No dia anterior— Sabe que não posso segurar essa desculpa por muito tempo, então vai logo Jenifer. — Diz o carrancudo tenente Pires ao abrir a maciça porta dos Feigenbaum.Jenifer havia convencido um velho amigo do seu pai a abrir a mansão, eles fizeram parecer que era uma ocorrência de invasão e por sorte, o parceiro do tenente era um jovem muito leal e logo foi convencido pela sirena que assegurou estar fazendo uma pesquisa para a universidade e nada de mais aconteceria. Gabe acompanhava o jogo de blefe e manipulação da amiga com um interesse questionável, impressionado, subiram juntos até a biblioteca sem distração alguma e assim que empurraram a porta de madeira, o cheiro de pó e papel antigo denunciou que estavam no caminho certo.— O único problema vai ser achar qualquer coisa em 30 minutos. Isso aqui é enorme! — Constatou Gabriel ao caminhar para uma das prateleiras.— Você sabe melhor do que eu como se parece esse livro, então vamos. — Encorajou ela indo para o lado oposto de
O caminhar de felino e o cabelo loiro revolto era um alerta de agouro para Dalila que via aquela figura com um misto de asco e ódio crescente, notando que o medo que tinha antes já não era mais um sentimento tão forte. Mas era só. Não viu mais nada a princípio, estava se afogando naqueles sentimentos obscuros quando sua mente passou a expandir a cena gradativamente e ela percebeu que o via em um longo corredor branco banhado por uma meia luz amarelada. Sonhos sempre foram coisas abstratas demais para a morena, aquilo era diferente. Notou o mural com colagens sobre alimentação saudável e as portas uma após a outra como um hospital, refletiu o que faria aquele monstro visitar um hospital, estava de fato confusa até o instante em que ele parou diante uma das portas, abaixou a maçaneta e revelou, com seu sorriso macabro, a senhora de olhar perdido sentada diante da janela ao qual prontamente reconheceu. Pensou em gritar, chamar sua bisavó para que ela acordasse da catatonia e chamasse p
Porto Alegre – RS, BrasilA casa de repouso tinha as portas escancaradas e uma pequena recepção logo na entrada, aonde Jenifer apertou a campainha chamando atenção de uma mulher jovem de sorriso meigo que aguava um dos vasos de planta próximos e logo veio ao encontro.— Olá, posso ajudar?— Sim, eu me chamo Dalila Feigenbaum e estou procurando minha bisavó.— A Dona Nívea. — Completou a jovem contente. Como se soubesse a história, que por sinal não era verdadeira.Jenny pareceu surpresa, sorriu amplamente e Gabriel mais uma vez admirou sua atuação.— Sim, como sabe? — Perguntou a sirena quase emocionada.— Dona Nívea conta sobre você nos momentos lúcidos e seu sobrenome não é tão comum, então já soube de cara. Fico feliz que tenha vindo visitar a Dona Nívea, ninguém vem há um bom tempo.— Eu sinto muito por isso, meus pais faleceram e desde então as coisas ficaram bem sensíveis para mim. Estou retomando a vida aos pouquinhos sabe? Enfim... Como ela está?— O senhor está junto? — Pergu
O silêncio no carro já durava alguns minutos e era respeitado por Giovanni paciente e centrado na direção, enquanto Dalila arrancava o esmalte das unhas por pura ansiedade. Foi interrompido abruptamente pelo som de Big Girls Don’t Cry do telefone da morena.— Por favor, diga coisas boas. — Implorou ela com a voz trêmula ao atender.— Sua bisavó está segura, Gabes ta arrumando um jeito de continuarmos de olho nela sem alarmar os humanos da casa de repouso. — Jenny soltou de uma vez e Dalila pareceu aliviar um peso de décadas preso em seu peito.— Caralho... Okay... Obrigada Jenny. E vocês falaram com ela? Como foi? — Quis saber aflita.— Na verdade foi mais o Gabes. Ela se lembrou dele e eles falaram sobre geleias e afins... Lila, a sua avó mencionou sobre seres da noite transformarem a terra em um inferno e sobre ela ser uma fada...— Fada? Fada, tipo nos livros? — Começou Dalila confusa com a declaração da amiga.Giovanni teve sua atenção captada pelo assunto, olhou a morena com estr
