— Acha que eu queria estar passando por tudo isso, Chloe? — perguntou, com um cansaço visível. — Pediu uma mulher em casamento, Corey. Isso é o óbvio do que iria acontecer! — E acha mesmo que eu queria me casar? — Seu tom alto atraiu a atenção de algumas pessoas que transitavam por ali. Ele enfim me soltou quando uma mulher olhou feio para ele, observando sua mão apertando meu braço, e então eu me recompus. — Você pediu a Lily em casamento, então sim, acho que você queria se casar! Se não a quisesse, Corey, teria falado comigo antes e nós dois íamos dar um jeito nisso juntos, não fazendo o que você fez. Mas, se fez, é porque sente que ela será uma boa mulher para você. Então, sim, você quer isso! Ele riu sem emoção alguma, olhou para o céu ensolarado de Nova Iorque e depois voltou a me encarar, triste pra caramba.— Eu não tenho outra escolha. Vou fazer isso antes que a Família se encarregue de fazer por mim, mas não é o que eu queria! — Então o que você queria, porra? — grunhi,
— Não foi culpa sua, Chloe. Nunca foi culpa sua! — Se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos. — Ele tentou te estuprar, tentou coisas que… por Deus! Ele pediu por aquele fim! Suspirei, atordoada e não muito confortável por estar falando sobre isso. Joe Foster não deveria mais ser um incômodo, se fosse, minhas sessões de terapia não haviam ajudado em nada. Cada minuto que passei dentro de um consultório então não teria valido a pena, nem as mentiras que precisei inventar para Jason não saber os motivos de eu estar em uma consulta com profissionais responsáveis por cuidar do meu psicológico. Era para falar sobre Scott, era para contar sobre o que me fez bem, e lá estávamos nós regredindo, voltando para o passado assombroso que nos perseguia. Eu sabia lidar com a forma como aconteceu o meu batismo na Família, sabia lidar com o fato de que precisei tirar a vida de um homem e que encaminhei muitos outros para a morte, mas literalmente não conseguia ficar bem sabendo que fiz tu
→ Alguns anos antes. Se meus pais soubessem a merda que eu estava fazendo, com certeza dessa vez seria deserdada. Mia dizia sempre que eu era um poço sem fundo para fazer merdas. Eu gostava da palavra "merda", achava que se encaixava comigo, a bastarda dos Legards. E foda-se que me tratavam do mesmo modo que os outros, eu ainda era a garotinha adotada, que perdeu a mãe biológica, e nunca soube quem era o pai porque ele a recusou antes mesmo de sair do ventre de Coral. Joguei a cabeça para trás e ri alto, contudo, ninguém podia ouvir visto que a batida da música estava tão alta que as pessoas só se preocupavam em dançar e girar pulando ao redor da pista. Minha euforia não era apenas por estar em uma boate maravilhosa, dançando como se a noite não tivesse fim, mas também por ter ingerido algumas coisas de aparência, sabor e procedência duvidosa. Talvez houvesse alguma droga no meio disso, no meio das bebidas e dos chicletes, das balas e… enfim, eu estava bem fora de mim mesma. C
— Ele faria tudo isso porque é um idiota! O Corey é um insuportável que se acha dono de mim, quando na verdade eu nem sou mesmo irmã dele. Não sou nada daquela família. Joe me encarou com certa tristeza, por algum motivo estranho ele parecia saber o que eu sentia. Era como se fossemos dois desajustados. — Por mais que você tenha sido adotada, eles te acolheram com todo o carinho do mundo. Mesmo assim não consegue se encaixar? Acha mesmo que não faz parte dos Legards? Sua pergunta foi carregada de interesse, um interesse real.Bom, meio contra a minha vontade, eu fazia parte sim, mas também sabia que eu não passava de uma menina que nasceu filha da empregada e que apenas foi acolhida por pena. Era o que eu pensava. As fotos podiam mostrar Marisa sorrindo feito boba enquanto acariciava a barriga de Coral, mesmo assim eu sentia que aquele não era o meu lugar.Havia a dúvida. Por qual razão me amavam tanto e por que eu tinha todos os direitos dos filhos biológicos? Não entrava na
