—Ah, não .... —arregalei os olhos em choque— O senhor não fez...
—Qual o problema? Você está sem trabalho. Ele tem uma boa vida, pode pagar o salário que merece.
—Eu não acredito que estou ouvindo isso...
— Mas o que há de errado? —questionou sem entender—Vocês se conhecem?
—É claro que não! -minto alterada vendo ele me olhar confuso. —Droga, pai você não podia ter feito isso sem me consultar! —e de tão nervosa queimei o dedo ao mexer na forma.
—Mas...
—Isso não pode estar acontecendo...— abro a torneira inconformada e deixo a água cair sobre a queimadura.
—Angelina, —sua voz muda o tom—se ele ligar, ouça o que tem a dizer. Não se atreva a me fazer passar pela vergonha de um mentiroso. Eu recém iniciei esse emprego.
Meu pai deixou a cozinha contrariado sem ao menos ouvir. Mas o que eu poderia explicar pra ele? Nada. Nada que eu pudesse dizer seria viável. Deve ser uma brincadeira de muito mau gosto de Roman. Eu realmente estou ferrada.
A semana passou velozmente. A cada anúncio que encontrei, fui às entrevistas e vi até mesmo outros lugares, fora de minha profissão. Cogitei ser atendente de lanchonete, porém deixei essa possibilidade em segundo plano. Meu pai não questionou nada, não tornamos a falar sobre Roman e senti alívio por ele não ter ligado.
Naquele dia, fiquei feliz por ser chamada numa clínica geriátrica. A vaga seria para meio turno e pagavam bem. Logo que saí da entrevista decidi passar no Walmart.
Caminhei indo pelo estacionamento, abri a bolsa para pegar o celular; queria saber se meu pai precisava de alguma coisa e nem bem dei um passo, um aperto forte em meu cotovelo quase me fez tropeçar. Surpreendida, deparei-me com a expressão fria de um homem estranho, óculos escuros que arrastou-me discretamente para o lado oposto.
Pela força e agilidade que empregava, qualquer reação minha seria o estopim para ser agredida e simplesmente não tive como fazer nenhum gesto de ajuda.
—Fique calada, senão quiser morta. — Disse baixo, olhando para os lados.
Seu aviso, me fez tremer de medo e chegamos de frente a um carro preto. Ele abriu a porta de trás e empurrou- me para dentro, onde caí em cima de dois homens com caras sinistras. Engoli em seco quando um deles sacou a arma. A adrenalina subiu, junto do suor que brotou minha testa.
Um assalto? Ou um estupro? Minha garganta apertou ao ver sua carranca de desprezo.
—Por favor...- pedi engasgada.
Ele mirou a arma em direção ao meu rosto e empalideci quando disse:
—Não ouse abrir a boca. Isso não é uma advertência, é uma ordem!
O outro com aparência mais jovem dos dois, puxou-me o para o meio deles fazendo derrubar a bolsa e senti o corpo todo amolecer. Eu ia ser morta, violentada, tudo de ruim aconteceria. Não vi seguranças, não tive como gritar pelo medo e sem saber como agir, engoli o pânico misturado as lágrimas que passaram a cair.
Com o pouco de raciocínio que restava, articulei que não queriam dinheiro. A bolsa caiu, e nenhum deles pegou ou falou em assalto. Sequestro para pedir resgate? Impossível. Meu pai um motorista de limousines, eu uma desempregada.
Quando o carro deu partida, não consegui conter o nervosismo e passei a chorar incontrolavelmente.
—Por favor...me deixe ir....
—Calada! —Um deles puxou meu cabelo e encostou o cano da arma no meu ouvido. Solucei com desespero.
—Faça essa mulher calar a boca! —O motorista se alterou.
—Porque você não usou o clorofórmio? —Rosnou ele pressionando a arma com força.
—Porque não foi isso que ele combinou.
Ele? Então, eles estavam me levando para alguém? Baixei os olhos deixando as lágrimas cair sentindo o punho forte do homem em meus cabelos, me fazendo tremer como vara verde.
—Merda! —Retrucou o outro e simplesmente, senti uma tremenda pancada na cabeça, tudo apagou e não vi mais nada.
A claridade que refletiu em meus olhos, fez arder e com dor nas têmporas, uma imagem se formou à minha frente e as pálpebras alargaram quando consegui reter o foco. Braços, cruzados, postura intimidante e olhar maldoso, um homem encarou-me. Pisquei repetidas vezes tentando processar o que via e então, senti algo apertar meu pulso. A corrente dura e gelada na parede me mantinham presa. Sentei-me, buscando unir as pernas, pois usava uma m*****a saia lápis até os joelhos e uma nova onda de horror inundou meu peito, fazendo elevar a respiração.
