Revirei os olhos mais uma vez, completamente insatisfeita. Minha privacidade agora estava indo por ralo abaixo. Olhei ao redor da minha sala e quis matar aqueles dois. Por que caralho tinham que levar quase todas as malas que tinham na mansão? Jason, o mesmo Jason que só usava calça jeans e jaqueta preta, arrastou três malas atrás dele. E Scott, bom, ele realmente andava muito bem arrumado e as cinco malas não eram uma grande surpresa, mas foi bem difícil passar com todas elas sem Marisa ver. Porque aceitar que Jason ia passar uns dias fora de casa, ok, era compreensível, mas se visse Scott carregando metade do seu guarda roupas e dizendo uma coisa parecida, o surto ia vir e ela exigiria saber o que estava acontecendo de fato. E Paul foi claro, nada de deixar a mamãe preocupada. Se soubesse que eu corria qualquer tipo de perigo, ia me enfiar em uma caixinha e não me deixaria sair de jeito nenhum, e de qualquer forma, eu ainda precisava ser Chloe Clinton, advogado empresarial d
→ Alguns anos antes.Quem está constantemente em perigo, sabe como é a sensação de não encontrar paz nunca. Seja indo a um banheiro fechado, saindo para caminhar pelas manhãs, tendo que ir beber água durante a noite sozinha, ou simplesmente colocando a cabeça sobre o travesseiro. Eu tinha acabado de fazer aniversário. Podia ser algo completamente banal, bobo, simples, mas não era. Não quando você faz parte da Família. Marisa me instruiu a vida toda. Sempre disse que até os dezesseis, iam me batizar, com certeza.O significado de batismo na religião nada mais é do que o "primeiro sacramento do cristianismo, que apaga o pecado original de quem o recebe e a este confere o caráter de cristão."Claro, não usamos esse significado ao pé da letra, mas sim, a Organização era como nossa religião. Ela era, exatamente, a nossa máfia. Após passar pelo batismo dela, nós deixávamos de ser simples pessoas para nos tornar novos membros da Família. O pecado real, ao meu ver, começava quando enfi
Fiz o que Jason me instruiu. Nos separamos assim que o sol começou a nascer e me direcionei mais uma vez para a cabana, ficando do lado de fora, apenas aguardando. Não demorou muito. De longe, atrás das árvores altas, pude ver o corpo não muito grande caminhando em minha direção. Não pude negar que um medo me dominou. O olhar daquele homem era feroz, ruim e nojento. Não era só porque eu sabia o que tinha feito, mas porque ele passava a impressão de ser um escroto. Mancando, pude vê-lo chegar mais perto. Com minha faca ainda em punho, comecei a dar passos em sua direção. Meu medo crescendo, uma ansiedade me dominando, tudo me levando para um lugar estranho jamais visitado. Porém, quando ficamos a cerca de cem metros um do outro, comecei a desviar meus passos em direção ao rio. Não ia perder tempo, tinha que levá-lo até lá. — Não foge, não. Sua putinha! Ah se ele soubesse o que a putinha estava desejando fazer com aquela cara asquerosa dele. Olhei por cima do ombro e o vi
— Ei, vai com calma. Está doendo pra caralho! — grunhi, me retorcendo na cama.Jason continuou com a cara fechada ignorando meu estresse. Sabia que nada me faria ficar calma. Eu queria chorar, gritar, e ainda assim precisava me manter polida e sorridente, assim como os outros. Agora eu era parte da Família, bastava apenas saber em qual grupo achavam melhor me encaixar. Corvos, Serpentes, Lobos e Guardiões. O último podia ser descartado, um Guardião era escolhido antes mesmo do seu batismo. Não que fosse minha maior preocupação no momento, mas queria sim saber se conseguiria me livrar do peso de ser uma Serpente. Matei um homem há pouco mais de oito horas e não pretendia fazer isso pelos próximos dias até o fim da minha vida. Só queria minha casa, por mais que não me parecesse ser o lugar mais seguro do mundo. Queria Corey. Poder me agarrar em seus braços e ficar neles por um bom tempo. Eu cometi um crime, e o que mais me doía era a lembrança de Paul me deixando naquela caban
