Lucas Park Desde que havia retornado, não consegui descansar nem por um segundo. Sempre tinha aquela sensação de que, no momento em que baixasse a guarda, tudo iria desmoronar. Por essa razão, sempre me mantive em alerta, pronto para atacar a qualquer momento. Mas, naqueles minutos junto a ela, me permiti baixar minha proteção e deixá-la entrar. Quando li aquela mensagem em meu celular, não pude deixar de amaldiçoar o momento em que permiti que aquela pessoa entrasse em minha vida. Era como um lembrete de que eu jamais poderia deixá-la para trás novamente, nem mesmo poderia confiar sua segurança a outra pessoa, nem mesmo a Jullian. Ele não seria capaz de protegê-la dessa vez. Não sabia sequer se estava ao meu alcance. Aquelas palavras eram, antes de tudo, um ultimato. Ela comprometeria tudo pelo qual estive lutando durante toda a minha vida, e além disso, comprometeria todo o legado dos meus pais, assim como o legado do velho John. Eu conhecia Gabrielle o suficient
Lucas Park Senti meu coração bater tão forte quando desliguei aquele carro, e a cada passo em direção ao pequeno bar onde Jullian me esperava, parecia me aproximar mais da minha condenação. Aquele lugar parecia mais uma velha casa, com todo o seu exterior coberto por trepadeiras. As janelas estreitas me permitiam ver as luzes acesas lá dentro, mas não era o suficiente para verificar se havia muitas pessoas. Era irônico como um lugar tão tranquilo, que mais parecia ter saído de um conto de fadas, abrigava a conversa que poderia trazer meu maior pesadelo à realidade. As trepadeiras, o cheiro da madeira e o calor da luz pareciam zombar da tempestade dentro de mim. Quando entrei pela porta, notei que Jullian me esperava, sentado na bancada a poucos passos. Cada passo ecoava como um martelar, um lembrete de que eu estava caminhando para algo que não tinha volta. Meus dedos formigavam, e um suor frio descia pela minha nuca enquanto eu tentava ensaiar mentalmente o que dizer a Jull
Lucas Park ― Ela só está se divertindo, não leve a sério ― disse ele, me encarando. Então, me lembrei do que Leslie havia dito a ele durante aquela discussão após a festa. Era com ele que Gabrielle esteve durante os dias em que fugiu de mim? Eram tão próximos que ela passou vários dias em sua casa? Qual era o nível de seu relacionamento? Senti a raiva consumir todo o meu corpo. Apertei o copo com tanta força que toda a cor sumiu dos meus dedos. O som do vidro rangendo sob a pressão dos meus dedos parecia ecoar dentro de mim, cada músculo do meu corpo tenso como se estivesse prestes a explodir. Minhas narinas inflaram, e o ar parecia insuficiente para acalmar o turbilhão dentro de mim Se ele estivesse na minha frente naquele momento, eu o mataria com minhas próprias mãos. Jamais poderia permitir isso; eu não conseguia nem mesmo pensar na possibilidade de ter alguém a tocando. Gabrielle era a mulher da minha vida, e não havia nenhuma possibilidade de eu aprovar qualq
Lucas Park Foi como se um buraco negro se abrisse em minha mente, e tudo o que estava nela segundos atrás fosse sugado para o nada, deixando apenas um vazio. Enquanto eu encarava Jullian incrédulo com sua sugestão repentina, ele me olhava com ternura e divertimento. Minhas mãos ficaram frias, meu estômago se revirou, e por um momento, achei que não conseguiria respirar. Jullian realmente achava que era tão simples assim? Eu traí John. E agora, a única coisa que parecia poder reparar esse erro era algo que eu mais desejava – mas que, ao mesmo tempo, me aterrorizava. Era como se a chance de ser feliz estivesse condicionada à minha própria traição. ― Por que está me olhando assim? Eu disse alguma coisa errada? ― perguntou ele, ainda rindo ― Não posso acreditar que não tenha pensado nisso milhares de vezes. Ele estava certo, eu pensava nessa possibilidade todos os dias, na verdade, várias vezes ao dia. Era o único sonho que nutri em toda a minha vida. Era meu maior des
