A saudade que eu tinha da boca dele não acabou naquele beijo, no meio do salão, no baile de Primavera. Eu precisava de muitos mais beijos iguais aquele. E a língua dele exigia a minha e seus lábios consumiam os meus ao mesmo tempo que os braços me apertavam contra seu corpo quente. Esperei tanto por aquele momento... Seu cheiro, seu gosto, sua pele na minha.Nos soltamos quando não havia mais ar nos nossos pulmões. Limpei a boca dele, manchada de batom, com meus dedos, espalhando cada vez mais o vermelho vivo em volta de seus lábios.- Não se preocupe com isso. – ele disse.Olhei em seus olhos e o apertei contra mim, deitando minha cabeça no seu ombro.- Podemos ficar aqui para sempre? – pedi, de olhos fechados.- Se seguirmos o ritmo da música, creio que sim. – ele alisou minhas costas e inspirou o cheiro dos meus cabelos, beijando-os em seguida.Comecei a rir enquanto o puxava pela mão para fora da pista. Voltamos ao bar. Eu não queria sentar numa das mesas.- Por que não foi na mi
Fomos até o pergolado e lá estava a figura conhecida do advogado nos esperando. Nos cumprimentamos, falamos sobre assuntos sem importância e assinamos os documentos.Ele foi embora e ficamos somente eu e Francis ali. Nos olhamos por um tempo. Eu não sei o que se passava na cabeça dele, mas na minha era como um filme que só tinha nós dois como personagens principais, em várias fases da nossa vida, ali, naquele lugar.- Eu... Pensei em ficar na casa... De vocês. Digo, na sua antiga casa. Queria encontrar os vídeos que Irina falou que tinha... Sobre o baile e... Nós dois. Se não se importa... Sei que a casa está fechada há um bom tempo, mas pra mim tudo bem. Segunda retorno para minha casa.- Na verdade, eu mandei limpar a casa. Por coincidência vim para ficar até amanhã, acredite. – ele começou a rir.O olhei, incerta se ele realmente teve a mesma ideia que eu.- Quer que eu acredite nisso? – arqueei a sobrancelha, sorrindo divertidamente.- Bem, minhas roupas estão no meu antigo quart
- Isso só pode ser um pesadelo. – falei, sem me conter.- Precisamos conversar. – disse minha mãe. – E é sério.- Não temos nada para conversar. – Francis disse seriamente. - Filho... Por favor. Só uma conversa. – Maurício insistiu.- Não me chame de filho. Você deixou de ser meu pai no momento que magoou minha mãe e a traiu por uma vida inteira.- Francis, as coisas não são como você pensa...- E como são? – ele perguntou. – Me conte como são as coisas.- Precisamos conversar... E você sabe disso. – ele olhou nos olhos do filho.- Francis, vamos ouvir o que eles têm a dizer. – peguei a mão dele.Sim, eu queria ouvir quais seriam as desculpas. Ou o que quer que fosse que eles tinham a dizer. Eu fiquei imaginando o que diriam ou pediriam.Francis deu um passo para trás, permitindo que passassem pela porta. Continuamos com nossas mãos enlaçadas. Os dedos se tocavam com certa força, como se não pudéssemos nos soltar porque eles ofereciam perigo.Michelle olhou fixamente para nossas mãos
- Eu não matei Irina! – gritei, partindo para cima dela.Francis e Maurício se levantaram, intervindo enquanto eu tentava agredir fisicamente minha própria mãe. A que ponto chegou nossa relação, meu Deus! Eu sentia tanto ódio dela... Que tinha vontade de machucá-la... Fazê-la pagar por tudo que ela fazia de mal para as pessoas ao redor dela.Francis me virou para ele e me encarou, enquanto segurava meus braços firmemente:- Vi... Termine... Por favor.- Eu não matei Irina... – meus lábios tremiam. – Você precisa acreditar em mim...- Termine. – ele gritou.Engoli em seco e continuei, arriscando tudo que eu tinha:- Desci enquanto eles tentavam me impedir de sair pela porta... Consegui me desvencilhar dela, que me segurava... – olhei para Michelle. – E corri até a sua casa. Quando cheguei... – a cena pareceu estar acontecendo naquele momento, tão viva que ainda estava na minha mente. – Ela estava caída no chão, próximo da escada... Exatamente aqui... – apontei. - Então... Eu não tive
