Kiara andou de um lado para o outro à nossa frente, calma e serena, olhando para cada um de nós a cada passo dado. Sem tirar meus olhos de seu corpo, permaneci de joelhos no chão como os outros, de jeitinho que precisávamos ficar diante a Alfa, ansiosa querendo ouvir de uma vez a bronca que viria e as sentenças que seriam dadas. Se ela fosse dar algo pesado ao papai, nós teríamos que agir para impedir que o pior acontecesse, e então enfim nós íamos dar um jeito de destruir a Família como Joe planejava fazer. Não ia permitir que meu pai fosse morto por eles, não mesmo. — A Família sempre soube de Joe Foster, antes mesmo do que ele fez com a Chloe. Antes mesmo de Corey receber a ordem de executar uma missão específica para entrar para as Serpentes. Muito antes de Paul sequer imaginar que nós estávamos de olho em cada passo dele. Nós sempre soubemos, e sempre acompanhamos, mesmo que de longe. Acho que todos ali ficaram surpresos com a afirmação, mas eu não. Era meio que óbvio para m
Kiara deixou de tocar meu queixo para se aproximar mais uma vez do neto, o olhando de cima com sua postura de rainha. — Não podemos fingir que isso seria a pior das tragédias existentes quando muitas piores aconteceram. Eu vejo Chloe como minha neta sim, mas também sei que ela é uma mulher que se encaixou em um lugar que não era exclusivamente destinado a ela, e que ao fazer isso, se mostrou uma grande Legard. E sim, são irmãos mas não vou me enganar dizendo que o sangue nas veias deles é o mesmo. Sendo sincera, eu quero estar viva para ver Chloe liderando como Alfa um dia, e quero que um dos meus melhores Lobos esteja ao lado dela, se for o desejo de ambos. Não sejamos hipócritas aqui, Chloe é uma Legard, mas também é Chloe Clinton, filha de Coral. Posso escolher de qual ângulo quero enxergá-la, assim como você escolheu quando não poupou palavras para dizer as coisas que disse após ficar noivo. Suspirei com a enxurrada de palavras, e sim, escondi um sorriso debochado. Não tente dr
Mamãe estava abatida, lógico. Seus olhos vermelhos e inchados demonstravam que a conversa com Paul tinha sido pesada, e que a revelação de tudo o que aconteceu no passado e resultou no que havia acontecido no presente, foi ainda mais difícil.No lugar dela eu não estaria aguentando o baque, para ser sincera. Não mesmo.Uma traição dolorosa de tamanha proporção não ia me deixar ficar em pé e com a postura intacta como a dela. Apesar do visível abalo emocional, ela ainda era Marisa Legard, uma rainha aos meus olhos.Entrei no quarto grande onde ela havia se acomodado e fechei a porta nos trancando ali. Pensei em um milhão de frases para dizer, e no fim nenhuma parecia ser certa ou favorável para o momento.— Sabe, passando por tudo isso agora, eu percebo como guardar segredos das pessoas que amamos é uma coisa destruidora — iniciou sua fala, caminhando até sua bolsa que estava sobre a poltrona perto da imensa janela de vidros claros.Observei atentamente cada movimento seu, querendo
Suas palavras fizeram minha cabeça girar. Não podia ser. Não podia ser algo real, e não, eu não podia ser filha de um homem rico, certo? Eu não podia ser filha, e irmã de… de Madson? A mesma Madson que… por Deus! Não! Antes que eu me virasse para Marisa, vi Coral esfregando as mãos na calça jeans que vestia, olhando para os próprios pés por alguns segundos para então voltar a falar: "Eu não morri, apesar de ser isso que você ouviu até agora. Ninguém morreu, Chloe. A mulher que te gerou ainda deve estar viva, vai depender muito de quando estiver vendo esse vídeo, mas acredito que ainda estarei viva. Se depender da minha saúde, sim, com certeza ainda estarei viva. Espero que nisso você tenha puxado para mim, ter uma saúde de ferro vai te fazer bem. Bom, voltando ao ponto principal desse vídeo, chegou uma hora que cansei de tudo, cansei mesmo, e foi nesse momento que a Marisa me ofereceu uma boa quantia em dinheiro pra ir embora e deixar você. Não vou mentir, nem precisei pens
