FelipeO telefone vibra em cima da mesa, interrompendo a conversa animada que temos no jantar. O nome de Rafael aparece na tela, e sei que isso não é apenas uma ligação qualquer. Todos à mesa se calam enquanto atendo, sentindo o peso do silêncio. A pequena Giulia dorme tranquilamente no sofá da sala, um contraste com a tensão que rapidamente se instala no ambiente.— Rafael, tudo bem? — pergunto, tentando manter um tom leve.Do outro lado, ele é direto, mas sua voz carrega um tom de tristeza. — Felipe, Beatriz está sentindo muito a falta da Giulia. Ela tentou ser forte, mas não consegue mais. Acho que é hora de devolvê-la.As palavras pairam no ar como um soco. Olho para minha mãe, Giulia, que desvia os olhos da mesa. Ao redor, os rostos variam entre a surpresa e o entendimento. Meu coração pesa, mas sei que Rafael está certo.— Eu entendo, Rafael. Diga a Beatriz que vamos organizar tudo para levar a Giulia de volta em alguns dias.Quando desligo, o silêncio se torna quase insuportáve
GiuliaCada detalhe está em seu lugar, exceto a minha mente, que insiste em vagar. Estou caminhando pela mansão, inspecionando os cômodos, os corredores, o jardim. A casa respira história e poder, mas hoje sinto um peso diferente no ar. Quando encontro Don Falcone no escritório, ele levanta os olhos de um relatório, e sua presença parece dominar o ambiente. Não sei dizer se é por causa do que está acontecendo ou do jeito que ele me olha, mas alguma coisa mudou.— Don, que tal irmos juntos à sede? — sugiro, tentando parecer casual. — Temos muito trabalho acumulado e seria bom alinhar algumas coisas pessoalmente.Ele me observa por um instante, como se considerasse algo além do que eu disse, mas então assente. — Vamos.No carro, o silêncio entre nós é confortável, mas carregado. Na sede, trabalhamos em perfeita sintonia. É impressionante como nossas mentes se complementam; quando ele fala, já sei o que fazer, e ele parece antecipar meus pensamentos antes mesmo de eu dizer algo. Em me
Don FalconeEu me sinto como um garoto de quinze anos outra vez, perdido em uma confusão de sentimentos que não deveria mais pertencer a um homem da minha idade. Estou sentado no escritório, revisando relatórios que não conseguem prender minha atenção. A cada página, meus pensamentos são interrompidos por um par de olhos azuis, uma risada suave, o jeito firme e elegante de Giulia. E então, o beijo. Malldito beijo.Eu não deveria tê-la beijado. Não deveria sequer ter permitido que aquele momento acontecesse. Mas agora que aconteceu, não consigo apagar a sensação de seus lábios nos meus, do calor do seu corpo, do modo como ela gemeu, mesmo que suavemente. É insano, completamente insano, como ela me faz sentir algo que eu pensei ter morrido junto com a Anna.Estou dividido entre o desejo e a culpa. Anna foi a minha alma gêmea, a mulher que moldou a melhor versão de mim. Desde que ela partiu, me convenci de que meu coração havia sido enterrado com ela. Mas Giulia... ela mexe comigo de uma
FelipeEu nunca pensei que um sorriso tão pequeno pudesse carregar tanto peso. Giulia está no banco de trás, abraçando a sua boneca favorita, os cabelos loiros balançando ao vento, enquanto Vivian canta baixinho para ela. O carro desliza suavemente pela estrada, mas dentro de mim, a tensão é um nó que não se desfaz. Hoje é o último dia de Giulia conosco no Rio de Janeiro, e cada segundo parece escorrer pelos meus dedos como areia fina. Beatriz não aguenta mais a distância, e por mais que eu entenda, isso não torna a despedida mais fácil.Vivian segura minha mão enquanto dirijo. Seus olhos me observam com uma ternura que me desmonta. Ela sabe como estou me sentindo, porque sente o mesmo. Desde que soubemos que a pequena voltaria para a mãe, o clima entre nós ficou denso, mas decidimos não deixar isso apagar o brilho do dia de hoje. Esse é o nosso momento, e nada vai tirar isso de nós.Chegamos ao parque, um lugar cercado por montanhas e verde por todos os lados. O som da água correndo
