A porta fechou com um estrondo tão violento, que jurei os vidros da janela tremerem. Roman está mais forte da última vez que o vi, parece um sniper cheio de músculos por anabolizante; em compensação seu cérebro deve ter diminuído.
E a dor de cabeça pela pancada se juntou as lágrimas que comecei derramar sem controle. Depois de uns segundos tentei me concentrar em alguma ideia, plano, qualquer coisa que fizesse eu me livrar de Roman, porém estaria sendo burra em ousar contrariá-lo. Eu conhecia uma parte dele, e poderia usá-la a meu favor, no entanto a fúria como fui tratada nublam as possibilidades, tornando qualquer atitude imprecisa e perigosa, tirando de mim todas as esperanças.
Levantei da cama com cuidado e pude ver a vista pela janela aberta com grades.
Haviam residências longínquas cercadas por vegetação, no mesmo padrão moderno a que me encontro. Há cheiro de móveis recentes no quarto com cama de casal, banheiro e um armário. Creio que estou em Mulholand Drive, e se estiver certa, é um dos bairros mais ricos de Los Angeles.
Conseguindo sair um pouco da turbulência a qual estou, fui até o armário e o abri, vendo apenas dois uniformes brancos de enfermeira e sapatos. Eles são do meu número. Juro que estou fazendo esforço sobre humano para acreditar que Roman é esse monstro ao qual tive o desprazer de reencontrar.
O que ele quer e porquê?
Terminei de me vestir, lavei o rosto e foi o quanto finalizei, ao ouvir a porta ser aberta.
—Angelina?!
A voz autoritária, me fez deixar o banheiro num segundo e dar de frente com ele. A mesma cara de pedra, olhar penetrante e cruel. Minha calma ameaçava desmoronar meu autocontrole. Eu queria arranhar seu rosto perfeito, extravasar toda a mágoa que ele plantou em cada parte minha, como uma cobra que mostrou as garras do veneno. Sentia-me traída, vítima de um engano, não importa que eu me iludisse com cada sonho, expectativa que ele deixou dentro de mim. Durante todos esses anos, eu sonhei, acreditei, não consegui ser feliz e agora a surpresa de tudo que ele realmente é, esmagam meu coração dentro do peito. Nunca fui tratada de maneira tão grosseira em toda minha vida.
—Que bom que está pronta, siga-me. — ouvi em tom rouco e seco.
Fui com ele passando pelo mesmo corredor de antes e depois de dobrarmos a esquerda, ele abriu a porta e vi uma senhora deitada numa cama projetada como hospital, com tudo que precisa. Embora pareça ser bem cuidada, vejo que o quarto não está tão organizado. A janela está entreaberta, há remédios espalhados na mesa ao lado da cama e um cheiro forte de algum produto de limpeza se misturam a outro cheiro que não soube descrever.
—Como ela se chama? –Pergunto, vendo ela dormir.
—Kira. Kira Mikhailovich. —A resposta foi rápida. Ele não disse mais nada, dando- me as costas sem ao menos dar qualquer outra informação.
Então, reunindo forças e buscando toda calma do fundo de meu ser, não tive outra alternativa que cumprir minha missão, ainda que de forma difícil. Ela pode ser mãe desse monstro, mas não tem culpa de estar assim e nem deve saber, talvez, o homem cruel que ele é.
Rapidamente vou verificar seus remédios. Encontrei a receita e buscando um bloco de anotações, anotei os horários. É tudo muito estranho, pois não há maiores explicações sobre seu quadro. Roman parece estar alheio a situação dela ou realmente não está nem aí. Custo a acreditar que houve outro enfermeiro cuidando dela.
Ao verificar seu corpo, quando decido virá-la, percebo os lençóis sujos e sua roupa. Ela está em estado vegetativo se alimenta por sonda e há sinais arroxeados em seus braços e escaras nas costas. É uma imagem incompreensível e ao mesmo tempo dolorosa de ver.
