— Seu filho da puta! Onde esteve o dia todo?? Largou tua mãe aqui, não apareceu pro almoço, ficou choramingando e ainda quer se sentir “amado”?? Que porra de bichinha você foi me sair! Quer respeito? Quer? Hein, olhe na minha cara, animal! Olha aqui! Quer respeito? Respeite-me! Por mim, você não precisava nem ter voltado! Inútil!
Em uma recepção de gala, Dingo voltava ao doce convívio familiar, já sem chão e sem saber qual seria o próximo passo. Talvez o de sempre. Fechar-se no quarto e dormir um sono profundo, para sonhar com a morte e a escuridão.
Dingo era mantido e bancado pela mãe. Seus irmãos não contrariavam o pai, e o pai… bom, esse nunca disfarçou o desgosto que sentia do filho mais novo. Os negócio
Na manhã seguinte, um sol quente, amarelo e escaldante lançava seus raios num céu atordoantemente azul. Taco estava desesperado logo cedo, o desânimo em escutar as duas garotas fazendo amor, sem a participação dele (ah, Joanita…). Dingo ria da reação inusitada do amigo, mas por dentro, estava bastante excitado pelos sons que sua audição captou. Mais ainda quando encontrou as garotas, lindas e sorridentes, no corredor. Realmente, sexo devia fazer muito bem…— Dormiram BEM, meninas?? — Taco, todo atacado…— Maravilhosamente, Taco… não imagina o quanto… e vocês, dormiram TÃO bem quanto nós…?&
Dingo chegou acabrunhado e sorumbático em casa. Parece que sua mãe lia sua mente, os olhos fixos nos seus, dúvidas lancinantes, a curiosidade que jamais seria satisfeita (pecados). Fez um sanduíche, comeu, depois tomou um banho e foi dormir. Dormiu muito bem, sonhou com o seu João e com a Ponta da Pita (toda nudez será castigada). De madrugada, carregado de culpa, masturbou-se pensando nas duas amigas.Taco fez o mesmo, sem qualquer traço de culpa.Joana se sentia feliz pelos novos amigos. Era um ano bom, muito diferente de alguns dos anteriores.Samia, sua melhor amiga, e amante eventual, também teve sonhos bons. E também se sentia parte de um grupo. Aquele fim de semana valeu pelo ano todo. A rotina mortificante do dia seguinte não seria t&atild
O ano caminhava para o seu final. Dingo continuava trabalhando na firma de seu pai. Tinha ótimo entendimento com seu irmão, e mantinha distância do pai ainda. Pouco se cruzavam na empresa, menos ainda em casa, onde Dingo vivia em seu quarto. Um dia desses, Joanita foi ao seu apartamento para pegar alguns livros emprestados. Era a primeira vez que entrava no habitat de Dingo. Apenas seus pais estavam presentes. Ela subiu, Dingo a apresentou, um pimentão de vermelho, e a garota cumprimentou de forma educada e calorosa a dona Olga, que retribuiu com um olhar curioso e recriminador. Joana não se importava, até se divertia, mas tinha pena de Dingo. Caminhavam até o quarto do rapaz, quando cruzaram brevemente com Astolfo, que entrava em outro aposento. Dingo não fez menção de apresentá-la. Ela o encarou com firmeza e serenidade. Ele se sobressaltou, desviou o olhar e chegou a bater
O ano de 1988 transcorreria sem maiores sobressaltos para os quatro amigos. O primeiro título de Ayrton Senna na F1 ocorreria naquele ano, para felicidade de Dingo, que acompanhava avidamente o esporte. O Esporte Clube Bahia sagrou-se Campeão Brasileiro de Futebol. José Sarney, então presidente do Brasil, ganhou mais um ano de governo. Joana chorou o assassinato do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, ocorrido em 22 de dezembro. Também foi o ano da novela global Vale Tudo, acompanhada com afinco por grande parte dos brasileiros, incluindo nosso quarteto. Dingo e sua mãe chegaram a enviar cartas para uma promoção, que sortearia um grande prêmio para quem acertasse o assassino da personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall. Outra novela de enorme sucesso era Bebê a Bordo, amada por Taco, Dingo e Joana (Samia achava um pouco bobinha). Um programa que os quatro gostavam
Sair de casa pra entenderSair de casa pra esquecer as chaves da sua casaTentar se distrair em dias que não tem comoSe viver, como compreender. O que acontece de errado eu não consigo…(A Trupe do Disco Voador)Samia não sabia do paradeiro de seu pai, Sandoval, a quem não via desde os seis anos de idade. Morou com a mãe, Fátima e o padra
O tempo passava. Dingo voltou ao trabalho, o que o mantinha afastado dos amigos por longos períodos. Taco, por aqueles tempos, conseguiu um emprego como carregador de carga em uma indústria na periferia da cidade, o que também o mantinha ocupado. As garotas continuavam com suas atividades do ano anterior. Samia trabalhava muito na panificadora, e Joana alargava seus horizontes como garota de programa, atendendo muitos clientes particulares. Sempre que podia, lia e estudava sobre natureza, religião, fé, motivação... temas que a interessavam.A empresa de Astolfo era uma fábrica de Parafusos, chamada MetalGear, fundada em meados dos anos 70. Na época, era uma fabriqueta de fundo de quintal, inteiramente construída pelo jovem Astolfo, que tinha alguma experiência com metalurgia. Trabalhando em torno de 14 a 16 horas diárias, ap
Ele era chamado de Sombra porque tinha o péssimo costume de andar muito próximo às pessoas. Era uma de suas manias, junto com o discurso messiânico, os olhares diretos e as histórias de suas cicatrizes. Seu passado era pouco conhecido. Mas passou boa parte da vida preso. Diziam que já tinha matado gente. Falava-se até em estupro. Mas eram especulações. Taco gostava muito dele. O lado sombrio do Sombra o fascinava e divertia. Samia não era tão fã, pois os olhos do Sombra estavam sempre direcionados aos seus peitos. Joana o considerava bastante divertido. Achava que era um bom ator, pois não acreditava na loucura dele. Zoava o homem sem dó. Ele não sorria por fora, mas ria por dentro. Era tudo um teatro. Vista o seu nariz de palhaço e entretenha o respeitável público. Usuário recuperado de drogas, vez em quando era visto co
O ano de 1989 passava rápido, especialmente para Dingo, em novo momento, trabalhando muito, e aprendendo sobre a vida e o mundo, sob a tutela segura do irmão e conselheiro. Devia a ele o relacionamento neutro que tinha com seu pai. Nunca imaginara viver momentos de tranquilidade dentro de sua casa. Era talvez o seu melhor ano. Mal sentia falta de seus amigos e hobbies. O kart ainda era seu brinquedo favorito, e não largava seus gibis, além do computador. Mas Taco, Joana e Samia tornavam-se, dia após dia, reminiscências de um passado que nunca existira. Os encontros rareavam, e eram crivados de conflitos. O que ainda o atraía era a bela Samia, cada dia mais sensual, e que parecia provocá-lo deliberadamente. Joana perdera a paciência com ele, por conta das discussões em torno da religião, e já não o procurava. Taco passava ocasionalmente pelo prédio onde Ding