GiuliaA água quente envolve meu corpo como um abraço, mas é o calor das minhas lembranças que realmente me consome. O vapor sobe ao meu redor, embaçando o espelho do banheiro, enquanto meus dedos deslizam pela pele molhada, massageando-a quase sem pensar. Não deveria estar pensando nisso, mas o beijo do Don Falcone continua invadindo a minha mente. A intensidade, o gosto, a forma como ele me segurou como se o mundo inteiro pudesse desmoronar ao nosso redor e ainda assim ele não me soltaria. Meu corpo reage à lembrança, uma onda de calor que não tem nada a ver com a água da banheira.Fecho os olhos e vejo o rosto dele, a expressão contida de desejo que se tornou inegavelmente explícita quando senti seu membro rígido pressionado contra mim. Minha respiração acelera, e uma inquietação toma conta de mim. Não posso continuar com esses pensamentos. Isso é errado, não é? Ou talvez seja apenas... inevitável.Saio da banheira, a água escorrendo pelo meu corpo em filetes quentes. Pego uma toa
Don FalconeO silêncio do quarto é denso, quebrado apenas pelo som de nossas respirações pesadas. Giulia está deitada ao meu lado, a pele ainda quente e rosada, os cabelos emaranhados sobre o travesseiro. Minha mente está um caos. Depois da morte de Anna, eu jamais pensei que poderia experimentar algo além do vazio quando se tratava de intimidade. Tudo o que fiz desde então foi sex0, um ato físico para satisfazer uma necessidade, nada além de uma fodah com uma puttinha gostosa. Mas com Giulia... isso foi diferente. Devastadoramente diferente.Fecho os olhos, mas a sensação dela ainda está em mim. O gosto de sua pele, o som suave de seus gemidos, a forma como seus olhos se fecharam e seus lábios sussurraram o meu nome. Ela se entregou a mim sem reservas, e eu a tomei como se precisasse dela para respirar. E talvez precise. Não sou um homem que se engana facilmente, mas algo em Giulia quebrou barreiras que eu jurava serem inquebráveis.Quando ela entrou no corredor, vestindo aquela cam
FelipeÉ um absurdo como a vida parece ser uma sequência de despedidas que você nunca está pronto para enfrentar. Mas hoje, enquanto coloco o casaco no pequeno corpo de minha filha, Giulia, sinto como se estivesse amarrando um nó em meu próprio peito. Não importa quantas vezes eu me diga que isso é o certo, que ela precisa da mãe, a Beatriz, o vazio que fica quando ela não está comigo sempre me atinge como um soco. Mas hoje é diferente. Hoje, há algo no ar, uma tensão invisível, como se o universo estivesse conspirando para tornar essa despedida ainda mais insuportável.Vivian, ao meu lado, termina de ajeitar o lacinho no cabelo da pequena, a sua paciência contrastando com a urgência que sinto. Giulia está animada, os seus olhos brilhando com a inocência de quem ainda não entende o peso que carrega nos corações ao seu redor. Ela segura uma boneca de pano que uma das empregadas da mansão fez para ela.Descemos para a sala, e a cena que nos espera é um golpe no estômago. Minha mãe, Giul
Felipe— Então, Felipe, já tá preparado para ter mais um correndo pela casa? Ou vai desmaiar no parto? — Ele brinca, fazendo referência à gravidez de Vivian.— Engraçado, Rafael. Só quero ver você se virar quando for sua vez de trocar fralda, porque isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde, sabe que o seu sobrinho vem ficar com vocês também, não é?. — Respondo, com um sorriso que sei que o irrita.Vivian, ao meu lado, já está rindo. Mas é Marcos quem rouba a cena. Ele praticamente corre até nós, segurando Vivian pelo braço com tanta delicadeza que parece estar lidando com cristal.— Cuidado com essa mulher, Felipe. Se fosse eu, carregava ela no colo o tempo inteiro. — Ele comenta, exagerado como sempre, mas com um tom genuíno que faz Vivian corar.— Marcos, se continuar assim, vou acabar acreditando que você quer disputar meu lugar. — Respondo, com uma piscadela, enquanto ele se afasta com Vivian, garantindo que ela não tropece no caminho para o carro.Seguimos todos juntos até o co