Joanita, rainha dos outsiders, deusa-mãe, a bruxa pagã que desviava almas para os caminhos da diversidade e da pluralidade. A criatura mágica que tocou os corações daqueles que a conheceram. A garota doce e dura na queda, que sabia o que e com quem queria. Que jamais se deixava abater, e não tolerava ordens de ninguém. Que nunca se adaptou a qualquer tipo de autoridade, e usava sua força e sensualidade para proveito próprio ou das pessoas que amava.
Amoral, jamais imoral. Profundamente honesta, embora isso não significasse andar nas raias da lei o tempo todo. Puríssima em sua essência, inteiramente transparente, fazia o que tinha vontade. E fazia. Não passava vontade.
Joana, graça
O que é o epílogo, senão um fim forçado? Uma história precisa terminar para que outras sejam contadas.O tempo passou para os nossos amigos.Dingo, casado, pai de dois filhos, Joana e Alessandro. Programador, sustentáculo da MetalGear, a fábrica de parafusos. Um empresário de razoável sucesso, embora ainda tímido e pouco afeito a aparições públicas. Estas ele deixava para Samia, sua esposa, agora assistente social, pesquisadora da prostituição e apoiadora das garotas da noite. Saiu da empresa para se dedicar à causa, cuidando para que as garotas tivessem apoio psicológico.Taco criou grupos de estudo e apoio de usuários e ex-usuários de drogas, dentro da fábrica, e levou seu tal
Revisão: Fabiano de Queiroz JucáCapa: Murillo MagalhãesAos meus pais, por terem me trazido ao mundo.À minha mãe, em especial, por ter lutado tanto pela minha sobrevivência.Ao meu pai, pela vida, pelo blues e pelo samba.À minha esposa e melhor amiga, principal apoiadora, que me ensinou a acreditar em meu potencial. Aos meus filhos, pelas alegrias e orgulho que me dão.Sobre rua de Pedra em SéPiaEsta obra começou a ser gerada pelos idos de 2013, com o nome “Taco e Dingo”. Era para ser apenas um conto, relatando as desventuras de uma dupla de amigos muito diferentes entre si, com uma narrativa
agradecimentoSAgradecer nominalmente é alegrar alguns e entristecer outros, os “esquecidos”. É tanta gente na caminhada… O medo de citar um e esquecer o outro… Mas não agradecer é mais horroroso ainda, porque a ingratidão é das piores coisas dessa sociedade tão insana.Agradeço aos amigos das antigas, inspiradores dessa obra, por terem compartilhado comigo a Curitiba dos anos 90: Alessandro Mayer, Fernando Rodrigues, Josélio (Zé Timão), Elaine Cristina, Carlos Millack e Elisângela Magalhães. Ao Vicente Jesuíno, um dos amigos mais leais e honestos que alguém pode ter. Maurício Santana, essencial, pelas leituras críticas e pela amizade musical. Há muita influência sua neste livro. Renatona (Oliveira) e Marcos Lira, grandes amigos do meu último período em Curitiba. Ao J
eu Prefiro um galoPe SoberanoÀ loucura do mundo meentregar(Zé Ramalho, em Canção Agalopada)Curitibinha minha, de nossos dias, e de nossas noitesCuritiba, 1994Taco El Pancho, cria do submundo. Apenas mais um super-herói não reconhecido. Taco saca a arma quando lhe falta a coragem para encarar nos olhos. Mas Taco El Pancho não é um covarde. É apenas prevenido.Dingo Lingo Pedernero, o garoto insano, o nerd histriônico. O torcedor fanático. O colecionador frustrado por perder o Cavaleiro das Trevas1 original.Taco nasceu numa gruta disforme, cheia de morcegos e baratas-tontas como ele. Taco, garoto de origem e pais desconhecidos. Perdido na selva suburbana, ele luta para enco
“Oww come on!Under the lights where we stand tallNobody touches us at allShowdown, shootout, spread fear within, withoutWe're gonna take what's ours to have...”(Pantera, Cowboys From Hell)Taco caminhava febrilmente pelo beco, buscando algo que desconhecia. Quase em estado convulsivo, dizia a si mesmo que não poderia continuar daquele jeito. Eram mais de seis d
“E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada.É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada.Eu presto atenção no que eles dizem mas eles não dizem nada.”(Engenheiros do Hawaii, Toda Forma de Poder)Ele estava deitado em sua cama, madrugada adentro. A porta estava aberta, e o pequeno Dingo podia ver o corredor dali. As luzes estavam apagadas, mas a claridade de fora permitia enxergar bem, mesmo naquele horário. Dingo tinha medo do corredor. O corredor, que ficava à esquerda de su
Taco, livre, libertino, sem as amarras teóricas, vivia cada segundo como se fosse o último, pois qualquer segundo poderia ser mesmo o último, dado seu modo de vida pouco afeito às regras estabelecidas. Um outsider em tempo integral, dormindo pouco, bebendo muito, apaixonando-se aqui e ali, por esta e aquela. E com muito blues e rock na cabeça, na mente, nas veias, na vida e na alma. Fazia visitas periódicas à Delegacia, onde era castigado pela imprensa canina mais que pelas surras da lei.Taco viveu muita coisa em sua adolescência. Foi à escola, foi ao colégio, mais para se enturmar que para estudar, mas não que fosse burro, não que fosse alienado, não que fosse uma besta completa. Bem ao contrário, tinha carisma e sabia mani
As conversas giravam em torno de filosofias esotéricas e fins de mundo, sociedades distópicas e efeitos de drogas. Essas Taco conhecia bem. Para Dingo, novidades que causavam medo, mais que curiosidade.Dingo passava parte dos fins de semana com a turma de Taco, bando de desordeiros que vira-e-mexia mofavam em porões de autoridades, sem apelação. Sem grana, não há apelação. Sem grana, não há direito. Direitos humanos para quem de direito. A marginália sequer sonhava com isso. O clássico de Malcolm X: “não confunda a violência do opressor com a resistência do oprimido”.Num desses fins de semana de noite ensolarada, Taco e amigos foram a um cemitério próximo ao bairro deles. Padre,