Roman estava sentado em uma cadeira de frente para mim. Não havia outros móveis no lugar, exceto uma estante vazia com um terno pendurado e um vazo escuro que dava para o canto da porta.
A janela à direita com vidro puxado, podia-se ouvir o ruído dos passarinhos e o Sol entrava; brilhando poucos raios sobre ele, e seu olhar sombrio que analisava-me sem qualquer resquício de piedade. Outro tremor percorreu meu corpo, misturado a tensão, surpresa, expectativa e pavor. Não podia ser. Não era possível que meu raptor se tratava de Roman.
Ele soltou uma risada nasal, queixo entre os dedos sem se preocupar com minha aflição.
—Senhorita Angelina Mitchell, achou que por um segundo, ia me passar para trás?
Olhei em volta, como se quisesse tomar realidade da situação. Minha incredulidade não me permitia formular resposta ou, dizer qualquer coisa. Eu simplesmente não tinha palavras pelo choque ao qual vivia.
—Bem vamos ao que interessa. -começou ele, que colocou a perna dobrada sobre o joelho e soltou os braços. —Você vai trabalhar pra mim. Quero que cuide minha mãe. E os meus termos são simples. Ficará aqui como sua enfermeira dia e noite. Vai ter alguns descansos conforme eu achar conveniente. E se você ousar se rebelar, seu pai será morto. Lógico, primeiro que você. Ele foi liberado, não preciso mais de seus serviços.
O ar faltou dos pulmões e mordi as bochechas. Matar meu pai? Maldito seja!
Com um solavanco puxei o braço na tentativa inútil de me soltar da corrente.
—Não...!
Ele riu.
—Calma, está com pressa? Eu ainda quero te analisar uns minutos. O seu rosto é tão bonito. Que idade tem?
Então, era isso? Ele não se lembrava? Certamente mentia. O que eu ia dizer? Senti-me humilhada e com raiva. Que tipo de psicopata fui me envolver?
—Vai responder, ou terei que quebrar seu nariz?
—Vinte e quatro.
Ele pensou uns segundos, esmiuçando meu corpo com o olhar.
—É... – ponderou—Talvez, eu possa usá-la algumas noites.
Levantou-se da cadeira e vindo em minha direção abriu a fechadura da corrente. Tentei erguer as pernas para ganhar impulso, porém não consegui caindo sentada.
—Parece que você está bem fraquinha. —Ele puxou-me pelo braço e fiz força para suster-me em minhas pernas. Do pavor, fui a raiva em segundos ao ver seu rosto petulante com ar de deboche.
—Muito bem. Você tem que trocar essa roupa. Eu vou te levar as suas novas dependências—não falei nada, engolindo o ódio—Que foi? O cachorro comeu sua língua? Melhore essa cara eu não quero que te vejam assim.
Ele tomou meu braço, passando a abrir a porta, então nessa hora cerrei o punho livre em direção ao seu rosto. Roman se esquivou e com raiva, soltei um grunhido desferindo chutes e socos com toda a força que pude sobre ele. A raiva como um estimulante, serviu a usar braços e pernas, e o esmurrei repetidas vezes desajeitada. O que me arrependi amargamente. Por um minuto ele não reagiu, e fui surpreendida por um golpe certeiro numa das pernas, onde tombei meu corpo todo, quase caindo de cara no chão.
Levantei a cabeça. Por sorte não atingi o nariz e grossas lágrimas desceram meu rosto. Ele se abaixou, olhando-me por uns segundos.
— Você não tem força—acenou com um sorriso cínico. Um grunhido resaltou de meus lábios quando puxou minha cabeça para trás pelos cabelos —Isso é um aviso, da próxima vez, eu quebro suas pernas.
Com brusquidão, seu braço forte me levantou e fui arrastada porta fora por um corredor. Aos gritos, implorei para me soltar, mas ele ignorou-me por completo. Paramos de frente a uma porta ele a abriu, onde jogou-me com estupidez sobre a cama.
—O q-que vai fazer? —Perguntei nervosa ao extremo chorando aos prantos.
—Eu não vou te foder, não ainda. Isso se for boazinha e fizer tudo conforme eu mandar. Então, é bom seguir as minhas regras. Agora se vista. As roupas estão no armário, eu volto daqui a pouco pra te apresentar a minha "mamuska."