Gabrielle Era primeira vez em muitos anos, eu teria um domingo de folga. Não tinha nenhuma feira, nenhuma reunião ou qualquer evento social que Jullian me obrigasse a frequentar. Aquele dia seria incrível, estava decidido. Depois de longas semanas de trabalho, finalmente eu iria descansar. Confesso que não tinha grandes planos para aquele dia, mas qualquer coisa seria melhor do que ter que aguentar pessoas chatas me enchendo de perguntas das quais eu sempre me esquivava. No momento, meu maior problema seria me esquivar do meu novo cão de guarda, que me aguardava no andar de baixo. Enquanto descia a escada, um cheiro nostálgico invadiu o ambiente, e antes que eu pudesse chegar até a cozinha, já sabia do que se tratava. Foi uma cena deliciosa. Em momentos como aquele, eu me perguntava o motivo de não termos câmeras na cozinha. Eu adoraria rever aqueles minutos. Lucas estava sentado à mesa, comendo cookies recém assados, concentrado. Durante vários anos, Lucas monopolizou
Gabrielle Quando a porta se abriu, fui tomada pelo cheiro doce do seu corpo, que cheirava a sabonete de sândalo. Seu cabelo ainda estava úmido, com os fios colados na testa. Usava apenas um moletom cinza, que eu já estava acostumada a ver, sem camisa e descalço. Era aquela figura que eu gostava de ver, exatamente dessa forma, simples e limpo. Ver seu corpo tão quente e evidente me fez pensar, por um momento, em como seria se eu simplesmente me rendesse ao desejo ardente que crescia cada vez que o via, principalmente naquele estado, tão despido e indefeso. Se ele fosse capaz de ler meus pensamentos sujos, jamais conseguiria se controlar, como era evidente que fazia. Murilo era meu refúgio daquele lugar sombrio que chamo de casa. Com ele, havia uma sensação de tranquilidade que eu não encontrava em lugar algum, uma pausa bem-vinda das tempestades internas que me assombravam. Talvez eu não devesse me infiltrar em sua cobertura em pleno domingo, mas já fazia tantos dias que
Gabrielle O encontrei sentado no sofá, encarando a mancha que havia feito na noite anterior. Cuidadosamente me coloquei ao seu lado; parecia que eu estava pisando em ovos naquele momento, sem saber o que esperar dele. — Eu jamais desistiria de você — sussurrou ele, me tranquilizando. Suas palavras eram bonitas, mas eu já ouvi promessas demais para acreditar nelas cegamente. Parte de mim queria agarrar essa afirmação como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira, mas a outra parte, aquela que passou noites em claro esperando por alguém que não voltaria, me dizia que isso era apenas um consolo vazio. Olhando para aquela mancha de vinho no tapete, imaginei o quão terríveis foram as palavras de Julls para que Murilo perdesse o equilíbrio e a causasse. Eu o conhecia o suficiente para saber que a cerveja apenas substituiu o vinho quando ele percebeu que o teor alcoólico em seu organismo não era suficiente e que o aborrecimento não valia a raridade de sua adega partic
Gabrielle Murilo era um acessório importante, que me permitiria alcançar meu objetivo com maior facilidade. Mas, em momentos como aquele, eu me perguntava se era justo vê-lo apenas como uma peça no meu tabuleiro. Por mais que não conseguisse amar como ele merecia, havia algo em seu abraço que me fazia desejar, pelo menos por alguns instantes, que eu pudesse ser diferente. Que talvez, se eu me esforçasse, Murilo pudesse ser mais do que uma ferramenta, e sim alguém em quem eu pudesse confiar de verdade. Eu não poderia perdê-lo tão facilmente, apenas porque Jullian não o queria por perto. Estar com ele não exigia nenhum esforço. Apenas deixei meus instintos tomarem conta por alguns minutos, afinal, eu estava tão cansada de me conter, exausta de ter que calcular todas as minhas expressões e reações, e estar ali com Murilo não me exigia nada disso. Pela primeira vez, depois de anos de contato físico, me permiti tê-lo por mais do que poucos minutos. Não o afastei, como costu