– Ela já foi? – Sorriu-lhe malicioso, o imediato, ao entrar a segunda vez na cabine aquela manhã.
– Sim, você a assustou – rebateu Alejandro enquanto ajeitava o lenço sobre o pescoço.
– Duvido muito – contrapôs firme Rámon. – É mais fácil você ter feito isso...
– Impossível, ela está apaixonada, meu caro. – Vestiu o casaco com um sorriso ainda sob seus lábios.
– E você... – deixou no ar, sabendo que os olhos violetas do irmão parariam sobre ele.
–
A noite tendia para seu fim quando a porta da cabine se abriu e o vulto se esgueirou para dentro, em passos firmes. – O que quer aqui? – indagou após minutos em que só o silêncio entre eles reinou absoluto.– O que fez ao corpo dela? – a voz melodiosa e envolta em rosas, perguntou.– Você não quer saber sobre isso... – rebateu sério. – Acredite em mim.– Por que deveria? – ela despe
A noite caía rapidamente sobre a carruagem que cortava a escuridão da estrada como um raio numa noite chuvosa. As curvas eram feitas em velocidade duplicada para aquele tipo de transporte. Seus ocupantes iam envoltos em grossas capas de lã pretas, como manchas escuras sobre o assento roto. A aba dos chapéus de feltro impediam, até mesmo, que se visse sua fisionomia. O vento frio uivava correndo pelas copas das árvores, assim como as rodas riscando as folhas secas, únicos sons que inundavam a horas profundas da madrugada. – Estamos há apenas dois dias de Limoges – ponderou o mais corpulento dos três. – Devia pensar em dar um pouco de conforto à milady. Essa estadia na e
Ellen sacolejou as barras, mas não houve um movimento por parte dos guardas, ou do ferro entre seus dedos. Eram maciças.Suspirou fundo, aninhando-se no chão exausta.– Sabe onde estamos? – a voz feminina chegou até seu ouvido, surpreendendo-a.– Sim. – Ellen esfregou os braços, olhando a sua volta. – Estamos abaixo do solo uns dez metros... Sem luz, nem água. – A moça loura ao seu lado riu dentro das roupas caras rasgadas em muitos lugares.
“Mas que merda era aquela?”As coisas estavam ruim para o meu lado, mas eu ainda conseguia detectar um cheiro de sangue que não fosse o meu. Abreviar uma eternidade para três meses de vida, não era o que eu tinha em mente...E pelo visto, nem os meus anfitriões. Não ao menos se eu olhasse pelo lado de que era sangue fresco. Me permiti, abrir um olho, depois de dias no escuro daquela cela. Vasculhei o meu campo de visão, alcançando uma massa de aproximadamente uns quarenta quilos, acastanhada e que respirava na brevidade de segundos. Incrivelmente, não percebi que estava em contato com o chão; os danos dos cortes, que não mais se regeneravam, pareciam ter gangrenado parte de meus membros inferiores.
– Ellen... – era um murmúrio longe para meus sentidos invadidos por aquela dor fina. Eu me sentia cansada demais para lutar contra ela, apesar da mão quente entre as minhas. – Mi señora... olhe para mim... Por favor. O beijo deixado sobre meus dedos, e eu podia sentir seu rosto molhado... “Alejandro, eu estou aqui” – gritei em minha mente, vendo violetas em meu campo de visão e seu sorriso ao ter seu pedido atendido. A mão livre que passeou por minha testa úmida; eu suava muito, e além de meu corpo parecer irrequieto, havia aquela dor em meu ventre que aumentava gradativamente conforme eu tomava consciência de estar viva. O cansaço de meus músculos sendo dissolvidos pela contração e espas
Costa do Marfim – 1789O navio que atracou no porto não era esperado por nenhum dos negociantes do local, muito menos pelo Governador, o Duque de Limoges. Uma cidade francesa famosa por suas porcelanas e artistas. Piérre de Telliard deixara a França quando a esposa falecera, vendo na terra longínqua de sua pátria, a oportunidade de criar suas duas filhas numa atmosfera menos conturbada que a do seu país naquele momento. A doença que acometera sua mulher um ano antes, já causara uma devastação na alma das meninas, e agora o risco da monarquia ser deitada por terra, traria um sofrimento ainda maior à mente de duas jovens saídas dessa perda recente.
– Papai? – A menina de cachos loiros fixou seu olhar no governador sentado à mesa de carvalho. – Entre, Emilie – disse bondosamente, virando-se para a filha. Emilie, ao contrário da irmã, ostentava duas contas azuis quase transparentes como olhos, que juntamente aos cachos loiros, davam-lhe um ar angelical. – O que há traz tão cedo, aqui?– Vim me desculpar por ontem, eu deveria ter alertado Ellen...Ele apreciou o semblante da filha por instantes e com um sorriso, acrescentou:
Rosas...O quarto dela cheirava a rosas, as mesmas que estavam sobre a cômoda quando ele entrou. Depositando-a na cama, ainda desmaiada. A lama que fatalmente denunciaria que ela estivera fora, e como esconder aquilo? A mente dele trabalhava numa solução, nos violetas que buscavam por respostas no cômodo. Silencioso, como as sombras que se apossavam do quarto, ele abriu a cômoda, tomando uma peça limpa de dormir entre os dedos, na certeza de que se a criada a acordasse nas primeiras horas do dia, nada encontraria além da moça entre os lençóis macios. Lençóis sobre os quais ele se sentou quando começou a despi-la. Quando a sua pele fria tocou a quente dela, fazendo-o estremecer. Os dedos correndo lentamente sobre o corpo de menina exposto, como o desejo tornava seus