Letícia voltou para o setor de RH e tentou continuar seu trabalho, mas o ambiente estava carregado de tensão. O ar parecia mais denso, os murmúrios entre os funcionários eram mais frequentes e, acima de tudo, Francisco não estava agindo como de costume.Ele andava de um lado para o outro, os ombros rígidos, o olhar perdido em algum ponto distante. Algo o incomodava.E isso estava começando a incomodar todo o setor.Afinal, quando o chefe está nervoso, todos sentem as consequências.Francisco parecia estar encontrando desculpas para jogar mais trabalho na equipe. A carga de tarefas, que havia finalmente normalizado após o caos recente, voltava a se acumular de maneira exagerada.Pedidos que poderiam ser resolvidos com um simples ajuste no sistema agora exigiam aprovações intermináveis. Documentos que nunca precisaram de tanta revisão eram devolvidos com marcações desnecessárias. O ritmo de trabalho, que finalmente havia desacelerado, voltava a se tornar frenético.E Letícia sabia que i
Letícia já sabia qual o próximo passo que precisava tomar.Sem perder tempo, levantou-se de sua cadeira e saiu do setor de RH, caminhando com determinação até o elevador. Seu destino era claro: o setor de marketing.As portas do elevador se abriram, e ela atravessou o corredor com passos firmes. O ambiente ali era barulhento, movimentado, cheio de conversas e telefonemas. No meio daquilo tudo, como um ponto insignificante à primeira vista, estava Júlia.Sentada em sua mesa, Júlia parecia alheia ao caos ao redor. O rosto carregava um ar de tédio, os olhos fixos na tela do computador, os dedos brincando distraidamente com uma caneta. Uma cena quase inocente, se Letícia não soubesse melhor.Sem hesitar, pegou o celular e agendou uma reunião formal com Júlia. Um convite direto, impossível de ser ignorado.Em seguida, seguiu para a sala de reuniões do marketing. Por sorte, estava vazia.Letícia entrou, fechando a porta atrás de si. Caminhou até as janelas, puxando as cortinas, bloqueando qu
Entre a confusão de trabalho no setor de TI, Ricardo encontrou alguns minutos para verificar a transferência de Laura. Ele sabia que acessar esses dados diretamente era impossível, sua permissão não cobria arquivos administrativos de alto nível. Mas isso nunca o impediu antes.Com habilidade, ele navegou pelo sistema interno do RH, utilizando o acesso de Francisco. Nada além de um pequeno disfarce digital. Francisco estava em horário de almoço, então não havia risco imediato de ser descoberto.Os olhos de Ricardo se fixaram na tela enquanto digitava rapidamente, filtrando as informações até encontrar o que procurava. Histórico profissional de Laura Almeida.Laura já tinha alguns anos de trabalho na GT Corporation, mais do que ele imaginava. No entanto, algo no relatório não fazia sentido. As informações estavam organizadas de forma estranha, como se alguém tivesse passado tempo demais reescrevendo e editando detalhes que deveriam ser simples.Era uma tentativa óbvia de esconder algo.A
Laura caminhou de volta para sua sala, mas antes de entrar, seu olhar encontrou, ainda que por um breve instante, a figura de Ester sentada à sua mesa. A jovem estava focada no computador, os dedos ágeis digitando algo importante, completamente alheia à presença de Laura.Ou talvez apenas fingindo estar.Laura permaneceu ali por alguns segundos a mais do que deveria, como se seu corpo hesitasse em seguir adiante. Cada parte dela queria ir até Ester, dizer algo, qualquer coisa, acabar com aquele silêncio opressor entre as duas.Respirando fundo, fechou os olhos por um breve momento, reunindo a compostura que sempre carregava consigo. Virando-se, entrou em sua sala e fechou a porta, forçando-se a mergulhar no trabalho como se nada tivesse acontecido.Ricardo, por sua vez, seguiu para o setor de TI, tentando acreditar que Laura realmente falaria a verdade para Ester. Ele sabia que aquela história estava longe de terminar.Antes que o tempo passasse mais, Laura resolveu chamar Ester para
