Sabe aquelas decisões que marcam nossas vidas para sempre? Eu tinha tomado uma dessas, precisei largar meu marido e ir morar com minha melhor amiga em uma cidadezinha perdida no mapa.
Estava começando a acreditar que o amor não era para mim, meu segundo casamento e estava acabado assim como o primeiro.
Bruno foi meu primeiro amor, namoramos na escola, ele foi meu primeiro homem e nos casamos assim que acabei o ensino médio. Mas as coisas ficaram ruins, rápido de mais.
Depois de alguns anos eu conheci Paulo, mais novo que eu e me fez cair de amores por ele rapidamente, não nos desgrudávamos, o homem era maravilhoso em todas as áreas da vida. Mas quando descobri a gravidez alguns meses atrás ele surtou, disse que não estava pronto para ser pai e que tinha outros planos para nós dois, me implorou que eu fizesse um aborto e quando me neguei ele alertou que não estaria lá para cumprir seu papel.
Eu tinha deixado meu emprego como paisagista, entrado na merda da ideia dele de ficar em casa e deixar que ele cuidasse de mim, também vendi minha casa. Eu não tinha nada, precisei até mesmo vender meu carro para ter algum dinheiro para me manter, afinal ninguém queria contratar uma mulher grávida.
Quando Julia ficou sabendo do que estava acontecendo não hesitou em me chamar para morar com ela, minha amiga era veterinária nas fazendas dessa cidade pequena, tão pequena que mal aparecia no mapa: Santa Maria.
— Nem acredito que você chegou! — ouvi seu grito ecoando na rodoviária vazia.
— Nem eu acredito que consegui achar esse lugar!
Nossos corpos se chocaram e nos agarramos em um abraço apertado, matando a saudade, não nos víamos há seis meses.
— Você vai adorar essa cidade, é pequena sim, mas as pessoas aqui são maravilhosas. — ela se afastou por um momento e encarou minha barriga. — Como está nossa princesinha ou principezinho?
— Crescendo a cada dia e me deixando faminta.
Minha barriga ainda estava plana, ninguém que me olhasse diria que eu estava grávida, mas ainda sim ali estava eu.
— Vem, eu vou te mostrar tudo. — ela pegou meu braço e saiu me puxando pela rua, até seu carro. — Eu vou precisar trabalhar amanhã, mas prometo que final de semana vou te mostrar a cidade toda.
— Você não tem que ficar comigo o tempo todo, já fez muito me ajudando nesse momento, nem sei o que seria de nós dois sem você.
— Não tem que me agradecer por isso, você faria o mesmo por mim.
Ela me levou até sua casa, aquela de tipo perfeito de filme americano, com cercas brancas em volta do quintal, a casinha amarela e as janelas brancas. Era perfeito, o que eu teria sonhado para minha família.
Bem agora seria uma família, família de dois, mas ainda sim era uma família.
Entramos em casa e Julia não parava de tagarelar sobre o que faríamos no dia, ela tinha planos de almoçarmos e ir até o centro, dar uma volta nas lojas e a noite ela me levaria para conhecer o point mais badalado da cidade.
— Inferno! Eu ainda vou matar esse infeliz. — Julia gritou olhando o celular e por um segundo pensei que ela iria jogar o aparelho no chão.
— Tudo bem ai?
— Meu chefe é um pé no saco, tirei o dia de folga para te receber e ele decidiu agora que precisa de mim. — ela rosnou.
— Está tudo bem, pode ir eu vou ficar bem.
— Amiga, eu tirei hoje pra ficar com você, era o seu dia...
— Julia. — a interrompi, ela parecia um trem desgovernado, falando sem parar. — Eu vou ficar bem, consigo me virar. — me aproximei dela e segurei seus ombros. — Vai até lá e trabalha tranquila, quando você chegar vamos nos enturmar. Vou aproveitar para descansar um pouco.
Ela suspirou sabendo que não tinha escolhas e pegou a bolsa que tinha largado no sofá.
— Tem comida na geladeira, o almoço está pronto e eu volto assim que aquele pé no saco me liberar.
Eu sai com ela, a acompanhando até o portão, Julia cruzou o a cerca e entrou no carro acenando para mim. Eu assisti ela ir embora e fiquei aproveitando um pouco mais os raios de sol.
— Ei querida, pronta pra botar pra quebrar essa noite? — ouvi a voz masculina gritando do lado direito e me virei a tempo de ver um homem, fechando a porta da casa ao lado. — Não vejo a hora de ver esse quadril balançando.
Eu era a única pessoa ali na rua, ainda olhei em volta, me certificando que não tinha alguém na rua, ou o idiota poderia estar falando no telefone.
— O que você disse? — respondi e ele rapidamente se virou.
O homem alto e loiro, me encarava do primeiro degrau da sua varanda, seus olhos azuis se arregalaram e ele deu um sorriso nervoso.
— Perdão, olhei de relance e jurei que era a Julia. Não sabia que ela tinha visita em casa.
