Capitulo 2

Mas o que mesmo acabou de acontecer? Me pergunto sentindo o choque de seu apertão forte no braço. O mesmo lateja dando-me a certeza que ficará a marca e que não devia sequer pensado em ter vindo a este lugar, como cometer a asneira de espioná-lo.

Me comovi com a dor de Roman, e poderia ficar com ódio pela atitude grosseira dele e ao contrário, lágrimas querem pular de meus olhos.

Girei os calcanhares, tomando o corredor, sem esperar que alguém me guiasse. Avistei a porta aberta e um último olhar para a obra do anjo caído me fez engasgar. Desci as escadas de dois em dois e a passos rápidos, ganhei a calçada. Caminhei uns minutos até ouvir:

—Senhorita, senhorita Angelina!!

Continuei a andar rápido e a voz insistiu. Quando virei o rosto, me deparei com Joanne.

—Perdoe-me, a senhorita precisa voltar. —suplica. —Senhor Roman, quer que volte.

—Só se eu estiver louca! —Declaro incomodada seguindo caminho.

—Não, senhorita. Ele precisa de seu trabalho, por favor volte e fale com ele.

—Sinto muito, eu não vou trabalhar com um grosso feito ele.

—Sim. Ele parece ser, mas está enfrentando muitos problemas...

—E eu com isso! —rebato irritada

—Olhe, por favor. Pode não ficar senhorita, mas precisa ouvi-lo. Por favor, eu imploro. —Ela segura meu braço quase em lágrimas —Se a senhorita não fizer isso, ele vai me matar. Por favor.

Meu coração mole realmente só me traz problemas. Pelo visto, essa senhora é seu saco de pancadas e ainda por cima, deve ter sofrido ameaça de perder o emprego. O olhar dela dá-me pena e realmente deixa-me sem saída.

—Está bem. —decido— mas seja o que ele tem a me dizer, eu não poderei ficar.

—Muito, muito obrigada senhorita. Tudo bem, faça um teste. —ela sugere aliviada. —O salário é muito bom, senhorita. Posso garantir.

Deve ser, para aturar esse monstro. Gostaria de empurrar para longe a compaixão profunda que sinto dele, mas o ímpeto de saber porque Roman está agindo desse modo, me deixa intrigada. Será que ele se lembra de mim? Ou está fazendo de propósito por saber quem eu sou?

 De volta ao mesmo lugar, fico a frente dele. Um pouco mais sereno, me encara com profundidade e convida a sentar.

 —Obrigada, mas estou bem de pé. — reluto.

—Perdão. Eu...não quis ser ofensivo...

Não é difícil perceber seu esforço para mostrar-se acessível.

—A senhorita pode ficar? Eu pago mil dólares por hora.

Mil dólares? Eu não devo estar ouvindo bem.

— Está oferecendo mil dólares por hora?

—É isso que a senhorita ouviu. Pago mil dólares por hora, para que cuide de minha mãe.

Eu preciso muito de dinheiro e ouvir sua oferta me faz brilhar os olhos, porém enfrentar Roman, e essa outra personalidade estranha dele, assusta-me.

— A senhorita vai querer ou não?

—Eu preciso pensar. — Solto, ouvindo ele limpar a garganta.

— Então, lamento informar que outra terá a vaga.

—Pois que seja. — meu orgulho não permite aceitar a oferta e dou um passo voltando a saída.

—Eu não mandei, sair! —Ordena, como se eu fosse sua vassala, num tom de voz infinitamente grosseiro.

Fico parada. O que quer que esteja acontecendo não é bom. Eu não posso acreditar que estou na frente de alguém que um dia me fez uma promessa. Uma promessa de amor, que aqueceu meu coração da mais pura felicidade.

— Senhor... —tento dizer.

Ele abre a gaveta de sua requintada escrivaninha, tira algumas notas e j**a sobre ela.

—Tome. Isso é para o seu ônibus.

Sem acreditar olho para ele com expressão de estranheza. Ele acha que sou uma pobre coitada que não tenho dinheiro para pagar minha própria condução?

— Está enganado se acha que preciso. — Digo controlando-me para não piorar tudo e explodir. Ele me encara com um sorriso torto nos lábios.

— Eu imaginei, pobre e orgulhosa. —solta com frieza.

Estou tão incrédula e espantada com o que acabo de ouvir, que seguro minha bolsa firme e dou as costas sem dizer mais nada. Saio porta a fora, passo pela senhora que olha-me com espanto e simplesmente a ignoro. Com uma forte vontade de chorar ando tão rápido que me vejo na rua.

 O barulho do trânsito, e pessoas não prende minha atenção, a não ser a revolta que ferve meu peito e deixo as lágrimas caírem. Porque mesmo tive o desprazer de reconhecer Roman? Eu nunca devia tê-lo visto de novo.

Pegando o ônibus, disposta a esquecer tudo, não sinto vontade de voltar para casa. Assim que avisto a próxima parada, desço e vejo uma residência simples com pequeno jardim e algumas tralhas de pesca no quintal. Bato a porta e meu pai atende surpreendido.

—Eu posso entrar? —pergunto.

—É claro. Chegou em boa hora. Eu a recém coloquei a carne no fogo.

Ele está com uma long neck na mão e entro vendo ele fechar a porta.

