- Obrigada, pai.- No fundo, ela ama você. E se importa, sim. Porque ela é sua mãe.- Mas às vezes ela me magoa profundamente.- Assim como magoa a mim e seu irmão e provavelmente a ela mesma.Ele alisou meu rosto e perguntou:- O que houve entre você e Francis?- Nada, pai. Foi só um beijo. Nada além disto.- Um beijo pode ser o início de grandes sentimentos... E você sabe disto, não é mesmo?- Eu sempre tive sentimentos fortes por Francis. Como amigo... Ele mora no meu coração.- E se vocês estiverem estragando tudo?- Eu sei, pai. Eu mesma falei com ele e disse que não quero seguir com isso. E tenho certeza de que Francis vai me entender.- Sua mãe diz atrocidades, faz coisas ruins. Mas numa coisa ela tem razão: Francis não é para você.Eu ri, ironicamente:- Por que ele não é rico o suficiente?- Não destorça as coisas. Eu não sou Michelle. Sou Yan, seu pai, que a ama. Você não tem que encontrar alguém rico. Tem que encontrar alguém que ame você e que você também ame.- Como você
O domingo se encerrava tradicionalmente na praça de Primavera. Eu havia combinado com Andréia de nos encontrarmos lá.Eu teria feito isso com Francis. Mas estava tentando me aproximar de Andréia um pouco mais, já que nos conhecíamos bem e eu gostava dela. E falar com Francis sem ficar completamente sem jeito depois do que aconteceu seria complicado.Coloquei uma saia longa e um cropped bordado com uma sandália sem salto confortável. Assim que desci, encontrei Liam estudando na sala.- Onde está mamãe? – perguntei, percebendo que não havia sinal dela.- Sumiu. Não a vejo há um bom tempo.- Será que foi atrás de papai?- É mais fácil ela ter ido à igreja fingir que reza do que ter ido atrás de nosso pai. – ele ironizou. – Onde você vai com esta barriga de fora?- Encontrar Andréia na praça.Ele levantou imediatamente do sofá:- Vamos.- Ei, eu convidei ela.- Só vou acompanhar você, querida irmã.- Liam, Andréia é muito mulher para você. Não quero que você sofra, irmãozinho. – usei as m
Peguei minha bolsa, os exames, que estavam dentro de um envelope de papel e saí. Estava chovendo fino, mas molhava. Voltei e peguei um guarda-chuva.Assim que passei do portão para a calçada, vi Francis vindo colocar o lixo na lixeira.- Para que acordar tão cedo para se livrar do lixo, vizinho? – ironizei.- Onde você vai?- Onde eu vou, “marido”? Bom dia para você, também. – sorri, sarcasticamente.Ele ficou parado seriamente, esperando a resposta.Abri o guarda-chuva e respondi:- Médico.- O alergologista?Assenti, com a cabeça.- Eu levo você.- Não precisa Francis. Eu vou de ônibus, sem problemas. Não quero incomodar.- Não é incômodo. Além do mais está chovendo.- Não sou de açúcar.- Quase é, pelo que consome de açúcar.- Francis, não...Ele já estava correndo para dentro de casa. Não levou cinco minutos e já estacionou ao meu lado. Abri a porta e olhei carinhosamente para ele:- Obrigada, Francis. Você é um amor.- Eu sei. – ele disse, olhando para frente e dirigindo.- E nad
- Posso apostar que não mesmo. – ele riu.Francis abriu a porta antes do doutor Marcelus.Eu estava saindo quando o médico pegou meu braço, gentilmente:- Sua mãe me convidou para o Baile de Primavera.- Legal! Aposto que o doutor vai gostar.- Ela disse que você vai concorrer ao título de rainha da cidade.Eu ri:- Isso não é nada importante, doutor. Concorro desde os 15 anos e confesso que não é porque eu gosto... E sim porque ela quer.- Imagino. – ele sorriu. – Michelle tem uma personalidade forte.- Sim... E o doutor já percebeu em pouco tempo, não é mesmo?- Bem, se você acha 5 anos pouco tempo... Sim.- Verdade... No fim, cinco anos é tempo suficiente para conhecer minha mãe.- Eu gostaria de ir. Mas não conheço ninguém por lá... Então se você pudesse me fazer companhia, eu ficaria muito feliz.Fiquei olhando para ele sem saber o que responder. Mas Francis respondeu por mim:- Claro que ela ficará honrada em lhe fazer companhia, doutor.Olhei para Francis e depois para o médico
