Capítulo 2

Papai? – A menina de cachos loiros fixou seu olhar no governador sentado à mesa de carvalho.

Entre, Emilie – disse bondosamente, virando-se para a filha. Emilie, ao contrário da irmã, ostentava duas contas azuis quase transparentes como olhos, que juntamente aos cachos loiros, davam-lhe um ar angelical. – O que há traz tão cedo, aqui?

Vim me desculpar por ontem, eu deveria ter alertado Ellen...

Ele apreciou o semblante da filha por instantes e com um sorriso, acrescentou:

Não, criança. – Fez um gesto de mão para que ela se aproximasse da mesa. – Eu deveria tê-la alertado assim que soube da presença do Conde na cidade.

Abraçou–a fortemente contra o peito. Ninguém em toda Costa do Marfim negaria o amor do pai pelas filhas, elas sempre vinham primeiro na vida de Piérre de Telliard, e curiosamente diante da visita do Conde, isso havia sido afastado temporariamente da mente do governador. Ele não gostava de pensar que isso poderia macular ainda mais a alma delas, principalmente a de Ellen. A caçula era sua preocupação diária, sempre metida no meio dos trabalhadores, dependurada em cacaueiros junto com os filhos da cozinheira, coisa que ao Duque parecia uma abominação, mas que a sua condição de pai viúvo, desculpava.

Onde ela está? – indagou quando Emilie voltou a sua posição normal e o encarou em azuis preocupados. Estreitando as sobrancelhas grisalhas, arriscou: – Algum problema, Emilie?

Ellen foi até o porto... – murmurou receosa.

...xxx...

A candura e discrição de Emilie passavam longe da natureza arredia de Ellen. Os cabelos pretos ondulavam ao vento, os lábios partidos diante da visão imponente do Allera, exibiam uma determinação muito além da sua idade. O menino mulato ao seu lado, ia tão surpreso quanto ela, escondido entre os barris e caixotes de carga.

Parece um navio fantasma – exclamou, se pondo de pé.

Cale-se, Joaquim – protestou, detendo-o pelo pulso. – Fique abaixado... Não há nada de diferente nesse navio que não exista nos outros. Ele só é.. é...

Ela deixou os olhos sobre a proa, o timão, as velas escuras e por fim, a bandeira da Espanha.

É? – incentivou o menino a uma resposta mais conclusiva.

É espanhol – rebateu convicta.

É escuro, tão escuro quanto a noite – contrapôs Joaquim. – Não gosto dele, não gosto de espanhóis. – Cruzou os braços sobre o peito. – E se mamãe sabe que a trouxe aqui, é minha cabeça que vai para a forca.

Não seja dramático – Ela revirou os olhos enquanto dava um nó nos cabelos. – Crianças não vão para a forca, papai não deixaria.

Pois sim... – bufou o menino. – Ele não conhece os castigos da mamãe.

Então vá se embora – ela queixou-se. – E diga que não sabe de mim, eu me viro depois com papai, ou sua cabeça pode rolar para longe de seu pescoço e eu me sentiria eternamente culpada por isso – terminou num gracejo.

Ellen, você devia ser uma lady! – O menino fitou-a divertido. – Mas parece um menino, e dos mais levados.

Eu vou aceitar isso como um elogio, agora suma da minha frente. – Agitou os braços como se o afastasse a cada gesto. – Deixe que eu mesmo faço minhas investigações sozinha.

Se você insiste... – Ele deixou a fileira de dentes brancos à mostra e numa curta reverência, tomou a direção contrária da rampa do navio, para onde Ellen se dirigia.

Não havia movimento aquela hora no cais, poucas pessoas iam e vinham, atarefadas em limpar seus estabelecimentos para o dia que começaria, para muitos, ao cair da tarde. Em passos medidos, ela escorregou para dentro do Allera. Sua estatura pequena e corpo miúdo lhe permitiam a agilidade necessária para passar desapercebida até mesmo pelos guardas da milícia, era com isso que Ellen contava quando pôs os pés no convés vazio do navio. Seus olhos chocolates atentos ao mínimo movimento, mas não havia nenhum, nem mesmo no cesto da gávea. O vento ondulava as velas escuras do Allera ao seu sabor, soltando por vezes um longo assobio, que em nada esmorecia o espírito da menina. Ela se aproximou da popa com cuidado, notando-lhe também vazia e decidiu por vasculhar o convés inferior. Talvez a noite tivesse rendido aos espanhóis muitas horas de sono.

