Giovanni não tinha problemas com o silêncio antes de conhecer Dalila, ele passava um tempo surpreendentemente longo sozinho, as vezes em missão, as vezes simplesmente por não fazer parte do clã como os outros faziam. Era como se eles fossem lobos e Tommaso fosse um alfa como seu pai era, enquanto ele era apenas um ômega, rejeitado por motivos que fugiam do seu controle.Nem todos os clãs vampíricos agiam da mesma forma, na verdade, na maioria deles cada um agia por si mesmo, obedecendo apenas as regras mais simples da sociedade. Os Capadócci só eram tradicionais e ordenados daquela forma porque se deixaram guiar pelas leis da máfia.Sangue e onore. “Quanta piada...” Pensava o homem enquanto tomava uma estrada de terra que eles finalmente encontraram depois de alguns minutos andando entre arvores e mato.— Eu conheço essa estrada. — Soltou Dalila repentinamente, atenta.— Conhece? — Ele arqueou a sobrancelha, focado na estrada. — Sabe dizer se estamos perto?— Continua nessa mesma est
Giovanni não dormiu até que a luz do Sol entrasse pelas vidraças da sala aonde se instalou. Tinha uma boa visão da rua através daqueles janelões e podia descansar no sofá vez ou outra, aonde adormeceu quando já era dia, seguro de que ninguém estaria os procurando nas próximas horas.Dalila, não dormiu tão bem quanto deveria, os pesadelos com Tommaso e o suicídio da avó rondaram sua mente a noite toda, mesmo que se esforçasse para descansar. Não aguentou mais ficar deitada depois que viu o Sol entrando pelas frestas da cortina do quarto.No closet da avó não encontrou nada decente para vestir e enquanto pensava sobre isso, ela ficou curiosa com o que mais teria sido mantido na casa, se aventurou nos corredores resgatando memórias da sua infância, parte delas com sua falecida irmã.Entrou no quarto que um dia pertenceu aos seus pais e ficou surpresa vendo que a avó manteve as coisas como eram quando seus pais moravam ali. Não estava limpo como aquele em que dormiu, mas estava intacto e
Casa da Jenifer Bünchen, Jalines – RS— Você sabe como eu te amo Jen, não tem outra mulher no mundo pra mim. — Disse João Pedro com seu típico sorriso malandro.Jenifer, em um dos seus raros momentos relaxados na companhia do namorado, fingia estar magoada depois de ler uma mensagem carinhosa no direct dele escrita por uma dançarina com quem tinha trabalhado semanas antes em um clipe. Jenny sabia que ele nunca trairia e que a mensagem tinha um tom profissional, mas era do tipo que gostava de ver até aonde ia a paciência do seu companheiro. Funcionaria se ele não conhecesse ela tão bem e soubesse que estava brincando.— Tu ta rindo, Pê! Não acredito! — Acusou ela manhosa e ele riu alto, se deitando sobre o corpo dela na cadeira de piscina.— To nada amor, juro. Me perdoa. — Desculpava-se alto, propositalmente dramático, abraçado a ela que não se movia facilmente apesar de tentar derrubá-lo.Ela se deu por vencida, mesmo que ele fosse baixinho, era bem mais forte e nunca conseguiria tir
Giovanni nunca fora sensível ou pacifico com qualquer pessoa, mesmo as mulheres, mas Dalila já tinha passado por muita coisa e provavelmente aquela era apenas a ponta do iceberg, ele no fundo sabia, já tinha visto caças à desertores antes e baseado nisso ele estava certo de que Tommaso era um problema pequeno comparado ao que poderia vir.Ela acolheu aquela dor dele, já há muito esquecida, por ter perdido sua mãe na infância. Ele sentiu o cuidado dela nas palavras, então mesmo sem saber como, tentou acolhê-la também e entender os sentimentos que a confundiam naquele momento e no que viria depois que ela soubesse que seus amigos não eram assim tão humanos.— Sente-se um pouco. — Ele convidou com cautela e ela respirou fundo.Os olhos castanhos, mais escuros sob a luz da mansão, encaravam o chão de madeira para evitar o olhar do homem que parecia prestes a lhe dar uma lição de moral, ela não queria discutir sobre quão inútil seria qualquer discurso diante do pesadelo que era ter Tommy a
