Eu acordei atordoado, meu corpo estava dolorido e o frio da noite me fazia tremer mesmo com a jaqueta. Foi só então que me dei conta do que tinha acontecido, adormeci ali, em cima da grama ao lado da lapide de Isabella. Me ergui sentindo os músculos reclamarem, eu não bebi, ainda estava mantendo a promessa que tinha feito a Isabella anos depois de sua morte. Eu sei que poderia parecer patético, mas não tive outra alternativa depois de todo o estrago que causei, se ao menos tivesse destruindo apenas minha vida, não teria problema em continuar, mas feri pessoas próximas a mim. — Tudo bem ai filho? — a voz grave e calma me fez girar nos calcanhares em alerta. Moisés, um dos coveiros que costumavam fazer o turno da noite. O homem branco e de cabelos grisalhos andava quase curvado, um problema nas costas, ele já tinha me contado sua história. Mesmo que a vida não fosse gentil com ele, Moisés escolheu tratar as pessoas com gentileza, tinha perdido a conta de quantas vezes ele tinha me e
Sean tagarelou o caminho todo sobre o Jack, eu finalmente tinha alguém que podia me contar mais sobre o homem misterioso. Ele falou sobre como ele era quando criança, do humor ácido do amigo e o fato deles serem primos. Quando chegamos no hospital Sean entrou na frente e eu consegui ter um vislumbre de como era o estado de Jack. Já sabia que ele tinha passado por uma cirurgia, mas ele parecia horrível, o gesso no braço, faixa na cabeça e a lateral do corpo toda rasgada pelo asfalto, ele estava realmente aparecendo com alguém que tinha sido atropelado por um caminho. — Oi vizinho tarado. — cumprimentei e sorri pra ele, dando o meu maior sorriso. — O que você está fazendo aqui? — ele falou com tanta duvida, que eu dei um passo para dentro pensando que talvez a batida na cabeça tivesse sido pior do que imaginaram. — Sean você não me disse que ele tinha ficado com sequelas. — murmurei me aproximando e toquei seu braço, estava cheio de fios, mas o toquei com cuidado não acreditando que
— Porra! — soquei a cama sem me importar com a dor física, era melhor do que lidar com meus pensamentos novamente. — Enfermeira! Aquilo não estava certo, eu tinha dito a mim mesmo que estava indo para casa e que pediria desculpas a ela e quando ela esteve aqui eu só a coloquei para fora. — Sim senhor? — a mulher falou da porta, mas eu já tentava me mexer, tentando sair daquela cama. — Ei, não pode se levantar. — Preciso alcançar a mulher que acabou de sair daqui! — a mulher me segurou firme pelo braço, me impedindo de ir longe. — Posso fazer isso pra você, mas não saia dai! — ela falou com força e eu parei de me mexer, deixando que ela saísse da sala e fosse atrás de Alicia. Ela merecia mais do que isso, um pedido de desculpas para começar e que eu conversasse direito e lhe explicasse tudo o que estava acontecendo comigo. Talvez eu não conseguisse contar sobre meu passado, mas ao menos uma explicação para amenizar nossa situação atual, já era um começo. — Olha ela aqui! — a voz
Me mexi na cama, sentindo um corpo firme e quente em baixo de mim, me aconcheguei mais com a brisa fria. O braço forte se enroscou contra minha cintura e eu não consegui evitar de suspirar contra o peito dele. Não sei bem em que momento, eu tinha pegado no sono durante a tarde, enquanto assistíamos a um filme bobo na televisão. Mas não era uma boa ideia estarmos assim grudados e ao mesmo tempo eu não queria sair dali. O quarto estava envolto em uma penumbra escura, o que dizia que provavelmente já era noite. Eu deveria ir embora, Julia ficaria preocupada por não me ver em casa e não ter nenhum recado, mas ainda não estava preparada para sair dali. Senti os dedos de Jack se mover em minhas costas, traçando padrões, contornos em minha pele que me arrepiavam. — Eu sei que você está acordada. — ele murmurou contra meus cabelos, mas continuei imóvel. — Está tentando me evitar? — Não, só estou com preguiça de me levantar. — menti na cara dura, estava apenas não querendo quebrar aquele