Pé ante pé, ela deixou seus passos guiarem-na pelo chão escuro que rangiam a cada investida sua na escuridão, que tomava o andar inferior da nau. Estranhamente solitária, era como ela se sentia ali dentro. A brisa que soprava entre as frestas da madeira era mais fria e se chocava como um arrepio contra a pele quente da menina. Ela havia parado em frente a porta escura no fim do corredor, onde uma maçaneta dourada, com o que ela identificou ser um brasão, destacava-se. A mão clara estava esticada na direção do objeto, quase envolvendo-o com seus dedos, quando uma voz séria chegou aos seus ouvidos.

Posso lhe ajudar?

Tão rápido quanto pode, recolheu a mão para pendê-la ao longo do corpo frágil de menina enquanto fitava seu interlocutor em chocolates brilhantes, sem demonstrar medo ou surpresa.

Sou Ellen de Telliard, a filha...

Do governador... – o homem de cabelos curtos e olhos pretos, completou por ela. – Não creio que ele a tenha mandado aqui... – Analisou–a.

Oh.. não – disse prontamente. – Eu vim por mim mesma.

Então, em que posso ajudá-la? – Rámon estreitou o olhar escuro sobre a menina.

Eu gostaria de falar com o Conde – ela respondeu com a propriedade de uma nobre, quase fazendo-o sorrir.

Eu sinto que não possa encontrá–lo no momento – ele continuou num tom sério. – Mas, se for muito importante, eu me encarrego de transmitir-lhe o recado – e encorajando-a, completou: – Me chamo Rámon, sou o imediato do Allera.

Ela hesitou por instantes, fitando novamente a porta escura atrás de si, e tão séria quanto ele se dirigira a ela, declinou:

Não, obrigada... Monsieur Rámon. – Fez-lhe uma mesura com a cabeça – Era só com ele mesmo.

E antes que o imediato pudesse ser mais persuasivo, a menina sumira de suas vistas.

...xxx...

Onde esteve a manhã toda, Ellen? – o pai indagou a mesa do almoço.

No cais – ela disse diretamente entre uma colher e outra de ensopado.

Não gosto da ideia de você espreitando nosso visitante – ele reclamou num tom severo.

Não fui espreitá-lo – protestou, abandonando a colher na borda do prato. – Eu achei que devia-lhe desculpas pela minha entrada daquela forma no escritório.

Eu já me desculpei por nós dois... – tentou apaziguar o tom de voz dela. – Eu deveria ter lhe contado sobre a visita do Conde.

Sim, é fato – rebateu séria. – No entanto, só Emilie parece ser bastante crescida para ter acesso ao que acontece nessa casa.

Não é isso, Ellen...

Suas palavras não alcançaram a menina, que já se erguera e deixava a sala de refeições.

Acalme-se, pai. – Emilie se levantara e colocava as mãos nos ombros do pai enquanto beijava-lhe o alto da cabeça. – Eu acredito que ainda chegará o dia que mudará o jeito de Ellen agir...

Deus te ouça, mon petite. – Deu-lhe um tapinha numa das mãos. – Deus te ouça...

...xxx...

A noite caiu rápida sobre o porto, Alejandro estava em seus aposentos quando o irmão entrou sem bater.

Aqui está seu revigorante. – Depositou o cálice na frente dele.

Gracias. – Tomou–o entre os dedos, os cabelos caídos sobre os ombros e o jornal na mão oposta. E em momento algum fitou Rámon.

Ela esteve aqui... – disse com cautela, observando a reação do Conde.

Ela? – Alejandro continuou com os olhos sobre o jornal enquanto bebericava o cálice.

A filha do governador – explicou, esperando por algo mais que não veio.

E disse o que queria? – Depositou o cálice sobre a mesa ainda sem fitá-lo.

Sinceramente, não. – Deixou seu olhar mais escuro sobre o irmão. – Aparentemente era um assunto particular... O que fez por lá?

Nada. – Passou os olhos á página seguinte.

E por que aquela menina, que mais parece um menino de porto do que uma nobre, viria até aqui? – contrapôs Rámon preocupado.

É o que também desejo saber – ele disse simplesmente. – Ela disse algo mais?

