Sorri, me abaixando para tirar o tênis dos pés e arrancar as meias junto. Quase caí de cara no chão, mas me equilibrei logo, retomando a postura enquanto o olhar acusador do homem pesava sobre mim.E que olhar!— Só saí pra dançar um pouco, nada demais. Não seja uma réplica do papai, Scott — choraminguei fazendo meu típico drama. No fim, dei de ombros enquanto chutei meus tênis para debaixo da cama e fui até o armário à procura de um pijama confortável. Teria que tomar banho e dormir, caso contrário, na manhã seguinte eu nem ia conseguir levantar da cama para dar a continuidade na mentira que Scott criou. Se eu quisesse dizer para Paul que cheguei cedo para me juntar ao café em família, teria que estar com uma cara aceitável. — Você está cheirando a álcool e a sexo. Preciso te dizer alguma coisa, pequeno Corvo? Olhei para ele por cima do ombro, louca pra fazer uma coisa que eu sequer deveria. Scott me chamava daquele jeito, assim como os outros costumavam chamar após eu ser des
— Sabe que sou mais experiente que você e mais pé no chão, certo? Franzi o cenho, torcendo o nariz para a conversinha chata que ele ia iniciar. Não queria, e não precisava disso logo com ele. Não mesmo. — Scott, por que caralho você não vai foder também? Para de ser super certinho! Tem vinte e quatro anos e fica pagando de moço puritano como se nem soubesse o que é se divertir um pouco.Ele soltou um riso nasalado, quase que tirando sarro da minha cara. E eu sabia bem o porquê. — Eu sou discreto, Chloe. Faço as coisas de um jeito que nem o papai e muito menos a mamãe vão desconfiar. Essa é a questão. Vocês não aprendem nunca, e depois que levam bronca, ficam reclamando. — Transar com a empregada nova é fácil, não?! — Cruzei os braços, totalmente preparada para debater. O homem levantou as sobrancelhas, assustado por me ouvir o desmascarando. — Chloe… — murmurou em tom de alerta.— Fez ela gemer alto demais na despensa, eu ouvi tudo. Não venha querer negar, Lobinho. Você apenas
→ Alguns anos antes. Três dias depois e eu estava tendo a noite mais entediante da minha vida. Quando bati o pé para que não fizessem festa de aniversário, era exatamente por saber que fazer tudo tão certinho e formal, ia me entediar pra cacete. Claro que, tempo demais isso não durou, pois corri para mudar esse fato. Dezoito anos só se faz uma vez, você precisa aproveitar quando esse dia chega, e escolhi fazer isso no melhor estilo quebrador de regras. Minha bunda deslizou pela cômoda, apenas com a calcinha em meu corpo, e o sutiã compondo a lingerie de mais de seiscentos dólares que fiz questão de comprar com o cartão do papai. Pelo menos tive passe livre como presente de quase duas décadas respirando nesse mundo caótico. Se eu podia gastar, fiz isso sem peso na consciência, só esperava que ele acreditasse que precisei refazer minha coleção inteira de calcinhas, e não que comprei o conjunto de renda vermelha apenas para seduzir rapazes enquanto me despia inteira. Se bem que,
Scott girou os calcanhares e caminhou calmamente para sair do quarto, mas se pensou por um segundo que eu ia deixá-lo se safar sem pagar um preço por ter destruído minha foda, estava bem enganado. Eu também era uma Legard, não é o que diziam por aí de boca cheia?! Então podia agir como uma, uma muito boa no que faz. — Seu jeito mandão é excitante, sabia? É bem coisa de um alfa. Seu lado lobinho aflorado — falei mais para atrair a atenção dele, provocando ao me referir no diminutivo. Quando ouvi seus passos pararem, eu já havia pulado da cômoda e estava de costas para ele. Sem pensar muito, me abaixei deixando a bunda bem empinada, e peguei minha calça e o blazer que acabaram parando no chão. Enrolei o quanto pude naquela posição, sabendo que se Scott quisesse olhar, ele veria bem através da renda fina, e então duas pessoas com tesão ficariam de cara feia na festa que rolava no andar de baixo. Porque era muito injusto que só eu sentisse aquilo e não suprisse. Eu era mulher, uma