Alicia foi embora e eu continuei a remoer o nosso beijo, aquilo não deveria ter acontecido, eu disse a mim mesmo que íamos ser amigos, que ela merecia um pedido de desculpas e ser tratada como uma rainha. Mas na primeira aproximação não consegui resistir e a beijei. Eu não sabia se agradecia a Sean por ter interrompido aquilo, ou se o acertava na cabeça, porque algo entre o nosso beijo e a sua aparição fez com que ela corresse para longe de mim. Mas o que? O que teria passado pela cabeça de Alicia? Porque ela iria embora depois de ter concordado dormir aqui comigo. — Oi Casa Nova. — Sean chegou já me irritando com a voz. — Sua garota está segura em casa. Se bem que parecia bem escura a casa e tal... — Ela não é minha garota. — as palavras soaram estranha até para os meus ouvidos. Mas era a verdade, Alicia não era minha garota e eu não podia fazer nada contra isso. — Você disse que a casa estava escura? Não tinha nenhum carro na frente da casa? Sean jogava as mochila no chão e se
Naquela noite a tempestade não deu trégua, a chuva assolava o mundo lá fora enquanto meus pensamentos assolavam minha mente. Eu não conseguia dormir, depois de tomar um banho quente e jantar eu finalmente liguei para Julia e descobri que ela estava presa na fazenda, aparentemente uma árvore tinha caído na estrada, mas a respiração descompassada dela podia me dizer que havia algum outro motivo para ela não ter voltado pra casa. Fosse qual fosse o porque dela precisar dormir na fazenda eu só ficaria sabendo no outro dia. Me deitei sozinha e com a cabeça cheia, queria Julia aqui para poder conversar com ela e tentar esclarecer minha própria cabeça. Tudo estava uma confusão e eu não sabia se era efeito dos hormônios ou de Jack, ou um combo dos dois. Julia provavelmente me diria que eu deveria procurar outra coisa para ocupar minha cabeça, como por exemplo meu problema de falta de dinheiro ou meus bebês. E ela com certeza estaria certa, mas depois da forma como ele falou com aquele méd
Já tinha guardado a foto do ultrassom na carteira quando Sean voltou algumas horas depois, ele parecia mais calmo e eu agradeci por não dizer mais nada, eu ainda estava processando as palavras dele, a ideia de que eu pudesse ter uma segunda chance na vida era bonita, mas muito irreal, uma pessoa como eu não merecia isso. Peguei no sono pensando em Alicia, no beijo que trocamos e se ela estaria bem sozinha em casa, com aquela tempestade. Ao menos os remédios para dor me fizeram cair rápido em um sono profundo. — Acoda papai, acoda! — A mamãe tá chamando! Vozes infantis invadiram meu sono e eu me remexi na cama, sentindo mãos pequenas sacudindo meu corpo. Abri os olhos a tempo de ver duas cabeleiras castanhas correndo para fora do quarto. Os passinhos pezinho correndo no chão de madeira ecoaram no corredor e eu me ergui da cama, ainda um pouco tonto de sono. — Eu vou pegar vocês! — gritei apanhando uma blusa qualquer, vestindo já enquanto corria para fora de lá. — É bom vocês se e
Eu tinha entrado em pânico quando vi todas as fotos naquela caixa, Jack e a esposa rodeados por uma grande família, era uma vida totalmente diferente, algo que não víamos no Jack, nem mesmo aquele sorriso largo e os olhos brilhando de felicidade. Por isso eu não consegui ir até o hospital naquele dia, não tinha a menor condição de encará-lo de frente e fingir que não sabia de nada, agir como se nada realmente tivesse acontecido não era algo que eu conseguiria fazer. Passei o dia com Julia, tentando esquecer que sabia da história de Jack, mas até ela não conseguia deixar pra lá, falando o quanto não sabia de nada da vida dele, mesmo que fosse vizinhos há tanto tempo. Eu não podia dizer que estava surpresa de não saber absolutamente nada dele, sempre que estávamos juntos Jack fazia todo o assunto ser sobre mim e a minha vida, nunca falava sobre si mesmo. Acho que estava na hora de mudar isso. Foi com esse pensamento em mente que eu fui no dia seguinte até o hospital, eu já tinha uma