A porta fechou com um estrondo tão violento, que jurei os vidros da janela tremerem. Roman está mais forte da última vez que o vi, parece um sniper cheio de músculos por anabolizante; em compensação seu cérebro deve ter diminuído. E a dor de cabeça pela pancada se juntou as lágrimas que comecei derramar sem controle. Depois de uns segundos tentei me concentrar em alguma ideia, plano, qualquer coisa que fizesse eu me livrar de Roman, porém estaria sendo burra em ousar contrariá-lo. Eu conhecia uma parte dele, e poderia usá-la a meu favor, no entanto a fúria como fui tratada nublam as possibilidades, tornando qualquer atitude imprecisa e perigosa, tirando de mim todas as esperanças. Levantei da cama com cuidado e pude ver a vista pela janela aberta com grades. Haviam residências longínquas cercadas por vegetação, no mesmo padrão moderno a que me encontro. Há cheiro de móveis recentes no quarto com cama de casal, banheiro e um armário. Creio que estou em Mulholand Drive, e se estiver c
Ergui-me da cadeira seguindo com ele, buscando ocultar a onda de medo que se apossou de mim. Não, eu não queria demonstrar fraqueza. Seria notório para alimentar sua brutalidade, ódio ou qualquer sentimento que pudesse haver dentro de seu coração. Cogitar essa ideia seria até mesmo insano. Roman devia ter seu coração oco.Ele abriu a porta do mesmo quarto ao qual estive antes, fechou-a e quando parou diante de mim, deu um berro:—O que pensa que está fazendo sua imbecil?Lágrimas escorreram por minha bochecha. Como pude ter o azar de dormir? Estava ali para cumprir a missão que me foi confiada. Óbvio, anoiteceu e foi normal o corpo reclamar de sono. Eu devia me atentar para esse fato. Fiquei exausta, não pude me alimentar, sair dali para nada, tampouco fazer a higiene. Pelo horário era ainda muito cedo. O Sol nem mesmo havia aparecido. Olhei para ele com lábios trêmulos e a garganta seca, meus olhos foram em direção a um objeto em sua cintura, uma arma e meu pulso acelerou.—Eu...sint
RomanHá algo errado. Muito errado nisso tudo. Posso jurar que essa garota tem semelhança com alguém, ou a vi antes. É possível que ela tenha estado comigo em uma de minhas noites promíscuas. Porém esse cheiro vindo de seus cabelos misturados a sua pele é o cheiro da perdição. O rosto levemente rosado e os lábios de boneca, atiçam desejo em meus pensamentos. Os seios redondos macios como as pinturas pré-rafaelitas à espera de lábios. Toda ela exala sexo, feminilidade e fico parado, ouvindo seu choro que causa-me um aperto no peito inexplicável.Que porra é essa?Tiro meus braços dela, vendo seu rosto virar para o lado abalada e triste. Eu não me sinto bem com isso. Aliás, ergo-me com rapidez ouvindo seus soluços. Se eu já estava com remorso, agora tudo piorou.—Pare de chorar! —peço com autoridade, vendo ela estirada no chão. Me aproximo encontrando seus olhos hesitante—Escute bem garota, não se atreva a fazer outro escândalo. Estamos entendidos? —Ela acenou com a cabeça —Levanta. Voc
AngelinaNão havia como fugir. Nada que pudesse mudar o destino de continuar na mesma posição sendo vítima de Roman e esperar o pior. Eu não tinha escolha que permanecer em cativeiro.Gostaria que o fato de já ter estado com ele antes, tê-lo amado, e desgraçadamente ainda nutrir esse sentimento; não me deixassem fraca após descobrir sua monstruosidade. Roman foi o primeiro homem que amei. O primeiro que entreguei o meu coração e minha virgindade. Isso devia ser uma lembrança feliz e eu devia seguir em frente. Mas ele sempre esteve preso ao meu coração, vivo nas minhas memórias e eu queria matá-lo dentro de mim.Fiquei no mesmo lugar trancada até o meio da tarde. Meu estômago roncava fervorosamente e a cabeça doía de tanto pensar.Sentada no chão com os joelhos dobrados e sonolenta, ouvi um barulho na porta. Rapidamente me ergui. Ao abri-la lá estava ele. Pensei no seu pedido anterior. Ele queria que me banhasse para dormir com ele e o fato de medir meu corpo com o olhar dava-me a cer
