A casa não tinha nenhuma entrada solar, de cara isso a incomodou. Como é possível todas as janelas de uma casa serem escuras? O que era aquilo? Depois olhou todo o resto da decoração, as pequenas gárgulas da entrada e a mistura de masmorra com modernidade de luxo, os lustres estilosos... Tommaso tinha um bom gosto, talvez um pouco sinistro, mas para ela, casou bem com a sua personalidade irritante. Estava distraída demais, mais uma vez, ou de fato aqueles italianos eram muito rápidos porque quando pôs os pés na entrada ela estava sozinha e agora, Jocasta estava parada um pouco a frente, encostada em um pilar aonde chupava um pirulito rosa. — Ciao bambolina, eu já sentia tua falta — Ela disse com aquela voz enjoada que fazia Dalila querer esmagar os seus próprios olhos. — Oi Jocasta. Vai me dizer que foi tu que me chamou aqui? — Perguntou Dalila forçadamente doce, só para corresponder ao tom da loira. — Não. Seria uma surpresa se Jocasta convidasse alguém para qualquer coisa além de
Giovanni dormiu por alguns minutos quando já havia amanhecido, encostado na porta do quarto em que Dalila estava hospedada. Antes disso ele passou a noite tentando entender o que Tommy fazia de tão importante para deixar a sua convidada sozinha e a troco de que ele a levou para a mansão aonde era um alvo frágil sob os olhos de vampiros habituados a matar primeiro e perguntar depois. Ele não ouvia muitos detalhes dos planos de seu irmão, mas sabia que o pai exigia que voltassem com o assunto das terras de Jalines resolvido antes da próxima Lua Cheia e considerando o encontro de Tommy com uma possível companheira de aura forte como Dalila, aquele rato manipulador certamente tinha planos para leva-la com ele. Contra a vontade dela, provavelmente, já que nos últimos 3 dias fora incapaz de estabelecer um contato que não fosse por medo. Até que ponto Giovanni estaria sendo verdadeiro quando prometeu que Tommaso nunca faria mal à Dalila? Depois de tudo, começava a se questionar. Foi interro
— Por que está de babá? Ele não pode simplesmente aguentar até sábado? Ela fez a pergunta com um certo tédio na voz, não queria estar ali, só não podia mudar a realidade então pensava que talvez valesse a pena tentar entender mais sobre a sua situação, para saber como seguir a sua vida, mas também porque não aguentava mais o silêncio e a indiferença dele. Mesmo diante da sua pergunta, ele não parecia interessado em nada além da estrada.— Se vai dirigir para mim, não poderia pelo menos fingir que não me odeia? — Sugeriu irônica, olhando o caminho que faziam. — Aonde estamos indo?Ele continuava focado, mas ao som da sua primeira pergunta apertou o volante desconfortável e se mexeu no banco pela primeira vez desde que ligou o motor. Dalila percebeu sua reação em silencio por algum tempo, curiosa, moveu os lábios arriscando mais uma pergunta, mas foi interrompida por uma manobra brusca que a jogou para cima dele quando estacionava na frente do prédio de Elias. Ela perdeu o ar com o su
A zona sul de Jalines era aonde estavam a maioria de seus amigos. Dalila teve o privilégio de estudar em escola particular durante a infância e a adolescência e, por crescerem juntos, acabaram na mesma universidade federal também; o fato é que a maioria das amizades na cidade da névoa eram assim, não poderia ser diferente considerando que não era grande o bastante para se esquecer um rosto, naquele bairro todos se conheciam há muito tempo. O primeiro condomínio de apartamentos da cidade ainda era, de longe, o mais luxuoso e inacessível em questão financeira, Dalila nunca pensou que moraria ali apesar de ter herdado uma boa quantia dos pais, porque sabia que precisaria racionar o dinheiro até o fim da faculdade (e acabou bem antes disso, no fim). Agora ali estava ela, diante das colunas de gesso e placas douradas que, se não fossem ouro, imitavam perfeitamente. Giovanni não se deu ao trabalho de nada além de abrir a porta para ela colocar suas coisas, entrar no carro e aproveitar 10
Giovanni estava ainda na sala de recepção, primeiro cômodo do apartamento alugado para Dalila, desde que chegou com Tommaso no cair da noite. Não queria avançar pela casa e se intrometer nas coisas pessoais da morena, na verdade pensava em uma distância segura daquela mulher e só estava ali porque somente ele seria irrelevante suficiente para que Tommy tivesse um tempo com ela. Ao menos foi o que seu irmão disse antes de saírem.Seu sangue ferveu quando ouviu as palavras sempre mesquinhas e egocêntricas de Tommaso, e embora não fizesse questão de vangloriar-se por coisas que trariam problemas, ele sorriu de canto lembrando-se do olhar quente da brasileira. Tommaso nunca veria aquele olhar, mesmo que ambos fossem monstros cruéis, ela sabia que o único que seguramente não lhe faria mal (apesar de ter lhe apontado uma arma), o único que gostava de vê-la falando alto e dando ordens (apesar de jamais admitir) era Giovanni, o irmão “irrelevante”.“Maldição! O que tem na cabeça, Giovanni?!”
