→ Alguns anos antes. Se meus pais soubessem a merda que eu estava fazendo, com certeza dessa vez seria deserdada. Mia dizia sempre que eu era um poço sem fundo para fazer merdas. Eu gostava da palavra "merda", achava que se encaixava comigo, a bastarda dos Legards. E foda-se que me tratavam do mesmo modo que os outros, eu ainda era a garotinha adotada, que perdeu a mãe biológica, e nunca soube quem era o pai porque ele a recusou antes mesmo de sair do ventre de Coral. Joguei a cabeça para trás e ri alto, contudo, ninguém podia ouvir visto que a batida da música estava tão alta que as pessoas só se preocupavam em dançar e girar pulando ao redor da pista. Minha euforia não era apenas por estar em uma boate maravilhosa, dançando como se a noite não tivesse fim, mas também por ter ingerido algumas coisas de aparência, sabor e procedência duvidosa. Talvez houvesse alguma droga no meio disso, no meio das bebidas e dos chicletes, das balas e… enfim, eu estava bem fora de mim mesma. C
— Ele faria tudo isso porque é um idiota! O Corey é um insuportável que se acha dono de mim, quando na verdade eu nem sou mesmo irmã dele. Não sou nada daquela família. Joe me encarou com certa tristeza, por algum motivo estranho ele parecia saber o que eu sentia. Era como se fossemos dois desajustados. — Por mais que você tenha sido adotada, eles te acolheram com todo o carinho do mundo. Mesmo assim não consegue se encaixar? Acha mesmo que não faz parte dos Legards? Sua pergunta foi carregada de interesse, um interesse real.Bom, meio contra a minha vontade, eu fazia parte sim, mas também sabia que eu não passava de uma menina que nasceu filha da empregada e que apenas foi acolhida por pena. Era o que eu pensava. As fotos podiam mostrar Marisa sorrindo feito boba enquanto acariciava a barriga de Coral, mesmo assim eu sentia que aquele não era o meu lugar.Havia a dúvida. Por qual razão me amavam tanto e por que eu tinha todos os direitos dos filhos biológicos? Não entrava na
"Respira, inspira e não pira."A frase pintada na parede do consultório ainda estava gravada em minha mente. Eu não podia colapsar. Não era o momento, não era a hora, não havia motivos. Bom, isso foi o que coloquei na minha cabeça. Pelo que Paul supôs, o investigador ia aparecer hora ou outra para saber mais sobre Joe. Eu não entendia nada daquilo, não era uma advogada criminal, era uma empresarial e tudo o que me interessava era resolver assuntos da Hayans. Não sabia se eles iam querer um depoimento formal ou que caralho iam fazer, mas então, quando dei as caras na Revista, minha surpresa ao ver um homem me esperando na recepção foi bem visível. Não soube esconder minha cara de decepção ao ser colocada frente a frente com aquele investigador, mas ele foi muito gentil, e por esse motivo, estava dentro da minha sala, querendo apenas que eu passasse algum tipo de informação não formal. Paul supôs errado. Não deu nem três dias e já estavam no nosso pé. Continuei com os braços c
Não peguei minha arma, apenas me levantei, mas antes que me aproximasse, o circo ficou quase completo com Scott entrando na sala com os punhos cerrados e um olhar preocupado. Quando colocou suas íris claras em mim, pareceu mais tranquilo, no entanto, se encarregou de ir até Jason para evitar que o pior acontecesse bem no meu escritório. — Solta ele! — ordenou, colocando a mão no ombro do irmão. — Não até ele falar porquê está aqui e quem o mandou de verdade — grunhiu, e eu jurei que se não fosse por Scott segurar seu pulso, um soco bem forte ia acertar a cara do desgraçado. — O papai disse para deixar ele ir embora. Vai, Jason. Solta ele! Meu irmão ponderou, contudo, fez o que Scott pediu, e o maldito homem permaneceu sem dizer uma palavra sequer. O mais engraçado é que não aparentava ter medo algum. Ele não estava com medo de nenhum dos dois, e muito menos de mim.— Obrigado pela colaboração, senhorita Legard. — Ajeitou sua camisa com naturalidade e pegou sua maleta. — Vai se