Escute aqui... – Retirou-lhe o jornal da mão, fazendo violetas encará-lo, frios. – Você me prometeu que retornaríamos à França ainda esse ano... Sabe que há assuntos em Limoges inadiáveis e que requerem sua presença o mais breve possível. Não pode mais adiá-lo, entendeu? Se eu não a tivesse detido...

Acalme-se, Rámon. – Ele se ergueu, começando a se vestir. – Sabe que nunca deixaria de cumprir minhas obrigações, não quer isso mais do que eu. Apenas aguardo o momento certo de ir à Limoges. A Revolução nos terá limpado o terreno de muitos deles, não foi á toa que me mantive escondido, quero um encontro com o Rei... E o terei, longe das vistas dos outros. – Violetas refletiam os chocolates. – Por que o medo?

Diga que partimos amanhã, Alejandro.

Não... – Colocou o casaco vinho sobre o colete – Ainda não... Ainda não chegou o momento de me revelar.

Você mesmo disse que não há nada de valor aqui para nós – rebateu veemente.

E não há – ele sentenciou calmo.

Então, por que esperarmos mais? – indagou em pretos cintilantes, não gostara do que vira nos olhos chocolates da menina.– Já temos ouro suficiente para os Jacobinos, vamos embora.

Há anos eu venho lutando por um mundo mais justo, meu amigo. – Ajeitou o laço no colarinho. – É minha filosofia de vida, lembra?

Sim, mas o que isso tem a ver com a menina?

Absolutamente nada... – Ele continuou a se vestir com esmero – E talvez tudo. Eu quero saber o que ela queria comigo, Rámon.

Violetas agora brilhavam nos pretos dele.

O que quer dela? – O semblante austero do irmão ia de encontro ao dele, impassível.

Eu ainda não sei...

É bom que descubra logo, antes que esse se torne um jogo perigoso.

Eu ainda não fechei o negócio do cacau... – Dirigiu-se à porta – E até que o governador decida-se sobre os termos, eu pretendo conhecer a localidade.

Temo pela sua segurança... – Tentou, enfim, uma última cartada. – Não confio em nada, nem ninguém...

Eu confio em você – segredou-lhe ao ouvido.

Rámon fechou os olhos, vencido. Deixando as palavras do Conde inebriar–lhe a alma, ele estava certo... Nunca permitira que nada o tocasse e não seria diferente agora, mesmo que Alejandro teimasse em se expôr daquela forma imprópria. Ele estaria ali pelo Conde, este sempre fora seu dever.

Onde pretende ir? – indagou–lhe em meio a um sorriso mal desenhado. – Espero que não cometa a tolice de ir à casa do Governador.

Não... – Sorriu-lhe o Conde ainda com os dedos ao redor do pescoço do imediato. – Pensei em algo mais prazeroso, ao menos no momento... Mulheres e vinho, mon chére – completou Alejandro ao sair da cabine seguido pelo irmão.

...xxx...

Ellen se revirava nos lençóis sobre a brisa da madrugada, que entrava pela janela entreaberta. Por que não conseguia dormir? Ergueu-se, caminhando até a sacada, apreciando a vista do cais com suas luzes acesas... O imenso vulto negro flutuando sobre a água calma. Devia ter esperado pelo Conde para se desculpar, aquilo ainda lhe martelava a mente. Os pés calçaram a pequena sapatilha ao canto do armário e um robe pesado foi jogado por cima da longa camisola rosa. A distância entre a sacada e os jardins não era muito grande, já que a casa ficava num terreno inclinado e a área verde corria por todo seu entorno. Num movimento hábil de seu corpo, agarrou–se a trepadeira, que cobria a parte externa da construção, e escorregou por ela até o gramado. Um uivo longo e agudo cortou o ar, provavelmente os cães estavam soltos, mas os teixos que se estendiam até a entrada, serviriam de abrigo.

