Capítulo 3

Roman me analisa de cima a baixo. Droga! Eu estou com um pijama cor de rosa com estampa de coelho, sem nada nos pés e os cabelos bagunçados. Mas que merda! Digo a mim mesma.

Reparo como seu olhar desliza sobre meus ombros, que estão expostos pela vestimenta grande. Vejo levemente seus lábios entre abrirem-se, assim como os meus que se movem sem sair o som.

O cheiro de sua colônia, algo como couro e madeira inunda o ar e fico paralisada sem saber quem de nós está mais surpreso. Não, eu não posso me deixar ludibriar. Esse Roman que está na minha frente, é longe de ser o que eu conheci. Eu deveria dizer alguma coisa, uma palavra qualquer e nesses segundos que transitam entre nós, não consigo sair de seus olhos brilhantes, frios, hipnotizados e firmes em minha direção.

— Oh, senhor Mikhailovitch Bom dia. —ouço meu pai atrás de mim. —Como vai? Está é minha filha.

Na tentativa de entender de onde meu pai conhece Roman, não consigo sorrir e dizer nada.

—Como vai? —ele pergunta, com o canto da boca em uma curva maliciosa.

—Estou bem. —murmuro

—Pronto, senhor Roman podemos ir. —diz meu pai saindo e adverte—Se cuide minha filha e por favor, não esqueça de trancar bem as portas quando sair.

Os dois se afastam indo em direção ao carro luxuoso de Roman, estacionado a alguns metros, vejo ele virar o pescoço lançando -me um último olhar e os dois entram.

Quando fecho a porta com um baque, tento buscar em minha memória de onde meu pai conhece Roman. E o que exatamente ele faz? Se sua casa é a mansão que estive, ele é um homem muito rico. Com um suspiro profundo apoio as costas na porta e decido não mais pensar, preciso voltar à luta por emprego.

Roman

O sangue respingou minha camisa e parte da parede, quando meus punhos, envolvidos pela soqueira de ferro bateram em cheio o maxilar do homem à minha frente. Era o décimo soco que ele recebeu durante todos aqueles cinco minutos e nada de ceder. Levantei sua cabeça com fúria pelos cabelos, vi seu rosto deformado, nariz quebrado, olhos como duas bolas roxas e a face inchada.

Há uma semana no cárcere e sofrendo todos os tipos de tortura e nenhuma delas serviu ao desgraçado confessar. Soltei a cabeça mole com brusquidão fervendo pela raiva e saquei da arma, atirando em cheio em seu crânio.

Cansado, com respiração pesada, passei as costas da mãos na testa e com alguns passos tomei do comunicador:

—Nada. Perdi todo o meu tempo com esse infeliz! — Bradei furioso vendo o rosto de Mikhail com um sorriso. Ele assistia tudo por trás da tela transparente em outra sala.

— Roman, —a voz pacífica de Mikhail do outro lado irritou-me— Um dia, mais um dia e eu garanto a você que encontraremos o que precisa.

—Eu não quero esperar mais um minuto!!-

—Ei, ei! Calma aí. Aliás, eu tenho um ótimo relaxante para você agora. Nosso trabalho não está terminado.

O suor escorria minha testa e trinquei os dentes vendo ele com um sorriso diabólico no rosto. A crueldade de Mikhail não poderia ser descrita em palavras, talvez por isso minha devoção por ele só aumentava.

Mas essa semana não estou generoso, muito menos de bom humor.

Ando no limite por tantos problemas, trabalhos sem resultados, pessoas que só servem para aumentar minha raiva. Era o quinto elemento que negava até a morte todas as informações sobre a campanha política. É, eu não devia me meter nessa merda, mas apenas cumpro ordens de Mikhail, nosso Pakhan.

Há mais coisas que preciso descobrir, e cada vez mais me deparo com inconvenientes. Durante a semana toda, contei todas as vezes que tive de deixar de lado outros afazeres para executar a ordem de tortura da Bratva. Mickail e Serguei, não confiariam tanto em mim para estes trabalhos.

Caminhei e tomei a garrafa da água, na mesa há poucos metros e a joguei sobre meu rosto, para aliviar a tensão. Subitamente a porta se abre e vejo, a segurança trazer uma mulher. Ela está debilitada, frágil, há hematomas em seu corpo e rosto, lábios inchados. Olho para o vidro vendo o sorriso maquiavélico de Mikhail aumentar. Ao lado dele, surge Serguei que toma assento e me encara com os braços cruzados.

