GiuliaEntro na sala com passos firmes, e o ar parece mudar. Não é arrogância, é a certeza de que minha presença causa impacto. Marco, filho do Don Falcone, levanta os olhos e, com um sorriso que mistura admiração e uma pitada de atrevimento, deixa escapar algo que faz todos pararem por um momento.— Que mulher perfeita, tem classe e nunca a vi perder a compostura! — Ele olha para o pai com um brilho malicioso. — A única que está à sua altura, meu pai.O Don tosse, desconfortável. Gian Carlo ri alto, aproveitando o momento para provocar.— Seria o casamento do século!Sorrio, mas decido não dar margem à conversa. Minha voz soa firme, mas carregada de ironia.— Procurem suas esposas. Eu e o Don já cumprimos nossa parte casando e tendo filhos. Agora é a vez dos verdadeiros Don Juans.A expressão deles muda em segundos, tentando esconder sorrisos enquanto fecham a cara em falsa indignação. Mas a verdade é que sei que acertei em cheio.Seguimos para o hangar em um esquema de segurança im
Ramiro O clima na sala de conferências é tenso. Estou sentado na ponta da mesa, observando André, Marcos e Liam, que escutam minha narrativa com expressões de incredulidade e fúria contida. Começo direto, sem rodeios:— O ex-marido da Ana, Claudino, invadiu a casa dela enquanto ela dormia e a violentou. — Minha voz é firme, mas o nó na garganta ameaça escapar. — Ele está pressionando-a para desviar dinheiro da Luxor!A revolta é imediata. Marcos fecha as mãos em punhos, os olhos cravados na mesa como se a madeira pudesse absorver a sua raiva. André respira fundo, mas a tensão nos ombros é evidente. Liam, sentado ao lado, mantém a calma habitual, mas eu sei que, por trás daquela fachada serena, ele já está calculando o próximo movimento.— Esse cara assinou a própria sentença, Ramiro. — Marcos rosna, inclinando-se para frente. — A máfia não deixa barato, ainda mais por mexer com uma de nós.Liam abre seu notebook, os dedos ágeis no teclado. Em poucos minutos, ele já tem informações.
BeatrizA adrenalina ainda corre nas minhas veias enquanto me sento no sofá, tentando parecer casual. Mas sei que os meus olhos não mentem. Rafael e Lucas estão me encarando, esperando explicações que não tenho certeza se quero dar. Eles não sabem do vídeo ainda, mas é questão de tempo. Então me pergunto, como farei para explicar que eu e Priscila acabamos nos tornando as protagonistas de um noticiário policial?Mais cedo, tudo parecia simples. Priscila e eu decidimos adiantar as compras do mês, algo que deveria ser uma tarefa mundana e sem complicações. Deixamos os homens cuidando das crianças e saímos no meu carro, conversando e rindo sobre os dramas do dia a dia. Era para ser apenas mais um dia comum, mas a vida nunca me deixa esquecer que normalidade é um luxo raro para nós.No mercado, tudo segue como planejado. Priscila e eu somos eficientes, calculando o que levar e discutindo as marcas. Tobias e Marlon, sempre discretos, nos escoltam à distância segura. Quando terminamos, come
RamiroConteúdo sensívelSaio do quarto de Ana sentindo meu sangue ainda fervendo. A imagem dela cheia de hematomas, frágil e tentando disfarçar a dor, fica gravada na minha mente. Respiro fundo e caminho até a sala, onde Laura está sentada no sofá, os olhos vermelhos de tanto chorar, abraçando os próprios braços como se tentasse se proteger do mundo. Assim que me vê, ela se levanta e vem até mim, ainda tremendo.— Ramiro, por favor... não nos abandone. Ele ainda pode voltar. — A voz dela está carregada de medo e desespero. — Eu não aguento mais ver minha mãe sofrer...Seguro seu rosto com firmeza, fazendo com que ela olhe diretamente para mim.— Eu não vou abandonar vocês. Eu prometo. — Minha voz sai grave e séria, deixando claro que estou falando a verdade. — Mas agora preciso resolver isso de uma vez por todas.Laura balança a cabeça, tentando conter as lágrimas, mas falha miseravelmente. Ana aparece logo atrás dela, mais recomposta, mas ainda abatida. Caminho até ela, toco de leve