Certa do que fazia e sem que nenhum dos cães a descobrissem, ela ganhou os portões da propriedade, atravessando a distância até o cais por entre os cacaueiros. O Allera parecia tão destituído de vida quanto na manhã daquele dia, porém o cesto da gávea ostentava um guarda de plantão. O que certamente significava que não havia muitos a bordo, já que quando todos estavam lá, ninguém ficara de guarda. Ela se esgueirou pelas vielas de terra batida, sujando a barra da camisola e do robe até chegar a uma pequena casa espremida entre outras duas de maior porte. Uma vez ouvira de Joaquim que os homens mais velhos procuravam aquela pensão do cais para se divertir; entretanto, o que eles faziam lá dentro nunca despertara a curiosidade de Ellen antes. Ao menos, não ao ponto dela se arriscar até ali para descobrir que tipo de diversão era aquela. Deviam beber que nem porcos, como já vira alguns marujos fazerem, mas isso não era da sua conta e não lhe atiçava a mente. Contudo, o que o Conde poderia encontrar ali, isso sim a deixava inquieta. Por que um nobre gostaria de se embebedar até cair duro?

O murmúrio de vozes chegou até seus ouvidos, umas riam, outras apenas falavam divertidas... algumas em espanhol, ela reconheceu. Precisava ir lá dentro, tinha certeza de que ele estava ali. A porta dos fundos se abriu enquanto uma mulher gorda se inclinava sobre um barril e submergia nele quatro canecas. Ellen fez uma careta e se aproveitou da distração da senhora para escorregar silenciosamente para dentro. O som de vozes agora ecoavam altas por todo o lugar como se todos gritassem ao mesmo tempo, mas entre as palavras em espanhol carregadas de sotaque, ela distinguiu as de mulheres. Não uma ou duas, mas várias, que se alternavam em gargalhadas estridentes e risinhos abafados. O coração ia aos pulos no peito, o que diriam se a encontrassem ali? E se o visse? Ele a olharia da mesma forma que a fitou nos jardins?

Entre a apreensão e a curiosidade, Ellen sempre optava pela segunda. Um avental pendurado na parede do corredor e o rosto um pouco sujo de carvão, e ela teria o disfarce perfeito. Ao menos nos livros isso sempre surtia o efeito desejado. Empurrou a porta dupla que a separava dos murmúrios e entrou no salão. Como segurar os olhos que queriam se alargar diante daquelas cenas? Como não levar a mão à boca, em surpresa? Nada do que lera nos romances se comparava aquilo. As mulheres, algumas meninas como ela mesma, em trajes mais sumários que os dela. Sua camisola ao menos aparentava um vestido, e o robe por cima dela com o avental atado a sua cintura, não lhe deixava em absoluto, vulgar. Mas elas... Deus não teria piedade daquelas almas! Seus vestidos ostentavam decotes audaciosos, os braços eram desnudos... E o que falar do comportamento? Sentavam-se sobre o colo dos homens! Coisa que ela jamais vira, nem mesmo entre papai e mamãe. Ainda parada a entrada da cozinha, levou um esbarrão quando a senhora gorda surgiu com as canecas na mão.

Ora, vê se não fica parada aí! – irritou-se, colocando as canecas sobre o balcão à frente delas. – Deve ser uma das novatas...

Ellen assentiu de imediato, se tentasse sair dali, provavelmente se denunciaria. E ainda não tinha detectado a presença dele no salão.

Tome. – Entregou-lhe duas canecas. – Sirva aquela mesa do canto. – Indicou com a cabeça uma mesa onde três homens jogavam. – Precisa engordar um pouco e se lavar... – Fitou-a dos pés à cabeça, apertando-lhe com as mãos rechonchudas a cintura delgada. – Ou não vai valer nem o que come. Agora vá, eu cuido disso depois.

Um novo assentimento e Ellen sumiu das vistas da mulher. Tentando evitar os olhares sobre si, ela se dirigiu até a mesa, depositando as três canecas sobre o tampo e agradecendo a Deus pelos homens nem lhe prestarem atenção. Sem que a senhora se preocupasse com ela, pois sorria para um homem desdentado, procurou um esconderijo. Era difícil focar os rostos de todos aqueles marujos sem que chamasse o olhar deles para si. A escada, ao canto do salão, no entanto, proporcionava uma penumbra abaixo dos degraus, e devido a sua baixa estatura, não seria complicado se meter ali. O mais discretamente que pode, ela se esgueirou até lá, e quando teve a certeza de que ninguém a observava, se abrigou na escuridão. O cheiro de mofo e maresia era quase insuportável, mas ela só precisava de uns momentos em paz, onde pudesse vasculhar o salão e descobrir onde ele estava.