- Eu gostei muito da loja. Adorei o corredor livre... As prateleiras são bem construídas e combinam com o ambiente. Não gostei do lustre... – fui sincera. – Destoa de tudo. Eu colocaria melhor iluminação na parte do caixa também, mas embutidas no teto. Achei a fachada externa muito simples... Não tem nada que chame a atenção. E a placa da loja é antiquada... E cafona.Ela ficou me encarando, sem dizer nada. Achei que estava furiosa. Foi quando ela deu um sorriso largo:- Eu adorei suas considerações, Virgínia.- Obrigada.- Mas eu não vou mais investir na loja. Quero um espaço novo. Mas ainda em Primavera. Gosto daqui... E minhas vendas estão dentro do esperado. As pessoas não têm mais importado por conta própria... Acabam vindo até aqui pegar seus perfumes preferidos.- Você não precisa de um espaço tão grande como este. Um lugar menor ficaria mais aconchegante.- E... Será que você poderia fazer o projeto todo para mim? Externo e interno? Desde o alicerce... Até o telhado?- Eu... M
- Não, Francis. Dom nunca o substituiu. Aliás, ele nunca quis. Somos seres humanos... E completamente imperfeitos. Eu fiz várias coisas erradas. Sei o quanto o magoei... E me magoei por isso. Mas já me culpei muito por minha atitude no passado. E me perdoei também. Eu me envolvi com Dom há um tempo atrás... Assim como você se envolveu com a loira do baile... E a outra que atendeu o interfone do seu apartamento uma semana depois. Fora as que eu não soube, não é mesmo? Porque eu tenho certeza de que foram muitas. Mas no meu caso, foi só ele mesmo. Mas amor... Eu nunca dediquei a outra pessoa a não ser você. – consegui dizer tudo que eu pensava.Francis ficou me olhando um tempo e pareceu um pouco mais tranquilo.- Vou jantar com vocês... Amiga! – ele sorriu.O abracei:- Obrigada. É importante para mim... Muito importante a sua presença.Fomos para fora do espaço onde foi a cerimônia de formatura na faculdade. Encontrei Katrina chegando com o marido. Estavam vestidos elegantemente e sor
- Padrinho? – Francis olhou-os surpresos. – Eu... Fico lisonjeado com o convite. E estarei presente, sim.- Padrinho... Com Vi. – Andréia me olhou. – Queremos que você seja a madrinha do nosso casamento... Amiga.Eu a abracei com força:- Eu... Não acredito que meu irmãozinho vai casar... – balancei a cabeça, emocionada.- Então vou ter que encontrar esta mulher antes do baile de primavera? – Francis me olhou, divertidamente.- Posso não ir, caso prefira assim. – o olhei seriamente.- Eu buscaria você... No quinto dos infernos, diabinha. – ele me encarou.- Dentro de dois meses... Vocês têm um compromisso marcado. – Andréia sorriu.- Bem, eu realmente gostaria de ficar mais... Mas preciso ir. Me desculpem. – ele falou, se despedindo de todos.Fui com ele até o carro.- Veio... Se despedir longe dos outros? – ele perguntou no meu ouvido, fazendo eu estremecer só com seu hálito quente no meu pescoço.- Não... Vim pegar minha cesta. Por que acha que eu não comi a sobremesa? Vou devorar o
Desci do carro me sentindo imensamente bem. Eu não sorria só com os lábios... Eu sorria por dentro também. Esperei um dia lindo de sol para dar a notícia a Michelle e Maurício. Escolhi um conjunto de blazer e calça pretos, com camisa branca por baixo. Os sapatos Prada eram novos em folha e tinham custado uma fortuna. Guardei-os para uma ocasião especial, que ainda não tinha acontecido até aquele momento. Mas aquele dia era uma ocasião pra lá de especial.Bati na porta. Michelle Miller atendeu. Me olhou dos pés a cabeça, dizendo:- O que faz aqui? Já vendi a casa. – virou as costas e entrou, me deixando ali, parada.Empurrei a porta e entrei, mesmo sem ser convidada. Ela já estava com seus pertences em caixas. A barriga havia crescido muito e ela andava devagar e por vezes colocava as mãos nas costas, parecendo sentir dor ou desconforto.- Você está horrível. – falei.- Obrigada... – ela sorriu sarcástica.- Maurício, além de pobre, meteu um filho em você. Deixou-a gorda... Feia. Seus