Gabrielle
Ao entrar na cozinha, depois de perceber a profundidade dos sentimentos de Murilo em relação a mim, fui imediatamente transportada para o momento em que nos conhecemos. A lembrança tornou-se ainda mais vívida ao vê-lo ali, ao lado de Gadreel, agindo como se fossem velhos amigos. Era desconcertante a naturalidade entre eles.
Mas não os culparia. Murilo tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem confortáveis em sua presença. Ele fora o único a quem permiti permanecer ao meu lado no momento mais sombrio da minha vida. E, ao que tudo indicava, estava disposto a retornar para ocupar o posto do qual nunca deveria ter saído.
— Sente-se um pouco — sugeriu ele, com um toque leve nas minhas costas, guiando-me até a bancada.
Quantas vezes eu havia me sentado ali, observando-o cozin
Gabrielle Gadreel me observava em silêncio, os olhos fixos no meu rosto, como se tentasse decifrar um livro em um idioma desconhecido. Apesar da evidente dificuldade, ele não parecia disposto a desistir. Decidi ignorá-lo e me concentrei no prato à minha frente. Estava faminta. Minha última refeição havia sido o almoço com Gadreel, no dia anterior. Desde então, minha irritação tinha sido tanta que pulei todas as outras refeições, mesmo com Dave insistindo para que eu me alimentasse. Encontrá-lo longe dos olhos de todos foi, sem dúvida, a decisão mais sábia que já tomei. Admito que o julguei mal. No início, pensei que ele tivesse retornado unicamente para reivindicar sua parte no acordo com meu pai. Mas, pouco a pouco, percebi que dinheiro e ações n&ati
Gabrielle Eles me mantinham presa em uma rede. Cada vez que eu tentava me afastar de um, acabava sendo lançada de volta para outro. No final, a única que sairia quebrada dessa história seria eu—se não fizesse algo a respeito. Arquitetar a queda dos três homens que, de uma forma ou de outra, pareciam determinados a me destruir, era a única solução. Talvez parecesse cruel, mas era necessário. Somente assim eu me libertaria de suas prisões mentais. Somente assim eu teria a liberdade de escolher quem, se é que alguém, realmente merecia estar ao meu lado. Quando, finalmente, fosse nomeada CEO do conglomerado Gold, todos os olhares estariam sobre mim. Eu não poderia deixar nenhuma ponta solta. E o tempo corria contra mim—tinha apenas alguns dias para resolver tudo. N&atild
Gabrielle Eu sabia que persuadir Murilo seria impossível, mas Gadreel era outra história. Ele tinha uma fraqueza: informações que demonstravam interesse em compartilhar cedo ou tarde sairiam, especialmente sob a pressão certa. — Por que você está aqui? — Questionou Gadreel, enquanto caminhava de volta para dentro do apartamento. — Transferi a reunião para a sala de convenções do prédio — respondeu Murilo, casual, mas com um tom carregado de intenção. — Achou mesmo que eu deixaria vocês dois vasculharem meu território sozinhos? O som da risada de Gadreel reverberou pelo apartamento, e, por um instante, a tensão foi cortada. Eles claramente tinham uma dinâmica peculiar — algo entre rivalidade e camaradagem. Mesmo assim,
Gabrielle Por que estava tão sensível naquele dia? Eu odiava essa versão de mim mesma que tinha descoberto recentemente: humana, vulnerável, real. Estava tão acostumada a encenar, fingir, enganar a todos — e a mim mesma — que, agora que a máscara havia caído, não sabia como recolocar os cacos. Sentia-me exposta, e essa vulnerabilidade me causava repulsa, medo e raiva. Senti meus olhos queimarem. Sério? Eu ia chorar outra vez? Esse era o peso da culpa em saber que ele também seria atingido quando eu agisse? Bem feito para mim. — Eu não mereço essas lágrimas, meu amor — disse ele, limpando minha bochecha com o polegar. — Nenhum de nós merece. — Parece de eu consegui ferrar com tudo. — dei de ombros — E mesmo assim você a
Gabrielle Eles falavam de mim, tão descaradamente, como se eu nem mesmo estivesse ali, ou pior, como se nem se importassem. As duas únicas pessoas que me tratavam como uma mulher normal, ao invés de me colocarem em uma estante para ser admirada, agora estavam em uma discussão acalorada sobre a vida sexual alheia. Sobre a minha. Perdi o foco de meus pensamentos quando ouvir alguma coiso sobre meus gemidos. — Ei! — gritei, minha voz cortando o ar como uma faca. — Eu estou ouvindo, seu filho da mãe! Gadreel se virou para mim, e por um instante, vi algo em seus olhos além da provocação habitual — um lampejo de pena ou talvez irritação genuína. Ele inclinou-se um pouco mais na minha direção, como se quisesse sublinhar o que estava prestes a dizer. — N&at
Gabrielle Observei enquanto ele caminhava para dentro do apartamento, cada passo carregando a confiança de quem parecia sempre saber mais do que revelava. Um sorriso mal contido brincava em seus lábios, como se ele estivesse escondendo algo que não podia ou não queria dizer naquele momento. Era sempre assim com Gadreel. A sensação de que ele guardava a cereja do bolo para quando julgasse mais conveniente. Talvez eu devesse aprender isso com ele — essa habilidade de controlar o momento exato de revelar o que vale a pena. — Está interessada nele — afirmou Murilo, sua voz cortando meus pensamentos com uma calma que soava quase acusatória. — Não de forma romântica — confessei, mantendo meu olhar fixo no dele. — Eu só estou curiosa. Ele não respondeu imediatamente. Ainda sentado aos meus pés na espreguiçadeira, Murilo estendeu a mão com a natural
Lucas Park Honra, lealdade e respeito. Essas palavras moldaram minha vida. Cresci com elas estampadas em cada canto da empresa, em cada sala de reunião e, em todas as oportunidades, as ouvia sair da boca de meu pai. Mas acho que, no fim, não foi o suficiente para cravá-las na minha alma. De todas elas, o que me restou? Perdi a honra há muitos anos, desde a primeira vez que me deixei levar pelos meus impulsos e fiz aquilo que jurei inúmeras vezes que jamais faria. A lealdade? Um conceito supervalorizado, inventado por alguém que nunca esteve realmente entre a vida e a morte. Porque, quando se está em uma situação em que precisa escolher entre sua sobrevivência ou a maldita ideia de pertencimento, não preciso nem dizer qual vence. Fácil. Todas as vezes. E respeito... Bom, eu nem sei mais o que isso significa. Às vezes, a culpa vinha como um sussurro, outras vezes como um grito. O que mais me aterrorizava era a sensação de que, mesmo que eu queria, não sabia mais
Lucas Park Ela tinha uma forma incômoda e autoritária de se colocar na conversa, como se, de alguma forma, fosse ela quem comandasse o ritmo que deveríamos tomar. Era como se, independente do que havíamos discutido, a decisão final fosse dela. Ela era muito parecida com seu falecido marido quando se tratava de negócios. Leslie era como uma tempestade controlada: cada palavra sua carregava um peso calculado, mas eu nunca sabia quando ela deixaria escapar algo que nos engoliria por completo. Não era medo que eu sentia dela, mas uma irritação constante. Ela sabia demais, falava demais, e sempre parecia um passo à frente Ela também parecia cansada, e, embora a camada de maquiagem pudesse esconder qualquer marca de exaustão, seus olhos não mentiam. Seu semblante, embora firme, estava carregado de preocupação, e eu sabia exatamente a razão. — Foi por essa razão que o convidou para jantar? — Sondei. — Eu o convidei porque precisamos colocar um ponto final nessa rival