RamiroDias depoisA casa está quase vazia. Algumas caixas fechadas no canto da sala indicam que Ana está realmente seguindo em frente. Laura já saiu para a faculdade, mas não sem antes lançar uma última provocação, dizendo: — Vocês formam um belo casal! Ela ri e fecha a porta, deixando-me sozinho com a Ana.O silêncio que se instala entre nós é carregado de algo intenso. Nos olhamos por longos segundos, como se palavras fossem desnecessárias. Há dias essa tensão cresce entre nós, um desejo não declarado, um sentimento que transcende a atração física. E agora, sem mais barreiras, sem medos ou dúvidas, a verdade se impõe: queremos um ao outro.Me aproximo devagar, tocando seu rosto com a ponta dos dedos, explorando a maciez da sua pele, enquanto seus olhos me encaram com uma mistura de desejo e hesitação. — Eu quero você, Ana. Mas se não for o momento certo, eu espero… — digo, a voz rouca, carregada de emoção.Ela não responde com palavras. Em vez disso, se inclina para frente e me b
Três meses depoisBeatrizMeu coração parece uma bomba-relógio prestes a explodir. Sinto as mãos de Rafael segurando as minhas enquanto dirigimos para o hospital, mas isso não é suficiente para acalmar a tempestade dentro de mim. Tento disfarçar, focando nos pequenos detalhes: o som do motor, o movimento ritmado do limpador de para-brisa, a playlist tranquila que Rafael escolheu para a viagem. Nada disso funciona. Há seis meses ele passou pela cirurgia, e cada consulta médica desde então tem sido um teste para minha sanidade.— Vai dar tudo certo, amor. — ele diz, com aquele sorriso otimista que eu gostaria de conseguir imitar.Eu apenas murmuro um "uhum" e finjo observar o movimento da rua. A verdade é que meu maior medo é que ele esteja errado. Que o câncer não tenha acabado, que ele esteja mentindo para si mesmo, ou para mim, sobre estar bem.Chegamos ao hospital mais rápido do que eu esperava, e isso só aumenta minha ansiedade. Não tenho mais desculpas, não há mais tempo para prot
BeatrizO som de risadas infantis ecoa pela sala enquanto Rafinha tenta alcançar Giulia, que corre desajeitada pelo tapete. Minha filha mais velha se diverte ao escapar dos pequenos braços do irmão, o riso dela é tão contagiante que até Rafael, sentado ao meu lado no sofá, solta uma gargalhada. Observo a cena com um sorriso que não consigo conter. É um daqueles momentos simples, quase banais, mas que carregam uma felicidade tão genuína que parece impossível não se agarrar a ele como se fosse um tesouro.Rafael pega minha mão, e nossos olhares se encontram. Por trás do sorriso dele, vejo um lampejo de algo mais profundo: gratidão. É a mesma expressão que eu sei que também estou carregando. Depois de tudo que passamos, estar aqui, com nossos filhos, em um dia tão tranquilo, parece um presente que quase não ouso acreditar que recebemos. Ele aperta minha mão, um gesto silencioso que diz mais do que qualquer palavra.Rafinha finalmente alcança Giulia e cai sobre ela, ambos rindo descontrol
Ramiro O cheiro do café fresco paira no ar quando entro na cozinha, mas o meu peito ainda carrega o aroma de Ana. O perfume dela ficou impregnado na minha pele, lembrança de uma noite intensa que começou no instante em que ela chegou da boate, exausta, e terminou com nós dois sob a água quente do chuveiro, deixando que o desejo falasse mais alto. Agora, enquanto me sento à mesa, tento afastar o torpor do prazer recente e focar no presente.— Já fez tudo isso sozinha, Laura? — pergunto, observando a mesa perfeitamente arrumada.Ela sorri com simplicidade, os olhos brilhando com aquele carinho silencioso que aprendi a reconhecer com o tempo.— Alguém tem que cuidar dessa casa, não é? Além disso, gosto de cozinhar — responde, servindo-me uma xícara de café.— Obrigado, filha — digo, e percebo como essa palavra soa natural agora.Tomo um gole quente enquanto ela se senta à minha frente e começamos a comer juntos. O silêncio entre nós não é desconfortável. Pelo contrário, carrega uma cump