— Eu mesma, prazer. — Ela não queria parecer tímida então foi cordial se aproximando dele para lhe dar um singelo aperto de mão.
Ele tinha aquele olhar misto de algum tipo de luxúria e o constante ar de riso e deboche como um verdadeiro maníaco, mas Dalila podia notar mesmo com a luz colorida e distante a sua beleza no meio das inúmeras tatuagens, o cabelo loiro claríssimo e propositalmente bagunçado e as roupas despojadas demais para um menino rico do Sul; na verdade o loiro parecia um verdadeiro marginal das ruas de São Paulo, ao menos como Dalila os imaginava, com o pequeno detalhe de que na verdade era italiano e esperava que não fosse um marginal.
Apesar de ela ter estendido a mão, ele aceitou apenas para se levantar e puxá-la para dar dois beijos demorados em suas bochechas. Ela ficou tão perplexa com a atitude repentina que mal se moveu, mas sabia que era costume do país dele cumprimentar com beijos no rosto, só não sabia se o faziam com recém conhecidos.
— Tommaso Capadócci, mas pode me chamar de Tommy. — Ele diz antes de se afastar do rosto dela, causando-lhe uma sensação estranha que a fez recuar em seguida.
— Tu é o chefe? — Ela perguntou com sarcasmo olhando os outros dois.
A barbie dos anos 80 daquele grupo ainda fumava lentamente e por nenhum segundo tirou os olhos da morena que já estava incomodada com a hiper atenção dela enquanto do outro só tinha indiferença, ela e Tommy gargalharam com a pergunta, uma reação até exagerada para algo tão simples e Dalila ficou constrangida. Prestou atenção no outro homem entre os três, ela não sabia dizer se ele a ignorava ou se simplesmente nem prestara atenção, mas algo lá embaixo na festa parecia muito mais interessante e isso dava uma má impressão dele, tanto quanto o comportamento dos outros.
— Ironicamente, si mi amore, eu sou o chefe. — Respondeu com aquele olhar maníaco que fazia ela se sentir um pouco insegura.
— E tu? — Perguntou para a loirinha tentando manter seu tom.
O sorriso atrevido da menina antecedeu uma última tragada demorada, o olhar fixo impedia que Dalila desviasse o seu, não queria parecer intimidada por três festeiros com cara de psicopatas. O cigarro foi apagado e guardado em uma bolsinha de plástico rosa com glitter que ela tinha no ombro e de dentro da mesma bolsa ela tirou um gloss de bastão rosa com um cheiro irritante de morango, antes de finalmente responder.
— A princesinha do chefe, bambolina. — Provocou com sua voz tão atrevida quando o olhar.
— Faz sentido. — Sorriu ao responder, olhando a garota de cima a baixo para constatar que ela estava montada para parecer uma boneca.
— Não te assuste com a Jocasta, ela gosta de pular em tudo o que corre. — O loiro diz malicioso e Dalila o encara com o olhar firme.
— Não sou de me assustar. E aí? Qual é a tua? Deve ter mandado o Gabrielle me buscar lá, porque se fosse interesse dele me conhecer ele estaria aqui, então se não está deve ser tu que querias me conhecer. — Ela pontua direta e ele arqueia a sobrancelha impressionado, voltando a se sentar.
— Observou bem, ahm? — Ele faz uma pausa a olhando de baixo a cima de novo e lhe faz um sinal com a cabeça para que se sente. — Sou um homem de negócios então vou logo ao ponto. Gostei do teu som, tu és boa e eu só trabalho com o que há de melhor. Quero transformar esse pico em um clube e quero a ti como uma das principais da casa, se te provar séria.
Ela se sentou interessada, ainda tinha ressalvas, mas a necessidade estava batendo à porta.
— E como quer que eu prove?
— Sábado eu vou levar a festa para um lugarzinho afastado de Porto Alegre. Acompanharia meu pessoal, eles saberiam me dizer depois se estás dentro ou fora.
— E deixa seu pessoal decidir por você? Pensei que fosse o chefe.
Ela mais uma vez provoca, mas tem as gargalhadas exageradas dos dois como resposta, não mostrou nenhum sinal de humor, cruzando os braços na espera de uma resposta.
— Tu não faz nenhuma ideia do que ta falando, bambolina... Shhh — Jocasta recomenda quase num tom de ameaça, antes de pegar um pirulito no bolso do seu sobretudo rosa de pelúcia e sair do monte.
