Ele começou a rir:- Você é bem direta.- Me desculpe, Francis... Eu... Não sei o que deu na minha cabeça. – levantei os pés e fiquei na altura dele, dando-lhe um beijo demoradamente no rosto.Fiquei embaraçada com a situação.- Francis, meu filho. Você... Veio. – era Maurício, com voz embargada.- Não foi isso que minha mãe pediu? Acho que você já me esperava por aqui.- Boa noite, Virgínia. – me cumprimentou.Acenei com a cabeça e saí, ainda com o rosto vermelho de ter falado sobre o beijo na boca. Pelo visto Francis não via o pai desde que se mudou de Primavera.Fui até o bar e pedi um espumante enquanto via Liam cumprimentar seus antigos amigos. Morei ali muito mais tempo que ele e só fiz um único amigo: Francis. Que droga de pessoa eu era.- Preparei uma surpresinha para você. – disse Andréia sentando ao meu lado, pedindo uma taça de espumante também.- O que você aprontou?- Vai saber quando chegar a hora. E não precisa me agradecer. É por conta da casa. – ela riu.- Fiquei até
Francis me puxou pela mão, levando-me para fora. Tinha poucas pessoas na rua. Praticamente a cidade inteira estava no salão, participando do baile.Ele me encarou:- Me diga que é mentira... Que você não sabia que nossos pais tinham um caso.- Eu não sabia... – tentei explicar. – Foi... Por acaso que descobri.- Você tinha dito que ouviu minha mãe reclamando sobre o casamento... Mas não contou que sabia que Michelle era a amante dele. Como pode me esconder isso? Eu sempre achei que antes de qualquer coisa, fôssemos amigos, Virgínia. Mas eu estava enganado. – o olhar dele foi tão frio que chegou a me congelar por dentro.- Eu soube... No último baile de primavera.- Na noite que minha mãe morreu? – perguntou.Assenti, com a cabeça.- Então do nada você soube e simplesmente resolveu partir e me abandonar? – ele falava em tom de voz alto, furioso, como nunca o vi antes.Dizer o que? A verdade? Sim, Francis, eu vi nossos pais transando e fui falar com sua mãe. Cheguei lá e ela estava caíd
Dom me levou no colo até um carro, que certamente era o dele. Sentei no banco do carona enquanto ele deu a partida. Ele não perguntou nada e eu não queria falar. Estava cansada... E trêmula. Não sabia sequer o que pensar.Em alguns minutos, ele entrou num estacionamento no subsolo. Desligou o carro e abriu a porta para mim, conduzindo-me até o elevador.Paramos no décimo andar. Ele abriu a porta e entramos num apartamento enorme, bem decorado, todo em tons claros. Não tinha janelas... Porque tudo que dava para a área externa era vidro.Joguei meu corpo no sofá confortável, mesmo sem ser convidada. Quando vi, ele estava ao meu lado, com uma bolsa de gelo no meu rosto.- Ai... – reclamei de dor assim que senti o gelado na minha pele.- Ele bateu forte... Vai ficar marcado. Eu... Lamento.Olhei nos olhos dele:- Tudo bem... Você não tem nada a ver com isso. Pelo contrário... Me salvou. Eu não sei o que ele teria feito se você não tivesse aparecido a tempo...- Quer falar sobre o que houv
Bebi um café sem açúcar e disse:- Dom, preciso da minha bolsa.- Ok.Fomos para o carro dele. No caminho, perguntou:- E então? Vou conhecer a sua casa agora?- Bem, primeiro preciso passar na casa do meu pai e pegar a chave extra que ele tem do meu apartamento.- Já quer que eu conheça o seu pai? – brincou, me olhando divertidamente.Sorri:- Você vai gostar do meu pai.- Espero que ele também goste de mim.- Se importa com o que ele pensa de você? – me ouvi perguntando.- Sinceramente, eu acho que sim. Nestes meus anos de vida... Nunca fui apresentado a um pai.- Jura? – ri.Toquei a cicatriz no rosto dele, perto do olho, enquanto ele dirigia.- Onde fez isso? – perguntei, curiosa.- Tempos de rebeliões anti monarquia. Ainda na adolescência.- Acho que eu teria sido uma rebelde também. – falei.- Você não teria sido, bebê. – ele alisou minha perna.- Por que acha que não?- Porque você não tem jeito de rebelde.- Sua esposa era uma rebelde? Onde você a conheceu?- Ela não era uma r
