... — E vocês vão partir daqui agora mesmo! Nathaniel, você entende a gravidade disso tudo, não entende?! Não podemos proteger mais a casa, como fizemos com a sua mãe, então vocês vão ter que se esconder e... — E a Brenda?! - interrompi ele com meu coração aos pulos. Eu estava completamente apavorada com o que poderia acontecer conosco, mas eu tinha metido minha amiga nisso. Ela tinha que ser prioridade. — Ela não faz parte disso, ela não escolheu isso. — Eu já disse que irei busca-la. Eu vou tomar conta dela. - prometeu me olhando e eu assenti depois de um tempo. Tentei explicar o mais detalhadamente como era minha amiga e onde ela dormia. — Nicholas... — Nathaniel, não te
Receber a notícia de que minha melhor amiga iria embora do convento me deixou arrasada, mas eu não demonstrei. Como sempre. Embora eu tivesse somente dez anos na época em que meus pais morreram, eu ainda conseguia me lembrar deles e definitivamente me lembrava de como eles me criavam para ser uma criança forte e independente. Aprendi e engolir minha dor. O primeiro baque veio com a notícia da morte deles, me desesperei, gritei, chorei até que não houvesse mais lágrimas. Então eu me fechei no mundo, não falava, não brincava, não respondia ninguém. Minha família, ou melhor, meus parentes conviveram com isso durante alguns meses, mas logo depois me jogaram nesse fim de mundo que chamamos de convento. Eu era somente a garota estranha, a que não falava ou brincava com ninguém, até que a Rose chegou. Não sei se ela se lembra do primeiro dia em que nos conhecemos de verdade, mas eu sim. Estava
— Acho que ficará mais fácil se eu te começar desde o início, desde antes de eu nascer. - sua voz ecoou melodiosa e eu vi seus olhos vermelhos se focarem para frente. Nathaniel estava virado para a televisão, mas seus olhos não a miravam, eles estavam longe, perdidos em seus mais profundos pensamentos. Observei-o encostar seus cotovelos em sua coxa e entrelaçar seus dedos embaixo de seu queixo. — Segundo Nicholas, minha mãe apareceu aqui no bar dele em busca de emprego. O bar do Nicholas não está escondido aos olhos dos humanos, mas mesmo assim só entra quem sabe da existência, pois por conta da clientela Nicholas lançou um feitiço no bar para manter humanos desavisados longe. Mas com a minha mãe isso não funcionou. Ele acha que o desespero dela em arrumar algum trabalho era tanto, que ela passou por cima dos avisos de perigo que o corpo automaticamente manda quando estamos por perto. Algo do tipo que aconteceu com você. - ele sorriu mini
— Por favor... - sua voz saiu baixinha e ela se inclinou no sofá, imitando a pose de Nicholas e encarando-o atentamente. Olhei para Nathaniel e o mesmo deu de ombros. — E eu não estava apaixonado pela Louise. - ele rolou os olhos encarando-a. — Ela era uma pessoa incrível e não foi difícil de encantar até o mais terrível dos monstros. E nesse caso eu estou falando de Lúcifer. - ele riu e dessa vez foi Nathaniel quem rolou os olhos. Observei meu demônio favorito fechar os olhos e encostar sua cabeça no encosto do sofá, como se não se importasse com a história, pois já tinha escutando-a muitas vezes. Eu, por outro lado, estava atenta a cada palavra que saia da boca de Nicholas. — Ela já sabia do nosso mundo e ele já sabia dela e ajudou nessa parte, permitindo que ela vivesse e continuasse com a sua vida, mesmo sabendo da gente. Demorei para perceber que ele estava interessado nela, pois L
— O que quer saber, Brenda? - seus olhos me avaliavam curiosamente e eu senti meu rosto ir esquentando a medida em que um sorriso malicioso se abria em seu rosto. — Pode esquecer! Não... - gritei por cima de suas gargalhadas histéricas e não me aguentei, quando vi eu estava gargalhando junto. — Por Deus! Como pode ser tão safada assim? — Você que me aparece com um demônio, bem gostoso por sinal, e eu que sou a safada? - me perguntou entre os risos e eu lhe taquei um travesseiro na cara. — Ai, doeu cretina! E seu chifrudo é gostoso, está bem servida amiga. - tive que rir da sua cara maliciosa. — E o Nick? Cara, a Frozen não fica atras não, hein... — Olha, dona Brenda você está me saindo uma bela de uma safada. E você que tem que me contar algo, pois eu estou vendo a senhorita com uma blusa masculina. E eu posso jurar que é do Nicholas.
— Alo? - minha voz estava ofegante ao atender.— Por que está ofegante? Aconteceu algo? - a inconfundível voz de Nicholas soou do outro lado da linha e eu rolei os olhos.— Não aconteceu nada! Eu só corri para atender ao telefone.— Já podemos voltar? Nathaniel está enchendo meu saco. - sorri sozinha ao escutar aquilo e ouvi ele xingar Nathaniel do outro lado. — Ok, ok ele não está enchendo o saco. - ri ao ouvir a voz dele. — Dá para parar de fogo?! Boiola...— Alo, Rose? - sorri como uma boba ao ouvir a voz de Nathaniel do outro lado da linha. — Conversou com a sua amiga? Estamos perto e... eu não queria deixar voc&ec