MarcosA campainha toca pela última vez hoje, e ao abrir a porta, vejo o olhar perdido de Yasmin, uma mala pequena em uma das mãos e um caderno apertado contra o peito com a outra. Algo nela é um grito silencioso de socorro, e minha garganta aperta. Teresa está logo atrás de mim, sorrindo, tentando tornar tudo menos assustador. Mas eu sei que este momento vai mudar nossas vidas para sempre.— Venha, Yasmin. Vamos mostrar onde você vai dormir — digo com a voz mais suave que consigo. Teresa pega sua mala e conduz a pequena até o quarto de hóspedes, agora temporariamente dela. As paredes brancas parecem desoladoras, e enquanto Yasmin se senta na beirada da cama, cruzando os braços sobre o caderno como se fosse um escudo, Teresa quebra o silêncio.— Estamos pensando em redecorar este quarto. Como você gostaria que fosse? — pergunta ela, e a menina ergue os olhos, hesitante. — Pode ser do jeito que você quiser. Cor favorita, temas... o que você gostar.Yasmin franze o cenho, processando.
Gian CarloO silêncio no carro é quase ensurdecedor enquanto dirijo de volta para casa. Meu corpo está cansado, os músculos tensos depois de um dia interminável na construtora. Reuniões com acionistas, números que não batiam, balanços que precisavam de explicações convincentes, tudo parecia ser um teste à minha paciência. Mas não é só isso. Algo mais profundo me incomoda, algo que não consigo ignorar. E, no fundo, sei exatamente o que é.Chego à mansão, estaciono o carro na garagem e entro pela porta da frente. O aroma de comida fresca me atinge, mas não é reconfortante. Sinto um nó se formar no estômago antes mesmo de avistar Giulia, que está jantando sozinha na enorme mesa de mármore da sala de jantar. Ela está calmamente cortando um pedaço de carne, como se nada pudesse abalar sua compostura.— Onde está Maria? — pergunto, direto. Não quero rodeios.Giulia levanta os olhos lentamente, como se pesasse suas palavras. — Sente-se, Gian Carlo. Coma alguma coisa.— Não estou com fome. Qu
Gian CarloA porta do quarto se abre sem aviso, e a minha mãe entra como um furacão, com os olhos brilhando de determinação. Ela fecha a porta atrás de si, cruzando os braços enquanto me encara.— Precisamos terminar essa conversa!Eu solto uma risada amarga, olhando para ela com exaustão. — Você quer dizer o que? Terminar de me esmagar, não é?Ela ignora meu tom e dá um passo à frente. — Você tem duas opções, Gian Carlo. Ou manda Geisa embora do apartamento logo, ou eu desfaço o acordo de casamento com a máfia americana que colocou Maria na sua vida.Minha cabeça gira. A ameaça é como um golpe direto no estômago. Olho para ela, incrédulo. — Você está blefando.— Não estou filho. — Ela fala com uma calma assustadora, o tipo de calma que só Giulia consegue ter quando está prestes a destruir tudo à sua volta. — Maria foi dada a você com um propósito, Gian Carlo. Ela é mais do que apenas uma garota. Ela é uma peça em um tabuleiro muito maior, e eu não vou permitir que você brinque co
BeatrizA sala de conferências virou o meu segundo lar, os olhos fixos nos monitores, analisando cada movimento transmitido pelas câmeras dos brincos e colares. A operação de hoje é praticamente um replay da noite anterior, mas a tensão parece ainda maior. Autorizei a entrada do grupo na boate há poucos minutos, e agora é o momento de observar e garantir que tudo corra como planejado.Lua e Luana entraram com Robert e Rodrigo, os quatro impecavelmente caracterizados como jovens que vieram para se divertir e curtir a noite. Desta vez, eles estão interpretando dois casais. Lua e Rodrigo trocam olhares e risos como se fossem namorados apaixonados, enquanto Luana e Robert simulam uma cumplicidade que parece natural demais para algo encenado.Tobias, como na noite anterior, está disfarçado de segurança. Sua presença imponente ronda discretamente o grupo, sempre atento a qualquer sinal de perigo. Ele sabe exatamente onde deve estar para parecer invisível, mas é a sombra protetora que não d