— Eu sou o chefe e meu pessoal sabe bem como por novatos em teste, não te preocupe em atacar meu comando, te preocupe apenas em salvar a pele do teu amigo antes que ele perca a namorada para salvar a tua. Entraremos em contato — Diz Tommy quase ameaçador.
Apesar de confusa, sem entender como ele soubera tanto sobre sua vida pessoal e certa de que questionar sobre era burrice, ela se levantou, assentiu como resposta, olhou brevemente para o outro que seguia imóvel e em silencio e então acenou antes de descer o monte.
Mesmo bêbado, Gabe era extraordinariamente cuidadoso naquele veículo quando se tratava de levar Dalila aonde quer que fosse, deu para ela o deu capacete e dirigiu apenas com seus óculos escuros, provavelmente porque se preocupava com os gatilhos que uma direção arriscada poderia disparar nela. Desde a morte dos Feigenbaum, Gabriel era um porto seguro para a morena, sendo sempre o primeiro a se preocupar com as suas verdadeiras necessidades, medos e pesares, os meios que usava para lidar com a dor e o que a deixava confortável de verdade. Ele sabia tudo sobre ela e cada detalhe das suas ações era milimetricamente pensada, desde as provocações até os momentos de distanciamento. Ele sempre sabia o que fazer.Não é que Elias e Jenny não soubessem como cuidar de Dalila, mas eles tinham dificuldades quanto a personalidade dela. Elias, por exemplo, era o tipo que nunca fazia perguntas ou questionava sua amiga porque não queria bater de frente com ela, que já tem personalidade o suficiente po
Jenny morava em um condomínio na parte mais alta da cidade, porém no sentido oposto ao Pico da Forca, o bairro em si era um dos mais antigos de Jalines e por sua vez, o mais rico. Ela não gostava que pensassem que era uma daquelas princesinhas mimadas, a jovem sempre fez questão de parecer uma garota simples, tratava todos muito bem e nunca fazia acepção de ninguém por causa da pele, status social ou gênero e sexualidade. Quase sempre muito sensata, Jenifer lutava pelas pessoas, mesmo que não as conhecesse... Talvez fosse uma herança genética de seu pai, o deputado estadual Armando Bünchen, um dos poucos ainda honestos. Dalila se orgulhava da amiga em muitos aspectos, muitas vezes até se espelhava nela, mas não no momento em que percebeu que o senso de autopreservação dela fora prejudicado. Assim que Gabriel estacionou sua moto no jardim dos Bünchen, a morena encarou a Lamborghini Aventator cor de chumbo com irritação e surpresa, porque sabia que certamente pertencia ao loiro petulant
— Nem vou precisar falar nada, Tommy... Tu é do tipo que deixa uma marca, sabe? — Dalila provocou, mesmo incomodada com toda a desconfiança que foi gerada a respeito dele desde a noite anterior.— Essa é uma verdade, signorina Feigenbaum. — Ele respondeu com uma cortesia regada de sarcasmo, acompanhada pelo mesmo olhar psicopata da outra noite, encarou Gabriel demoradamente.Dalila esperava que o amigo cumprimentasse o loiro, mas não foi o que aconteceu, os dois se encararam como se estivessem lendo um ao outro e foram interrompidos por Jenny que desceu as escadas dissipando o clima estranho com um gritinho de felicidade.— Gabes! E aí, migo? Estava te esperando. — Ela correu até ele agitando o cabelo curto e pulou nele para um abraço.Dalila e Tommaso se encararam, o olhar parecia nunca desaparecer e ela abraçou a si mesma, mantendo sua postura séria mesmo ao receber da amiga um beijo no rosto.— Gabriel Villa Lobos, esse é o Tommaso Capadócci. — Apresentou Jenny com uma cortesia for
Uma luz forte e estável atingiu os olhos de Dalila e ela soube que uma das janelas do quarto que dormira havia sido repentinamente aberta. Ela sentiu falta de quando Jenifer também gostava de dormir e as duas conseguiam 12 horas de sono sem nenhum problema, agora a amiga entrou nessa vida de mulher produtiva e responsável e isso criava um abismo entre elas as vezes.— Por quê? — Resmungou e Jenifer subiu na cama.Dalila afastou o edredom quentinho para olhar o que a amiga queria, ainda com os olhos semicerrados na tentativa de evitar o Sol. Jenny a encarava preocupada, mas também parecia culpa-la por algo que não estava tão claro, na verdade, a noite anterior ainda estava enevoada na memória da morena que nem tinha acordado direito e já tinha que lidar com os inquéritos da senhorita Bünchen.— Lila, a gente precisa conversar. — Pediu com uma honestidade preocupante.Ela se sentou na cama esfregando os olhos, séria, olhava a amiga com atenção.— O que aconteceu, Jenny?— Eu que pergunt
