Mas o que mesmo acabou de acontecer? Me pergunto sentindo o choque de seu apertão forte no braço. O mesmo lateja dando-me a certeza que ficará a marca e que não devia sequer pensado em ter vindo a este lugar, como cometer a asneira de espioná-lo.
Me comovi com a dor de Roman, e poderia ficar com ódio pela atitude grosseira dele e ao contrário, lágrimas querem pular de meus olhos.
Girei os calcanhares, tomando o corredor, sem esperar que alguém me guiasse. Avistei a porta aberta e um último olhar para a obra do anjo caído me fez engasgar. Desci as escadas de dois em dois e a passos rápidos, ganhei a calçada. Caminhei uns minutos até ouvir:
—Senhorita, senhorita Angelina!!
Continuei a andar rápido e a voz insistiu. Quando virei o rosto, me deparei com Joanne.
—Perdoe-me, a senhorita precisa voltar. —suplica. —Senhor Roman, quer que volte.
—Só se eu estiver louca! —Declaro incomodada seguindo caminho.
—Não, senhorita. Ele precisa de seu trabalho, por favor volte e fale com ele.
—Sinto muito, eu não vou trabalhar com um grosso feito ele.
—Sim. Ele parece ser, mas está enfrentando muitos problemas...
—E eu com isso! —rebato irritada
—Olhe, por favor. Pode não ficar senhorita, mas precisa ouvi-lo. Por favor, eu imploro. —Ela segura meu braço quase em lágrimas —Se a senhorita não fizer isso, ele vai me matar. Por favor.
Meu coração mole realmente só me traz problemas. Pelo visto, essa senhora é seu saco de pancadas e ainda por cima, deve ter sofrido ameaça de perder o emprego. O olhar dela dá-me pena e realmente deixa-me sem saída.
—Está bem. —decido— mas seja o que ele tem a me dizer, eu não poderei ficar.
—Muito, muito obrigada senhorita. Tudo bem, faça um teste. —ela sugere aliviada. —O salário é muito bom, senhorita. Posso garantir.
Deve ser, para aturar esse monstro. Gostaria de empurrar para longe a compaixão profunda que sinto dele, mas o ímpeto de saber porque Roman está agindo desse modo, me deixa intrigada. Será que ele se lembra de mim? Ou está fazendo de propósito por saber quem eu sou?
De volta ao mesmo lugar, fico a frente dele. Um pouco mais sereno, me encara com profundidade e convida a sentar.
—Obrigada, mas estou bem de pé. — reluto.
—Perdão. Eu...não quis ser ofensivo...
Não é difícil perceber seu esforço para mostrar-se acessível.
—A senhorita pode ficar? Eu pago mil dólares por hora.
Mil dólares? Eu não devo estar ouvindo bem.
— Está oferecendo mil dólares por hora?
—É isso que a senhorita ouviu. Pago mil dólares por hora, para que cuide de minha mãe.
Eu preciso muito de dinheiro e ouvir sua oferta me faz brilhar os olhos, porém enfrentar Roman, e essa outra personalidade estranha dele, assusta-me.
— A senhorita vai querer ou não?
—Eu preciso pensar. — Solto, ouvindo ele limpar a garganta.
— Então, lamento informar que outra terá a vaga.
—Pois que seja. — meu orgulho não permite aceitar a oferta e dou um passo voltando a saída.
—Eu não mandei, sair! —Ordena, como se eu fosse sua vassala, num tom de voz infinitamente grosseiro.
Fico parada. O que quer que esteja acontecendo não é bom. Eu não posso acreditar que estou na frente de alguém que um dia me fez uma promessa. Uma promessa de amor, que aqueceu meu coração da mais pura felicidade.
— Senhor... —tento dizer.
Ele abre a gaveta de sua requintada escrivaninha, tira algumas notas e j**a sobre ela.
—Tome. Isso é para o seu ônibus.
Sem acreditar olho para ele com expressão de estranheza. Ele acha que sou uma pobre coitada que não tenho dinheiro para pagar minha própria condução?
— Está enganado se acha que preciso. — Digo controlando-me para não piorar tudo e explodir. Ele me encara com um sorriso torto nos lábios.
— Eu imaginei, pobre e orgulhosa. —solta com frieza.
Estou tão incrédula e espantada com o que acabo de ouvir, que seguro minha bolsa firme e dou as costas sem dizer mais nada. Saio porta a fora, passo pela senhora que olha-me com espanto e simplesmente a ignoro. Com uma forte vontade de chorar ando tão rápido que me vejo na rua.
O barulho do trânsito, e pessoas não prende minha atenção, a não ser a revolta que ferve meu peito e deixo as lágrimas caírem. Porque mesmo tive o desprazer de reconhecer Roman? Eu nunca devia tê-lo visto de novo.
