Ester ainda mantinha a conversa com Laura fresca na mente. As palavras trocadas, os sentimentos expostos, a tensão que, aos poucos, foi se dissolvendo. Mesmo que não tivesse sido fácil, mesmo que ainda houvesse muito a processar, a felicidade também estava presente.Depois de tanto tempo, finalmente teve um momento real com Laura. E isso era o que mais importava.De volta à sua mesa, tentou retomar o foco no trabalho, mas sua mente insistia em seguir por outro caminho. Ricardo.Se não fosse por ele, aquela conversa não teria acontecido. Talvez nunca tivesse a chance de ouvir a verdade de Laura, talvez continuasse presa em dúvidas e suposições.Ela deveria agradecer.Decidida, levantou-se e seguiu para o setor de TI, mas não precisou chegar até lá. No meio do caminho, viu Ricardo vindo na direção oposta, distraído, provavelmente a caminho de algum outro chamado.- Estava te procurando. - A voz de Ester fez com que Ricardo parasse imediatamente e erguesse o olhar para ela.Um sorriso de
Júlia nunca foi do tipo que se via ou tentava ser uma vítima. Ela sempre soube como entender as situações de manipulação pelas quais já passou, se esquivar de problemas e usar informações ao seu favor. Mas, desta vez, ela não tinha como se manter segura ou ter uma noção da situação. E isso a irritava profundamente. Pois ela sabia que estava com um problema serio.Francisco a jogou contra a parede de uma forma que ela não imaginou que ele fosse capaz de fazer, e ela sabia que, se não agisse rápido, ele a destruiria. Não havia mais espaço para hesitação.Sentada em sua mesa, Júlia segurava uma caneta entre os dedos, girando a entre eles enquanto encarava o monitor. No canto da tela, o documento estava aberto, aguardando as palavras que mudariam tudo. Uma denúncia formal de abuso.Ela inspirou fundo antes de começar a digitar. Relato de denúncia – Júlia Almeida Gomes - Setor de MarketingAo setor de Recursos Humanos da GT Corporation,Venho, por meio deste documento, formalizar uma denún
Laura sempre lidou bem com a pressão, de uma certa forma masoquista ela gostava de saber que tudo dependia dela, estar perto do limite a motivava. Era seu trabalho manter tudo de acordo, garantindo que nada fugisse do seu planejamento. Mas, naquela manhã, enquanto revisava pela décima vez os documentos para a chegada do supervisor, percebeu que até mesmo ela tinha um limite, pela primeira vez em anos ela estava perto da exaustão.Seu humor estava péssimo. O menor erro nos relatórios a fazia cerrar os dentes, e qualquer interrupção parecia um obstáculo insuportável. As pilhas de papeis pareciam sufoca-la, todos do setor estavam longe de estarem da maneira como ela gostaria que estivessem.Ester notou de imediato. Desde o momento em que chegou, pôde ver que Laura estava mais tensa do que o normal. O olhar focado demais na tela do computador, os dedos inquietos tamborilando contra a mesa e a maneira como suspirava, impaciente, cada vez que lia alguma coisa que não estava perfeita.Por ma
Já haviam se passado dois dias desde o afastamento repentino de Francisco. No departamento de Recursos Humanos, tudo seguia no seu ritmo habitual, como se nada tivesse acontecido. Nenhum comentário, nenhuma pergunta curiosa nos corredores, o silêncio era quase ensurdecedor, mas revelador. Era como se a ausência dele não tivesse peso real ali; todos sabiam, no fundo, que a saída de Francisco não mudava substancialmente o funcionamento do setor. A rotina permanecia intacta, e cada um parecia mais concentrado no seu próprio trabalho do que disposto a especular sobre os motivos do afastamento.Sentada à sua mesa, Letícia percorria mecanicamente a enxurrada diária de e-mails, até que um, em específico, fez com que seus olhos parassem por um instante. O título simples e direto dizia apenas: “Promoção”. Com um leve aperto no estômago, abriu a mensagem e leu atentamente. Ali estavam descritos os detalhes oficiais sobre o afastamento de Francisco — frios e objetivos —, mas, mais importante, vi
