Júlia nunca foi do tipo que se via ou tentava ser uma vítima. Ela sempre soube como entender as situações de manipulação pelas quais já passou, se esquivar de problemas e usar informações ao seu favor. Mas, desta vez, ela não tinha como se manter segura ou ter uma noção da situação. E isso a irritava profundamente. Pois ela sabia que estava com um problema serio.Francisco a jogou contra a parede de uma forma que ela não imaginou que ele fosse capaz de fazer, e ela sabia que, se não agisse rápido, ele a destruiria. Não havia mais espaço para hesitação.Sentada em sua mesa, Júlia segurava uma caneta entre os dedos, girando a entre eles enquanto encarava o monitor. No canto da tela, o documento estava aberto, aguardando as palavras que mudariam tudo. Uma denúncia formal de abuso.Ela inspirou fundo antes de começar a digitar. Relato de denúncia – Júlia Almeida Gomes - Setor de MarketingAo setor de Recursos Humanos da GT Corporation,Venho, por meio deste documento, formalizar uma denún
Laura sempre lidou bem com a pressão, de uma certa forma masoquista ela gostava de saber que tudo dependia dela, estar perto do limite a motivava. Era seu trabalho manter tudo de acordo, garantindo que nada fugisse do seu planejamento. Mas, naquela manhã, enquanto revisava pela décima vez os documentos para a chegada do supervisor, percebeu que até mesmo ela tinha um limite, pela primeira vez em anos ela estava perto da exaustão.Seu humor estava péssimo. O menor erro nos relatórios a fazia cerrar os dentes, e qualquer interrupção parecia um obstáculo insuportável. As pilhas de papeis pareciam sufoca-la, todos do setor estavam longe de estarem da maneira como ela gostaria que estivessem.Ester notou de imediato. Desde o momento em que chegou, pôde ver que Laura estava mais tensa do que o normal. O olhar focado demais na tela do computador, os dedos inquietos tamborilando contra a mesa e a maneira como suspirava, impaciente, cada vez que lia alguma coisa que não estava perfeita.Por ma
Já haviam se passado dois dias desde o afastamento repentino de Francisco. No departamento de Recursos Humanos, tudo seguia no seu ritmo habitual, como se nada tivesse acontecido. Nenhum comentário, nenhuma pergunta curiosa nos corredores, o silêncio era quase ensurdecedor, mas revelador. Era como se a ausência dele não tivesse peso real ali; todos sabiam, no fundo, que a saída de Francisco não mudava substancialmente o funcionamento do setor. A rotina permanecia intacta, e cada um parecia mais concentrado no seu próprio trabalho do que disposto a especular sobre os motivos do afastamento.Sentada à sua mesa, Letícia percorria mecanicamente a enxurrada diária de e-mails, até que um, em específico, fez com que seus olhos parassem por um instante. O título simples e direto dizia apenas: “Promoção”. Com um leve aperto no estômago, abriu a mensagem e leu atentamente. Ali estavam descritos os detalhes oficiais sobre o afastamento de Francisco — frios e objetivos —, mas, mais importante, vi
Ester estava novamente em frente ao espelho do pequeno lavabo do escritório, recitando novamente as palavras que diria a Bruno. A imagem refletida mostrava mais do que uma mulher organizada em seu blazer bem alinhado e maquilhagem impecável, ela estava visivelmente nervosa, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Por mais que tentasse ensaiar todos os cenários possíveis, o rosto de Bruno sempre aparecia na sua mente com aquele sorriso descomprometido que a desarmava. Toda vez que ela tentava abordar um assunto mais sério, ele mudava de tema. Mas hoje, Ester estava decidida. Ela precisava desta conversa.Com um suspiro profundo, alisou a barra do blazer, endireitou a postura e voltou à sua mesa. O dia prometia ser longo, e ela sabia que a ansiedade faria companhia a cada segundo. No fundo do escritório, Julia aproximava-se com aquele andar confiante e olhar predatório, como se sempre estivesse a calcular a próxima jogada. Julia era uma mulher que sabia usar sua beleza a seu favo
