Quando tinham 14 anos, antes dos pais de Dalila morrerem, Jenifer costumava organizar festas do pijama com suas amigas do condomínio, e eventualmente convidava Lila que claramente nunca se divertia com os esmaltes, maquiagem e filmes de romance, mas gostava de inventar brincadeiras aonde tinham que sair pela casa, dentre elas o Caça ao Tesouro.Em uma noite Dalila propôs que se escondesse no lugar do tesouro, distribuiu pistas que levariam o grupo de adolescentes até o cofre do pai de Jenny e sua própria localização, mas naquele dia todas as meninas decidiram deixa-la brincar sozinha e não saíram para procurá-la. Persistente a pequena Feigenbaum se manteve escondida no cofre por uma noite inteira, até adormecer no chão frio, ser trancada pelo Sr. Bünchen por engano e ali permanecer dormindo sem conhecer o perigo. Jenny não se conformou com a quantidade de tempo que suas amigas se divertiam enquanto a aventureira ainda esperava ser encontrada, por isso foi procura-la seguindo as pistas
Antes de levar Dalila para seu encontro, Giovanni parou em uma padaria e trouxe pretzels e café para os dois, comeram no carro, estacionados debaixo e um prédio em construção que nunca fora finalizado.Ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela que parecia mais corado nas bochechas desde que estiveram juntos, ela sorria, quase o tempo todo, e ele estava tão encantado com esse fato que continuava obcecado em seguir cada movimento seu.— Credo Giovanni, fica me olhando desse jeito eu até fico com medo. — Ela brincou.— Estou estudando a presa. — A voz grave e expressão séria de sempre fez ela sentir um leve calor no baixo ventre que precisou ignorar.— Presa, sério?! — Disse sarcasticamente ofendida, mas o olhar ganhou um tom ainda mais sombrio quando ele mordeu seu bolinho fitando os olhos dela e depois desviou repentinamente olhando pela sua janela. — Não, pera. Volta aqui.Ela deixou o copo no painel do carro e foi para cima dele, se acomodando no seu colo para fazê-lo olhar seu
Dalila ficava distante quando passava por situações como aquela, Giovanni viu isso nela quando fugiam na noite em que ela descobriu no que estava metida e agora estava vendo de novo, o mesmo olhar perdido e os dedos que se esfregavam no tecido da própria roupa viciosamente.Ele não sabia o que poderia dizer para melhorar as coisas, mas sabia que de alguma forma a verdade era uma questão importante para ela e no fim, tinham pouco tempo para fazê-la entender o “mundo oculto”, como chamavam no Brasil.Enquanto Giovanni levava a morena para um hotel de estrada e lhe contava o que sabia sobre o mundo da forma mais técnica possível para dar a ela o que pensar, algo que não fosse lamentar e chorar durante toda a madrugada, Jenny lutava por força de vontade para sair daquela igreja e fazer qualquer coisa melhor do que simplesmente fugir de quem era.Eram anos agindo e falando como uma humana, ignorando qualquer coisa que a equiparasse à um não-humano. Sua avó dizia que sirenas não era feitas
A voz dela nunca soou tão divina aos seus ouvidos como naquele momento, ele ainda estava fascinado pela plumagem absolutamente deslumbrante que lhe remetia a uma arara. “Como algo tão estranho pode ser tão belo?” Ele pensou ainda tentando encontrar palavras para dar qualquer resposta. Ouviu o som do carro de seu pai e despertou daquele transe em um passe de mágica, se levantando alarmado, colocou a mão na cintura dela que também tinha os olhos arregalados com medo de serem pegos, segurava seu vestido tentando amarrá-lo no caminho enquanto ele rapidamente guiou-a pela casa até seu quarto e fechou a porta com urgência, parando contra ela para voltar a admirar as penas da sirena diante de si.— O que exatamente? —Tentou elaborar a pergunta e falhou.Ela suspirou, não queria correr o risco de se ver no espelho e por isso fechou os olhos concentrando-se em reverter para seu disfarce.Quando já era mulher de novo, sentou-se na cama, não conseguia encarar os olhos pretos do amigo, por isso s