A sala estava exatamente como sempre, os móveis no mesmo lugar, o ar carregado pelo zumbido discreto do computador ligado, a luz fria da lâmpada piscando ocasionalmente no canto do teto. E, ainda assim, algo parecia fora do lugar. Talvez fosse apenas impressão, talvez fosse cansaço. Mas, para Bruno, o espaço parecia mais estreito do que de costume, as paredes pareciam avançar sobre ele, sufocando-o em um aperto invisível. Respirou fundo, tentando afastar a sensação incômoda. Precisava sair dali, espairecer.Levantou-se e saiu da sala sem destino certo, apenas movido pela necessidade de se movimentar. Caminhar pelo setor talvez ajudasse a aliviar o peso na mente. Enquanto passava pelos corredores, seu olhar percorria os colegas concentrados em suas próprias tarefas. Ninguém parecia notar sua presença de verdade. Isso o incomodava mais do que gostaria de admitir. Sempre gostou de atenção, de ser notado, mas no momento, estava mais para um entre tantos. Alguns olhares até se voltaram par
Os olhos de Ester se fixaram na gaveta de sua mesa, como se o simples ato de encará-la pudesse responder às perguntas que martelavam em sua mente. Sob uma pilha de papéis aparentemente inofensivos, repousava um pequeno drive externo, discreto, silencioso, mas carregado de um peso que parecia crescer a cada dia que ela o mantinha ali.Ela sabia que precisava agir. Aquele drive não era apenas um objeto sem importância; ele carregava informações que eram muito úteis. A questão era: como lidar com isso?Seu primeiro impulso foi pensar em Laura. Entre todas as pessoas da empresa, ela era, sem dúvida, a mais influente e confiável que Ester conhecia. Se alguém poderia ajudá-la a fazer algo com aqueles dados, era Laura. Mas entregar o drive assim, sem mais nem menos.Antes de qualquer coisa, precisava da aprovação de Ricardo.Ester respirou fundo, fechando brevemente os olhos, como se isso pudesse acalmar a tempestade de pensamentos dentro dela. Ricardo era uma peça fundamental nisso tudo, e
Ficar no banheiro não mudaria o que havia acabado de acontecer. O coração de Júlia ainda martelava no peito, e suas mãos tremiam levemente enquanto tentava se recompor. A reunião com Letícia se aproximava, e ela precisava recuperar o controle. Inspirou fundo, encarando seu reflexo no espelho, enquanto cobria, com movimentos delicados, o hematoma recém-formado em seu braço com maquiagem. O corretivo ajudava a esconder os vestígios físicos, mas não conseguia mascarar a dor que sentia por dentro.Ela sabia que não voltaria para sua mesa. O simples pensamento de cruzar o olhar com Bruno fazia seu estômago revirar. Ele estava ali, na sala dele, provavelmente se sentindo vitorioso, convencido de que havia conseguido o que queria. Júlia, porém, não podia permitir que aquele sentimento de impotência a dominasse.Sem pensar duas vezes, saiu do banheiro e seguiu para o setor de Recursos Humanos. Ainda faltavam algumas horas para sua reunião com Letícia, mas naquele momento não conseguia sequer
Ester retornou do almoço com Ricardo sentindo-se mais calma e segura, foi um bom tempo entre amigos, ela tinha se esquecido que podia e devia ter esse tipo de coisa em sua vida. Saber qual seria o próximo passo e o que fazer com o drive externo lhe dava uma sensação de controle. Ainda assim, antes de ir falar com Laura, decidiu sentar-se em sua mesa e retomar suas tarefas.Por mais que a informação que carregava fosse crucial, cumprir suas responsabilidades no trabalho também tinha sua importância. Enquanto digitava, sua mente oscilava entre os números na tela e o peso do segredo que carregava. A cada clique no teclado, sentia a urgência crescendo dentro de si, mas forçou-se a manter a compostura.Como secretária, Ester conhecia bem a rotina de Laura e sabia que sua agenda estava sempre lotada, um pouco mais ultimamente. O final do expediente parecia o momento ideal para conversar com ela, quando o escritório estivesse mais vazio e a gerente menos pressionada pelas demandas do dia.As