Pegando o ônibus, disposta a esquecer tudo, não sinto vontade de voltar para casa. Assim que avisto a próxima parada, desço e vejo uma residência simples com pequeno jardim e algumas tralhas de pesca no quintal. Bato a porta e meu pai atende surpreendido.
—Eu posso entrar? —pergunto.
—É claro. Chegou em boa hora. Eu a recém coloquei a carne no fogo.
Ele está com uma long neck na mão e entro vendo ele fechar a porta.
—Preciso de uma cerveja. —Falo, vendo ele me olhar com vontade de rir.
Ele vai até a geladeira, pega uma bebida, abre e me entrega. Cada um senta numa poltrona na sala e ele diz:
—Você está abatida. Algo aconteceu?
—Ah, a velha história, minhas referências nunca bastam. —Minto com tristeza.
Eu jamais ia contar ao meu pai o que aconteceu, e ele nem mesmo sabe da parte de minha vida como conheci Roman pela primeira vez.
—Ora, e do que estamos falando mesmo, se não do orgulho da senhorita Mitchell.
—Ah, por favor pai. —torço o nariz, bebendo no gargalo.
—Você é mais teimosa que sua mãe.
—Você precisa entender que eu só quero ter minha independência.
—Oh, claro, mas quando ainda não possuímos meios de tê-la, aceitamos as oportunidades que nos são oferecidas.
Meneio a cabeça.
—Pare com esse orgulho bobo e venha morar comigo. Sou um velho chato, cheio de amigos que gosta de uma reunião e futebol, mas posso garantir seu conforto e que não a deixarei passar fome.
— Bruce? —um homem moreno de sessenta anos aparece com bigode grisalho. Ele sorri para mim é um dos mais antigos amigos de meu pai— Como vai Angelina?
—Bem.
—Esse cara—cutuca meu pai piscando o olho—Não está aceitando que o time dele vai perder.
—Ah, vocês já vão começar? — Resmungo e os dois riem.
—Com licença filha eu já volto. — diz meu pai se levantando.
Quando fico sozinha, suspiro e tomo a bebida toda de uma vez.
Roman
Deve ser coisa de minha cabeça. De onde vi o rosto dessa garota? E ora, por que diabos ela tinha que me espionar e justamente me pegar chorando? Um demônio não chora, não sente nada, eu não sei como pude ser tão fraco. Eu devia era ter batido em seu rosto, fazê-la se submeter a minha vontade e enfiar-me nela até rasgá-la. Garota atrevida e como se não bastasse, ela não tem medo de mim. Isso é estranho, como me faz ter vontade de saber quem ela é. Irei descobrir.
Nem bem termino minha reflexão o telefone toca, é Serguei.
— Fale. — respondo.
— Onde você está?
Um suspiro longo vem em resposta. Não devia estar aqui hoje, mas foi necessário.
— Eu tive que ver minha mãe.
— Ah, de novo essa história? — Reclama Serguei.
— Eu só vim pra conseguir enfermeira. Não há ninguém que possa fazer isso.
— Ah claro, eu percebo que você está se deixando levar por uma primazia de sentimentalismo. Se Mickail descobrir que foi ver sua família antes do combinado, ele vai te matar. E nem pense em tentar qualquer tipo de relacionamento emocional, ou você estará fodido.
— Mas quem disse que estou pensando nisso, porra! —esbravejo fechando o punho—Eu nem sequer tenho mais vida sexual por causa da merda fodida dos mandamentos.
— Exatamente, mas são esses mandamentos fodidos que garantem sua vida confortável, sua conta na Suíça, seu belo carro importado. E pare de bancar o frouxo, eu já sei da fila de mulheres que andam na sua cola, o suficiente para ter um harém, então não me faça ter que ir aí e furar a sua cara. —mastigo a raiva que desce como fogo em minha garganta. —Você tem cinco minutos, para sair de onde está, pegar seu carro e encontrar Matt. Estraçalhe seu corpo e depois voltamos a conversar.
Dizendo isto, ele desliga na minha cara e com um bufo dou um soco na mesa.
Angelina
Depois de uma semana de reflexões definitivamente me mudo para casa de meu pai. Ele está certo. Porque passar trabalho sozinha se podemos ajudar um ao outro? Com a morte de mamãe tudo ficou mais triste eu devo mesmo estar com ele dar apoio, já que eu sou a filha mais nova e meus outros irmãos só se preocupam com seus interesses. Meu pai é um bom homem, pescar e seus jogos com os amigos aos finais de semana são seu maiores hobbies. Eu devo me acostumar com a ideia que estarei no meio de cuecas fanáticos e suas manias. Mas não importa, serei o melhor para ele.