Minha cabeça estava latejando, o fundo dos olhos doendo e o pescoço também não colaborava. O cansaço ia me dominar, se unindo ao estresse e minha impaciência. Ninguém havia descoberto muito sobre o suposto investigador que de investigador não tinha nada. O que ficou claro foi que o mesmo detetive que foi até Corey, estava de alguma forma ligado ao homem que apareceu na Hayans e entrou na minha sala. Os homens responsáveis por descobrirem mais, acreditavam que o melhor era esperar mais passos deles, então não tinha o que ser feito logo de cara, a não ser esperar.Pressionei a têmpora, suspirando exausta após terminar de assinar a pilha de documentos que estava sobre minha mesa. Apesar de Paul dizer que eu podia sair mais cedo e não me esforçar tanto, ainda estava tentando seguir minha rotina normal, na intenção de não pensar demais no que ia me levar ao caos. Deixei minha caneta ao lado do computador, e acompanhei com o olhar ela rolar pela mesa até cair no chão. Deixei que caís
— E então, posso te ajudar de alguma forma? Estou meio sem ter o que fazer por enquanto, senhorita J. Dei de ombros, não tendo nada em mente. Podia pedir para ele fazer o trabalho de Liza, mas ele não seria a melhor pessoa para isso, com certeza não. No máximo, ia oferecer um baseado para as pessoas e nós seríamos processados.Nos minutos seguintes, andei dando uma olhada em currículos que foram mandados no meu email por Mandy, a meu pedido, e investiguei um por um, pensando que talvez fosse o momento de contratar. Não que eu quisesse substituir Liza, mas ela estava em uma gravidez complicada, muitos sintomas chatos e faltas frequentes, então alguém ia ter que dar uma forcinha.Jason sumiu depois de não muito tempo, dizendo que ia tomar um café, mas eu jurei que ele estava jogando charme para cima de Mandy. Era raro as vezes em que eu realmente via ele interessado em uma mulher. Claro, ele se interessava quando tinha que seduzir, conquistar, mas após fazer isso facilmente, esque
Talvez não fosse a melhor ideia do mundo por causa dela, Corey, e o passado, mas eu precisava muito de alguém, e se existisse uma pessoa que eu confiasse mais do que confiava em Mia, não conhecia ainda. Não um ser humano que eu pudesse deixar em uma sala com uma celebridade e sair com a consciência tranquila. Ela era perfeita no jeito de agir e falar, super educada, e tinha a cabeça dentro de todas as notícias desse mundo que a Revista abordava. Além de que, era só fazer uma e outra pergunta, anotar tudo, e pronto, não ia exigir mais nada dela. Seria ótimo. A solução maravilhosa. — Enlouqueceu, senhorita Legard? Eu não posso trabalhar na mesma empresa que o Corey! Ha! Aí estava o motivo real. Algo que poderia ser facilmente contornado por mim.— Serão só trinta dias, até que eu encontre alguém de confiança e que seja bom no que faz. Você nem vai ter que conviver com o Corey, vai ver só. O Scott é quem costuma cuidar dessas coisas. Vocês vão se dar bem.É, olhando por esse lado…
Li uma vez em uma matéria na Hayans, que havia comprovações científicas de que uma paixão dura de doze a vinte e quatro meses, ou seja, após dois anos você já não sente mais aquele fogo todo da paixão, nem mesmo os desejos latentes. No entanto, quando vi Scott Legard jogado no meu sofá, com sua maldita calça de pijama e seu tronco descoberto, sim, eu me apaixonei uma segunda vez e nem sabia se isso era realmente possível. Deixei minha bolsa em cima da mesinha no canto da sala, fazendo assim com que seus olhos fossem até mim, e até seu irmão, claro. Jason entrou logo atrás, tirando seus tênis e os deixando jogados perto da porta quando a trancou com a chave que lhe dei. O filho da puta só podia estar querendo acabar de vez com minha paciência, já tinha repetido umas cinquenta vezes que seria necessário manter a organização no meu apartamento, caso contrário eu o expulsaria, e mesmo assim pareceu ignorar cada palavra que eu disse. Tentando não surtar por ver meu espaço bagunçado, m