Irina abriu a porta. Ficou um pouco surpresa ao me ver:- Virgínia?- Francis já voltou? Quer dizer... Olá, Irina! Francis já voltou de onde foi?- Não, querida.Olhei novamente no relógio e suspirei, resignada. Droga, ele levou Dothy para cama de novo. Sendo que há minutos atrás estava fingindo que sentia algo por mim. E por que eu deveria me importar com os sentimentos de Francis? Eu mesma havia decidido que seríamos só amigos e que isso era o melhor para nós dois. Então, não tinha direito de cobrar nada dele... Nem de mim mesma. Mesmo que eu decidisse ficar com ele, este seria exatamente o meu futuro: desconfiança, medo, insegurança. Porque Francis não era um homem fiel, tampouco de relacionamentos sérios. Aliás, nenhum de nós dois éramos. Jamais tivemos namoros fixos.- Quem sabe você entra um pouco e espera? – ela convidou.- Não... Tudo bem. Vou voltar e preparar algo para o almoço.- Não mesmo. Eu estou com o almoço pronto e Maurício acabou de me ligar que teve um imprevisto e
Eu dormi sem que minha mãe e Liam tivessem chegado em casa naquela noite... E na certeza de que Francis dormiu acompanhado e longe de mim.Na quinta-feira voltei à loja com minha mãe, para provar o vestido novamente. Para minha tranquilidade, mas não posso dizer felicidade, ele serviu. Perdi as medidas que havia ganhado, focando nos exercícios durante toda a semana e quando exagerava na comida, vomitava em seguida. Mas eu não considerava aquilo nenhum distúrbio. Era só uma tática para perder peso em poucos dias, embora eu ainda não tivesse usado até então.O vestido era lindo. Mas em nada me fazia ficar entusiasmada. Eu gostava do baile, mas queria um dia poder aproveitá-lo sem ter que estar no palco desfilando e sendo julgada e só poder usufruir das últimas músicas e danças.O baile anual, além do concurso de beleza, tinha o objetivo de angariar fundos para projetos sociais de Primavera. Por este motivo, ele sempre era frequentado por prefeitos e políticos de cidades vizinhas. No ano
Eu poderia ter ignorado o que eu vi e ir embora. Mas foi mais forte que eu. Levantei o vestido pesado com minhas mãos e segui, ainda descalça, parando na frente dele, que ficou me encarando surpreso:- Vi?- Que porra você está fazendo aqui? – quase gritei.- Esta é minha colega da faculdade, Tereza. – ele apresentou a mulher, que sequer teve a capacidade de levantar do colo dele.- Oi... – falei mal olhando na cara dela, voltando meus olhos para ele.- Vi? É um prazer conhecê-la. Fran fala muito de você.- Fran? – olhei incrédula para ele. – Por qual motivo você não estava no baile?- Eu cheguei a passar por lá... – ele retirou a garota do colo. - Mas... Tereza achou chato.Olhei para ela. Tereza era mais alta do que eu. Não era magra, corpo curvilíneo. Olhos grandes e escuros. Os cabelos eram pretos e na noite pareciam até azulados. Eram extremamente lisos e ela tinha uma franja longa. Um piercing em forma de argola adornava seu nariz e outro na sobrancelha. Os olhos eram bem delin
- Mãe, você não pode acusar a menina assim.- Eu vi... – ela alegou. – E exijo que esta garota tenha a faixa e a coroa retirados. O título de rainha da Primavera não pertence a ela.No mesmo momento, o prefeito ligou para a Polícia e avisou que Tamires provavelmente havia roubado o dinheiro do baile.Assim que saímos da casa, falei, ainda estagnada:- Mãe... Me diga que você tem certeza do que está falando.- Tenho. – ela confirmou.- Me diga que não está fazendo isso tudo por causa da porra da coroa e da faixa de rainha que pouco me importam.- Se não importam para você, para mim importa.Ela seguiu caminhando rapidamente e eu atrás dela:- É só um título... Nada mais. Ganha uma pequena quantia em dinheiro que não resolve a vida de ninguém. – aleguei.- Você vai ganhar até o fim...- Mãe, eu não me importo. Já tenho cinco coroas e faixas guardados. Posso dar tudo para você. Só não estrague a vida da pobre garota. Ela só tem 15 anos.- Acha que eu mentiria uma coisa tão séria assim, V