"Respira, inspira e não pira."A frase pintada na parede do consultório ainda estava gravada em minha mente. Eu não podia colapsar. Não era o momento, não era a hora, não havia motivos. Bom, isso foi o que coloquei na minha cabeça. Pelo que Paul supôs, o investigador ia aparecer hora ou outra para saber mais sobre Joe. Eu não entendia nada daquilo, não era uma advogada criminal, era uma empresarial e tudo o que me interessava era resolver assuntos da Hayans. Não sabia se eles iam querer um depoimento formal ou que caralho iam fazer, mas então, quando dei as caras na Revista, minha surpresa ao ver um homem me esperando na recepção foi bem visível. Não soube esconder minha cara de decepção ao ser colocada frente a frente com aquele investigador, mas ele foi muito gentil, e por esse motivo, estava dentro da minha sala, querendo apenas que eu passasse algum tipo de informação não formal. Paul supôs errado. Não deu nem três dias e já estavam no nosso pé. Continuei com os braços c
Não peguei minha arma, apenas me levantei, mas antes que me aproximasse, o circo ficou quase completo com Scott entrando na sala com os punhos cerrados e um olhar preocupado. Quando colocou suas íris claras em mim, pareceu mais tranquilo, no entanto, se encarregou de ir até Jason para evitar que o pior acontecesse bem no meu escritório. — Solta ele! — ordenou, colocando a mão no ombro do irmão. — Não até ele falar porquê está aqui e quem o mandou de verdade — grunhiu, e eu jurei que se não fosse por Scott segurar seu pulso, um soco bem forte ia acertar a cara do desgraçado. — O papai disse para deixar ele ir embora. Vai, Jason. Solta ele! Meu irmão ponderou, contudo, fez o que Scott pediu, e o maldito homem permaneceu sem dizer uma palavra sequer. O mais engraçado é que não aparentava ter medo algum. Ele não estava com medo de nenhum dos dois, e muito menos de mim.— Obrigado pela colaboração, senhorita Legard. — Ajeitou sua camisa com naturalidade e pegou sua maleta. — Vai se
Engoli em seco, tentando manter a calma e não pensar nas piores coisas. Não podia entrar em colapso, não podia. Corey batia seu pé no chão de uma forma bem chata e irritante. Jason estava impaciente, andando de um lado para o outro. Scott era o quieto, tinha seus braços cruzados rente ao peito enquanto mantinha seu corpo encostado na parede. E papai, bem, ele estava sentado em sua poltrona confortável, com a mão no queixo e uma cara de desagrado. — Pare de gastar o sapato, Jason! — repreendeu como se fosse a mamãe. O homem parou e também cruzou os braços, olhando insatisfeito para o pai. — Por que então ninguém abriu a boca para dizer o que de fato está acontecendo? Quer que eu fique calmo quando a única informação que me passaram é de que a Chloe está correndo perigo? Papai estreitou os olhos e avaliou Jason, ainda pensativo. Sabia que se fosse por ele, nenhuma informação seria repassada, então não tinha mais como ficar calada. — Eu estava com o Joe algumas semanas antes d
Sempre soube que minhas ações um dia teriam consequências. Eu sabia que meus atos ruins iam resultar em alguma coisa um dia, mas não esperava que tudo viesse de uma vez só.Eu estava perdendo Corey, ele ia se casar e agora já não havia nada que eu pudesse fazer. Scott estava diferente, mais uma vez, e eu não podia mexer nenhum pauzinho para fazê-lo me perdoar ou me querer. E Joe havia retornado, seja como for, ele estava de volta e buscava vingança.Deixei meus ombros caírem e fiquei sentada na beirada da cama, pensando no que eu faria dali em diante. Não tive medo de entrar no meu antigo quarto, na verdade, eu esperava encontrar algo lá, para que eu pudesse resolver de uma vez toda aquela situação. Se Joe me queria, eu estava bem ali esperando por ele, podia me levar, podia me fazer pagar, mas teria que deixar todos os outros em paz. Lembro que um dia Marisa me disse para não insistir nos meus erros, para não continuar andando fora da linha, porque quando estivesse maior isso s