Engoli em seco, tentando manter a calma e não pensar nas piores coisas. Não podia entrar em colapso, não podia. Corey batia seu pé no chão de uma forma bem chata e irritante. Jason estava impaciente, andando de um lado para o outro. Scott era o quieto, tinha seus braços cruzados rente ao peito enquanto mantinha seu corpo encostado na parede. E papai, bem, ele estava sentado em sua poltrona confortável, com a mão no queixo e uma cara de desagrado. — Pare de gastar o sapato, Jason! — repreendeu como se fosse a mamãe. O homem parou e também cruzou os braços, olhando insatisfeito para o pai. — Por que então ninguém abriu a boca para dizer o que de fato está acontecendo? Quer que eu fique calmo quando a única informação que me passaram é de que a Chloe está correndo perigo? Papai estreitou os olhos e avaliou Jason, ainda pensativo. Sabia que se fosse por ele, nenhuma informação seria repassada, então não tinha mais como ficar calada. — Eu estava com o Joe algumas semanas antes d
Sempre soube que minhas ações um dia teriam consequências. Eu sabia que meus atos ruins iam resultar em alguma coisa um dia, mas não esperava que tudo viesse de uma vez só.Eu estava perdendo Corey, ele ia se casar e agora já não havia nada que eu pudesse fazer. Scott estava diferente, mais uma vez, e eu não podia mexer nenhum pauzinho para fazê-lo me perdoar ou me querer. E Joe havia retornado, seja como for, ele estava de volta e buscava vingança.Deixei meus ombros caírem e fiquei sentada na beirada da cama, pensando no que eu faria dali em diante. Não tive medo de entrar no meu antigo quarto, na verdade, eu esperava encontrar algo lá, para que eu pudesse resolver de uma vez toda aquela situação. Se Joe me queria, eu estava bem ali esperando por ele, podia me levar, podia me fazer pagar, mas teria que deixar todos os outros em paz. Lembro que um dia Marisa me disse para não insistir nos meus erros, para não continuar andando fora da linha, porque quando estivesse maior isso s
Meu irmão afagou meu cabelo, encostando a bochecha no topo da minha cabeça em forma de carinho e consolo.Podia jurar que odiava suas provocações, odiava trocar farpas com ele, mas amava o seu abraço, amava o carinho e a segurança que ele me passava. Jason, apesar de tudo, era a minha parte calma e boa da Família. — Não se preocupe com isso. O importante é que o pior não aconteceu. Eu não me perdoaria se soubesse que te fizeram um mal desse tipo e não fui capaz de te proteger por simplesmente não estar cumprindo meu papel. — Eu também não estava cumprindo o meu. Fiz tudo que me instruíram a não fazer. Antes que nossa conversa avançasse, a porta do quarto foi aberta mais uma vez e Scott colocou sua cabeça para dentro do cômodo. Após alguns segundos de silêncio, entendeu que podia entrar e mais a vez a madeira foi fechada, dessa vez o homem trancou, para impedir que mais alguém se juntasse a nós. Scott caminhou devagar e após chegar perto da cama, se sentou ao meu lado, fazendo co
Revirei os olhos mais uma vez, completamente insatisfeita. Minha privacidade agora estava indo por ralo abaixo. Olhei ao redor da minha sala e quis matar aqueles dois. Por que caralho tinham que levar quase todas as malas que tinham na mansão? Jason, o mesmo Jason que só usava calça jeans e jaqueta preta, arrastou três malas atrás dele. E Scott, bom, ele realmente andava muito bem arrumado e as cinco malas não eram uma grande surpresa, mas foi bem difícil passar com todas elas sem Marisa ver. Porque aceitar que Jason ia passar uns dias fora de casa, ok, era compreensível, mas se visse Scott carregando metade do seu guarda roupas e dizendo uma coisa parecida, o surto ia vir e ela exigiria saber o que estava acontecendo de fato. E Paul foi claro, nada de deixar a mamãe preocupada. Se soubesse que eu corria qualquer tipo de perigo, ia me enfiar em uma caixinha e não me deixaria sair de jeito nenhum, e de qualquer forma, eu ainda precisava ser Chloe Clinton, advogado empresarial d