E então Liam também passou a saber o que de fato me separou de Francis logo após a morte da mãe dele.- Vi... Isso é... Tão nojento. – ele falou, me olhando firmemente. – Como eles foram capazes? Michelle é sua mãe... Nossa mãe. Mentiu sobre meu pai a vida inteira. Me fez acreditar que Yan Hernandez era o meu pai quando o verdadeiro morava ao lado da nossa casa. Eu cresci junto com Francis sem saber que ele era o meu irmão. E depois... Afastou você e Francis por um motivo tão... Pequeno. Dinheiro... No fim isso foi sempre o mais importante para ela.- Eu não sinto falta dela, Liam. Nem sei como um dia fui capaz de acreditar que ela era doente e poderia morrer. Ela nos manipulou a vida inteira. Usou do dinheiro da tia Meg para fazer coisas absurdas, como me submeter a cirurgias que ela julgava necessárias. Ela sempre se importou com aparências e sobrenomes... Só isso.- Mas Maurício não é muito diferente dela.- Quem influenciou quem?- Eu acho que ela influenciou Maurício. Pelo que eu
- Bem, pelo visto seus planos deram errado... E talvez seja só o início de uma sucessão de planos que começam a ir por água abaixo. – falei, tentando parecer segura.Sim, ela estava decepcionada ao ver Francis acompanhado. Porque logo eu deveria ficar com ele, conforme os planos dela. Afinal, ele estaria rico. Então era hora de ficarmos juntos e beneficiarmos nossos pais. Quanta ironia!Os olhos de Francis encontraram os meus. Imediatamente baixei a cabeça. Naquele momento me arrependi de ter ido sozinha. Eu não tinha sequer a quem recorrer frente àquela situação.Andei um pouco, tentando focar na decoração e cumprimentando alguns velhos conhecidos. Logo foi anunciado o desfile da Rainha da Primavera.Fiz o possível para não olhar na direção de Francis. Eu não suportaria vê-lo com sua namorada ou o que quer que a garota fosse dele. Preferia fingir que não vi... Que foi tudo um pesadelo.Fui até o bar e pedi um Martini. Olhei no relógio e mal havia passado uma hora. Respirei fundo. Eu
Ver Francis me deixava completamente afetada emocionalmente. Passei noites a fio sonhando com ele e carregando a culpa de não dizer a verdade sobre a morte de Irina.No fim, não sei se valia a pena ainda remexer aquele assunto. Dois anos já haviam passado. E ele já tinha outra pessoa. Eu mesma já tinha outra pessoa na minha vida. Então por que desenterrar um assunto doía e ainda poderia trazer mais dor? Quem sabe para ele me ajudar e mexer seus pauzinhos contra o próprio pai e minha mãe? Porque eles ainda tinham muito que pagar pelo que fizeram no passado.Naquele sábado acordei antes de Dom. Preparei o café para ele e Ária, que sempre acordava tarde. Desci para pegar pães fresquinhos na padaria. E aproveitei e comprei uma revista de arquitetura que me chamou atenção.- Quer aproveitar o levar o Jornal do final de semana? – ofereceu o dono da banca.- Pode ser. – dei de ombros e paguei.Não queria acordar Dom. Sabia que ele tinha tido uma emergência médica na noite anterior e chegou t
- Eu não posso fazer isso. Eu não matei Irina e você sabe disso. Por que eu a mataria se fiquei com Maurício mais de vinte anos sem ela saber? E quem lembra daquela garota do desfile?- Eu lembro.- Virgínia... Eu preciso devolver o dinheiro... Ou estou fodida.Olhei meu rosto no espelho retrovisor do carro. Depois vi o céu pelo vidro, com uma lua minguante perfeita, parecendo um desenho numa moldura. Eu nunca vi uma estrela cadente... Mas certamente naquele momento meu sonho estava se realizando. Era sobre minha mãe sofrer por algo e pagar pelo que fez. Aquilo me fazia um bem enorme. Eu deveria me culpar pela dor dela, sendo minha própria mãe? Não sei... Mas eu não sentia nada... Nenhuma culpa. Eu só me sentia imensamente bem naquele momento.- Me vende a casa. – pedi, sabendo que aquilo era o que ela mais prezava na vida.- E eu moro onde?- Na rua... Na beira do lago, no pergolado da praça... Pouco me importa.- Você é uma desalmada. – ela desligou o telefone.Eu parecia uma louca,