— È magnifico, amore mio. — Tommaso toma a mão dela e beija seu rosto como fez na primeira vez em que se encontraram. Ela ficou rígida sob seus pés e esperou que ele terminasse de marcar território para que pudesse começar a beber e ignorar todo o resto da noite. Era bem comum que ela agisse assim dissociando-se do ambiente para onde a arrastavam, e depois de bêbada até conseguia se divertir. Dessa vez a única intenção era suportar aquela situação. — Eu não sabia desse lugar. — Ela respondeu levemente apática. — A inauguração é hoje, não foi muito divulgado. Na verdade... É para um público bastante restrito. — Tommaso tinha um certo mistério na voz, mas não instigou Dalila. Ela deixou-se ser guiada até o bar. Percebia que estava sendo constantemente observada por cada pessoa que cruzava o seu caminho e o loiro segurava seu ombro firme como se aquela fosse a única garantia de vida que ela tinha, não conseguia entender o que estava havendo, mas Giovanni observava aflito o bastante pa
— Esqueceu as notas, mi amore? — Tommaso falou ao pé do seu ouvido de forma ameaçadora.O corpo dela ainda formigava, mas tinha melhor noção do que acontecia em sua volta e sabia que todos a olhavam, na verdade, desde o princípio todos pareciam interessados nela, talvez por estar andando ao lado do gringo como um troféu. Conseguia entender, não aprovava, mas entendia.O que ela não conseguia explicar era o porquê pareceu flutuar por 2 minutos antes de ver Giovanni partir e ser atirada no chão como um saco de batatas. Por que ele saiu? Por que aquela cara? Não tinha tempo e não podia buscar respostas, todos ainda a encaravam curiosos e Tommy parecia perigosamente desapontado... Ela sorriu para ele brevemente, respirou fundo e voltou a focar na música com uma reentrada teatral na melodia que voltava e ecoar e distrair os olhos atentos dos clientes do Pub. Gostaria de dizer que estava completamente satisfeita, mas a verdade era que nunca havia vivenciado algo tão profundo e extasiante co
Poucos fazendeiros moravam de fato naquela parte da zona rural, a maioria das terras estavam arrendadas para plantação ou eram chalés de veraneio, mesmo assim a morena teve a grande sorte de ser encontrada no ponto de ônibus depois de andar 2 km, e assim que o velho Alfredo da feira lhe ofereceu carona, ela aceitou de bom grado. Em 15 minutos já estava em casa, ou melhor, no seu ambiente de cárcere. Precisava de um banho, um longo e relaxante banho patrocinado pela dignidade dela que fora vendida, estava rindo? Rindo da sua própria desgraça enquanto jogava suas roupas pela casa. Com o banho de sais preparado, ela submergiu na luxuosa banheira da suíte master, com seu celular em mãos para ouvir seu álbum predileto do Nightwish, Dark Passion. Também estava lendo as inúmeras mensagens de Jenny, curiosa por informações sobre sua nova casa, mas também preocupada por não a ter visto no campus mais uma vez, nada anormal para quem estava acostumada com Jenifer e sua maternidade compulsória.