Não peguei minha arma, apenas me levantei, mas antes que me aproximasse, o circo ficou quase completo com Scott entrando na sala com os punhos cerrados e um olhar preocupado. Quando colocou suas íris claras em mim, pareceu mais tranquilo, no entanto, se encarregou de ir até Jason para evitar que o pior acontecesse bem no meu escritório. — Solta ele! — ordenou, colocando a mão no ombro do irmão. — Não até ele falar porquê está aqui e quem o mandou de verdade — grunhiu, e eu jurei que se não fosse por Scott segurar seu pulso, um soco bem forte ia acertar a cara do desgraçado. — O papai disse para deixar ele ir embora. Vai, Jason. Solta ele! Meu irmão ponderou, contudo, fez o que Scott pediu, e o maldito homem permaneceu sem dizer uma palavra sequer. O mais engraçado é que não aparentava ter medo algum. Ele não estava com medo de nenhum dos dois, e muito menos de mim.— Obrigado pela colaboração, senhorita Legard. — Ajeitou sua camisa com naturalidade e pegou sua maleta. — Vai se
Engoli em seco, tentando manter a calma e não pensar nas piores coisas. Não podia entrar em colapso, não podia. Corey batia seu pé no chão de uma forma bem chata e irritante. Jason estava impaciente, andando de um lado para o outro. Scott era o quieto, tinha seus braços cruzados rente ao peito enquanto mantinha seu corpo encostado na parede. E papai, bem, ele estava sentado em sua poltrona confortável, com a mão no queixo e uma cara de desagrado. — Pare de gastar o sapato, Jason! — repreendeu como se fosse a mamãe. O homem parou e também cruzou os braços, olhando insatisfeito para o pai. — Por que então ninguém abriu a boca para dizer o que de fato está acontecendo? Quer que eu fique calmo quando a única informação que me passaram é de que a Chloe está correndo perigo? Papai estreitou os olhos e avaliou Jason, ainda pensativo. Sabia que se fosse por ele, nenhuma informação seria repassada, então não tinha mais como ficar calada. — Eu estava com o Joe algumas semanas antes d
Sempre soube que minhas ações um dia teriam consequências. Eu sabia que meus atos ruins iam resultar em alguma coisa um dia, mas não esperava que tudo viesse de uma vez só.Eu estava perdendo Corey, ele ia se casar e agora já não havia nada que eu pudesse fazer. Scott estava diferente, mais uma vez, e eu não podia mexer nenhum pauzinho para fazê-lo me perdoar ou me querer. E Joe havia retornado, seja como for, ele estava de volta e buscava vingança.Deixei meus ombros caírem e fiquei sentada na beirada da cama, pensando no que eu faria dali em diante. Não tive medo de entrar no meu antigo quarto, na verdade, eu esperava encontrar algo lá, para que eu pudesse resolver de uma vez toda aquela situação. Se Joe me queria, eu estava bem ali esperando por ele, podia me levar, podia me fazer pagar, mas teria que deixar todos os outros em paz. Lembro que um dia Marisa me disse para não insistir nos meus erros, para não continuar andando fora da linha, porque quando estivesse maior isso s
Meu irmão afagou meu cabelo, encostando a bochecha no topo da minha cabeça em forma de carinho e consolo.Podia jurar que odiava suas provocações, odiava trocar farpas com ele, mas amava o seu abraço, amava o carinho e a segurança que ele me passava. Jason, apesar de tudo, era a minha parte calma e boa da Família. — Não se preocupe com isso. O importante é que o pior não aconteceu. Eu não me perdoaria se soubesse que te fizeram um mal desse tipo e não fui capaz de te proteger por simplesmente não estar cumprindo meu papel. — Eu também não estava cumprindo o meu. Fiz tudo que me instruíram a não fazer. Antes que nossa conversa avançasse, a porta do quarto foi aberta mais uma vez e Scott colocou sua cabeça para dentro do cômodo. Após alguns segundos de silêncio, entendeu que podia entrar e mais a vez a madeira foi fechada, dessa vez o homem trancou, para impedir que mais alguém se juntasse a nós. Scott caminhou devagar e após chegar perto da cama, se sentou ao meu lado, fazendo co