Depois de cumprir tudo o que pude para dar ela um pouco de conforto, sento na cadeira, pensando o que mais pode acontecer por aqui. E quanto a meu pai? Ele vai ficar maluco com meu sumiço repentino.
Vi a noite cair, as horas passar e por mais que quisesse dar um passo para desaparecer, não ousei seguir nenhum instinto. Parece que um fio de esperança quer nascer dentro de meu peito, de que Roman ao menos vá tomar consciência de que não posso ficar presa, então caio na realidade que fui agredida, molestada psicologicamente e que nada do que disser ou fizer fará com que ele mude. Nem mesmo relembrar nosso passado no qual deve fingir ter esquecido para zombar e tripudiar em cima de mim.
Com esses pensamentos fervendo em minha mente, acabo dando vasão às lembranças de quando nos conhecmeos a primeira vez.
Flashback/Seis anos antes
—Pode deixar amiga. Eu tô legal, só que se eu não resolver essa parada com Pitter eu não resolvo mais. Ele é um tremendo de um filho da puta e eu não vou deixar isso passar em branco.
A loira um pouco mais alta que eu, olhos claros e cílios longos, está decidida e furiosa.
—Ai, tá bom. —resmungo sem ter outro jeito. Era meu aniversário e íamos para um pub comemorar.
Acabamos parando num posto de conveniência, porque minha melhor amiga, recebeu um telefonema do cretino de seu namorado. Ele a traiu dias atrás e ela descobriu tudo, quer resolver a situação e não quero ser um empecilho pra desistir de seu intento.
—Eu vou com você.
—Não mesmo. Eu só preciso de cinco minutos para acabar com esse canalha. Fique aqui que eu já volto.
—Mas Tracey!? —Fui ignorada com sucesso quando a loira entrou com pressa no carro.
—Fica fria. Aproveita e bebe alguma coisa com Lian agora você pode. —Ela pisca o olho sorrindo com malícia.
Tracey deu partida sem dar chance de mais uma palavra. Não tive outro jeito de ficar onde estou.
Ainda era cedo. Por ser sábado podíamos ficar mais tarde na rua, exceto ela que mesmo maior de idade tinha problemas com o pai. Eu também teria, mas como completei dezoito anos pensei não haver problema. Afinal hoje é meu aniversário.
Estou segura nesse lugar onde todos praticamente me conhecem, sem contar que moro perto. Meu pai tem amigos, e mesmo podendo tomar algumas cervejas com Lian que trabalha de dia aqui, e é meu vizinho, não estou animada. O jeito é esperar Tracey sem reclamações.
Pedi um refrigerante, ao invés de álcool e fiquei olhando o movimento da rua. Cumprimentei alguns conhecidos e quando meus olhos se movem para direita, reparo num homem sozinho a poucos metros, em uma camionete antiga, com sua traseira fechada por uma lona. Ele ergue uma garrafa de cerveja, long neck e pergunto-me o que pretende, já que se é o motorista, pelo que vejo, está bebendo como se pouco se importasse.
Ele é bonito, pele branca e tem o rosto bem desenhado com a barba por fazer. Posso ver pela camisa preta sutilmente aberta que é forte, atraente e seus braços, um que está do lado de fora da porta do carro com a manga da roupa dobrada, há uma tatuagem com palavras escritas que não sei decifrar. Os cabelos loiros escuros estão um pouco bagunçados e há resquícios de suor em sua testa.
Realmente a noite está abafada com sinais de chuva. Ando um pouco para me desfocar da visão dele. É um homem mais velho que eu, creio que deva ter trinta anos.
—Você tem horas? —Acabo por ouvir e só então me dou conta que a voz é do homem ao qual fiz um raio xis a poucos minutos.
—Dez e meia. —Respondo e sou surpreendida ao ver que ele tem olhos azuis, muito azuis quase anis.