—Na verdade não sabemos. —disse Joe com olhos de mim a Tracey—Ele não aparece a dias, tentamos falar com ele, mas seu celular apenas dá caixa de mensagem.—Tem certeza...ele não deixou, um bilhete ou...—questionei incrédula. Meu corpo inflamando de nervosismo.—Não. Eu sinto muito. —lamentou Joe com pesar e minhas pálpebras bateram diversas vezes na tentativa frustrada de segurar as lágrimas.—Talvez, ele tenha tido algum problema no celular. —Tracey tentou contemporizar, vendo meu silêncio. Engasguei sentindo o pulso acelerar a milhão.—Isso é impossível. —afirmei triste—Se ele sumiu deviam chamar a polícia.—Na verdade...—explicou Joe—Bom, ele é estrangeiro e seu visto está com problemas. Se buscarmos as autoridades não será muito viável.—Merda. —falei baixo.—Tudo bem. —Tracey ensaiou um sorriso gentil para ele arrumando a bolsa no ombro. —Nós vamos achar uma forma de encontrá-lo. Obrigada.Completamente em choque, como se o desespero engolisse meu coração, ela conduziu para voltar
MickailLiguei diversas vezes para o número de Roman e nenhum retorno obtive dele. Se for um aviso, lamento, mas nada funciona sem ser do meu jeito.Eu sei que as coisas parecem não estar muito favoráveis para o meu monstro. Sei que o luto na vida de alguém é difícil. Já tive muitas perdas que foram lastimáveis, outras que agradeci e sorri no final. ´O luto é apenas um estado. A morte -um ciclo comum da natureza de qualquer ser humano que atingirá todos nós algum dia. Mas para mim, ela é muito mais que isso.E foi assim que eu encontrei Roman atrás das longas grades que separavam ele de sua liberdade, seu mundinho pequeno e debilitado —Morto.Morto nas esperanças, nas atitudes, na capacidade de tomar decisões, lamentando seus passos, sentindo- se vulnerável, triste e acreditando que Deus poderia salvá-lo.Quanta idiotice!Tantos sentimentos, tantos anseios tolos que de nada serviam, a não ser separá-lo de um vislumbre de estar livre e ter sua dignidade de volta.E do que mesmo ia ser
LOS ANGELESCaminhei com a bolsa a tiracolo suspirando com as pernas cansadas. Há mais de semanas busco trabalho nas movimentadas ruas de Los Angeles. Estou formada em enfermagem e depois de terminar o estágio e viver boa parte voltada a minha mãe que faleceu há um ano, sinto agora mais do que nunca que devo seguir a profissão.Venho de uma família simples criada no interior do Texas e sou a filha mais nova de quatro irmãos. Três homens que seguiram seu destino. Dois casaram e um, chamado Donald preferiu colocar uma mochila nas costas e viajar o mundo.Eu gostaria de ser como eles ás vezes. Não ter medo de nada, não se apegar e viver uma vida longe da civilização, em lugares distintos, ás vezes perigosos com o único propósito de encontrar heranças perdidas, fósseis e o que mais ele puder contribuir a arqueologia.No entanto, sobrou para mim a difícil missão de ficar ao lado de mamãe, e com essa tarefa me senti impulsionada a seguir o caminho da enfermagem. Posso dizer, que dei esse or
Mas o que mesmo acabou de acontecer? Me pergunto sentindo o choque de seu apertão forte no braço. O mesmo lateja dando-me a certeza que ficará a marca e que não devia sequer pensado em ter vindo a este lugar, como cometer a asneira de espioná-lo.Me comovi com a dor de Roman, e poderia ficar com ódio pela atitude grosseira dele e ao contrário, lágrimas querem pular de meus olhos.Girei os calcanhares, tomando o corredor, sem esperar que alguém me guiasse. Avistei a porta aberta e um último olhar para a obra do anjo caído me fez engasgar. Desci as escadas de dois em dois e a passos rápidos, ganhei a calçada. Caminhei uns minutos até ouvir:—Senhorita, senhorita Angelina!!Continuei a andar rápido e a voz insistiu. Quando virei o rosto, me deparei com Joanne.—Perdoe-me, a senhorita precisa voltar. —suplica. —Senhor Roman, quer que volte.—Só se eu estiver louca! —Declaro incomodada seguindo caminho.—Não, senhorita. Ele precisa de seu trabalho, por favor volte e fale com ele.—Sinto mu