Senti os dedos macios de mamãe tocando minha cabeça e então entendi uma coisa que me recusei a entender por muitos anos. Ela era minha mãe. Marisa Legard era a minha mãe de verdade e eu nunca aceitei isso bem, mas ela era. Ergui o olhar e não tive vergonha de que ela me visse chorando. Não fiz menção de limpar as lágrimas, eu só me levantei e a abracei, chorando ainda mais por saber que fui cruel muitas e muitas vezes. Culpá-la por me comprar, eu não faria jamais. Quem tinha um compromisso comigo era Coral, ela foi quem fodeu e me gerou, ela quem deu a luz a uma garotinha e então decidiu que seria uma boa ideia fazer negócio usando um bebê. Vagabunda. Suja. Nojenta. A vadia estava viva quando eu me permiti remoer por anos uma suposta morte. Sofri por meses e meses achando que era injusto eu ter perdido minha mãe tão cedo e agora, a verdade é que ela estava viva tendo uma vida boa e longe de mim. Longe do seu "fruto de uma traição". — Quanto você pagou? — sussurrei a per
"Ela acordou." Foi o que eu ouvi ao longe como se uma voz distante anunciasse o fato.Forcei meus olhos a se abrirem, tendo dificuldade em separar as pálpebras. O quarto escuro com paredes pintadas em tons de marrom e cinza ajudaram a deixar minha visão menos turva.Girei a cabeça para o lado e mais uma vez quem estava comigo era Scott, e Jason se aproximou com passos incertos até me alcançar na cama macia.— Chloe, está me ouvindo?Encarei Scott que tinha o olhar preocupado sobre mim mas não me dei ao trabalho de responder.Sim, eu o ouvia sim, com total clareza, só que a minha mente ainda estava em colapso e também havia vozes. Vozes de Coral, vozes de papai, de Marisa, de Joe e até mesmo vozes de Madson.— Responda, princesa das trevas — Jason insistiu e meu coração aqueceu ao ouvir o apelido bobo.— M-mamãe — balbuciei procurando por ela no cômodo.Como em um passe de mágica, a mulher se fez presente ao lado dos dois, e estava tão preocupada quanto seu filho mais velho.— Estou
A água quente caía por meu corpo, da cabeça até os pés, lavando terra, pequenas folhas e sangue. Sangue meu, sangue de Joe, sangue sujo que era prova de um crime que havia cometido há pouco tempo.Scott continuou esfregando minhas costas com a esponja macia, enquanto eu passava o sabonete pelo pescoço, deixando que a espuma tirasse todo o cheiro ruim e o vermelho carmim que grudou em minha pele.Ia me sentindo limpa, leve talvez, mas aliviada por saber que Joe Foster já não respirava mais, isso com certeza.— Não podemos deixar que punam o Buck. Ele é só um garoto confuso. Já está passando por muita coisa ruim, nós não podemos permitir que as coisas só piorem.O homem levou a esponja até o jato de água que caía e a lavou, tirando a sujeira que ficou nela.Seu suspiro foi um tanto alarmante. Não era possível que ia se dar por vencido.Buck era só um jovem agindo para tentar salvar sua vida e sua futura família. Ele errou, claro que sim, mas não podia receber uma punição pesada.Ele se
Bati na porta três vezes e imitando os meus irmãos que nunca esperavam eu permitir a entrada deles, invadi o imenso escritório onde Kiara se enfiava.Quando escancarei a porta e avaliei o espaço, encontrei Buck sem camisa caído de joelhos no chão, com suas mãos e pés amarrados por correntes de aço, e até mesmo seu pescoço tinha os elos pesados os envolvendo.Sem pensar duas vezes, apressei meus passos para me jogar contra ele, mas a figura de Kiara surgiu do lado oposto e sua feição foi divisora de águas.Eu não devia me aproximar dele, de jeito nenhum.Parei no meio do escritório gigantesco, que tinha o teto há uns seis metros de nós, e a decoração toda em vermelho, preto e dourado. Kiara levou os olhos até o neto que resmungou alguma coisa e eu acompanhei seu gesto, voltando a encarar meu irmão.Buck fez a pior cara de choro que poderia, causando uma dor no meu coração que há pouco tinha sido acalmado por Scott. Não adiantava. Se tudo não ficasse em ordem eu nunca encontraria paz