—Obrigado. —Diz ele que bebe sua cerveja.
Volto minha atenção para outra coisa, e novamente ouço:
—Parece que os New York Jets estão perdendo. —Repara, olhando o jogo pela tv do posto de conveniência. Havia partida do time com Los Angeles Chargers
—Eles já foram melhores segundo meu pai que é viciado em futebol.
—Ah...—uma risadinha escapa dele pelo nariz— Estou começando achar que é isso mesmo.
Sorri sem dentes, sem saber o que dizer.
—Me desculpa perguntar, —ele formula intrigado —mas você está sozinha aqui?
—Bem, —cruzo os braços. — pelo menos até os próximos cinco minutos. Quer dizer, seria isso, mas pelo visto minha amiga vai demorar, já se passaram meia hora.
—É ...olha, sei que parece estranho, mas você bebe alguma coisa?
Pensei um pouco. Eu não conhecia ele; um estranho mesmo, mas todos ali me conheciam o suficiente para saber que se sumisse, sabiam dizer a hora, onde estive e com quem estive. Ele estava muito próximo do movimento e considerando sua oferta, o mínimo que devo fazer, pelo menos, é não sair com ele daqui.
—Sim, na verdade hoje é meu aniversário.
—Sério? — Ele sorri amplamente com dentes muito bonitos, um sorriso digno de comercial de pasta de dentes.
—Aham.
—Então, você tem que comemorar. —ele desceu do carro animado vindo até mim. — Eu me chamo Roman e você?
—Eu sou Angel. —esse é o meu apelido devido ao meu nome Angelina, mas não contei a ele.
Um novo sorriso se abriu em seus lábios e ele enrugou a testa de maneira admirada. O sotaque é diferente o que demonstra não ser americano.
—Um anjo que caiu do céu? —brincou, me deixando vermelha —Que tal entrarmos e você escolhe a sua bebida? Eu pago. Aceite como presente de um amigo.
—É bem...
— Você é de maior, não é? —disparou um olhar sério.
—Sim, eu acabei de fazer dezoito anos.
—Perfeito.
Não consegui dizer não para um metro e oitenta de charme, olhos índigo cintilantes e rosto simpático. Ele mais parecia um príncipe, apesar de sua roupa simples, mas estava perfumado com algo que cheirava a menta, misturado a uma fragrância mais forte e máscula, o bastante para potencializar seus feromônios. Senti um leve frio na barriga quando entramos na loja e escolhi uma garrafa de vodka. Não ia beber muito, pelo menos eu pensava.
Entramos no carro. Havia muita gente na lancheria e o jogo ainda não terminara. Passamos a conversar como dois conhecidos. Falamos de tudo, música, filmes, ideias e até política.
— Eu estudo obras renascentistas. Posso dizer que, quero fazer história da arte.
—Você está brincando?
—Não. Eu gosto muito. Existem obras lindas e pintores incríveis. Quer ver?
—Claro. —respondo.
Ele estica seu braço musculoso, roçando em mim com a cerveja entre uma das mãos e abre o porta luvas. Tira um livreto e me entrega.
—Olha, veja por si mesma.
Passo a virar as páginas, vendo obras lindas. Michelangelo, Boticelli, Dante e sua musa. Esta, me impressiona pelo colorido e há outras mais belas.
—Eu gostei dessa, Heloise e Abelardo. Eles tem uma história trágica e linda. —Suspiro, traçando o dedo na imagem.
—Aprecio essa também, existe o lugar onde eles foram enterrados na França. Eu tenho o livro que relata suas cartas de amor, é algo bem profundo e tocante. —Ele diz com um sorriso simpático —mas eu gosto muito dessa —vira algumas páginas e mostra a pintura de uma anjo com uma lágrima. —Alexandre Cabanel Anjo Caído.
—Nossa, ela é um pouco sinistra, você não acha?
