A voz dela nunca soou tão divina aos seus ouvidos como naquele momento, ele ainda estava fascinado pela plumagem absolutamente deslumbrante que lhe remetia a uma arara. “Como algo tão estranho pode ser tão belo?” Ele pensou ainda tentando encontrar palavras para dar qualquer resposta. Ouviu o som do carro de seu pai e despertou daquele transe em um passe de mágica, se levantando alarmado, colocou a mão na cintura dela que também tinha os olhos arregalados com medo de serem pegos, segurava seu vestido tentando amarrá-lo no caminho enquanto ele rapidamente guiou-a pela casa até seu quarto e fechou a porta com urgência, parando contra ela para voltar a admirar as penas da sirena diante de si.— O que exatamente? —Tentou elaborar a pergunta e falhou.Ela suspirou, não queria correr o risco de se ver no espelho e por isso fechou os olhos concentrando-se em reverter para seu disfarce.Quando já era mulher de novo, sentou-se na cama, não conseguia encarar os olhos pretos do amigo, por isso s
Depois de um dia como aquele, Giovanni não quis levar a sua protegida para qualquer lugar, acabaram hospedados em um tipo de hotel fazenda na saída de Jalines para uma das cidades vizinhas e aproveitaram um pequeno bosque de trilha para conversarem melhor sobre o mundo. Dalila Já não sentia tanta raiva, como poderia? Ver Giovanni focado e preocupado com seu bem estar emocional só fazia com que ela estivesse mais certa do precipício que sentia por ele.Eventualmente nada impressionava ela mais, se acostumara com o que ouvia sobre as habilidades dos seres sobrenaturais ao redor do mundo, com o fato de que os humanos dividiam o governo dos países com aqueles que chefiavam o mundo oculto da região, em sua maioria os interessados como chefe eram vampiros. Quantas vezes cruzou com outros seres antes de saber de tudo?Quando estava calma o bastante, sabiamente o bastardo tocou no assunto da briga com Jenny, se é que podia chamar aquilo de briga. Dalila agora sabia sobre as leis de convivênc
— Então teve um impriting por mim? — Ela brincou, deitada sobre o peito nu do bastardo que afagava seus cabelos de olhos fechados.— Não sei do que está falando, mas a resposta é no.— Nunca viu crepúsculo? — Perguntou indignada olhando seu semblante relaxado.— Não vejo filmes do gênero desde a adaptação de Entrevista com um Vampiro.— Por que é ruim?— Porque sei que terá romance e não gosto de romance.Ela sorriu de desdém e mordeu de leve seu peito.— Disse o emocionado que se declarou há 2 horas atrás. — Debochou e ele abriu os olhos.— Me declarei? No... Te arrastei para minha cama.— Tecnicamente a cama é do hotel e sim, tu te declarou, disse que soube que me amava no instante que ouviu minha linda voz. Não vai fugir disso, Gio.— Se concentre no que precisa saber, Dalila. — Desconversou ele a fazendo rir e se sentar na cama.— A verdade é que não sei o que quis dizer com essa coisa de que pertenço a ti... Eu sinto muitas coisas, não vou negar, mas o que quer dizer? Que fomos d
Em outro ponto daquela cidade, Dalila mais uma vez encarava a janela do corvette, imaginando quando teria qualquer nivel de paz, Giovanni não falou mais com ela depois que a tirou do chalé. Sempre que fugiam de novo aquele mesmo silencio voltava ao ambiente, não era um silêncio pacifico como o que antecedeu aquele momento maravilhoso no bosque. Sentia-se angustiada, aterrorizada pela ideia de ver Giovanni lutar de novo, lembrando-se de como Aurora Benucci manifestou com convicção a impotência de um mestiço contra um vampiro como Tommaso. Queria entender o que aconteceu naquela noite com a Benucci porque, se soubesse, talvez pudesse protegê-lo e colocar aquele psicopata do irmão dele em seu devido lugar.Mas as coisas não funcionavam como nos filmes, aparentemente.—Aonde estamos indo? — Aquela pergunta parecia estar no repeat toda a vez que entrava no carro de Giovanni.—Eu ainda não sei, Dalila. Talvez para o Uruguai até as coisas esfriarem.Ela gostava de ver a concentração dos olh
