Trinta dias foi tempo suficiente para eu me recuperar fisicamente. Meu coração só curaria quando eu tivesse Francis novamente. Ele sempre foi tudo que eu tive, desde criança. Ele estava lá quando eu me machucava. Estava também junto nas minhas travessuras. Ele deixava de comer coisas pra poder estar comigo. Comprava alimentos caros sem proteína do leite porque sabia que eu gostava. Ele sempre tinha um algodão doce para mim... E também um sorriso safado. Ele escalava até o meu quarto e passava a noite na minha cama contado sobre suas aventuras amorosas. Até provarmos de um único beijo... O mais perfeito do mundo. A partir dali, nos apaixonamos. Eu entendi primeiro o que estava acontecendo. Francis demorou a identificar que o amor não era mais simplesmente pela sua amiga. Ele me pediu em namoro e me deu dois cachorros fofos, só porque leu numa lista idiota que eu havia feito. E o principal: ele sempre me alertou com relação a minha mãe. E eu não quis ouvir. Porque na minha cabeça, mãe e
Yan sorriu e me abraçou:- Você é minha filha... Somos parecidos em quase tudo... Eu não tenho dúvidas de que Virgínia Hernandez é minha... Assim como Liam. – recebi um beijo estalado no rosto. – Tire bobagens desta cabecinha. Você não vai ter um pai rico. – riu.- Pai, eu acho que ela fez isso porque Irina morreu e Maurício vai ficar dono de tudo. Então assumir que Liam é filho de Maurício neste momento seria ter parte da herança... Seria isso?- Eu já não sei de mais nada, minha filha. A única coisa que tenho certeza é que a melhor coisa que fiz na vida foi ter saído daquela casa.- Pai, falando em casa...Liam pareceu, mais calmo, com uma xícara de chá fumegante e um biscoito.- Ok, Grécia quer engordar todo mundo, não duvide disto. – brinquei.Ele colocou o braço sobre meus ombros:- De novo dividindo a mesma cama, Vi...- Mas num lugar que eu posso chamar de... Lar. – confessei.- Apesar de tudo, sair daquela casa e de Primavera me fez bem. – ele confessou.- Ninguém que sai das
Recostei-me para trás, quase sem ar. Minha mãe e Maurício ficaram falando sem parar, furiosos. Mas eu não consegui prestar atenção em uma palavra sequer do que diziam. Minha cabeça dava voltas e voltas e eu tentava entender o motivo de ela ter me deixado parte de sua herança.E agora? Será que Michelle e Maurício diriam a Francis que eu era culpada pela morte da mãe dele, a fim de reverterem o testamento? Eu não me importava com o dinheiro, mas temia imensamente Francis acreditar na mentira deles.Meu coração batia tão forte. Olhei Francis e ele estava com o semblante tranquilo.- Você... Sabia disso? – perguntei, enquanto nossos pais seguiam discutindo com o advogado.- Não. – ele disse seriamente.- Senhores, não acabou. – o tabelião disse. – Li só uma parte do testamento.Logo minha mãe e Maurício se calaram, certamente na esperança de que tudo fosse um engano.“Conheço tão bem Virgínia e Francis que sei exatamente que neste momento estão sem palavras. E sei também o tanto que eles
- Claro que vai. Maurício é um dos melhores advogados dos país.Eu gargalhei:- Na sua opinião, não é mesmo? Quem é Maurício Provost na vida? Aqui no centro de Noriah ele não é nada.- Você sabe que ele só atende pessoas conhecidas e grandes empresários, não é mesmo?- Sim... Mas acho que agora que ele perdeu tudo, até mesmo a sede do escritório onde trabalha e não conseguirá recuperar. Talvez sua grande clientela... Vire fumaça.- E você gostaria muito que isso acontecesse, não é mesmo?- Estarei sentada de camarote vendo-o despencar... Junto com você.- Eu preciso da minha casa, Virgínia. Desista logo desta porra de querer a sua parte. Você não precisa. É rica...- Pago aluguel. Não sou rica. Trabalho... Quer dizer: “mãe, finalmente eu trabalho!” – ironizei. – Quer que eu lhe explique o que isso significa?- Eu trabalho, sua “metidinha à esperta”. Esqueceu que eu sou prefeita de uma cidade inteira?- Então use deste dinheiro que recebe mensalmente para pagar a minha parte da casa. E