A base do meu closet eram peças íntimas bonitas e confortáveis, principalmente rendas, e o restante se baseava em ternos casuais e jeans com camisas mais reservadas. Desde o momento em que sofri nas mãos de Joe, algo dentro de mim mudou. Passei a me perguntar se eu havia sido culpada, se as roupas que eu usava tinham sido algum tipo de estopim, ou se fiz algo errado que o levou a tentar me machucar. Sim, eu me culpei por um tempo, e nesse tempo foi que refiz todo o meu armário e passei a usar roupas que escondiam minha pele. Não gostava de pensar que as pessoas, principalmente os homens, me olhavam de formas mais profundas, não aqueles que eu não queria que olhassem. Tinha exceção, claro. Scott Legard foi uma delas. Para ele eu conseguia desfilar nua, e ainda assim sentia total segurança, pois sabia que suas mãos jamais me tocariam com a intenção de machucar, muito pelo contrário, se alguém me tocou com amor e com um carinho inimaginável, esse alguém foi ele.Observei Marisa e M
— Meu Deus, como eu criei filhos atenciosos! Fico tão orgulhosa de vê-los cuidando um do outro. Cuidando um do outro e falando sacanagens um para o outro também, mas isso ela não precisava saber, certo? Seria desnecessário ficar a par das nossas depravações. Sem dar tempo para que algum de nós respondesse qualquer coisa sobre sua observação, Mia surgiu na sala, sorrindo para Corey. Por mais que os anos se passassem, os olhinhos dela ainda brilhavam quando encarava o homem. Ela podia jurar que não sentia mais nada, só que bem no fundo eu sabia que seria extremamente difícil superar. Era um Legard. Eu havia me envolvido com um e sabia como podia ficar grudado na alma. Por mais que o tempo passasse, os sentimentos não iam junto. — Oi, Mia! — cumprimentou sem muita empolgação. — Oi — respondeu seca, porém, eu a conhecia e percebia o resquício de dor. — Vamos então? Tenho que estar em casa antes das oito. Meu pai chega essa noite. Sua empolgação logo voltou quando se referiu ao
Efeito dominó. Você faz uma coisa errada e espera que todo o restante vá caindo em um ciclo interminável de merdas. Toda ação gera uma reação, não é isso? Você faz uma coisa simples e depois ela se torna uma bola de neve gigantesca. Erramos, sim, com toda a certeza do mundo. Na verdade, só por fazer parte de uma Organização de assassinos, nós já estávamos em constante erro. Pelo menos era assim que eu pensava. Mas daí eu e Corey erramos ainda mais, e as consequências estavam vindo em minha direção. Lily foi super bem recepcionada, e sem a mãe, já estava interagindo muito mais com o restante das pessoas. Jason, por incrível que pareça, estava bem vestido e com os cabelos alinhados, e ainda não tinha tentado tirar minha paciência como de costume. Scott ainda não havia aparecido na sala para se juntar a nós.Mamãe disse que ele estava resolvendo assuntos importantes e isso significava que alguma missão havia sido lhe passada. E Corey, bom, ele estava sendo a minha consequência
Revisei pela segunda vez as trinta páginas de um documento que papai me pediu para checar. Coisas sobre a Hayans, coisas que não deveriam estar me atormentando em pleno sábado, contudo, esse era um fardo a ser carregado. Trabalhar, seja para a Família, ou para a Hayans, não tinha horário dentro de normas, era período integral, sem pausa e tendo que estar sempre à disposição. Recostei na poltrona macia do escritório de Paul e permiti que minha mente viajasse para longe dali. Minha maior vontade era chegar em casa, tirar minhas roupas, jogar uma água bem quente no corpo e sentar para meditar nua, ainda molhada, sentindo as gotas de água escorrendo pela minha pele e me deixando ser dominada por aquela paz interior que eu só conseguia alcançar com um período de puro silêncio. Desde que as coisas viraram uma bagunça com a notícia do casamento de Corey, eu não conseguia me sentar nem para comer em paz. Na verdade, em nada me parecia haver paz. Meditar por dez minutos todas as manhãs