— Entendi. — me virei dando a volta, em direção a casa.
Julia tinha que ter um vizinho tarado assim? Ia conversar com ela sobre isso, porque aquela safada não tinha dito que estava pegando o vizinho?
— Sou o Jack! — ouvi a voz ainda mais perto e quando olhei ele estava debruçado sobre a cerca. — E você?
Semicerrei os olhos encarando o homem enxerido, ele estava vestido com uma jaqueta preta e, apesar do calor, ele parecia não se importar de estar vestido todo de preto.
Ele esticou a mão e ficou esperando que eu voltasse o caminho para apertar sua mão. Não pude deixar de notar as pontas dos dedos escuras, algo como graxa entre as unhas.
O ousado sacudiu a mão, lembrando que estava ali pendurado esperando que eu fosse até ele.
— Sou Alicia. — murmurei desviando o olhar da sua mão, para seus olhos.
O sorriso estampado em seu rosto, me dizia que ele estava se divertindo as minhas custas.
Subi os degraus e entrei em casa, antes que pudesse fechar a porta ele gritou:
— Foi um prazer conhecê-la! — esse Jack não tinha noção mesmo.
Peguei meu celular no mesmo instante e enviei uma mensagem para Julia, perguntando desde quando ela estava ficando com o tal de Jack e porque eu não estava sabendo de nada.
Ouvi o ronco do motor alta e não me segurei, me curvei contra a janela e vi ele sair em uma moto potente. Ele tinha acabado de despertar toda a vizinhança silenciosa.
— Maluco. — resmunguei ainda grudada no vidro, antes de voltar a realidade.
O sol já estava alto quando levantei da cama, fiz meu ritual habitual, banho, momento de contemplação, café e oficina. Eu já tinha acostumado com meus dias sendo sempre iguais, eu fazia as mesmas coisas e não tinha do que reclamar, minha vida era calma finalmente e eu estava feliz com isso. Mas hoje quando sai de casa e soltei uma gracinha, jurando que a mulher que vi de relance no quintal vizinho era Julia, meu mundo foi abalado. Os cabelos castanhos, ondulados, brilhavam ao sol, assim como seus olhos claros, isso me fez perder um minuto observando ela, que parecia até mesmo uma miragem. Julia tinha me dito que uma amiga viria morar com ela por esses dias, mas tinha esquecido de mencionar que a mulher era terrivelmente gata. A pele branca marcada pelas sardas em evidência, principalmente quando ela ficou irritada com meu comentário. Agora quando a mulher se virou completamente em minha direção foi realmente covardia, não sei se encarei mais sua comissão de frente ou de trás, porqu
Eu deitei querendo dormir como pedra aquela noite, mas não pude negar que meus pensamentos ficaram vagando para o vizinho safado dela. Jack era lindo, mas não era isso que chamava minha atenção, ele tinha uma áurea de mistério, algo muito bem escondido. Aquelas tatuagens que se perdiam onde começava sua jaqueta, mas que de certa forma eu sabia que havia uma infinidade delas debaixo de suas roupas. Meu corpo se esquentava apenas em pensar em como deveria ser o corpo dele pelado e repleto de desenhos, padrões e cores. Mas me repreendi por isso, não devia ficar fantasiando com homens a essa altura da vida, foi por causa disso que acabei onde estou hoje, grávida, desempregada e sozinha. A única coisa que eu não me arrependia era de ter meu filho, sempre sonhei em ser mãe e nenhum macho babaca me tiraria o prazer disso. Continuei com os pensamentos incessantes, parecia que a madrugada era o melhor horário para se pensar sobre a vida e os problemas, porque eu simplesmente não conseguia d
Eu deveria me afastar, deveria ter feito o que falei para Julia e me manter distante, apenas cuidando dela de longe. Mas ali estava eu, com a mão estendida esperando que ela aceitasse meu convite para almoçar. Alicia parecia relutar, um briga interna acontecia, dava para notar pelo seu olhar. Mas o lado perverso dela deve ter ganhado, porque ela deslizou a mão delicada e macia sobre a minha e eu senti uma corrente atingir meu corpo. Seus olhos se arregalaram levemente e isso me deu a confirmação de que não fui o único a sentir, ela começou a recuar com a mão, mas fui mais rápido e segurei firme em seus dedos. Ela não ia escapar tão fácil assim. — Vem, vamos almoçar. — fiz minha melhor expressão de quem não sabia o que estava acontecendo e a puxei comigo. O restaurante Casa di Nonna era o melhor daqui, eu torcia para que Alicia gostasse de comida italiana. Andamos em silêncio até o fim da rua e eu apontei o lugar para que ela entrasse na frente, depois que escolhemos uma mesa eu p