—Sim, observando pelo fato de que ele seria Lúcifer, mas o pintor conseguiu transferir bem a emoção dele. Quando olho pra ela, sinto é como se refletisse o diabinho que existe dentro de mim. —ele piscou um olho e terminou a cerveja.
—Você tem um sotaque estranho. É estrangeiro, não é?
—Sim. Eu sou russo. Nasci em São Petersburgo, mas vim estudar e trabalhar aqui. Na verdade, agora só trabalho. Eu tive que trancar a faculdade porque não consegui me manter.
—Sinto muito.
—Não sinta. Meu pai queria que fosse arquiteto. Me matriculei por culpa dele, mas não consegui seguir em frente. Eu contrariei toda a sua vontade de seguir essa profissão. Quis muito ir para Toronto, estudar história da arte, como não consegui, fiquei por aqui mesmo. Eu trabalho como vendedor.
—Oh...—encontrei os olhos dele que parou um instante descendo o olhar para meus lábios. Foi impossível não perceber e sorri timidamente, tentando ofuscar o embaraço.
—Você é uma garota muito bonita. — Elogiou, aumentando o calor que subiu meu rosto.
—Obrigada.
Bebi uns goles de vodka, o jogo terminou e ficamos em silêncio. Sentia o álcool fazer efeito, uma euforia invadir-me lentamente e dei-me conta que minha amiga nem sequer deu sinal.
—Que tal a gente caminhar um pouco? —sugeriu ele.
—Caminhar?
—Sim. Eu deveria te convidar para ir à balada já que é seu aniversário, mas eu não tenho como dirigir com bebida. Conheço um lugar aqui ao ar livre, muito bonito e tranquilo. Acho que você vai gostar.
Fim do Flaschback
Os quadros, seu traço marcante por adorar as obras sacras e querer estudar arte, sempre estiveram em minha memória. Não entendo como ele pode ter se tornado esse homem louco.
A imagem da pintura o anjo caído, venho na minha mente. E eu só conseguia ligar as possibilidades que ele devia lembrar de mim. Isso só podia ser um truque dele. Mas porquê? Eu nunca mais tive notícias durante todos esses seis anos.
Um barulho me fez tremer no lugar onde estava. Com as lembranças de uma parte que vivi com Roman, acabei adormecendo com a cabeça apoiada no móvel perto da janela. A porta foi aberta e deparei-me com o monstro de olhos azuis, rígido, lábios crispados numa expressão de completa contrariedade. Errei em dormir. Na verdade, eu nem mesmo sabia explicar como consegui fechar os olhos devido ao meu abalo.
—Levanta daí, eu preciso que venha comigo. —advertiu, sem ao menos olhar para sua mãe. Ela dormia, estava limpa e senti alívio por cumprir minhas obrigações. Porém temia o que me esperava.