—Preciso de uma cerveja. —Falo, vendo ele me olhar com vontade de rir.

Ele vai até a geladeira, pega uma bebida, abre e me entrega. Cada um senta numa poltrona na sala e ele diz:

—Você está abatida. Algo aconteceu?

—Ah, a velha história, minhas referências nunca bastam. —Minto com tristeza.

Eu jamais ia contar ao meu pai o que aconteceu, e ele nem mesmo sabe da parte de minha vida como conheci Roman pela primeira vez.

—Ora, e do que estamos falando mesmo, se não do orgulho da senhorita Mitchell.

—Ah, por favor pai. —torço o nariz, bebendo no gargalo.

—Você é mais teimosa que sua mãe.

—Você precisa entender que eu só quero ter minha independência.

—Oh, claro, mas quando ainda não possuímos meios de tê-la, aceitamos as oportunidades que nos são oferecidas.

Meneio a cabeça.

—Pare com esse orgulho bobo e venha morar comigo. Sou um velho chato, cheio de amigos que gosta de uma reunião e futebol, mas posso garantir seu conforto e que não a deixarei passar fome.

— Bruce? —um homem moreno de sessenta anos aparece com bigode grisalho. Ele sorri para mim é um dos mais antigos amigos de meu pai— Como vai Angelina?

—Bem.

—Esse cara—cutuca meu pai piscando o olho—Não está aceitando que o time dele vai perder.

—Ah, vocês já vão começar? — Resmungo e os dois riem.

—Com licença filha eu já volto. — diz meu pai se levantando.

Quando fico sozinha, suspiro e tomo a bebida toda de uma vez.

Roman

Deve ser coisa de minha cabeça. De onde vi o rosto dessa garota? E ora, por que diabos ela tinha que me espionar e justamente me pegar chorando? Um demônio não chora, não sente nada, eu não sei como pude ser tão fraco. Eu devia era ter batido em seu rosto, fazê-la se submeter a minha vontade e enfiar-me nela até rasgá-la. Garota atrevida e como se não bastasse, ela não tem medo de mim. Isso é estranho, como me faz ter vontade de saber quem ela é. Irei descobrir.

Nem bem termino minha reflexão o telefone toca, é Serguei.

— Fale. — respondo.

— Onde você está?

Um suspiro longo vem em resposta. Não devia estar aqui hoje, mas foi necessário.

— Eu tive que ver minha mãe.

— Ah, de novo essa história? — Reclama Serguei.

— Eu só vim pra conseguir enfermeira. Não há ninguém que possa fazer isso.

— Ah claro, eu percebo que você está se deixando levar por uma primazia de sentimentalismo. Se Mickail descobrir que foi ver sua família antes do combinado, ele vai te matar. E nem pense em tentar qualquer tipo de relacionamento emocional, ou você estará fodido.

— Mas quem disse que estou pensando nisso, porra! —esbravejo fechando o punho—Eu nem sequer tenho mais vida sexual por causa da merda fodida dos mandamentos.

— Exatamente, mas são esses mandamentos fodidos que garantem sua vida confortável, sua conta na Suíça, seu belo carro importado. E pare de bancar o frouxo, eu já sei da fila de mulheres que andam na sua cola, o suficiente para ter um harém, então não me faça ter que ir aí e furar a sua cara. —mastigo a raiva que desce como fogo em minha garganta. —Você tem cinco minutos, para sair de onde está, pegar seu carro e encontrar Matt. Estraçalhe seu corpo e depois voltamos a conversar.

Dizendo isto, ele desliga na minha cara e com um bufo dou um soco na mesa.

Angelina

Depois de uma semana de reflexões definitivamente me mudo para casa de meu pai. Ele está certo. Porque passar trabalho sozinha se podemos ajudar um ao outro? Com a morte de mamãe tudo ficou mais triste eu devo mesmo estar com ele dar apoio, já que eu sou a filha mais nova e meus outros irmãos só se preocupam com seus interesses. Meu pai é um bom homem, pescar e seus jogos com os amigos aos finais de semana são seu maiores hobbies. Eu devo me acostumar com a ideia que estarei no meio de cuecas fanáticos e suas manias. Mas não importa, serei o melhor para ele.

Pensativa tomando uma xícara de café, tento esquecer os olhos de anjo que vi pela primeira vez, e agora mais se assemelham aos de um demônio, um anjo caído de cabeça preocupada, que presenciei chorando. Eu sempre soube da nacionalidade de Roman. Um russo, que disse ter vindo para américa para estudar e trabalhar, só nunca soube de fato seu sobrenome, tampouco perguntei muito de sua vida. Ele sempre pareceu-me resistente em falar sobre, e não quis aborrecê-lo.

Não posso achar que Roman seria o mesmo depois de todos esses seis anos, mas bem que ele poderia me tratar um pouco melhor.

—Ele me esqueceu. Não soube guardar a promessa. —sussurro a mim mesma.

A semana passou agitada e rotineira. Acabo de acordar e indo em direção ao banheiro, ouço a campainha.

— Pai! A porta!

—Atende pra mim! —Ouço meu pai da cozinha.

Bocejando, com pés descalços, passo pela sala indo em direção a porta. Eu ainda nem sequer penteei os cabelos e ao abri-la, me deparo com Roman.

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