A saudade que eu tinha da boca dele não acabou naquele beijo, no meio do salão, no baile de Primavera. Eu precisava de muitos mais beijos iguais aquele. E a língua dele exigia a minha e seus lábios consumiam os meus ao mesmo tempo que os braços me apertavam contra seu corpo quente. Esperei tanto por aquele momento... Seu cheiro, seu gosto, sua pele na minha.Nos soltamos quando não havia mais ar nos nossos pulmões. Limpei a boca dele, manchada de batom, com meus dedos, espalhando cada vez mais o vermelho vivo em volta de seus lábios.- Não se preocupe com isso. – ele disse.Olhei em seus olhos e o apertei contra mim, deitando minha cabeça no seu ombro.- Podemos ficar aqui para sempre? – pedi, de olhos fechados.- Se seguirmos o ritmo da música, creio que sim. – ele alisou minhas costas e inspirou o cheiro dos meus cabelos, beijando-os em seguida.Comecei a rir enquanto o puxava pela mão para fora da pista. Voltamos ao bar. Eu não queria sentar numa das mesas.- Por que não foi na mi
Fomos até o pergolado e lá estava a figura conhecida do advogado nos esperando. Nos cumprimentamos, falamos sobre assuntos sem importância e assinamos os documentos.Ele foi embora e ficamos somente eu e Francis ali. Nos olhamos por um tempo. Eu não sei o que se passava na cabeça dele, mas na minha era como um filme que só tinha nós dois como personagens principais, em várias fases da nossa vida, ali, naquele lugar.- Eu... Pensei em ficar na casa... De vocês. Digo, na sua antiga casa. Queria encontrar os vídeos que Irina falou que tinha... Sobre o baile e... Nós dois. Se não se importa... Sei que a casa está fechada há um bom tempo, mas pra mim tudo bem. Segunda retorno para minha casa.- Na verdade, eu mandei limpar a casa. Por coincidência vim para ficar até amanhã, acredite. – ele começou a rir.O olhei, incerta se ele realmente teve a mesma ideia que eu.- Quer que eu acredite nisso? – arqueei a sobrancelha, sorrindo divertidamente.- Bem, minhas roupas estão no meu antigo quart
- Isso só pode ser um pesadelo. – falei, sem me conter.- Precisamos conversar. – disse minha mãe. – E é sério.- Não temos nada para conversar. – Francis disse seriamente. - Filho... Por favor. Só uma conversa. – Maurício insistiu.- Não me chame de filho. Você deixou de ser meu pai no momento que magoou minha mãe e a traiu por uma vida inteira.- Francis, as coisas não são como você pensa...- E como são? – ele perguntou. – Me conte como são as coisas.- Precisamos conversar... E você sabe disso. – ele olhou nos olhos do filho.- Francis, vamos ouvir o que eles têm a dizer. – peguei a mão dele.Sim, eu queria ouvir quais seriam as desculpas. Ou o que quer que fosse que eles tinham a dizer. Eu fiquei imaginando o que diriam ou pediriam.Francis deu um passo para trás, permitindo que passassem pela porta. Continuamos com nossas mãos enlaçadas. Os dedos se tocavam com certa força, como se não pudéssemos nos soltar porque eles ofereciam perigo.Michelle olhou fixamente para nossas mãos
- Eu não matei Irina! – gritei, partindo para cima dela.Francis e Maurício se levantaram, intervindo enquanto eu tentava agredir fisicamente minha própria mãe. A que ponto chegou nossa relação, meu Deus! Eu sentia tanto ódio dela... Que tinha vontade de machucá-la... Fazê-la pagar por tudo que ela fazia de mal para as pessoas ao redor dela.Francis me virou para ele e me encarou, enquanto segurava meus braços firmemente:- Vi... Termine... Por favor.- Eu não matei Irina... – meus lábios tremiam. – Você precisa acreditar em mim...- Termine. – ele gritou.Engoli em seco e continuei, arriscando tudo que eu tinha:- Desci enquanto eles tentavam me impedir de sair pela porta... Consegui me desvencilhar dela, que me segurava... – olhei para Michelle. – E corri até a sua casa. Quando cheguei... – a cena pareceu estar acontecendo naquele momento, tão viva que ainda estava na minha mente. – Ela estava caída no chão, próximo da escada... Exatamente aqui... – apontei. - Então... Eu não tive