—Esse é um presentinho pra você. —ele diz ao microfone —A torture o máximo que puder. Quero que extraia tudo dela. E, claro eu sei que você está precisando de sexo, ela pode servir um pouco para sua distração.

Eu não estava pensando nisso. Minha raiva não me deixava cair em sentimentalismo, muito menos pegar uma mulher. Não que eu não quisesse ou precisasse. Naquele momento eu só queria saciar meu desejo de morte.

Minha primeira atitude foi arrastá-la e pendurá-la nas correntes pelos punhos. Ela se debateu, gritou, chorou e não tive piedade. A soquei no estômago repetidas vezes, quando negou o que perguntei. Do outro lado meus parceiros assistiam fixos o trabalho. Nada do que fiz foi suficiente, quebrei seus dedos, braços e quando a soquei na cabeça, e tomei da faca vi Serguei baixar o rosto.

—Oh, —fez Mikhail cínico—Acho que Serguei está de TPM. Gargalhou com vontade.

Ele sabia o processo final. Era doloroso, terrível e odioso, mas eu preferia desse modo. O orgulho que cintilava nos olhos de Mikhail após terminada a tarefa, me enchiam de satisfação. Ao final, eu saia precavido, cheio de dinheiro e cada vez mais perto de liderar ao seu lado. Em breve, poderia ser um pakhan como ele.

Porém, por alguma razão, que não soube explicar, a cena de um casal sorrindo, invadiu minha mente. Os olhos nublaram seguido de um tremor súbito e tudo rodou ao meu redor.

Quando acordei, em cima de uma maca de hospital, um médico me examinou minuciosamente. Ao meu lado estava Mikhail, encostado na parede, dedos entre o queixo, numa expressão severa de desconfiança.

-Está dando mostras de estresse e ansiedade. Precisa de repouso, atividade física e ...—explicou o médico.

—Alto lá. —interrompeu Mikhail olhando grosseiro para ele— Não. Nada de atividades. Eu quero a solução e o mais rápido possível.

—Bem, essas são as alternativas mais eficazes senhor, depois os remédios.

Um sorriso incrédulo formou-se em seu rosto.

—Eu quero os últimos, então é bom que você passe todos eles rápido.

—Como quiser senhor.

Quando o doutor saiu e fechou a porta, Mikhail se aproximou encarando-me friamente.

—O que há com você?

Sentei um pouco. Me sentia enjoado com a garganta seca.

—Você acabou de ouvir.

—Não. Eu me nego a acreditar nas palavras dele. Eu não confio em médicos.

Balancei a cabeça.

—Você é o diabo, um anjo negro, —afirmou ríspido—um enforcer...sua missão não é se compadecer de ninguém e sim, torturar e matar!

—E o que acha que estou fazendo? —devolvi a resposta sem paciência.

Ele passou as mãos pelos cabelos irritado e olhou bem fundo nos meus olhos.

—Escute aqui Roman. Você é um monstro, o meu monstro e não permitirei sentimentalismos.

Não respondi vendo ele andar agitado.

—Você vai sair daqui, —pontuou com o dedo—vai terminar todo trabalho com aquela mulher e se eu presenciar outra crise novamente, você vai se arrepender.

Ele saiu fechando a porta com um estrondo e não tive como dizer nada. Eu realmente andava estranho sem conseguir explicar. Após alguns minutos o médico apareceu, entregou a receita e fui liberado, não sem antes encontrar Serguei. Trocamos algumas palavras e voltei ao local de antes.

Angelina

Ainda não havia anoitecido. Enquanto asso uma bela torta de maçã na cozinha, meu pai se dedica a arrumar seu caniço de pesca.

—Porque não falou que estava trabalhando particular? — pergunto, na esperança que meu pai diga alguma coisa. Ele é esperto e tento disfarçar para não ir direto ao ponto. Ele ergue as sobrancelhas surpreso.

—Porque recém comecei, ficarei em experiência. Senhor Roman precisa de um motorista e ficou sabendo de meu trabalho através de uma indicação.

—Hum.... —digo, indo olhar o forno. —Ele me pareceu estranho.

—Estranho? Oh, não—sorri animado—é um bom homem, empresário, trabalha bastante tem sua vida. A propósito, ele precisa de alguém que cuide de sua mãe e acabei falando de sua formação. Está interessado e passei a ele seu telefone.

Está interessado e passei a ele seu telefone

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