As coisas estavam ficando cada dia mais complicadas, eu precisava começar a fazer o pré-natal e não tinha um convenio mais, o dinheiro estava quase acabando e não tinha nem ideia de quando poderia arrumar um emprego. Isso sem falar do vizinho irritantemente sexy, que agora perturbava meus sonhos. Jack não tinha se contentado em ser apenas o vizinho safado, agora habitava em meus sonhos. Meu único refúgio, o lugar onde eu podia esquecer toda essa bagunça da minha vida, era na internet, estava criando o habito de postar coisas do meu dia a dia no instagram, não era nada agitado, mas de uma forma estranha eu estava ganhando seguidores. Como aquilo me mantinha longe de pensar besteiras eu estava unindo o útil ao agradável. Mas eu precisava reagir, estava na hora de fazer algo e retomar as rédeas da minha vida. Começando por achar um hospital. Julia tinha levado o carro para o trabalho, então eu decidi andar até o centro novamente, apenas com o GPS me mostrando o caminho até lá. Eu se
A última coisa que imaginei quando levantei da cama essa manhã, era que aquela beleza de mulher entraria na minha oficina hoje, pior ainda que eu iria estar em um hospital, esperando com ela a consulta com a ginecologista. Mas ali estava eu, sentado na sala de espera gelada, com aquele cheiro horroroso de hospital que me dava calafrios. Sempre odiei hospitais, mas não ia deixá-la ir sozinha em uma consulta tão importante. Julia com certeza não sabia o que a amiga tinha ido fazer sozinha, do contrário teria mandado Levi se foder e faltado ao trabalho. A atendente foi gentil, mas isso não era novidade em Santa Maria. Aparentemente a ginecologista estava com horário vago hoje e ela conseguiu encaixá-la, era bom que eu estivesse aqui, do contrário Alicia estaria fazendo sua primeira consulta sozinha. Após alguns minutos de espera finalmente nos levaram para a sala, ela conversou com a doutora, falou tudo sobre como descobriu a gestação, respondeu a uma série de perguntas, algumas um t
Eu ainda estava em estado de choque, gêmeos era a última noticia que eu esperava receber a essa altura do campeonato. Se meu estado de mãe solteira, desempregada e sem um tostão no bolso, já era preocupante para um filho, imagine agora que descobri que são dois. Julia estava tentando me fazer ver pelo lado bom e eu agradecia a ela, tinha certeza que Jack havia ligado pra ela assim que chegamos em casa, era a única explicação para ela ter chegado ali tão rápido. — Vai ser tudo em dobro, o que significa que a felicidade também vai! Ela estava tentando me ajudar, mas eu só conseguia ver pelo lado racional da coisa, eu não tinha dinheiro para suprir os gastos de gêmeos. — Eu só estou preocupada com tudo, você sabe o quanto uma criança gasta. — murmurei tentando não começar a fazer as contas na minha cabeça. — Nós vamos dar um jeito, prometo. — ela segurou minhas mãos, me confortando. Não era justo com ela, não era justo que Julia me sustentasse, já era um grande favor o que estava f
Eu nem podia crer que tinha realmente falado aquilo a ela, se Julia tivesse escutado provavelmente teria pedido minha cabeça, mas eu não pude esconder a verdade, ela já era uma tremenda gostosa e dançando com aquela roupa colada, não me ajudou a ser discreto.— Senhor Jack, é melhor parar com isso, ou vou acabar acreditando nas suas palavras e achar que realmente que me levar para sua casa.Alicia estava com os cabelos bagunçados, a pele brilhava depois de toda a dança na pista, não sei como, mas ela estava ainda mais tentadora.— E quem disse que não estou falando sério? Pensei ter deixado claro o quanto te achei linda desde que chegou aqui.Eu deveria parar, levar aquele flerte na brincadeira poderia ser bom por hora, mas não me impedia de ter uma ereção dolorida quando voltasse para casa.— Haha, muito engraçado. — ela debochou, mas eu vi em seus olhos a fagulha do desejo. — Não sei se esqueceu do que viu essa manhã, mas estou carregando gêmeos.— Não, não esqueci de nada. Se engan
A luz que entrava por minha janela me dizia que o sol já tinha raiado, mas eu ainda não tinha nem pregado os olhos.Depois que cheguei do bar com Julia, me joguei na cama, jurando que conseguiria dormir e não pensar em nada, mas não tive sorte.Precisei levantar e tomar um banho e ainda sim eu conseguia sentir o cheiro do perfume dele em mim.Jack tinha ferrado com a minha cabeça, falando aquelas coisas, eu sei que tinha pedido para saber o que faria comigo, mas é aquele ditado: a curiosidade matou o gato. No meu caso a curiosidade me impediu de dormir a noite, me revirei no colchão o tempo todo.Como se para me lembrar de que a minha insônia estava na casa ao lado, o ronco do seu motor ganhou vida na rua. Peguei meu celular na mesinha de cabeceira e vi a hora, eram quase nove, com certeza era a hora dele sair para trabalhar.Foi aí que tive a ideia mais louca de toda a minha vida, cliquei no seu nome e liguei. A chamada tocou duas vezes, antes que ele atendesse.— Desculpa se te acor