Não, infelizmente não podemos, Dom. Você é um homem especial. Mas eu não sou mais capaz de amar outra vez. Meu coração só pertence a uma pessoa...Ele me olhou e disse:- Se não quiser contar o que houve, não vou obrigá-la, Vi. Embora eu ache que é hora de se abrir.- Eu sei... – admiti.Ele levantou:- Vou pegar a bolsa. Em breve estarei aqui, antes de você sair do banho.- Acha que eu levo quanto tempo no banho, senhor Dom? – brinquei.- E você acha que eu levo quanto tempo para resgatar sua bolsa, bebê? – ele piscou e saiu, fechando a porta.Fui ao banheiro e tomei uma ducha sem pressa. Meu apartamento não era grande, mas confortável e aconchegante. Não imaginei ter Dom comigo ali, mas também fiquei feliz por aquilo estar acontecendo.Fechei meus olhos e deixei a água quente cair sobre as minhas costas e as lágrimas escorrerem e irem embora junto das gotículas que eu queria que limpassem até minha alma.Eu sempre achei que Francis ficaria furioso quando soubesse que eu sabia sobre
Um mês procurando emprego e não encontrei nada no nível de recepcionista do edifício dos Cavalli.Lógico que eu não queria ser recepcionista para sempre, mas o salário de lá pagava minhas contas. A parte boa é que eu estava me dedicando cem porcento à faculdade. E eu seria muito rica... Dentro de nove anos. No entanto agora eu era uma pobre assalariada, que dependia diretamente do dinheiro do pai para sobreviver.Embora estivesse passando bastante tempo com Dom, tive que oferecer para Ária parte do apartamento a fim de dividirmos as despesas, visto que éramos duas necessitadas financeiramente, morando cada uma num apartamento de dois quartos. Ela acabou aceitando minha oferta.Dom quis me ajudar, mas óbvio que não aceitei. Tinha a parte ruim de dividir o apartamento: eu e Dom não teríamos mais a mesma privacidade de antes. Ainda assim, financeiramente me compensaria muito.Dois meses depois recebi uma oferta de emprego na Faculdade da Zona A. Ligaram para o meu celular para marcar ent
E então Liam também passou a saber o que de fato me separou de Francis logo após a morte da mãe dele.- Vi... Isso é... Tão nojento. – ele falou, me olhando firmemente. – Como eles foram capazes? Michelle é sua mãe... Nossa mãe. Mentiu sobre meu pai a vida inteira. Me fez acreditar que Yan Hernandez era o meu pai quando o verdadeiro morava ao lado da nossa casa. Eu cresci junto com Francis sem saber que ele era o meu irmão. E depois... Afastou você e Francis por um motivo tão... Pequeno. Dinheiro... No fim isso foi sempre o mais importante para ela.- Eu não sinto falta dela, Liam. Nem sei como um dia fui capaz de acreditar que ela era doente e poderia morrer. Ela nos manipulou a vida inteira. Usou do dinheiro da tia Meg para fazer coisas absurdas, como me submeter a cirurgias que ela julgava necessárias. Ela sempre se importou com aparências e sobrenomes... Só isso.- Mas Maurício não é muito diferente dela.- Quem influenciou quem?- Eu acho que ela influenciou Maurício. Pelo que eu
- Bem, pelo visto seus planos deram errado... E talvez seja só o início de uma sucessão de planos que começam a ir por água abaixo. – falei, tentando parecer segura.Sim, ela estava decepcionada ao ver Francis acompanhado. Porque logo eu deveria ficar com ele, conforme os planos dela. Afinal, ele estaria rico. Então era hora de ficarmos juntos e beneficiarmos nossos pais. Quanta ironia!Os olhos de Francis encontraram os meus. Imediatamente baixei a cabeça. Naquele momento me arrependi de ter ido sozinha. Eu não tinha sequer a quem recorrer frente àquela situação.Andei um pouco, tentando focar na decoração e cumprimentando alguns velhos conhecidos. Logo foi anunciado o desfile da Rainha da Primavera.Fiz o possível para não olhar na direção de Francis. Eu não suportaria vê-lo com sua namorada ou o que quer que a garota fosse dele. Preferia fingir que não vi... Que foi tudo um pesadelo.Fui até o bar e pedi um Martini. Olhei no relógio e mal havia passado uma hora. Respirei fundo. Eu