Ellen sacolejou as barras, mas não houve um movimento por parte dos guardas, ou do ferro entre seus dedos. Eram maciças.
Suspirou fundo, aninhando-se no chão exausta.
– Sabe onde estamos? – a voz feminina chegou até seu ouvido, surpreendendo-a.
– Sim. – Ellen esfregou os braços, olhando a sua volta. – Estamos abaixo do solo uns dez metros... Sem luz, nem água. – A moça loura ao seu lado riu dentro das roupas caras rasgadas em muitos lugares.
“Mas que merda era aquela?”As coisas estavam ruim para o meu lado, mas eu ainda conseguia detectar um cheiro de sangue que não fosse o meu. Abreviar uma eternidade para três meses de vida, não era o que eu tinha em mente...E pelo visto, nem os meus anfitriões. Não ao menos se eu olhasse pelo lado de que era sangue fresco. Me permiti, abrir um olho, depois de dias no escuro daquela cela. Vasculhei o meu campo de visão, alcançando uma massa de aproximadamente uns quarenta quilos, acastanhada e que respirava na brevidade de segundos. Incrivelmente, não percebi que estava em contato com o chão; os danos dos cortes, que não mais se regeneravam, pareciam ter gangrenado parte de meus membros inferiores.
– Ellen... – era um murmúrio longe para meus sentidos invadidos por aquela dor fina. Eu me sentia cansada demais para lutar contra ela, apesar da mão quente entre as minhas. – Mi señora... olhe para mim... Por favor. O beijo deixado sobre meus dedos, e eu podia sentir seu rosto molhado... “Alejandro, eu estou aqui” – gritei em minha mente, vendo violetas em meu campo de visão e seu sorriso ao ter seu pedido atendido. A mão livre que passeou por minha testa úmida; eu suava muito, e além de meu corpo parecer irrequieto, havia aquela dor em meu ventre que aumentava gradativamente conforme eu tomava consciência de estar viva. O cansaço de meus músculos sendo dissolvidos pela contração e espas
Costa do Marfim – 1789O navio que atracou no porto não era esperado por nenhum dos negociantes do local, muito menos pelo Governador, o Duque de Limoges. Uma cidade francesa famosa por suas porcelanas e artistas. Piérre de Telliard deixara a França quando a esposa falecera, vendo na terra longínqua de sua pátria, a oportunidade de criar suas duas filhas numa atmosfera menos conturbada que a do seu país naquele momento. A doença que acometera sua mulher um ano antes, já causara uma devastação na alma das meninas, e agora o risco da monarquia ser deitada por terra, traria um sofrimento ainda maior à mente de duas jovens saídas dessa perda recente.
– Papai? – A menina de cachos loiros fixou seu olhar no governador sentado à mesa de carvalho. – Entre, Emilie – disse bondosamente, virando-se para a filha. Emilie, ao contrário da irmã, ostentava duas contas azuis quase transparentes como olhos, que juntamente aos cachos loiros, davam-lhe um ar angelical. – O que há traz tão cedo, aqui?– Vim me desculpar por ontem, eu deveria ter alertado Ellen...Ele apreciou o semblante da filha por instantes e com um sorriso, acrescentou:
Rosas...O quarto dela cheirava a rosas, as mesmas que estavam sobre a cômoda quando ele entrou. Depositando-a na cama, ainda desmaiada. A lama que fatalmente denunciaria que ela estivera fora, e como esconder aquilo? A mente dele trabalhava numa solução, nos violetas que buscavam por respostas no cômodo. Silencioso, como as sombras que se apossavam do quarto, ele abriu a cômoda, tomando uma peça limpa de dormir entre os dedos, na certeza de que se a criada a acordasse nas primeiras horas do dia, nada encontraria além da moça entre os lençóis macios. Lençóis sobre os quais ele se sentou quando começou a despi-la. Quando a sua pele fria tocou a quente dela, fazendo-o estremecer. Os dedos correndo lentamente sobre o corpo de menina exposto, como o desejo tornava seus
Os dedos corriam firme sobre as teclas brancas e pretas, mesmo que o olhar do Conde a fitasse atentamente, mas Emilie era diferente de Ellen... Não tremeria sob os violetas, não havia motivo para isso. Apenas se concentrava na melodia.– O conde me parece distante... – interveio, baixo, o Duque. – Algo o preocupa?– O cacau... e sua filha. – Desviou o olhar de Emilie para o homem ao seu lado, pego de surpresa pelas palavras de Alejandro. – Emilie? – Não teve como não estranhar. Era a primeira ve
Pingos grossos de chuva, o chão sob seus pés afundava a cada passo, encharcando–lhe a barra da roupa. Chocolates se estreitavam na escuridão e seu corpo tremia a cada novo disparo do céu sobre sua cabeça, porém, já chegara até ali e não voltaria, mesmo que seus ossos estivessem banhados pela chuva. As pequenas mãos afastavam os galhos de árvores que surgiam pelo caminho enquanto penetrava ainda mais na floresta ao redor da casa. Seus pés negros pela lama. O barulho incômodo das gotas nas folhas e o ranger do vento frio entre as copas das árvores... Talvez devesse voltar, estreitou o corpo entre os braços. Os dentes tremeram quando avançou mais um pouco e a tempestade desabou de vez sobre el
O vento soprava forte por entre as velas pretas do Allera quando Alejandro pisou na proa do navio. O cheiro de maresia, que há muito havia abandonado seus sentidos, invadindo sua alma. As mãos crisparam sobre a amurada enquanto fechava os olhos e sorvia aquele aroma acre. Era bom estar de volta... Mesmo que parte de seu coração estivesse em terra.– Capitão, estamos prontos para partir... – anunciou Rámon ao seu lado. – Basta apenas ordenar.Os cabelos pretos ricocheteavam em seu rosto conforme tomava a direção do castelo da popa. Os violetas que foram à terra sem encontrar os cho