Parecia meu destino encontrar Marcelus. Ou não. Será que ele estava me perseguindo? Lembrei que ele havia dito que se mudaria para o centro de Noriah e começaria a trabalhar ali. Pelo visto, já havia feito a mudança. Eu preferia pensar que tudo não passava de uma infeliz coincidência.- Está trabalhando aqui? – ele perguntou.- Sim...Ele sorriu:- Que feliz coincidência!- Marcelus... – comecei.- Ei, está tudo bem. – ele me cortou. – Meus pais são os donos deste prédio.Era só o que me faltava! Pelo visto eu teria emprego por bem pouco tempo. Uma pena, pois gostava do lugar, das companhias e do salário.- Puxa... Que bom. – falei.- Recepção? Acho que você merece bem mais que isso. Que tal trabalhar no último andar, diretamente com o senhor Cavalli?- Obrigada, mas não. Estou bem por aqui.- Não consigo entender por que você está assim comigo.- Será que não? Olha tudo que você me disse naquela noite de Natal, Marcelus.- Foi da boca para fora, acredite. Eu sempre gostei de você, Vi
Ele começou a rir:- Você é bem direta.- Me desculpe, Francis... Eu... Não sei o que deu na minha cabeça. – levantei os pés e fiquei na altura dele, dando-lhe um beijo demoradamente no rosto.Fiquei embaraçada com a situação.- Francis, meu filho. Você... Veio. – era Maurício, com voz embargada.- Não foi isso que minha mãe pediu? Acho que você já me esperava por aqui.- Boa noite, Virgínia. – me cumprimentou.Acenei com a cabeça e saí, ainda com o rosto vermelho de ter falado sobre o beijo na boca. Pelo visto Francis não via o pai desde que se mudou de Primavera.Fui até o bar e pedi um espumante enquanto via Liam cumprimentar seus antigos amigos. Morei ali muito mais tempo que ele e só fiz um único amigo: Francis. Que droga de pessoa eu era.- Preparei uma surpresinha para você. – disse Andréia sentando ao meu lado, pedindo uma taça de espumante também.- O que você aprontou?- Vai saber quando chegar a hora. E não precisa me agradecer. É por conta da casa. – ela riu.- Fiquei até
Francis me puxou pela mão, levando-me para fora. Tinha poucas pessoas na rua. Praticamente a cidade inteira estava no salão, participando do baile.Ele me encarou:- Me diga que é mentira... Que você não sabia que nossos pais tinham um caso.- Eu não sabia... – tentei explicar. – Foi... Por acaso que descobri.- Você tinha dito que ouviu minha mãe reclamando sobre o casamento... Mas não contou que sabia que Michelle era a amante dele. Como pode me esconder isso? Eu sempre achei que antes de qualquer coisa, fôssemos amigos, Virgínia. Mas eu estava enganado. – o olhar dele foi tão frio que chegou a me congelar por dentro.- Eu soube... No último baile de primavera.- Na noite que minha mãe morreu? – perguntou.Assenti, com a cabeça.- Então do nada você soube e simplesmente resolveu partir e me abandonar? – ele falava em tom de voz alto, furioso, como nunca o vi antes.Dizer o que? A verdade? Sim, Francis, eu vi nossos pais transando e fui falar com sua mãe. Cheguei lá e ela estava caíd
Dom me levou no colo até um carro, que certamente era o dele. Sentei no banco do carona enquanto ele deu a partida. Ele não perguntou nada e eu não queria falar. Estava cansada... E trêmula. Não sabia sequer o que pensar.Em alguns minutos, ele entrou num estacionamento no subsolo. Desligou o carro e abriu a porta para mim, conduzindo-me até o elevador.Paramos no décimo andar. Ele abriu a porta e entramos num apartamento enorme, bem decorado, todo em tons claros. Não tinha janelas... Porque tudo que dava para a área externa era vidro.Joguei meu corpo no sofá confortável, mesmo sem ser convidada. Quando vi, ele estava ao meu lado, com uma bolsa de gelo no meu rosto.- Ai... – reclamei de dor assim que senti o gelado na minha pele.- Ele bateu forte... Vai ficar marcado. Eu... Lamento.Olhei nos olhos dele:- Tudo bem... Você não tem nada a ver com isso. Pelo contrário... Me salvou. Eu não sei o que ele teria feito se você não tivesse aparecido a tempo...- Quer falar sobre o que houv