Ester ainda mantinha a conversa com Laura fresca na mente. As palavras trocadas, os sentimentos expostos, a tensão que, aos poucos, foi se dissolvendo. Mesmo que não tivesse sido fácil, mesmo que ainda houvesse muito a processar, a felicidade também estava presente.Depois de tanto tempo, finalmente teve um momento real com Laura. E isso era o que mais importava.De volta à sua mesa, tentou retomar o foco no trabalho, mas sua mente insistia em seguir por outro caminho. Ricardo.Se não fosse por ele, aquela conversa não teria acontecido. Talvez nunca tivesse a chance de ouvir a verdade de Laura, talvez continuasse presa em dúvidas e suposições.Ela deveria agradecer.Decidida, levantou-se e seguiu para o setor de TI, mas não precisou chegar até lá. No meio do caminho, viu Ricardo vindo na direção oposta, distraído, provavelmente a caminho de algum outro chamado.- Estava te procurando. - A voz de Ester fez com que Ricardo parasse imediatamente e erguesse o olhar para ela.Um sorriso de
Júlia nunca foi do tipo que se via ou tentava ser uma vítima. Ela sempre soube como entender as situações de manipulação pelas quais já passou, se esquivar de problemas e usar informações ao seu favor. Mas, desta vez, ela não tinha como se manter segura ou ter uma noção da situação. E isso a irritava profundamente. Pois ela sabia que estava com um problema serio.Francisco a jogou contra a parede de uma forma que ela não imaginou que ele fosse capaz de fazer, e ela sabia que, se não agisse rápido, ele a destruiria. Não havia mais espaço para hesitação.Sentada em sua mesa, Júlia segurava uma caneta entre os dedos, girando a entre eles enquanto encarava o monitor. No canto da tela, o documento estava aberto, aguardando as palavras que mudariam tudo. Uma denúncia formal de abuso.Ela inspirou fundo antes de começar a digitar. Relato de denúncia – Júlia Almeida Gomes - Setor de MarketingAo setor de Recursos Humanos da GT Corporation,Venho, por meio deste documento, formalizar uma denún
Laura sempre lidou bem com a pressão, de uma certa forma masoquista ela gostava de saber que tudo dependia dela, estar perto do limite a motivava. Era seu trabalho manter tudo de acordo, garantindo que nada fugisse do seu planejamento. Mas, naquela manhã, enquanto revisava pela décima vez os documentos para a chegada do supervisor, percebeu que até mesmo ela tinha um limite, pela primeira vez em anos ela estava perto da exaustão.Seu humor estava péssimo. O menor erro nos relatórios a fazia cerrar os dentes, e qualquer interrupção parecia um obstáculo insuportável. As pilhas de papeis pareciam sufoca-la, todos do setor estavam longe de estarem da maneira como ela gostaria que estivessem.Ester notou de imediato. Desde o momento em que chegou, pôde ver que Laura estava mais tensa do que o normal. O olhar focado demais na tela do computador, os dedos inquietos tamborilando contra a mesa e a maneira como suspirava, impaciente, cada vez que lia alguma coisa que não estava perfeita.Por ma
Já haviam se passado dois dias desde o afastamento repentino de Francisco. No departamento de Recursos Humanos, tudo seguia no seu ritmo habitual, como se nada tivesse acontecido. Nenhum comentário, nenhuma pergunta curiosa nos corredores, o silêncio era quase ensurdecedor, mas revelador. Era como se a ausência dele não tivesse peso real ali; todos sabiam, no fundo, que a saída de Francisco não mudava substancialmente o funcionamento do setor. A rotina permanecia intacta, e cada um parecia mais concentrado no seu próprio trabalho do que disposto a especular sobre os motivos do afastamento.Sentada à sua mesa, Letícia percorria mecanicamente a enxurrada diária de e-mails, até que um, em específico, fez com que seus olhos parassem por um instante. O título simples e direto dizia apenas: “Promoção”. Com um leve aperto no estômago, abriu a mensagem e leu atentamente. Ali estavam descritos os detalhes oficiais sobre o afastamento de Francisco — frios e objetivos —, mas, mais importante, vi