Pensativa tomando uma xícara de café, tento esquecer os olhos de anjo que vi pela primeira vez, e agora mais se assemelham aos de um demônio, um anjo caído de cabeça preocupada, que presenciei chorando. Eu sempre soube da nacionalidade de Roman. Um russo, que disse ter vindo para américa para estudar e trabalhar, só nunca soube de fato seu sobrenome, tampouco perguntei muito de sua vida. Ele sempre pareceu-me resistente em falar sobre, e não quis aborrecê-lo.
Não posso achar que Roman seria o mesmo depois de todos esses seis anos, mas bem que ele poderia me tratar um pouco melhor.
—Ele me esqueceu. Não soube guardar a promessa. —sussurro a mim mesma.
A semana passou agitada e rotineira. Acabo de acordar e indo em direção ao banheiro, ouço a campainha.
— Pai! A porta!
—Atende pra mim! —Ouço meu pai da cozinha.
Bocejando, com pés descalços, passo pela sala indo em direção a porta. Eu ainda nem sequer penteei os cabelos e ao abri-la, me deparo com Roman.
Roman me analisa de cima a baixo. Droga! Eu estou com um pijama cor de rosa com estampa de coelho, sem nada nos pés e os cabelos bagunçados. Mas que merda! Digo a mim mesma.Reparo como seu olhar desliza sobre meus ombros, que estão expostos pela vestimenta grande. Vejo levemente seus lábios entre abrirem-se, assim como os meus que se movem sem sair o som.O cheiro de sua colônia, algo como couro e madeira inunda o ar e fico paralisada sem saber quem de nós está mais surpreso. Não, eu não posso me deixar ludibriar. Esse Roman que está na minha frente, é longe de ser o que eu conheci. Eu deveria dizer alguma coisa, uma palavra qualquer e nesses segundos que transitam entre nós, não consigo sair de seus olhos brilhantes, frios, hipnotizados e firmes em minha direção.— Oh, senhor Mikhailovitch Bom dia. —ouço meu pai atrás de mim. —Como vai? Está é minha filha.Na tentativa de entender de onde meu pai conhece Roman, não consigo sorrir e dizer nada.—Como vai? —ele pergunta, com o canto d
—Ah, não .... —arregalei os olhos em choque— O senhor não fez...—Qual o problema? Você está sem trabalho. Ele tem uma boa vida, pode pagar o salário que merece.—Eu não acredito que estou ouvindo isso...— Mas o que há de errado? —questionou sem entender—Vocês se conhecem?—É claro que não! -minto alterada vendo ele me olhar confuso. —Droga, pai você não podia ter feito isso sem me consultar! —e de tão nervosa queimei o dedo ao mexer na forma.—Mas...—Isso não pode estar acontecendo...— abro a torneira inconformada e deixo a água cair sobre a queimadura.—Angelina, —sua voz muda o tom—se ele ligar, ouça o que tem a dizer. Não se atreva a me fazer passar pela vergonha de um mentiroso. Eu recém iniciei esse
A porta fechou com um estrondo tão violento, que jurei os vidros da janela tremerem. Roman está mais forte da última vez que o vi, parece um sniper cheio de músculos por anabolizante; em compensação seu cérebro deve ter diminuído. E a dor de cabeça pela pancada se juntou as lágrimas que comecei derramar sem controle. Depois de uns segundos tentei me concentrar em alguma ideia, plano, qualquer coisa que fizesse eu me livrar de Roman, porém estaria sendo burra em ousar contrariá-lo. Eu conhecia uma parte dele, e poderia usá-la a meu favor, no entanto a fúria como fui tratada nublam as possibilidades, tornando qualquer atitude imprecisa e perigosa, tirando de mim todas as esperanças. Levantei da cama com cuidado e pude ver a vista pela janela aberta com grades. Haviam residências longínquas cercadas por vegetação, no mesmo padrão moderno a que me encontro. Há cheiro de móveis recentes no quarto com cama de casal, banheiro e um armário. Creio que estou em Mulholand Drive, e se estiver c
Ergui-me da cadeira seguindo com ele, buscando ocultar a onda de medo que se apossou de mim. Não, eu não queria demonstrar fraqueza. Seria notório para alimentar sua brutalidade, ódio ou qualquer sentimento que pudesse haver dentro de seu coração. Cogitar essa ideia seria até mesmo insano. Roman devia ter seu coração oco.Ele abriu a porta do mesmo quarto ao qual estive antes, fechou-a e quando parou diante de mim, deu um berro:—O que pensa que está fazendo sua imbecil?Lágrimas escorreram por minha bochecha. Como pude ter o azar de dormir? Estava ali para cumprir a missão que me foi confiada. Óbvio, anoiteceu e foi normal o corpo reclamar de sono. Eu devia me atentar para esse fato. Fiquei exausta, não pude me alimentar, sair dali para nada, tampouco fazer a higiene. Pelo horário era ainda muito cedo. O Sol nem mesmo havia aparecido. Olhei para ele com lábios trêmulos e a garganta seca, meus olhos foram em direção a um objeto em sua cintura, uma arma e meu pulso acelerou.—Eu...sint
