SAVANNAHO Ryder está sentado à minha frente, mas parece distante, com um receio que raramente lhe vejo. O meu coração bate tão forte que quase o sinto na garganta. Tento preparar-me para o pior — será que ele decidiu que já não quer estar comigo? Não o culparia, tenho agido como uma criança ultimamente, deixei o orgulho e o ciúme tomarem conta de mim.Ele inspira fundo, olha-me nos olhos.— Savannah, se é para sermos sinceros, eu vou fazer de tudo para que confies em mim.Assinto, tentando mostrar-lhe que estou pronta para ouvir, mesmo que não esteja.Ele começa devagar, como se pesasse cada palavra.— Ontem, depois de sair daqui, a Andie ligou-me. O carro dela avariou no meio da estrada e pediu-me ajuda. Fui buscá-la. Depois ela convidou-me para jantar em casa dela, como forma de agradecimento, e eu aceitei.Fico imóvel, a tentar controlar a expressão. Ele continua, sem me dar tempo para reagir.— Entretanto, a mãe dela ligou. Disse que o pai da Andie tinha tido um enfarte. — Sinto
SAVANNAH O caminho até ao rancho faz-se mais rápido do que esperava. No carro, o ambiente é surpreendentemente leve. A música animada do rádio serve de pano de fundo para as histórias que Ryder me conta sobre os dias em que estive ausente. Rio-me das peripécias dos irmãos Sawyer, das tentativas falhadas de Hunter de cozinhar, das discussões entre Landon e Isaiah sobre quem trabalha mais. Sinto o peito a aliviar-se, como se cada gargalhada me devolvesse um bocadinho daquilo que deixei para trás.Quando dou por mim, já estamos a entrar na estrada de terra batida que leva à casa principal. O tempo passou a voar aqui dentro do carro, mas agora que vejo o rancho à minha frente, um nervoso miudinho instala-se na minha barriga. Aperto a caixa da torta de cereja com mais força do que devia. Sei que tenho de falar com Rose e, apesar de saber que é o certo, o medo de não ser perdoada pesa-me.Ryder estaciona o carro mesmo em frente à varanda. Fico sentada, a olhar para a casa, a tentar ganhar
RYDERO sábado amanhece cheio de energia no rancho. Hoje é o aniversário da minha mãe e, desde cedo, a casa pulsa com um entusiasmo diferente. Mãe, vovó Beth, Harper e Savannah estão fechadas na cozinha desde o nascer do sol, entre tachos, risos e discussões sobre receitas. O cheiro doce e quente que sai dali denuncia que hoje ninguém vai passar fome. As vozes delas misturam-se com o som das colheres de pau e das panelas, e só de imaginar o que estão a preparar, já me cresce água na boca.Eu, o Hunter, o Landon e o Isaiah tratámos dos animais logo de manhã. Mas hoje não há pressas nem reclamações. Antes do almoço, largamos o trabalho e dedicamo-nos a preparar tudo para a festa: mesas e cadeiras cá fora, a churrasqueira já a deitar fumo, luzes penduradas nas árvores, e a fogueira pronta para ser acesa ao final do dia, quando o céu se pintar de laranja e as estrelas começarem a aparecer.Os convidados começam a chegar, um atrás do outro, com abraços, gargalhadas e mais comida. Amigos de
SAVANNAHA festa de aniversário da Rose está a ser das mais divertidas de que tenho memória. Adoro crianças, e fazer pinturas faciais nelas foi um dos pontos altos do meu dia. Entre pincéis, tintas e gargalhadas, deixei-me levar pela leveza do momento. Hoje sinto o Ryder ainda mais próximo de mim. Ele não para de ficar colado a mim, atento a cada gesto, cada sorriso. Acho que quer provar-me, sem palavras, que eu importo para ele. E esse gesto faz-me sorrir sem conseguir evitar.A noite já caiu, a luz dourada do pôr do sol deu lugar ao brilho laranja da fogueira que crepita no centro do jardim. As pessoas começam a despedir-se, os convidados vão partindo aos poucos, mas um pequeno grupo ficou para contemplar a fogueira e aproveitar a música suave que toca ao fundo. Sento-me num tronco, distraída nos meus pensamentos, sentindo o calor das chamas e o cheiro a madeira queimada.De repente, ouço Hunter a resmungar com Harper enquanto se aproximam da fogueira. Pelo tom, percebo que ele não
