Giovanni nunca fora sensível ou pacifico com qualquer pessoa, mesmo as mulheres, mas Dalila já tinha passado por muita coisa e provavelmente aquela era apenas a ponta do iceberg, ele no fundo sabia, já tinha visto caças à desertores antes e baseado nisso ele estava certo de que Tommaso era um problema pequeno comparado ao que poderia vir.Ela acolheu aquela dor dele, já há muito esquecida, por ter perdido sua mãe na infância. Ele sentiu o cuidado dela nas palavras, então mesmo sem saber como, tentou acolhê-la também e entender os sentimentos que a confundiam naquele momento e no que viria depois que ela soubesse que seus amigos não eram assim tão humanos.— Sente-se um pouco. — Ele convidou com cautela e ela respirou fundo.Os olhos castanhos, mais escuros sob a luz da mansão, encaravam o chão de madeira para evitar o olhar do homem que parecia prestes a lhe dar uma lição de moral, ela não queria discutir sobre quão inútil seria qualquer discurso diante do pesadelo que era ter Tommy a
Quando tinham 14 anos, antes dos pais de Dalila morrerem, Jenifer costumava organizar festas do pijama com suas amigas do condomínio, e eventualmente convidava Lila que claramente nunca se divertia com os esmaltes, maquiagem e filmes de romance, mas gostava de inventar brincadeiras aonde tinham que sair pela casa, dentre elas o Caça ao Tesouro.Em uma noite Dalila propôs que se escondesse no lugar do tesouro, distribuiu pistas que levariam o grupo de adolescentes até o cofre do pai de Jenny e sua própria localização, mas naquele dia todas as meninas decidiram deixa-la brincar sozinha e não saíram para procurá-la. Persistente a pequena Feigenbaum se manteve escondida no cofre por uma noite inteira, até adormecer no chão frio, ser trancada pelo Sr. Bünchen por engano e ali permanecer dormindo sem conhecer o perigo. Jenny não se conformou com a quantidade de tempo que suas amigas se divertiam enquanto a aventureira ainda esperava ser encontrada, por isso foi procura-la seguindo as pistas
Antes de levar Dalila para seu encontro, Giovanni parou em uma padaria e trouxe pretzels e café para os dois, comeram no carro, estacionados debaixo e um prédio em construção que nunca fora finalizado.Ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela que parecia mais corado nas bochechas desde que estiveram juntos, ela sorria, quase o tempo todo, e ele estava tão encantado com esse fato que continuava obcecado em seguir cada movimento seu.— Credo Giovanni, fica me olhando desse jeito eu até fico com medo. — Ela brincou.— Estou estudando a presa. — A voz grave e expressão séria de sempre fez ela sentir um leve calor no baixo ventre que precisou ignorar.— Presa, sério?! — Disse sarcasticamente ofendida, mas o olhar ganhou um tom ainda mais sombrio quando ele mordeu seu bolinho fitando os olhos dela e depois desviou repentinamente olhando pela sua janela. — Não, pera. Volta aqui.Ela deixou o copo no painel do carro e foi para cima dele, se acomodando no seu colo para fazê-lo olhar seu
Dalila ficava distante quando passava por situações como aquela, Giovanni viu isso nela quando fugiam na noite em que ela descobriu no que estava metida e agora estava vendo de novo, o mesmo olhar perdido e os dedos que se esfregavam no tecido da própria roupa viciosamente.Ele não sabia o que poderia dizer para melhorar as coisas, mas sabia que de alguma forma a verdade era uma questão importante para ela e no fim, tinham pouco tempo para fazê-la entender o “mundo oculto”, como chamavam no Brasil.Enquanto Giovanni levava a morena para um hotel de estrada e lhe contava o que sabia sobre o mundo da forma mais técnica possível para dar a ela o que pensar, algo que não fosse lamentar e chorar durante toda a madrugada, Jenny lutava por força de vontade para sair daquela igreja e fazer qualquer coisa melhor do que simplesmente fugir de quem era.Eram anos agindo e falando como uma humana, ignorando qualquer coisa que a equiparasse à um não-humano. Sua avó dizia que sirenas não era feitas