O escritório estava quase vazio, o som dos poucos teclados ainda ativos ecoava suavemente pelo ambiente, criando um pano de fundo discreto para o que estava por vir. As luzes reduzidas criavam sombras alongadas nas paredes, dando ao local um ar mais íntimo e carregado de tensão. Ester arrumava seus papéis com movimentos automáticos, mas sua mente estava longe dali. O peso dos relatórios inacabados parecia menor diante do turbilhão de sentimentos confusos que a assombravam desde o início do dia. Algo no ar estava diferente, e ela sentia isso na pele.Quando abriu a porta da sala de reuniões, encontrou Bruno encostado na mesa, com os braços cruzados e um sorriso que irradiava o seu charme natural. Ele era assim, sempre à vontade, como se o mundo girasse no seu ritmo. Os olhos dele, escuros e penetrantes, encontraram os de Ester, e por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar.- Achei que não viesse - disse ele, inclinando a cabeça para o lado, o olhar fixo nela com uma intensidade
Na manhã seguinte, o escritório ganhou ação gradualmente com o som dos passos apressados, telefones tocando e conversas abafadas pelos corredores. Laura, entretanto, já estava em sua nova sala antes mesmo do horário de expediente começar. O sol mal iluminava a cidade lá fora, mas dentro dela, as engrenagens já giravam com precisão.Com a xícara de café ainda quente ao lado, enquanto organizava sua lista de tarefas, conferindo cada detalhe com a meticulosidade que a definia. Foi então que um novo e-mail apareceu na sua caixa de entrada. Era de Letícia, do RH, informando a necessidade urgente de contratar uma nova secretária para o setor.Laura sorriu para a tela, um sorriso que misturava oportunidade e estratégia. Sem hesitar, a única pessoa que passou por sua mente foi Ester. Não era uma mudança tão drástica da função atual dela, mas a ideia de tê-la mais próxima, sob sua supervisão direta, era tentadora demais para ignorar. Além disso, o cargo de secretária do gerente trazia benefíci
O dia seguinte começou com um céu cinzento e carregado, refletindo o clima dentro da cabeça de Ester. O e-mail de Letícia ainda estava fresco na sua mente, assim como a sensação desconfortável de saber que Laura, de alguma forma, estava por trás daquela “promoção”. O aumento de salário e os benefícios eram tentadores, mas a proximidade forçada com Laura fazia seu estômago revirar. Ou talvez fosse outra coisa que a deixava inquieta, aquela tensão elétrica que pairava entre as duas, como se cada encontro fosse uma partida de xadrez onde nenhuma queria admitir o verdadeiro jogo. Ester ainda estava imersa nesses pensamentos quando o telefone vibrou novamente. Era Bruno, insistente como sempre. "Me encontra para um café? Precisamos mesmo conversar." A mensagem parecia inocente, mas Ester sabia que havia mais ali do que trabalho. Ela respirou fundo, pegou a sua mala e decidiu que não podia adiar aquilo. Talvez entender o que Bruno queria ajudasse a clarear a confusão que se formava na sua
O som constante dos teclados e o zumbido baixo das conversas nos corredores criavam uma trilha sonora quase reconfortante para Ester naquela manhã. Mas, por dentro, ela sentia-se como se estivesse num terreno instável, cada passo calculado para não escorregar. A oferta de Laura ainda ecoava em sua mente, misturada com a conversa ambígua que tivera com Bruno no dia anterior. Nada parecia ser o que realmente era, e isso a deixava mais desconfortável do que gostaria de admitir.Enquanto revia alguns documentos, uma nova notificação apareceu na sua tela: “Letícia do RH gostaria de agendar uma reunião rápida contigo. Sala 4, 10h.”Ester franziu a testa. Não esperava um novo encontro com Letícia, mas algo na formalidade do convite parecia indicar que não era apenas sobre processos burocráticos. Decidiu que precisava de respostas e talvez Letícia pudesse oferecê-las.Letícia estava à espera na pequena sala de reuniões no fim do corredor. A mulher, conhecida pelo seu profissionalismo impecáve