Dingo observava Taco passando debaixo de sua janela. Pelos pulos do garoto, imaginava que o encontro fora um sucesso. Teve vontade de descer, mas a família toda estava em casa naquele momento e não houve coragem. Percebeu que Taco parou diante do interfone, e depois seguiu seu caminho.
Colocou um vinil do Metallica para se distrair, ...And Justice For All. Nada como uns bons riffs pesados para preencher os espaços em sua mente.
Dias antes, fora à casa de um amigo e conheceu uma nova mídia, chamada CD. O som cristalino e elegante saía das caixas de som com uma perfeição inimaginável. Ainda era um artefato caro, mas sonhava em ganhar um CD Player. Imaginava como seria ouvir Iron Maiden sem os conhecidos chiados (muitos anos depois, voltaria ao velho e bom vinil, mas isso é uma outra histó
Apesar de toda a empolgação, Taco não conseguiu rever Joana com a frequência desejada. Ou seja, a todo momento. Ela cortou suas asinhas e ditou o ritmo dos encontros. Não mais que uma vez a cada quinze dias. Dessa forma, foi obrigado a conter a euforia e caminhar um passo de cada vez. Joanita era matreira e esperta o suficiente para não cair na lábia de um pivete, mesmo que conhecedor das ruas. Joana tinha suas atividades. Amigas, o coral, participações em bandas, suas leituras místicas e seus escritos. Além disso, não tinha a mínima intenção de se envolver com alguém. Não apenas não tinha vontade, como achava que seria difícil conciliar com sua profissão. Não pretendia ser garota de programa a vida inteira. Queria juntar dinheiro o suficiente para poder viajar, e também tinha intenção d
Treze de agosto, véspera do Dia dos Pais, acontece um diálogo num dos apartamentos de um prédio de classe média de Curitiba:— Mas hoje, filho? Como é que você vai dormir fora, se amanhã é Dia dos Pais?— Que diferença faz, mãe? Desde quando meus dias dos pais são bons? Me diga um que foi motivo de alegria pra mim! Só um! Ele nunca deu a mínima pra mim, nem no aniversário se lembra de mim e tenho que fingir que tenho pai herói? — Dingo começava a chorar durante seu discurso.— Mas, filho, não é com essa atitude que você vai conseguir se acertar com ele! Você não pode simplesment
— Seu filho da puta! Onde esteve o dia todo?? Largou tua mãe aqui, não apareceu pro almoço, ficou choramingando e ainda quer se sentir “amado”?? Que porra de bichinha você foi me sair! Quer respeito? Quer? Hein, olhe na minha cara, animal! Olha aqui! Quer respeito? Respeite-me! Por mim, você não precisava nem ter voltado! Inútil!Em uma recepção de gala, Dingo voltava ao doce convívio familiar, já sem chão e sem saber qual seria o próximo passo. Talvez o de sempre. Fechar-se no quarto e dormir um sono profundo, para sonhar com a morte e a escuridão.Dingo era mantido e bancado pela mãe. Seus irmãos não contrariavam o pai, e o pai… bom, esse nunca disfarçou o desgosto que sentia do filho mais novo. Os negócio
Na manhã seguinte, um sol quente, amarelo e escaldante lançava seus raios num céu atordoantemente azul. Taco estava desesperado logo cedo, o desânimo em escutar as duas garotas fazendo amor, sem a participação dele (ah, Joanita…). Dingo ria da reação inusitada do amigo, mas por dentro, estava bastante excitado pelos sons que sua audição captou. Mais ainda quando encontrou as garotas, lindas e sorridentes, no corredor. Realmente, sexo devia fazer muito bem…— Dormiram BEM, meninas?? — Taco, todo atacado…— Maravilhosamente, Taco… não imagina o quanto… e vocês, dormiram TÃO bem quanto nós…?&
Dingo chegou acabrunhado e sorumbático em casa. Parece que sua mãe lia sua mente, os olhos fixos nos seus, dúvidas lancinantes, a curiosidade que jamais seria satisfeita (pecados). Fez um sanduíche, comeu, depois tomou um banho e foi dormir. Dormiu muito bem, sonhou com o seu João e com a Ponta da Pita (toda nudez será castigada). De madrugada, carregado de culpa, masturbou-se pensando nas duas amigas.Taco fez o mesmo, sem qualquer traço de culpa.Joana se sentia feliz pelos novos amigos. Era um ano bom, muito diferente de alguns dos anteriores.Samia, sua melhor amiga, e amante eventual, também teve sonhos bons. E também se sentia parte de um grupo. Aquele fim de semana valeu pelo ano todo. A rotina mortificante do dia seguinte não seria t&atild
O ano caminhava para o seu final. Dingo continuava trabalhando na firma de seu pai. Tinha ótimo entendimento com seu irmão, e mantinha distância do pai ainda. Pouco se cruzavam na empresa, menos ainda em casa, onde Dingo vivia em seu quarto. Um dia desses, Joanita foi ao seu apartamento para pegar alguns livros emprestados. Era a primeira vez que entrava no habitat de Dingo. Apenas seus pais estavam presentes. Ela subiu, Dingo a apresentou, um pimentão de vermelho, e a garota cumprimentou de forma educada e calorosa a dona Olga, que retribuiu com um olhar curioso e recriminador. Joana não se importava, até se divertia, mas tinha pena de Dingo. Caminhavam até o quarto do rapaz, quando cruzaram brevemente com Astolfo, que entrava em outro aposento. Dingo não fez menção de apresentá-la. Ela o encarou com firmeza e serenidade. Ele se sobressaltou, desviou o olhar e chegou a bater
O ano de 1988 transcorreria sem maiores sobressaltos para os quatro amigos. O primeiro título de Ayrton Senna na F1 ocorreria naquele ano, para felicidade de Dingo, que acompanhava avidamente o esporte. O Esporte Clube Bahia sagrou-se Campeão Brasileiro de Futebol. José Sarney, então presidente do Brasil, ganhou mais um ano de governo. Joana chorou o assassinato do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, ocorrido em 22 de dezembro. Também foi o ano da novela global Vale Tudo, acompanhada com afinco por grande parte dos brasileiros, incluindo nosso quarteto. Dingo e sua mãe chegaram a enviar cartas para uma promoção, que sortearia um grande prêmio para quem acertasse o assassino da personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall. Outra novela de enorme sucesso era Bebê a Bordo, amada por Taco, Dingo e Joana (Samia achava um pouco bobinha). Um programa que os quatro gostavam
Sair de casa pra entenderSair de casa pra esquecer as chaves da sua casaTentar se distrair em dias que não tem comoSe viver, como compreender. O que acontece de errado eu não consigo…(A Trupe do Disco Voador)Samia não sabia do paradeiro de seu pai, Sandoval, a quem não via desde os seis anos de idade. Morou com a mãe, Fátima e o padra