A voz dela nunca soou tão divina aos seus ouvidos como naquele momento, ele ainda estava fascinado pela plumagem absolutamente deslumbrante que lhe remetia a uma arara. “Como algo tão estranho pode ser tão belo?” Ele pensou ainda tentando encontrar palavras para dar qualquer resposta. Ouviu o som do carro de seu pai e despertou daquele transe em um passe de mágica, se levantando alarmado, colocou a mão na cintura dela que também tinha os olhos arregalados com medo de serem pegos, segurava seu vestido tentando amarrá-lo no caminho enquanto ele rapidamente guiou-a pela casa até seu quarto e fechou a porta com urgência, parando contra ela para voltar a admirar as penas da sirena diante de si.— O que exatamente? —Tentou elaborar a pergunta e falhou.Ela suspirou, não queria correr o risco de se ver no espelho e por isso fechou os olhos concentrando-se em reverter para seu disfarce.Quando já era mulher de novo, sentou-se na cama, não conseguia encarar os olhos pretos do amigo, por isso s
Depois de um dia como aquele, Giovanni não quis levar a sua protegida para qualquer lugar, acabaram hospedados em um tipo de hotel fazenda na saída de Jalines para uma das cidades vizinhas e aproveitaram um pequeno bosque de trilha para conversarem melhor sobre o mundo. Dalila Já não sentia tanta raiva, como poderia? Ver Giovanni focado e preocupado com seu bem estar emocional só fazia com que ela estivesse mais certa do precipício que sentia por ele.Eventualmente nada impressionava ela mais, se acostumara com o que ouvia sobre as habilidades dos seres sobrenaturais ao redor do mundo, com o fato de que os humanos dividiam o governo dos países com aqueles que chefiavam o mundo oculto da região, em sua maioria os interessados como chefe eram vampiros. Quantas vezes cruzou com outros seres antes de saber de tudo?Quando estava calma o bastante, sabiamente o bastardo tocou no assunto da briga com Jenny, se é que podia chamar aquilo de briga. Dalila agora sabia sobre as leis de convivênc
— Então teve um impriting por mim? — Ela brincou, deitada sobre o peito nu do bastardo que afagava seus cabelos de olhos fechados.— Não sei do que está falando, mas a resposta é no.— Nunca viu crepúsculo? — Perguntou indignada olhando seu semblante relaxado.— Não vejo filmes do gênero desde a adaptação de Entrevista com um Vampiro.— Por que é ruim?— Porque sei que terá romance e não gosto de romance.Ela sorriu de desdém e mordeu de leve seu peito.— Disse o emocionado que se declarou há 2 horas atrás. — Debochou e ele abriu os olhos.— Me declarei? No... Te arrastei para minha cama.— Tecnicamente a cama é do hotel e sim, tu te declarou, disse que soube que me amava no instante que ouviu minha linda voz. Não vai fugir disso, Gio.— Se concentre no que precisa saber, Dalila. — Desconversou ele a fazendo rir e se sentar na cama.— A verdade é que não sei o que quis dizer com essa coisa de que pertenço a ti... Eu sinto muitas coisas, não vou negar, mas o que quer dizer? Que fomos d
Em outro ponto daquela cidade, Dalila mais uma vez encarava a janela do corvette, imaginando quando teria qualquer nivel de paz, Giovanni não falou mais com ela depois que a tirou do chalé. Sempre que fugiam de novo aquele mesmo silencio voltava ao ambiente, não era um silêncio pacifico como o que antecedeu aquele momento maravilhoso no bosque. Sentia-se angustiada, aterrorizada pela ideia de ver Giovanni lutar de novo, lembrando-se de como Aurora Benucci manifestou com convicção a impotência de um mestiço contra um vampiro como Tommaso. Queria entender o que aconteceu naquela noite com a Benucci porque, se soubesse, talvez pudesse protegê-lo e colocar aquele psicopata do irmão dele em seu devido lugar.Mas as coisas não funcionavam como nos filmes, aparentemente.—Aonde estamos indo? — Aquela pergunta parecia estar no repeat toda a vez que entrava no carro de Giovanni.—Eu ainda não sei, Dalila. Talvez para o Uruguai até as coisas esfriarem.Ela gostava de ver a concentração dos olh