RomanHá algo errado. Muito errado nisso tudo. Posso jurar que essa garota tem semelhança com alguém, ou a vi antes. É possível que ela tenha estado comigo em uma de minhas noites promíscuas. Porém esse cheiro vindo de seus cabelos misturados a sua pele é o cheiro da perdição. O rosto levemente rosado e os lábios de boneca, atiçam desejo em meus pensamentos. Os seios redondos macios como as pinturas pré-rafaelitas à espera de lábios. Toda ela exala sexo, feminilidade e fico parado, ouvindo seu choro que causa-me um aperto no peito inexplicável.Que porra é essa?Tiro meus braços dela, vendo seu rosto virar para o lado abalada e triste. Eu não me sinto bem com isso. Aliás, ergo-me com rapidez ouvindo seus soluços. Se eu já estava com remorso, agora tudo piorou.—Pare de chorar! —peço com autoridade, vendo ela estirada no chão. Me aproximo encontrando seus olhos hesitante—Escute bem garota, não se atreva a fazer outro escândalo. Estamos entendidos? —Ela acenou com a cabeça —Levanta. Voc
AngelinaNão havia como fugir. Nada que pudesse mudar o destino de continuar na mesma posição sendo vítima de Roman e esperar o pior. Eu não tinha escolha que permanecer em cativeiro.Gostaria que o fato de já ter estado com ele antes, tê-lo amado, e desgraçadamente ainda nutrir esse sentimento; não me deixassem fraca após descobrir sua monstruosidade. Roman foi o primeiro homem que amei. O primeiro que entreguei o meu coração e minha virgindade. Isso devia ser uma lembrança feliz e eu devia seguir em frente. Mas ele sempre esteve preso ao meu coração, vivo nas minhas memórias e eu queria matá-lo dentro de mim.Fiquei no mesmo lugar trancada até o meio da tarde. Meu estômago roncava fervorosamente e a cabeça doía de tanto pensar.Sentada no chão com os joelhos dobrados e sonolenta, ouvi um barulho na porta. Rapidamente me ergui. Ao abri-la lá estava ele. Pensei no seu pedido anterior. Ele queria que me banhasse para dormir com ele e o fato de medir meu corpo com o olhar dava-me a cer
—Na verdade não sabemos. —disse Joe com olhos de mim a Tracey—Ele não aparece a dias, tentamos falar com ele, mas seu celular apenas dá caixa de mensagem.—Tem certeza...ele não deixou, um bilhete ou...—questionei incrédula. Meu corpo inflamando de nervosismo.—Não. Eu sinto muito. —lamentou Joe com pesar e minhas pálpebras bateram diversas vezes na tentativa frustrada de segurar as lágrimas.—Talvez, ele tenha tido algum problema no celular. —Tracey tentou contemporizar, vendo meu silêncio. Engasguei sentindo o pulso acelerar a milhão.—Isso é impossível. —afirmei triste—Se ele sumiu deviam chamar a polícia.—Na verdade...—explicou Joe—Bom, ele é estrangeiro e seu visto está com problemas. Se buscarmos as autoridades não será muito viável.—Merda. —falei baixo.—Tudo bem. —Tracey ensaiou um sorriso gentil para ele arrumando a bolsa no ombro. —Nós vamos achar uma forma de encontrá-lo. Obrigada.Completamente em choque, como se o desespero engolisse meu coração, ela conduziu para voltar
MickailLiguei diversas vezes para o número de Roman e nenhum retorno obtive dele. Se for um aviso, lamento, mas nada funciona sem ser do meu jeito.Eu sei que as coisas parecem não estar muito favoráveis para o meu monstro. Sei que o luto na vida de alguém é difícil. Já tive muitas perdas que foram lastimáveis, outras que agradeci e sorri no final. ´O luto é apenas um estado. A morte -um ciclo comum da natureza de qualquer ser humano que atingirá todos nós algum dia. Mas para mim, ela é muito mais que isso.E foi assim que eu encontrei Roman atrás das longas grades que separavam ele de sua liberdade, seu mundinho pequeno e debilitado —Morto.Morto nas esperanças, nas atitudes, na capacidade de tomar decisões, lamentando seus passos, sentindo- se vulnerável, triste e acreditando que Deus poderia salvá-lo.Quanta idiotice!Tantos sentimentos, tantos anseios tolos que de nada serviam, a não ser separá-lo de um vislumbre de estar livre e ter sua dignidade de volta.E do que mesmo ia ser