2. Reencontro

     Lucas Park, o típico herdeiro que toda garota sonha em ter como companheiro. Bonito, carismático e com uma conta cheia de dinheiro. Eu não me importava com sua simpatia, tampouco precisava de seu dinheiro, a única razão para eu não raspar sua cara no asfalto quente, é pelo simples fato que seria um desperdício. Sua simetria era assustadora quando observada por algum tempo. Com sua descendência oriental, era quase impossível não olhar em seus olhos escuros e profundos, seu nariz levemente empinado e fino, a boca era grande com lábios volumosos. Era possível ter aqueles traços naturalmente?

     Se a inocência tivesse um rosto, aos vinte e três anos, com certeza seria aquele. Até mesmo seu sotaque era charmoso, qual me deixou completamente surpresa. Era realmente um contraste agradável quando visto por inteiro. Exceto pelo cabelo, que estava todo brilhante, com um topete estilo John Travolta nos tempos da brilhantina.

     — Pode parar de me encarar agora — me censurou.

     Sorri para ele, como meu pai havia me ensinado, e caminhei para dentro da velha casa. Jonh sempre havia me ensinado a sorrir. Em situações que fugissem de meu controle, ou simplesmente quando me roubassem as palavras, eu deveria sorrir, por algum motivo, sempre funcionava. Nunca entendi o porquê. A situação não poderia ficar mais constrangedora, ninguém, absolutamente ninguém, estava com espírito natalino. Todos dançando e pulando, com copos de sangria e pipoca. Quem no universo leva pipoca para uma festa de natal? Céus, aquelas pessoas não eram nem um pouco normais, e estavam se divertindo tanto, que simplesmente senti vontade de sair silenciosamente, sem que ninguém notasse minha presença, assim eu não arriscaria atrapalhar nada. Pelo menos era essa minha intenção. Não durou muito tempo.

     — Atenção pessoal! — gritou Lucas, se pondo ao meu lado — Temos uma convidada especial na noite de hoje!

No mesmo momento, todos se viraram em minha direção, levantando os copos e gritando, somente rugidos e grunhidos, feito animais na selva. Me senti como um cordeiro ciente que seria abatido. Olhei ao redor, e a situação parecia piorar a medida que percebia o que acontecia em minha volta. A velha casa se iniciava na sala de estar, não deveria ter mais do que vinte metros quadrados, mas sua capacidade de volume era surpreendente, sentados no sofá de três lugares, haviam cinco pessoas; no de dois, haviam três. Haviam também almofadas espalhadas próximas as paredes, onde havia algumas sentadas, conversando. Uma sala com cada pessoa ocupando um único metro quadrado. Sufocante demais para mim. Para minha surpresa, senti alguém me puxar pela mão, e seguir para o próximo cômodo: a cozinha.

     Ao entrarmos, olhos selvagens nos encaravam. Senti como se quisessem pular em meu pescoço, apertar suas mãos até ter toda a minha vida escapando por seus dedos e nem sabia a razão, pelo menos até seguir os olhares curiosos, até encontrar as mãos de Lucas segurando as minhas, abrindo passagem até chegarmos a porta de saída para a piscina. Por sorte nosso percurso não demorou mais do que poucos segundos, ou eu seria obrigada a me libertar de suas garras e sair correndo por mim mesma, mesmo não conhecendo a casa.

     Nunca pensei que pudesse caber tantas pessoas destro de uma mesma piscina. Toda a universidade estava ali. Pessoas bêbadas, sem qualquer pudor. As luzes piscavam freneticamente ao som de alguma música que eu desconhecia a origem, os restante do pessoal, que não coube na piscina, espalhavam-se pelo piso de madeira e gramado. Em geral, era uma área bastante espaçosa para uma velha casa.

     Nos sentamos em espreguiçadeiras próximas a piscina. Ele estava me encarando tanto, que poderia até fazer um furo em minha testa, se tentasse com mais afinco. Eu não queria olhar para ele, ou seria obrigada a ser deselegante, teria de me retirar da festa, e perderia para Jullian. A verdade é que já não me sentia a vontade em sua presença, pois após seu retorno ao país, parecia ser uma pessoa completamente diferente da qual eu me lembrava. Então fiz o que meu pai me ensinou a fazer, sorri para um cara que passava, que me retribuiu me oferecendo seu copo. Eu jamais aceitaria em outras circunstâncias.

     — Eu não faria isso se fosse você — disse Lucas sombrio, retirando bruscamente o copo de minha mão.

     Não sei o que me fez levar um susto, se foi sua atitude rápida e inesperada ou sua voz aveludada com seu sotaque pesado. Um frio percorreu minha espinha, como se eu tivesse feito alguma coisa de muito errado para tirar dele aquela reação. É verdade que não sabíamos absolutamente nada um do outro, mas não pude deixar de pensar que a pessoa que eu conhecia, não seria tão rude sem um bom motivo. Eu não perguntaria o porquê. Nos conhecíamos desde nossa infância, então eu sabia que antes da explicação minimamente calculada, teria sarcasmo e humor negro.

     — Pensando melhor, seria interessante vê-la se divertindo — continuou ele, me devolvendo o copo.

     — Essa é a visão de diversão que você tem? — questionei, gesticulando para as pessoas dentro da piscina.

     — A minha visão de diversão, é provavelmente a mesma de Rodriguez, o cara bonitão que te entregou o copo batizado de sangria — disse ele se aproximando de mim, baixo o suficiente para que só eu o pudesse ouvir — Mas não posso permitir que vejam a única herdeira do império Gold desfilar nua pela casa.

     Foi como se uma luz se acendesse em minha mente. Então, estavam todos drogados? Fazia sentido. Eu jamais poderia imaginar que aquelas pessoas, jovens de famílias nobres e respeitadas, com futuros promissores e imagens a preservar, pudessem ser tão irresponsáveis ao mesmo tempo. E como se moviam, em sincronia, como se pudessem ouvir um som que eu não podia, era realmente assustador. Então havia sido esse o motivo dele estar tão próximo de mim, por esse motivo havia pego em minha mão e me guiado para longe daquela aglomeração. Para me poupar. Mas por quê?

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