Bebi um café sem açúcar e disse:- Dom, preciso da minha bolsa.- Ok.Fomos para o carro dele. No caminho, perguntou:- E então? Vou conhecer a sua casa agora?- Bem, primeiro preciso passar na casa do meu pai e pegar a chave extra que ele tem do meu apartamento.- Já quer que eu conheça o seu pai? – brincou, me olhando divertidamente.Sorri:- Você vai gostar do meu pai.- Espero que ele também goste de mim.- Se importa com o que ele pensa de você? – me ouvi perguntando.- Sinceramente, eu acho que sim. Nestes meus anos de vida... Nunca fui apresentado a um pai.- Jura? – ri.Toquei a cicatriz no rosto dele, perto do olho, enquanto ele dirigia.- Onde fez isso? – perguntei, curiosa.- Tempos de rebeliões anti monarquia. Ainda na adolescência.- Acho que eu teria sido uma rebelde também. – falei.- Você não teria sido, bebê. – ele alisou minha perna.- Por que acha que não?- Porque você não tem jeito de rebelde.- Sua esposa era uma rebelde? Onde você a conheceu?- Ela não era uma r
Não, infelizmente não podemos, Dom. Você é um homem especial. Mas eu não sou mais capaz de amar outra vez. Meu coração só pertence a uma pessoa...Ele me olhou e disse:- Se não quiser contar o que houve, não vou obrigá-la, Vi. Embora eu ache que é hora de se abrir.- Eu sei... – admiti.Ele levantou:- Vou pegar a bolsa. Em breve estarei aqui, antes de você sair do banho.- Acha que eu levo quanto tempo no banho, senhor Dom? – brinquei.- E você acha que eu levo quanto tempo para resgatar sua bolsa, bebê? – ele piscou e saiu, fechando a porta.Fui ao banheiro e tomei uma ducha sem pressa. Meu apartamento não era grande, mas confortável e aconchegante. Não imaginei ter Dom comigo ali, mas também fiquei feliz por aquilo estar acontecendo.Fechei meus olhos e deixei a água quente cair sobre as minhas costas e as lágrimas escorrerem e irem embora junto das gotículas que eu queria que limpassem até minha alma.Eu sempre achei que Francis ficaria furioso quando soubesse que eu sabia sobre
Um mês procurando emprego e não encontrei nada no nível de recepcionista do edifício dos Cavalli.Lógico que eu não queria ser recepcionista para sempre, mas o salário de lá pagava minhas contas. A parte boa é que eu estava me dedicando cem porcento à faculdade. E eu seria muito rica... Dentro de nove anos. No entanto agora eu era uma pobre assalariada, que dependia diretamente do dinheiro do pai para sobreviver.Embora estivesse passando bastante tempo com Dom, tive que oferecer para Ária parte do apartamento a fim de dividirmos as despesas, visto que éramos duas necessitadas financeiramente, morando cada uma num apartamento de dois quartos. Ela acabou aceitando minha oferta.Dom quis me ajudar, mas óbvio que não aceitei. Tinha a parte ruim de dividir o apartamento: eu e Dom não teríamos mais a mesma privacidade de antes. Ainda assim, financeiramente me compensaria muito.Dois meses depois recebi uma oferta de emprego na Faculdade da Zona A. Ligaram para o meu celular para marcar ent
E então Liam também passou a saber o que de fato me separou de Francis logo após a morte da mãe dele.- Vi... Isso é... Tão nojento. – ele falou, me olhando firmemente. – Como eles foram capazes? Michelle é sua mãe... Nossa mãe. Mentiu sobre meu pai a vida inteira. Me fez acreditar que Yan Hernandez era o meu pai quando o verdadeiro morava ao lado da nossa casa. Eu cresci junto com Francis sem saber que ele era o meu irmão. E depois... Afastou você e Francis por um motivo tão... Pequeno. Dinheiro... No fim isso foi sempre o mais importante para ela.- Eu não sinto falta dela, Liam. Nem sei como um dia fui capaz de acreditar que ela era doente e poderia morrer. Ela nos manipulou a vida inteira. Usou do dinheiro da tia Meg para fazer coisas absurdas, como me submeter a cirurgias que ela julgava necessárias. Ela sempre se importou com aparências e sobrenomes... Só isso.- Mas Maurício não é muito diferente dela.- Quem influenciou quem?- Eu acho que ela influenciou Maurício. Pelo que eu