Dalila tentou ligar para Gabriel três vezes enquanto estava no Uber e concluiu que ele estava ocupado, não quis insistir. Organizou na sua mente o que pretendia fazer quando chegasse na casa de Elias, o amigo provavelmente ficaria feliz pela oportunidade dela, ele acreditava fortemente no seu sucesso na música embora ressaltasse com frequência que ela deveria tentar a carreira de cantora. Pensou que poderiam conversar e beber uma coca-cola, bebida favorita do Eli, enquanto ela empacotava seus pertences e procurava uma casa aos arredores da faculdade aonde pudesse pagar e tivesse espaço suficiente para seus instrumentos. Lhe pareceu uma ideia confortável para um dia como aquele.Ela não prestou atenção a princípio, estava distraída, no entanto quando já estava próxima da sua casa olhou para trás e se deu conta de que um carro antigo fazia o mesmo caminho que eles há algum tempo, não reconheceria facilmente, mas se tratava de um corvette stingray 69 na cor preta. Dalila entendeu rapidam
A casa não tinha nenhuma entrada solar, de cara isso a incomodou. Como é possível todas as janelas de uma casa serem escuras? O que era aquilo? Depois olhou todo o resto da decoração, as pequenas gárgulas da entrada e a mistura de masmorra com modernidade de luxo, os lustres estilosos... Tommaso tinha um bom gosto, talvez um pouco sinistro, mas para ela, casou bem com a sua personalidade irritante. Estava distraída demais, mais uma vez, ou de fato aqueles italianos eram muito rápidos porque quando pôs os pés na entrada ela estava sozinha e agora, Jocasta estava parada um pouco a frente, encostada em um pilar aonde chupava um pirulito rosa. — Ciao bambolina, eu já sentia tua falta — Ela disse com aquela voz enjoada que fazia Dalila querer esmagar os seus próprios olhos. — Oi Jocasta. Vai me dizer que foi tu que me chamou aqui? — Perguntou Dalila forçadamente doce, só para corresponder ao tom da loira. — Não. Seria uma surpresa se Jocasta convidasse alguém para qualquer coisa além de
Giovanni dormiu por alguns minutos quando já havia amanhecido, encostado na porta do quarto em que Dalila estava hospedada. Antes disso ele passou a noite tentando entender o que Tommy fazia de tão importante para deixar a sua convidada sozinha e a troco de que ele a levou para a mansão aonde era um alvo frágil sob os olhos de vampiros habituados a matar primeiro e perguntar depois. Ele não ouvia muitos detalhes dos planos de seu irmão, mas sabia que o pai exigia que voltassem com o assunto das terras de Jalines resolvido antes da próxima Lua Cheia e considerando o encontro de Tommy com uma possível companheira de aura forte como Dalila, aquele rato manipulador certamente tinha planos para leva-la com ele. Contra a vontade dela, provavelmente, já que nos últimos 3 dias fora incapaz de estabelecer um contato que não fosse por medo. Até que ponto Giovanni estaria sendo verdadeiro quando prometeu que Tommaso nunca faria mal à Dalila? Depois de tudo, começava a se questionar. Foi interro
— Por que está de babá? Ele não pode simplesmente aguentar até sábado? Ela fez a pergunta com um certo tédio na voz, não queria estar ali, só não podia mudar a realidade então pensava que talvez valesse a pena tentar entender mais sobre a sua situação, para saber como seguir a sua vida, mas também porque não aguentava mais o silêncio e a indiferença dele. Mesmo diante da sua pergunta, ele não parecia interessado em nada além da estrada.— Se vai dirigir para mim, não poderia pelo menos fingir que não me odeia? — Sugeriu irônica, olhando o caminho que faziam. — Aonde estamos indo?Ele continuava focado, mas ao som da sua primeira pergunta apertou o volante desconfortável e se mexeu no banco pela primeira vez desde que ligou o motor. Dalila percebeu sua reação em silencio por algum tempo, curiosa, moveu os lábios arriscando mais uma pergunta, mas foi interrompida por uma manobra brusca que a jogou para cima dele quando estacionava na frente do prédio de Elias. Ela perdeu o ar com o su