Intensamente, a chuva caía, acompanhada de raios, trovões e uma forte rajada de vento. O céu transformara- se em crepúsculo. A batalha entre o bem e o mal era violenta. De um lado estava o Padre Rudi e seus seis ajudantes, do outro estavam as belas irmãs Maiityh e Merônia, dois demônios que andavam pela terra e no intuito de corromper as almas das pessoas.
Foram infinitas tentativas de exterminá-las sem sucesso, a luta era intensa. Finalmente após a peleja incansável, elas estavam encurraladas no alto da montanha Cirana, considerada como sagrada e pura pelos moradores de Roania. Com muita dificuldade, Rudi conseguiu atrair aqueles seres para o tal lugar. Acreditava- se que os poderes de Maiityh e Merônia, tornavam- se reduzidos ali. Mesmo assim, não era fácil subjugá-las. Sempre tinham muitas cartas nas mangas, uma delas era a sedução. Por isso, nem todos os padres queriam enfrentá-las, somente aqueles que tinham plena convicção de suas escolhas, de sua fé.
Elas eram dotadas de magnífica beleza, curvas concupiscentes e linguagem igualmente sensual. Seus olhos eram hipnotizadores, seduziam tanto homens quanto mulheres. A despeito de serem irmãs, eram rivais na arte da conquista. Disputavam todo o tempo, o número de almas que colecionavam. Provavelmente esse era o ponto fraco delas.
Munidos de muita água benta, crucifixos, um livro sagrado e a Urna Imaculada de Almas, os homens iniciaram seu processo de intervenção dos demônios. Eles tinham o intento de enfraquecê- los e prendê- los na urna. Somente assim, poderiam livrar os seres humanos da astúcia e maldade de Maiityh e Merônia.
A tarefa foi árdua, levando quatro dos auxiliares de padre Rudi a sucumbirem. Tendo suas almas arrastadas às profundezas do inferno de gelo e fogo onde era a morada oficial das mulheres demoníacas. Lugar onde perambulavam muitas almas que outrora tinham sido subornadas pelo mal.
Padre Rudi era poderoso, dominou com tamanha destreza aqueles demônios. Selou suas pervertidas almas com correntes poderosas feitas de um estranho material transparente e luminoso. Nenhum dos outros presentes compreendia a procedência de tal objeto.
Com os membros atados, as criaturas debatiam- se de forma histérica, no intuito de libertarem- se. Esforço exercido em vão, quanto mais lutavam mais fracas ficavam. Depois de muito contorcerem- se foram finalmente submetidas à derrota.
Entorpecidas no chão, Maiityh e Merônia tiveram suas almas conduzidas diretamente para dentro da sacra urna, onde ficaram seladas. O receptáculo fora enviado para o pequeno templo de orações em Roania, onde permanece há mais de trezentos e cinquenta anos e é protegido com extremo cuidado pelos atuais detentores do objeto.
Roania, o centro de todos acontecimentos estranhos do passado, era uma bela, pacata e diminuta cidade. Seu centro resumia-se a uma pequena praça. A economia do local era baseada na agricultura e no comércio local, só havia uma fábrica pequena instalada na cidadela. O município era adornado por inúmeras árvores, lagos e uma pequena cachoeira que encontrava-se dentro da mata que ladeava o lugar. O índice de criminalidade de Roania era razoavelmente baixo, apenas pequenos furtos eram vivenciados com mais frequência. Dava-se para contar nos dedos o número de mortes.Um dos pontos importantes da cidade era a montanha Cirana, que sempre fora considerada como sagrada. Havia a persistente história em torno dos demônios que tinham sido subjugado naquele local, muitos achavam que era apenas uma lenda; outros acreditavam devotamente n
Era uma bela manhã de Domingo, Kátia e sua irmã mais velha Akemi estavam preparando-se para irem ao templo de orações. Elas moravam com seu pai no centro da cidade, muito próximas do Templo de Cirana. A mãe das garotas havia falecido há muitos anos. Akemi também tinha traços orientais assim como sua irmã. Elas moravam com seu pai, o senhor Alcebíades.Akemi já tinha completado seus vinte e sete anos e nunca interessou em casar com ninguém, apesar dos inúmeros pretendentes que possuía. Seu maior interesse era cuidar de sua irmã e de seu pai, que já não andava há cinco anos, devido a um acidente de carro que sofrera. Desde então passou a locomover-se com uma cadeira de rodas.Eles possuíam uma pequena loja de roupas na cidade. Akemi
Findado o final de semana, o padre Roberto acordou muito cedo, como era de seu costume, pois tinha suas energias vitais plenamente renovadas após uma boa noite de sono. Acariciou o pequeno Feioso em sua barriguinha e logo após alimentou o animalzinho. Após suas tarefas corriqueiras, ele despediu-se de seu companheiro e rumou ao templo, provavelmente ainda não encontraria os garotos por lá devido ao horário, por isso pegou seu molho de chaves e saiu.O sol também não havia nascido, o padre abeirou-se do Templo de Cirana, quando algo chamou sua atenção. Notou que a porta principal estava entreaberta. Que estranho, por que os garotos chegariam tão cedo assim? Pensou ao ver a cena.Adentrou lentamente, tateou a parede procurando o interruptor de luz, pois o local encontrava-se até ent&
O entra e sai de pessoas na sofisticada bomboniere da senhora Justine, era constante. Era a mais movimentada de Roania e famosíssima pelos seus bolos e tortas memoráveis. Inúmeras encomendas eram feitas a todo instante. Muitos clientes costumavam deliciar- se ali mesmo, mesinhas estavam dispostas para que os mesmos pudessem degustar aqueles apetitosos quitutes e passarem agradáveis momentos durante seu dia na Justine Bolos e Cia.Era um local de muito prestígio e plenamente respeitado. Contudo algo duvidoso andava intercorrendo lá dentro que era de total desconhecimento dos outros cidadãos de Roania. A proprietária do estabelecimento iniciou uma sequente série de reuniões noturnas. Nelas costumavam estar presentes seu filho, Arnaldo. Ernesto, o coveiro da cidade. Rose, uma jovem professora de jardim de infância e Rodolfo.