BeatrizMárcio sorri, como se estivesse esperando essa pergunta.— Proporcionamos experiências. Não é todo dia que meninas como vocês têm a oportunidade de viver uma vida de luxo, rodeadas de pessoas influentes.— Influentes, como quem? — Lua pergunta, inclinando a cabeça, a expressão perfeitamente curiosa.Letícia lança um olhar cauteloso para Márcio, mas ele responde:— Políticos, empresários, artistas... Gente que pode mudar sua vida.No instante em que ele termina a frase, o sinal de Lua é enviado. Eles conseguiram o suficiente.— É hora de agir. — Minha voz corta o silêncio na sala de conferências.Rafael se levanta do banco no bar, ajustando sua jaqueta, enquanto Priscila e Lucas começam a se movimentar discretamente. Tobias se aproxima como se estivesse atendendo a uma solicitação de segurança.Na sala, Teresa e Ramiro se posicionam atrás de mim, enquanto dou as últimas instruções pelo fone.— Eles não podem sair da boate com as meninas. Fechem o cerco agora.Nos monitores, vej
Beatriz — Aqui fora, vocês não têm os mesmos privilégios que na boate. Querem falar agora ou preferem que tornemos isso mais complicado?Tobias, discreto, posiciona-se estrategicamente perto da porta, bloqueando qualquer possibilidade de fuga.— Não temos nada a dizer. — Letícia rebate, desafiadora.Rafael ignora, dirigindo-se a Márcio.— Você não parece tão confiante quanto ela. Quanto mais rápido colaborar, mais chances de não sair daqui em pedaços.Márcio olha de Letícia para Rafael, hesitante, enquanto Tobias cruza os braços, acrescentando à pressão silenciosa.— Eles não ligam para você, Márcio. — Rafael continua, sua voz gélida. — Quem está no topo vai sacrificar você sem pensar duas vezes.Márcio finalmente começa a tremer, os lábios movendo-se como se quisesse falar, mas Letícia o interrompe com um olhar cortante.— Cala a boca!Tobias avança, parando a centímetros de Letícia, a voz baixa e ameaçadora.— Talvez você devesse ser a próxima a calar a boca.Rafael faz um sinal p
Don FalconeA noite está mais densa do que o normal, como se o ar em torno de mim carregasse um pressentimento. A escuridão da minha sala não me incomoda; sempre preferi os lugares silenciosos, onde o poder não precisa ser gritado, apenas sentido. O relógio na parede faz um som suave e rítmico, cada tique-teque parecendo marcar mais um segundo de uma vida cheia de cálculos. Não há espaço para o erro aqui. Eu sou Don Falcone, e a palavra "fraqueza" não existe no meu vocabulário.A morte da minha esposa, Anna, foi o ponto final de uma parte da minha vida. O infarto não a levou apenas fisicamente, mas também levou algo dentro de mim — uma chama, uma vulnerabilidade que eu nunca imaginei ter. Desde aquele dia, a solidão tem sido minha única companhia constante. Nenhuma mulher, nenhuma amante, ninguém mais jamais se aproximou de mim com a mesma intensidade. Não porque eu não possa, mas porque eu não quero. A dor de perder Anna me tornou imune a qualquer tipo de apego. E, no entanto, ainda
BeatrizLiam, com as mãos ágeis sobre o teclado, acrescenta:— Vou programar um protocolo de alerta em tempo real. Qualquer movimento suspeito ou interação fora do padrão, vocês saberão na hora.Rafael aparece na tela, direto do galpão. Ele está ao lado de Tobias, ambos ainda no calor do interrogatório.— Beatriz, temos tudo o que precisamos aqui. — a sua voz é firme, mas o olhar carrega a exaustão de horas de pressão. — Vamos transportá-los agora.Beatriz assente, respondendo rapidamente:— Entendido. Levem os dois para a cela temporária, porém quero os presos afastados e amanhã os colocaremos para confirmar as identidades do pessoal que estará na boate.Tobias segue Rafael até o carro. Ele ainda sente a tensão nos ombros, mas seu foco permanece firme. Tobias murmura:— Amanhã será o dia mais difícil.Rafael o encara e diz, com frieza:— Ou o mais definitivo.Consigo sentir a determinação dos dois.Reúno a equipe para os preparativos finais.— Amanhã, a missão será de infiltração tot