Narrado por Ryder SawyerEu nunca gostei muito de igrejas.Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.Mas naquele dia, eu estava ali.De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.Mas nada disso importava.O que importava era que ela ainda não tinha chegado.Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum ros
Narrado por Savannah Wilder O horizonte se estendia como uma promessa distante. A estrada cortava os campos secos, esticando-se até onde meus olhos podiam alcançar. O céu estava tingido de laranja e rosa, o sol afundando lentamente no horizonte. E eu dirigia sem olhar para trás. O rádio tocava baixinho, mas eu escutava cada palavra. "Ain't no love in Oklahoma..." Luke Combs sempre soube colocar em palavras o que estava entalado no meu peito. "I keep runnin' but I'm standin' still Pray for peace but I need the thrill" Apertei os dedos no volante, sentindo o nó na garganta crescer.Porque era verdade. Não havia mais amor para mim em Oklahoma. Não depois que minha mãe se foi. Engoli seco e olhei para o banco do passageiro. A única coisa que me restava dela estava ali: uma velha caixa de sapatos cheia de fotografias amareladas e um colar que ela usava todos os dias. Agarrei o pingente entre os dedos, sentindo o frio do metal. — Eu tô tentando, mãe... — sussurrei, s
A IntrusaRyderO gosto amargo do uísque ainda impregnava minha boca quando acordei. A dor latejava no meu crânio como um maldito martelo, lembrança da garrafa de Jack Daniel's que eu havia esvaziado na noite anterior. Ressaca e cansaço eram velhos conhecidos, tão familiares quanto o ar que eu respirava.Me arrastei para fora da cama, os músculos protestando a cada movimento. O quarto estava escuro e abafado, cheirando a uísque e solidão. Passei as mãos pelo rosto áspero, tentando afastar a exaustão. Vesti um jeans surrado e uma camiseta preta antes de calçar as botas gastas.O rancho me esperava, como sempre.Desci as escadas do estábulo, o cheiro de feno, couro e terra úmida invadindo meus sentidos. O sol já estava alto demais no céu. Eu estava atrasado, e isso me irritava profundamente. Detestava falhar, mesmo que fosse apenas comigo mesmo.Foi ao virar o corredor para o piso inferior do estábulo que meu dia tomou um rumo inesperado.Lá estava ela. Uma completa estranha.De costas
Narrado por Savannah.O terceiro dia no rancho começou antes mesmo do sol nascer, e a exaustão já pesava nos meus ossos como se cada músculo do meu corpo tivesse sido substituído por chumbo. Meus braços doíam, minhas pernas protestavam a cada pequeno movimento e até respirar parecia exigir esforço.Passei os últimos dias me forçando além dos meus limites, tentando me provar. E agora meu corpo cobrava o preço.Com um gemido, rolei para o lado e cobri o rosto com o travesseiro, tentando reunir forças para levantar. O colchão duro e a noite mal dormida não ajudaram em nada. Eu já deveria estar acostumada ao desconforto, mas ainda sentia falta da minha cama antiga — e do mundo que deixei para trás.Mas voltar não era uma opção.Com um suspiro resignado, empurrei as cobertas e me arrastei para fora da cama. Minhas mãos tatearam cegamente pelo quarto até encontrar minhas roupas de trabalho: uma regata preta, uma camisa xadrez fina — que deixei aberta para evitar morrer cozida sob o sol esca