Pela manhã, no templo, Ciro e Rodolfo preparavam tudo para mais uma das celebrações rotineiras. Rodolfo, como sempre não exprimia muitas palavras, desempenhava suas tarefas de modo mecânico, assemelhava-se a um robô.Ciro, inverso ao seu colega, era constantemente mais indulgente, sempre à disposição. Andava muito preocupado com o clérigo, que já não desbaratava mais sua alegria costumeira. O homem estava ofuscado por ler todos os jornais e ouvir os noticiários. Tinha grande apoquentação em relação a cidade, temia que algo maléfico pudesse acontecer.—Não fique assim, padre. Não irá acontecer nada de ruim. Tenha fé nisso. —Um misto de culpa e preocupação dominavam o cerne do jovem Ciro.
A cidade havia amanhecido movimentada. Rodolfo cursava sua trajetória habitual ao templo, quando defrontou-se com carros de bombeiros dobrando a esquina da alameda por onde ele andejava. Ele seguiu na mesma direção, quando deparou-se com a sorveteria em frente a loja de bolos de Justine, em chamas.O jovem casal proprietário do local estava ao lado de fora, olhando todo o alvoroço. Estavam desalentados, pois aquele comércio era a fonte de renda deles. Amigos tentavam aplacar-lhes ao padecimento.Rodolfo parou por alguns instantes e atentou-se a toda balburdia que acontecia por ali. Por alguns segundos viu Merônia e Maiityh saírem de dentro daquele espaço, em meio às línguas de fogo. Notou que Merônia não estava mais atadas às suas correntes. Elas eram perceptíveis apenas a Rodolfo
Ernesto já estava ciente dos acontecimentos que apontavam o início do triunfo sendo alcançado por Justine e seu filho, assim como Rodolfo. Estava ansioso por bons ventos soprando a seu favor também. Parte de seus desejos estava realizando-se. No dia posterior ao pacto, Maiityh apossou-se do princípio vital de sua esposa, Catarina. O coveiro presenciou ao momento em que o ser maligno aproximou-se da mulher e assim como fez com a jovem Kátia, sussurrou ao seu ouvido. A jovem senhora sentiu um grande mal estar e desfaleceu no mesmo instante. Ernesto acudiu-lhe prontamente, ficou um pouco assustado. Chegou inclusive a duvidar da decisão que tomou ao selar o perverso acordo. No entanto, sabia que não havia mais volta. Estirou Catarina em sua cama e ficou ali assistindo a mulher empalidecida e de lábios desidratados por mais de quarenta minutos, quando a mesma finalmente acordara. Aos
Na cidade de Roania, as notícias propagavam-se demasiadamente célere, assim como em qualquer lugar pequeno. Era de conhecimento de todos o enriquecimento do coveiro, o triste acontecimento aos pais de Rose e todos os tópicos alusivos a este grupo. Os comentários em torno desses assuntos eram geralmente de inveja, despeito ou mesmo de inconformidade, principalmente no que dizia respeito a Arnaldo. Diversos cidadãos não conseguiam conceber como ser humano como ele adquiria tantas coisas sem esforço algum. Contudo uma pessoa entre todas, não compartilhava dos mesmos sentimentos dos outros, só adquiriu enorme tristeza em seu coração. Era Pilar que através de outras amigas elucidou o namoro de Kátia e Rodolfo. O seu adorado Rodolfo. A moça ficou muito desapontada, pois além do desengano amoroso em relação ao rapaz, desmedido dissabor rompeu em seu cerne, considerava Kátia uma de suas