Com um certo rubor, ela reparou que os homens quanto mais bebiam, mais agarravam as mulheres a sua volta. O pânico e ansiedade cresciam nos olhos dela, quase se arrependendo de estar ali, quando violetas a descobriram. Tão intensos nos dela quanto estavam no jardim. Ele a via, ela tinha certeza disso, mesmo que não soubesse dizer como. O sangue que sentia correr quente pelo coração, entalado em sua garganta enquanto os minutos paravam na visão da boca dele sobre a linha do pescoço da mulher em seus braços. Um beijo depositado ali, sensualmente, que fez Ellen arrepiar, sob o olhar que sabia ainda está sobre si e não na moça em seus braços. O arrepio que continuava ali, não como a brisa do mar ou do frio... Um arrepio que esquentava-lhe a alma. Os violetas que hipnotizavam os dela quando a mão dele segurou forte a cintura da moça, prendendo-a aos seus lábios, que deslizaram até os ombros, sem deixar de fitá–la. Os chocolates que se alargaram quando a língua deslizou de volta até a linha do maxilar e a fez sentir falta de ar. A porta da pensão bateu forte quando a brisa entrou no ambiente fazendo todos se virarem para mirar o vazio. Apenas Alejandro se ergueu, depositando a moça em seus braços sobre a cadeira que ocupara e deixou, em seguida, o lugar sob o olhar atento de Rámon.

Os pés que corriam o mais que podiam pelas vielas escuras, sem saber por que suas veias queimavam por dentro. Por que tremia diante das lembranças dos violetas. A mão que a puxou para o beco, que apalpava seu colo sobre os tecidos, correndo os dedos urgentes pela lateral do robe e erguendo-o junto com a camisola. O grito abafado pela mão que tapou–lhe os lábios enquanto se debatia para se livrar das mãos sujas que tocavam-lhe as coxas.

Vamos boneca, um favorzinho para um marujo que não pode pagar por ele... – Passou-lhe a língua no rosto. – Não há de ser nada doloroso... Se prometer cooperar.

Prensou-a contra parede, rasgando a camisola na altura dos quadris e chocando alguma parte dura do corpo dele contra o seu. Não queria aquilo, não era a mesma sensação que sentira dentro da pensão... Ela sentia nojo. Não via-lhe o rosto, apenas sentia o gosto de suas lágrimas, que não conseguia mais segurar.

Solte-a – Não era um aviso, ela soube quando reconheceu o tom, que ao não ser atendido, foi mais incisivo: – He dicho que deje.

Pero, capitán, no es más que una puta.

Gaston, es una orden.

A pressão entre suas pernas diminuiu, e ela foi devolvida ao chão num baque seco enquanto o homem obedecia a Alejandro, deixando-os no beco. O Conde andou até ela, e num tom calmo e acolhedor, ergueu–a do chão.

Que fais-tu ici?

Aucune de vois affaires – disse ríspida ao se ver entre os braços dele. Envergonhada por tê–lo espionado.

Êtes-vous blessé? – interveio preocupado, sem se importar com o tom dela.

Não, obrigada...

Não devia estar aqui, não é lugar para uma moça. – Deixou que seus olhos passeassem pela roupa suja e rasgada dela, fazendo-a arrepiar uma vez mais e abandonar seu olhar. Ele adoraria sorrir do rubor dela, mas apenas retirou o casaco, colocando-o sobre os ombros de Ellen. Oferecendo-lhe o braço, como um perfeito cavalheiro, e completando sério: – Eu a levo até sua casa.

Não há necessidade – ela rebateu prontamente, evitando o braço do dele, o que ele não tomou conhecimento, tomando a mão de Ellen entre seus dedos .

Não vou contar nada ao seu pai. – Fitou-a com carinho, beijando–lhe o dorso da mão. – Será nosso segredo, é o mínimo que posso fazer por colocá-la em risco.

Me colocar em risco? – balbuciou confusa pelo toque dele em sua pele.

Veio me procurar, não foi?

Se havia algum rubor no rosto de Ellen, ele sumira. A pele muito clara refletia o brilho do luar e os violetas de Alejandro não ousavam desviar um centímetro daquela visão.

O que quer de mim, Ellen?

Seu nome pronunciado naquela voz parecia uma corrente elétrica disparada em seu corpo. O olhar cada vez mais intenso, tragando o seu, e de repente o ar sumira.

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