Ergui-me da cadeira seguindo com ele, buscando ocultar a onda de medo que se apossou de mim. Não, eu não queria demonstrar fraqueza. Seria notório para alimentar sua brutalidade, ódio ou qualquer sentimento que pudesse haver dentro de seu coração. Cogitar essa ideia seria até mesmo insano. Roman devia ter seu coração oco.Ele abriu a porta do mesmo quarto ao qual estive antes, fechou-a e quando parou diante de mim, deu um berro:—O que pensa que está fazendo sua imbecil?Lágrimas escorreram por minha bochecha. Como pude ter o azar de dormir? Estava ali para cumprir a missão que me foi confiada. Óbvio, anoiteceu e foi normal o corpo reclamar de sono. Eu devia me atentar para esse fato. Fiquei exausta, não pude me alimentar, sair dali para nada, tampouco fazer a higiene. Pelo horário era ainda muito cedo. O Sol nem mesmo havia aparecido. Olhei para ele com lábios trêmulos e a garganta seca, meus olhos foram em direção a um objeto em sua cintura, uma arma e meu pulso acelerou.—Eu...sint
RomanHá algo errado. Muito errado nisso tudo. Posso jurar que essa garota tem semelhança com alguém, ou a vi antes. É possível que ela tenha estado comigo em uma de minhas noites promíscuas. Porém esse cheiro vindo de seus cabelos misturados a sua pele é o cheiro da perdição. O rosto levemente rosado e os lábios de boneca, atiçam desejo em meus pensamentos. Os seios redondos macios como as pinturas pré-rafaelitas à espera de lábios. Toda ela exala sexo, feminilidade e fico parado, ouvindo seu choro que causa-me um aperto no peito inexplicável.Que porra é essa?Tiro meus braços dela, vendo seu rosto virar para o lado abalada e triste. Eu não me sinto bem com isso. Aliás, ergo-me com rapidez ouvindo seus soluços. Se eu já estava com remorso, agora tudo piorou.—Pare de chorar! —peço com autoridade, vendo ela estirada no chão. Me aproximo encontrando seus olhos hesitante—Escute bem garota, não se atreva a fazer outro escândalo. Estamos entendidos? —Ela acenou com a cabeça —Levanta. Voc
AngelinaNão havia como fugir. Nada que pudesse mudar o destino de continuar na mesma posição sendo vítima de Roman e esperar o pior. Eu não tinha escolha que permanecer em cativeiro.Gostaria que o fato de já ter estado com ele antes, tê-lo amado, e desgraçadamente ainda nutrir esse sentimento; não me deixassem fraca após descobrir sua monstruosidade. Roman foi o primeiro homem que amei. O primeiro que entreguei o meu coração e minha virgindade. Isso devia ser uma lembrança feliz e eu devia seguir em frente. Mas ele sempre esteve preso ao meu coração, vivo nas minhas memórias e eu queria matá-lo dentro de mim.Fiquei no mesmo lugar trancada até o meio da tarde. Meu estômago roncava fervorosamente e a cabeça doía de tanto pensar.Sentada no chão com os joelhos dobrados e sonolenta, ouvi um barulho na porta. Rapidamente me ergui. Ao abri-la lá estava ele. Pensei no seu pedido anterior. Ele queria que me banhasse para dormir com ele e o fato de medir meu corpo com o olhar dava-me a cer
—Na verdade não sabemos. —disse Joe com olhos de mim a Tracey—Ele não aparece a dias, tentamos falar com ele, mas seu celular apenas dá caixa de mensagem.—Tem certeza...ele não deixou, um bilhete ou...—questionei incrédula. Meu corpo inflamando de nervosismo.—Não. Eu sinto muito. —lamentou Joe com pesar e minhas pálpebras bateram diversas vezes na tentativa frustrada de segurar as lágrimas.—Talvez, ele tenha tido algum problema no celular. —Tracey tentou contemporizar, vendo meu silêncio. Engasguei sentindo o pulso acelerar a milhão.—Isso é impossível. —afirmei triste—Se ele sumiu deviam chamar a polícia.—Na verdade...—explicou Joe—Bom, ele é estrangeiro e seu visto está com problemas. Se buscarmos as autoridades não será muito viável.—Merda. —falei baixo.—Tudo bem. —Tracey ensaiou um sorriso gentil para ele arrumando a bolsa no ombro. —Nós vamos achar uma forma de encontrá-lo. Obrigada.Completamente em choque, como se o desespero engolisse meu coração, ela conduziu para voltar