Depois de um dia como aquele, Giovanni não quis levar a sua protegida para qualquer lugar, acabaram hospedados em um tipo de hotel fazenda na saída de Jalines para uma das cidades vizinhas e aproveitaram um pequeno bosque de trilha para conversarem melhor sobre o mundo. Dalila Já não sentia tanta raiva, como poderia? Ver Giovanni focado e preocupado com seu bem estar emocional só fazia com que ela estivesse mais certa do precipício que sentia por ele.Eventualmente nada impressionava ela mais, se acostumara com o que ouvia sobre as habilidades dos seres sobrenaturais ao redor do mundo, com o fato de que os humanos dividiam o governo dos países com aqueles que chefiavam o mundo oculto da região, em sua maioria os interessados como chefe eram vampiros. Quantas vezes cruzou com outros seres antes de saber de tudo?Quando estava calma o bastante, sabiamente o bastardo tocou no assunto da briga com Jenny, se é que podia chamar aquilo de briga. Dalila agora sabia sobre as leis de convivênc
— Então teve um impriting por mim? — Ela brincou, deitada sobre o peito nu do bastardo que afagava seus cabelos de olhos fechados.— Não sei do que está falando, mas a resposta é no.— Nunca viu crepúsculo? — Perguntou indignada olhando seu semblante relaxado.— Não vejo filmes do gênero desde a adaptação de Entrevista com um Vampiro.— Por que é ruim?— Porque sei que terá romance e não gosto de romance.Ela sorriu de desdém e mordeu de leve seu peito.— Disse o emocionado que se declarou há 2 horas atrás. — Debochou e ele abriu os olhos.— Me declarei? No... Te arrastei para minha cama.— Tecnicamente a cama é do hotel e sim, tu te declarou, disse que soube que me amava no instante que ouviu minha linda voz. Não vai fugir disso, Gio.— Se concentre no que precisa saber, Dalila. — Desconversou ele a fazendo rir e se sentar na cama.— A verdade é que não sei o que quis dizer com essa coisa de que pertenço a ti... Eu sinto muitas coisas, não vou negar, mas o que quer dizer? Que fomos d
Em outro ponto daquela cidade, Dalila mais uma vez encarava a janela do corvette, imaginando quando teria qualquer nivel de paz, Giovanni não falou mais com ela depois que a tirou do chalé. Sempre que fugiam de novo aquele mesmo silencio voltava ao ambiente, não era um silêncio pacifico como o que antecedeu aquele momento maravilhoso no bosque. Sentia-se angustiada, aterrorizada pela ideia de ver Giovanni lutar de novo, lembrando-se de como Aurora Benucci manifestou com convicção a impotência de um mestiço contra um vampiro como Tommaso. Queria entender o que aconteceu naquela noite com a Benucci porque, se soubesse, talvez pudesse protegê-lo e colocar aquele psicopata do irmão dele em seu devido lugar.Mas as coisas não funcionavam como nos filmes, aparentemente.—Aonde estamos indo? — Aquela pergunta parecia estar no repeat toda a vez que entrava no carro de Giovanni.—Eu ainda não sei, Dalila. Talvez para o Uruguai até as coisas esfriarem.Ela gostava de ver a concentração dos olh
Tão logo Dalila sentiu seu corpo repousar sob o banco confortável do carro, o excesso de energia roubado de Aurora começou a dissipar rapidamente e levar consigo tudo o que gastou para fazê-lo. Ela parecia simplesmente ter dormido, mas Giovanni ainda estava no fim daquela ligação empática que se encerrou com o estado de fraqueza dela, conseguiu sentir como ela se apagou de repente e soube que seu esforço para sustentar aquele poder, seja lá qual for, não era o esforço de qualquer um.Havia muito o que pensar, o bastardo sabia que precisava de uma explicação clara para o que estava acontecendo e as palavras da sumitra... “Magna Mater” Ecoava na sua mente e ele tentava se lembrar sobre aquela velha lenda profética dos Capadócci, sentia que aquelas palavras o deixavam mais próximo da verdade.Dirigiu a BMW com as luzes apagadas, precisou voltar um tanto e tomar uma nova direção para despistar os inimigos no caso de haver outro grupo caçando-os. Precisavam de um novo colar de mandrágora t