- Bem, pelo visto seus planos deram errado... E talvez seja só o início de uma sucessão de planos que começam a ir por água abaixo. – falei, tentando parecer segura.Sim, ela estava decepcionada ao ver Francis acompanhado. Porque logo eu deveria ficar com ele, conforme os planos dela. Afinal, ele estaria rico. Então era hora de ficarmos juntos e beneficiarmos nossos pais. Quanta ironia!Os olhos de Francis encontraram os meus. Imediatamente baixei a cabeça. Naquele momento me arrependi de ter ido sozinha. Eu não tinha sequer a quem recorrer frente àquela situação.Andei um pouco, tentando focar na decoração e cumprimentando alguns velhos conhecidos. Logo foi anunciado o desfile da Rainha da Primavera.Fiz o possível para não olhar na direção de Francis. Eu não suportaria vê-lo com sua namorada ou o que quer que a garota fosse dele. Preferia fingir que não vi... Que foi tudo um pesadelo.Fui até o bar e pedi um Martini. Olhei no relógio e mal havia passado uma hora. Respirei fundo. Eu
Ver Francis me deixava completamente afetada emocionalmente. Passei noites a fio sonhando com ele e carregando a culpa de não dizer a verdade sobre a morte de Irina.No fim, não sei se valia a pena ainda remexer aquele assunto. Dois anos já haviam passado. E ele já tinha outra pessoa. Eu mesma já tinha outra pessoa na minha vida. Então por que desenterrar um assunto doía e ainda poderia trazer mais dor? Quem sabe para ele me ajudar e mexer seus pauzinhos contra o próprio pai e minha mãe? Porque eles ainda tinham muito que pagar pelo que fizeram no passado.Naquele sábado acordei antes de Dom. Preparei o café para ele e Ária, que sempre acordava tarde. Desci para pegar pães fresquinhos na padaria. E aproveitei e comprei uma revista de arquitetura que me chamou atenção.- Quer aproveitar o levar o Jornal do final de semana? – ofereceu o dono da banca.- Pode ser. – dei de ombros e paguei.Não queria acordar Dom. Sabia que ele tinha tido uma emergência médica na noite anterior e chegou t
- Eu não posso fazer isso. Eu não matei Irina e você sabe disso. Por que eu a mataria se fiquei com Maurício mais de vinte anos sem ela saber? E quem lembra daquela garota do desfile?- Eu lembro.- Virgínia... Eu preciso devolver o dinheiro... Ou estou fodida.Olhei meu rosto no espelho retrovisor do carro. Depois vi o céu pelo vidro, com uma lua minguante perfeita, parecendo um desenho numa moldura. Eu nunca vi uma estrela cadente... Mas certamente naquele momento meu sonho estava se realizando. Era sobre minha mãe sofrer por algo e pagar pelo que fez. Aquilo me fazia um bem enorme. Eu deveria me culpar pela dor dela, sendo minha própria mãe? Não sei... Mas eu não sentia nada... Nenhuma culpa. Eu só me sentia imensamente bem naquele momento.- Me vende a casa. – pedi, sabendo que aquilo era o que ela mais prezava na vida.- E eu moro onde?- Na rua... Na beira do lago, no pergolado da praça... Pouco me importa.- Você é uma desalmada. – ela desligou o telefone.Eu parecia uma louca,
A saudade que eu tinha da boca dele não acabou naquele beijo, no meio do salão, no baile de Primavera. Eu precisava de muitos mais beijos iguais aquele. E a língua dele exigia a minha e seus lábios consumiam os meus ao mesmo tempo que os braços me apertavam contra seu corpo quente. Esperei tanto por aquele momento... Seu cheiro, seu gosto, sua pele na minha.Nos soltamos quando não havia mais ar nos nossos pulmões. Limpei a boca dele, manchada de batom, com meus dedos, espalhando cada vez mais o vermelho vivo em volta de seus lábios.- Não se preocupe com isso. – ele disse.Olhei em seus olhos e o apertei contra mim, deitando minha cabeça no seu ombro.- Podemos ficar aqui para sempre? – pedi, de olhos fechados.- Se seguirmos o ritmo da música, creio que sim. – ele alisou minhas costas e inspirou o cheiro dos meus cabelos, beijando-os em seguida.Comecei a rir enquanto o puxava pela mão para fora da pista. Voltamos ao bar. Eu não queria sentar numa das mesas.- Por que não foi na mi