86 anos atrásDon Giorgio segura o rosto de sua esposa pela última vez antes da sua morte, essa é a ordem final da doce Genevieve. A mão dele mancha a pele pálida dela com seu próprio sangue e apesar disso ela sorri, venera ele com seu olhos grandes e azuis como o mediterrâneo, tenta agarrar-lhe o tecido da camisa como se desejasse compartilhar as suas últimas palavras antes do grito final que veio cedo demais e interrompeu a cena. Ela se contorce e o Don assiste em completo silêncio, sozinho, apenas ele e tua dama, a mulher que traz ao mundo seu herdeiro.— Giorgio... — Ela tenta chamar, ofegante, a voz entrecortada e tão baixa que só podia ser ouvida porque ele não era humano.— Si bella mia. — Ele diz sem emoção, ainda segurando seu rosto como uma boneca.— Gio... C’e... Gio... — Ela tentava e sua palavras seguiam presas pelas contrações que vinham uma após a outra.O suor fresco de Genevieve se mistura ao sangue em seu rosto, Giorgio solta sua amada com a impressão de que algo es
Dias Atuais, Jalines – RS, BrasilO corpo da morena reluzia sob o Sol e seus óculos refletiam a amiga acima dela, de pé com sua frustração estampada nos olhos castanhos e braços cruzados para enaltecer sua raiva. Dalila, no entanto, estava bastante relaxada e não se deixava afetar pela postura intimidadora da outra.— Jenifer tu ta bem na frente do Sol. — Reclamou com a voz morosa.— Nossa Dalila! Dá pra tu pelo menos parecer um pouco incomodada com o mundo acabando? — O cabelo liso e curto se agitava conforme ela se movia.— O mundo não ta acabando Jenifer. — Dalila se dá por vencida, senta-se na areia rapidamente porque sabe que sua amiga não aceita ser simplesmente ignorada.Ela tira os óculos escuros e respira pesadamente. Há algumas semanas foi despejada da moradia estudantil e por não ter aonde por suas coisas, precisou vender todos os móveis que tinha até então, menos o piano de seus pais é claro... Esse estava posicionado em um canto da parede, junto com seus equipamentos de D
Jenny finalizava seu batom roxo no espelho do carro e a regra é que ninguém podia sair até que ela estivesse pronta e por isso seu namorado batucava freneticamente no volante, ansioso para ver de perto a decoração colorida que já conseguiam notar da rua em que estacionaram. As tendas gigantes cobertas de tecidos variados de cores vibrantes e psicodélicas davam um ar de festival de música, mas eles sabiam que era apenas uma festa de aniversário, no caso o aniversário de João Guilherme, filho de ator famoso e amigo de infância do Jotapê. Dalila era o presente do Kiper e para ela fazia sentido, considerando que o idiota era um rato trapaceiro... Claro que daria um jeito de dar um presente que não pagou para ter.Finalmente a amiga saiu do carro arrumando sua roupa e o namorado a acompanhou como um pequeno labrador feliz, dando espaço para Dalila segui-los de uma distância segura das demonstrações de afeto. A morena analisou o campo que eles conheciam como Pico Da Forca, dado sua históri
— Eu mesma, prazer. — Ela não queria parecer tímida então foi cordial se aproximando dele para lhe dar um singelo aperto de mão.Ele tinha aquele olhar misto de algum tipo de luxúria e o constante ar de riso e deboche como um verdadeiro maníaco, mas Dalila podia notar mesmo com a luz colorida e distante a sua beleza no meio das inúmeras tatuagens, o cabelo loiro claríssimo e propositalmente bagunçado e as roupas despojadas demais para um menino rico do Sul; na verdade o loiro parecia um verdadeiro marginal das ruas de São Paulo, ao menos como Dalila os imaginava, com o pequeno detalhe de que na verdade era italiano e esperava que não fosse um marginal.Apesar de ela ter estendido a mão, ele aceitou apenas para se levantar e puxá-la para dar dois beijos demorados em suas bochechas. Ela ficou tão perplexa com a atitude repentina que mal se moveu, mas sabia que era costume do país dele cumprimentar com beijos no rosto, só não sabia se o faziam com recém conhecidos.— Tommaso Capadócci, m