Quando tinham 14 anos, antes dos pais de Dalila morrerem, Jenifer costumava organizar festas do pijama com suas amigas do condomínio, e eventualmente convidava Lila que claramente nunca se divertia com os esmaltes, maquiagem e filmes de romance, mas gostava de inventar brincadeiras aonde tinham que sair pela casa, dentre elas o Caça ao Tesouro.Em uma noite Dalila propôs que se escondesse no lugar do tesouro, distribuiu pistas que levariam o grupo de adolescentes até o cofre do pai de Jenny e sua própria localização, mas naquele dia todas as meninas decidiram deixa-la brincar sozinha e não saíram para procurá-la. Persistente a pequena Feigenbaum se manteve escondida no cofre por uma noite inteira, até adormecer no chão frio, ser trancada pelo Sr. Bünchen por engano e ali permanecer dormindo sem conhecer o perigo. Jenny não se conformou com a quantidade de tempo que suas amigas se divertiam enquanto a aventureira ainda esperava ser encontrada, por isso foi procura-la seguindo as pistas
Antes de levar Dalila para seu encontro, Giovanni parou em uma padaria e trouxe pretzels e café para os dois, comeram no carro, estacionados debaixo e um prédio em construção que nunca fora finalizado.Ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela que parecia mais corado nas bochechas desde que estiveram juntos, ela sorria, quase o tempo todo, e ele estava tão encantado com esse fato que continuava obcecado em seguir cada movimento seu.— Credo Giovanni, fica me olhando desse jeito eu até fico com medo. — Ela brincou.— Estou estudando a presa. — A voz grave e expressão séria de sempre fez ela sentir um leve calor no baixo ventre que precisou ignorar.— Presa, sério?! — Disse sarcasticamente ofendida, mas o olhar ganhou um tom ainda mais sombrio quando ele mordeu seu bolinho fitando os olhos dela e depois desviou repentinamente olhando pela sua janela. — Não, pera. Volta aqui.Ela deixou o copo no painel do carro e foi para cima dele, se acomodando no seu colo para fazê-lo olhar seu
Dalila ficava distante quando passava por situações como aquela, Giovanni viu isso nela quando fugiam na noite em que ela descobriu no que estava metida e agora estava vendo de novo, o mesmo olhar perdido e os dedos que se esfregavam no tecido da própria roupa viciosamente.Ele não sabia o que poderia dizer para melhorar as coisas, mas sabia que de alguma forma a verdade era uma questão importante para ela e no fim, tinham pouco tempo para fazê-la entender o “mundo oculto”, como chamavam no Brasil.Enquanto Giovanni levava a morena para um hotel de estrada e lhe contava o que sabia sobre o mundo da forma mais técnica possível para dar a ela o que pensar, algo que não fosse lamentar e chorar durante toda a madrugada, Jenny lutava por força de vontade para sair daquela igreja e fazer qualquer coisa melhor do que simplesmente fugir de quem era.Eram anos agindo e falando como uma humana, ignorando qualquer coisa que a equiparasse à um não-humano. Sua avó dizia que sirenas não era feitas
A voz dela nunca soou tão divina aos seus ouvidos como naquele momento, ele ainda estava fascinado pela plumagem absolutamente deslumbrante que lhe remetia a uma arara. “Como algo tão estranho pode ser tão belo?” Ele pensou ainda tentando encontrar palavras para dar qualquer resposta. Ouviu o som do carro de seu pai e despertou daquele transe em um passe de mágica, se levantando alarmado, colocou a mão na cintura dela que também tinha os olhos arregalados com medo de serem pegos, segurava seu vestido tentando amarrá-lo no caminho enquanto ele rapidamente guiou-a pela casa até seu quarto e fechou a porta com urgência, parando contra ela para voltar a admirar as penas da sirena diante de si.— O que exatamente? —Tentou elaborar a pergunta e falhou.Ela suspirou, não queria correr o risco de se ver no espelho e por isso fechou os olhos concentrando-se em reverter para seu disfarce.Quando já era mulher de novo, sentou-se na cama, não conseguia encarar os olhos pretos do amigo, por isso s