Revirei os olhos mais uma vez, completamente insatisfeita. Minha privacidade agora estava indo por ralo abaixo. Olhei ao redor da minha sala e quis matar aqueles dois. Por que caralho tinham que levar quase todas as malas que tinham na mansão? Jason, o mesmo Jason que só usava calça jeans e jaqueta preta, arrastou três malas atrás dele. E Scott, bom, ele realmente andava muito bem arrumado e as cinco malas não eram uma grande surpresa, mas foi bem difícil passar com todas elas sem Marisa ver. Porque aceitar que Jason ia passar uns dias fora de casa, ok, era compreensível, mas se visse Scott carregando metade do seu guarda roupas e dizendo uma coisa parecida, o surto ia vir e ela exigiria saber o que estava acontecendo de fato. E Paul foi claro, nada de deixar a mamãe preocupada. Se soubesse que eu corria qualquer tipo de perigo, ia me enfiar em uma caixinha e não me deixaria sair de jeito nenhum, e de qualquer forma, eu ainda precisava ser Chloe Clinton, advogado empresarial d
→ Alguns anos antes.Quem está constantemente em perigo, sabe como é a sensação de não encontrar paz nunca. Seja indo a um banheiro fechado, saindo para caminhar pelas manhãs, tendo que ir beber água durante a noite sozinha, ou simplesmente colocando a cabeça sobre o travesseiro. Eu tinha acabado de fazer aniversário. Podia ser algo completamente banal, bobo, simples, mas não era. Não quando você faz parte da Família. Marisa me instruiu a vida toda. Sempre disse que até os dezesseis, iam me batizar, com certeza.O significado de batismo na religião nada mais é do que o "primeiro sacramento do cristianismo, que apaga o pecado original de quem o recebe e a este confere o caráter de cristão."Claro, não usamos esse significado ao pé da letra, mas sim, a Organização era como nossa religião. Ela era, exatamente, a nossa máfia. Após passar pelo batismo dela, nós deixávamos de ser simples pessoas para nos tornar novos membros da Família. O pecado real, ao meu ver, começava quando enfi
Fiz o que Jason me instruiu. Nos separamos assim que o sol começou a nascer e me direcionei mais uma vez para a cabana, ficando do lado de fora, apenas aguardando. Não demorou muito. De longe, atrás das árvores altas, pude ver o corpo não muito grande caminhando em minha direção. Não pude negar que um medo me dominou. O olhar daquele homem era feroz, ruim e nojento. Não era só porque eu sabia o que tinha feito, mas porque ele passava a impressão de ser um escroto. Mancando, pude vê-lo chegar mais perto. Com minha faca ainda em punho, comecei a dar passos em sua direção. Meu medo crescendo, uma ansiedade me dominando, tudo me levando para um lugar estranho jamais visitado. Porém, quando ficamos a cerca de cem metros um do outro, comecei a desviar meus passos em direção ao rio. Não ia perder tempo, tinha que levá-lo até lá. — Não foge, não. Sua putinha! Ah se ele soubesse o que a putinha estava desejando fazer com aquela cara asquerosa dele. Olhei por cima do ombro e o vi
— Ei, vai com calma. Está doendo pra caralho! — grunhi, me retorcendo na cama.Jason continuou com a cara fechada ignorando meu estresse. Sabia que nada me faria ficar calma. Eu queria chorar, gritar, e ainda assim precisava me manter polida e sorridente, assim como os outros. Agora eu era parte da Família, bastava apenas saber em qual grupo achavam melhor me encaixar. Corvos, Serpentes, Lobos e Guardiões. O último podia ser descartado, um Guardião era escolhido antes mesmo do seu batismo. Não que fosse minha maior preocupação no momento, mas queria sim saber se conseguiria me livrar do peso de ser uma Serpente. Matei um homem há pouco mais de oito horas e não pretendia fazer isso pelos próximos dias até o fim da minha vida. Só queria minha casa, por mais que não me parecesse ser o lugar mais seguro do mundo. Queria Corey. Poder me agarrar em seus braços e ficar neles por um bom tempo. Eu cometi um crime, e o que mais me doía era a lembrança de Paul me deixando naquela caban