MickailLiguei diversas vezes para o número de Roman e nenhum retorno obtive dele. Se for um aviso, lamento, mas nada funciona sem ser do meu jeito.Eu sei que as coisas parecem não estar muito favoráveis para o meu monstro. Sei que o luto na vida de alguém é difícil. Já tive muitas perdas que foram lastimáveis, outras que agradeci e sorri no final. ´O luto é apenas um estado. A morte -um ciclo comum da natureza de qualquer ser humano que atingirá todos nós algum dia. Mas para mim, ela é muito mais que isso.E foi assim que eu encontrei Roman atrás das longas grades que separavam ele de sua liberdade, seu mundinho pequeno e debilitado —Morto.Morto nas esperanças, nas atitudes, na capacidade de tomar decisões, lamentando seus passos, sentindo- se vulnerável, triste e acreditando que Deus poderia salvá-lo.Quanta idiotice!Tantos sentimentos, tantos anseios tolos que de nada serviam, a não ser separá-lo de um vislumbre de estar livre e ter sua dignidade de volta.E do que mesmo ia ser
LOS ANGELESCaminhei com a bolsa a tiracolo suspirando com as pernas cansadas. Há mais de semanas busco trabalho nas movimentadas ruas de Los Angeles. Estou formada em enfermagem e depois de terminar o estágio e viver boa parte voltada a minha mãe que faleceu há um ano, sinto agora mais do que nunca que devo seguir a profissão.Venho de uma família simples criada no interior do Texas e sou a filha mais nova de quatro irmãos. Três homens que seguiram seu destino. Dois casaram e um, chamado Donald preferiu colocar uma mochila nas costas e viajar o mundo.Eu gostaria de ser como eles ás vezes. Não ter medo de nada, não se apegar e viver uma vida longe da civilização, em lugares distintos, ás vezes perigosos com o único propósito de encontrar heranças perdidas, fósseis e o que mais ele puder contribuir a arqueologia.No entanto, sobrou para mim a difícil missão de ficar ao lado de mamãe, e com essa tarefa me senti impulsionada a seguir o caminho da enfermagem. Posso dizer, que dei esse or
Mas o que mesmo acabou de acontecer? Me pergunto sentindo o choque de seu apertão forte no braço. O mesmo lateja dando-me a certeza que ficará a marca e que não devia sequer pensado em ter vindo a este lugar, como cometer a asneira de espioná-lo.Me comovi com a dor de Roman, e poderia ficar com ódio pela atitude grosseira dele e ao contrário, lágrimas querem pular de meus olhos.Girei os calcanhares, tomando o corredor, sem esperar que alguém me guiasse. Avistei a porta aberta e um último olhar para a obra do anjo caído me fez engasgar. Desci as escadas de dois em dois e a passos rápidos, ganhei a calçada. Caminhei uns minutos até ouvir:—Senhorita, senhorita Angelina!!Continuei a andar rápido e a voz insistiu. Quando virei o rosto, me deparei com Joanne.—Perdoe-me, a senhorita precisa voltar. —suplica. —Senhor Roman, quer que volte.—Só se eu estiver louca! —Declaro incomodada seguindo caminho.—Não, senhorita. Ele precisa de seu trabalho, por favor volte e fale com ele.—Sinto mu
Roman me analisa de cima a baixo. Droga! Eu estou com um pijama cor de rosa com estampa de coelho, sem nada nos pés e os cabelos bagunçados. Mas que merda! Digo a mim mesma.Reparo como seu olhar desliza sobre meus ombros, que estão expostos pela vestimenta grande. Vejo levemente seus lábios entre abrirem-se, assim como os meus que se movem sem sair o som.O cheiro de sua colônia, algo como couro e madeira inunda o ar e fico paralisada sem saber quem de nós está mais surpreso. Não, eu não posso me deixar ludibriar. Esse Roman que está na minha frente, é longe de ser o que eu conheci. Eu deveria dizer alguma coisa, uma palavra qualquer e nesses segundos que transitam entre nós, não consigo sair de seus olhos brilhantes, frios, hipnotizados e firmes em minha direção.— Oh, senhor Mikhailovitch Bom dia. —ouço meu pai atrás de mim. —Como vai? Está é minha filha.Na tentativa de entender de onde meu pai conhece Roman, não consigo sorrir e dizer nada.—Como vai? —ele pergunta, com o canto d