Tão logo Dalila sentiu seu corpo repousar sob o banco confortável do carro, o excesso de energia roubado de Aurora começou a dissipar rapidamente e levar consigo tudo o que gastou para fazê-lo. Ela parecia simplesmente ter dormido, mas Giovanni ainda estava no fim daquela ligação empática que se encerrou com o estado de fraqueza dela, conseguiu sentir como ela se apagou de repente e soube que seu esforço para sustentar aquele poder, seja lá qual for, não era o esforço de qualquer um.Havia muito o que pensar, o bastardo sabia que precisava de uma explicação clara para o que estava acontecendo e as palavras da sumitra... “Magna Mater” Ecoava na sua mente e ele tentava se lembrar sobre aquela velha lenda profética dos Capadócci, sentia que aquelas palavras o deixavam mais próximo da verdade.Dirigiu a BMW com as luzes apagadas, precisou voltar um tanto e tomar uma nova direção para despistar os inimigos no caso de haver outro grupo caçando-os. Precisavam de um novo colar de mandrágora t
Depois de viver muitos anos, a percepção dos sonhos não é mais a mesma, tudo se torna uma grande névoa.Quando acordou, Giovanni tinha a impressão de que o sonho daquela noite era uma memória."magna mater"...Pensou naquela palavra, ainda deitado de olhos abertos para o teto, deixou que sua alma vagasse em busca do que parecia ressonar em seu ouvido continuamente e o que não esperava aconteceu.A cabeça dolorida indicava que o uso do poder estava ativo, mesmo sem qualquer esforço dele, as memórias o consumiam com uma força nunca sentida antes e foi assim que a voz da sub chefe veio a ele, seguida da imagem do seu eu ainda criança a espiar pela fresta da porta enquanto seu irmão ouvia a lenda antes de dormir.A lenda que remonta o princípio, a primeira profecia que prometia aos Capadócci uma soberania que não era fácil de conceber. Dizia que um dia nasceria uma mulher dentre todas as mulheres, abençoada pelos deuses e imbuída de poderes extraordinários, capazes de destruir ou transfor
Giovanni pediu a compreensão de Dalila, precisava caçar e ela não se atreveria a se opor, apesar de sentir falta dos braços dele em volta do seu corpo assim que se despediram.Ela saiu do quarto para tomar um banho, mas se lembrou que não estava mais com as coisas que Jenny lhe deu. Aparentemente nem estavam mais com o corvette, Giovanni pareceu lamentar a perda profundamente.Então, sem ter mais o que fazer além de esperar o momento que seu amado protetor voltaria, ou talvez Gabriel a quem esperava encontrar agora com todas as verdades expressas, ela explorou a casa. Não que houvesse muito para ver, era bastante modesta e pequena. Se entediou facilmente e acabou na sala lendo os títulos da pequena estante de livros que também pareciam em latim, aparentemente o mundo oculto adorava latim e ela se arrependeu por não ter dado atenção as suas aulas de língua morta.— Aprendendo exorcismo, Lila? — Gabriel de repente apareceu falando em tom de brincadeira, como se não estivessem fugindo do
—Eu não estou maluca, Gabe! — Dalila insistiuGabriel riu e bebeu um bom tanto de whisky e quando ela pediu a garrafa ele tirou do seu alcance segurando no alto por pura provocação.— Nem pensar, Lila. Tu tomou 2 goles e já está vendo coisa. — Fingiu repreender e ela bateu em seu peito.— Babaca! — Protestou em resposta.Giovanni permanecia compenetrado em seus pensamentos acerca do que aconteceu entre Dalila e o livro que segurava em mãos. Folheou insistentemente as páginas amareladas e não encontrou nada escrito, absolutamente nada. Tentava unir o sentido das habilidades da morena e ainda não encontrara resposta que justificasse ver qualquer coisa oculta, ainda assim, não duvidou dela por nenhum instante.Ela fitou a postura do mestiço com aquela desconfiança de hábito, dessa vez não por ele em si, mas a forma que seus olhos pareciam distantes diante das hipóteses que confirmariam a lucidez de Dalila.Giovanni admitiu que seria um momento propício para usar seu dom, acessando as mem