Don FalconeA noite está mais densa do que o normal, como se o ar em torno de mim carregasse um pressentimento. A escuridão da minha sala não me incomoda; sempre preferi os lugares silenciosos, onde o poder não precisa ser gritado, apenas sentido. O relógio na parede faz um som suave e rítmico, cada tique-teque parecendo marcar mais um segundo de uma vida cheia de cálculos. Não há espaço para o erro aqui. Eu sou Don Falcone, e a palavra "fraqueza" não existe no meu vocabulário.A morte da minha esposa, Anna, foi o ponto final de uma parte da minha vida. O infarto não a levou apenas fisicamente, mas também levou algo dentro de mim — uma chama, uma vulnerabilidade que eu nunca imaginei ter. Desde aquele dia, a solidão tem sido minha única companhia constante. Nenhuma mulher, nenhuma amante, ninguém mais jamais se aproximou de mim com a mesma intensidade. Não porque eu não possa, mas porque eu não quero. A dor de perder Anna me tornou imune a qualquer tipo de apego. E, no entanto, ainda
BeatrizLiam, com as mãos ágeis sobre o teclado, acrescenta:— Vou programar um protocolo de alerta em tempo real. Qualquer movimento suspeito ou interação fora do padrão, vocês saberão na hora.Rafael aparece na tela, direto do galpão. Ele está ao lado de Tobias, ambos ainda no calor do interrogatório.— Beatriz, temos tudo o que precisamos aqui. — a sua voz é firme, mas o olhar carrega a exaustão de horas de pressão. — Vamos transportá-los agora.Beatriz assente, respondendo rapidamente:— Entendido. Levem os dois para a cela temporária, porém quero os presos afastados e amanhã os colocaremos para confirmar as identidades do pessoal que estará na boate.Tobias segue Rafael até o carro. Ele ainda sente a tensão nos ombros, mas seu foco permanece firme. Tobias murmura:— Amanhã será o dia mais difícil.Rafael o encara e diz, com frieza:— Ou o mais definitivo.Consigo sentir a determinação dos dois.Reúno a equipe para os preparativos finais.— Amanhã, a missão será de infiltração tot
TeresaO cheiro da noite ainda gruda em mim enquanto caminho ao lado de Marcos. A adrenalina da operação que acabamos de encerrar pulsa em minhas veias, mas tudo que quero agora é chegar em casa. Ele passa a mão na minha cintura, o toque firme e confortante que sempre me acalma, e caminhamos juntos pela calçada deserta. O silêncio da madrugada é quebrado apenas pelo som dos nossos passos, mas algo em mim se agita com uma mistura de exaustão e ansiedade.Ao abrir a porta de casa, hesito. Há algo no ar, uma sensação de que o mundo que deixamos ao sair para a operação não é o mesmo ao qual retornamos. Assim que empurro a porta, a bagunça na sala me faz parar. Um pote de sorvete derretido está esquecido sobre a mesa de centro. Tigelas de pipoca vazias estão espalhadas pelo chão, e a TV ainda está ligada, exibindo um filme que ninguém está assistindo. No sofá, Vivian está encolhida no peito de Felipe, ambos dormindo profundamente. No outro canto, John dorme abraçado com Yasmin, a nossa pe
BeatrizMonitoro as câmeras em mais um dia de operação. Os alvos estão todos onde deveriam estar, e o senador Daniel Prado conversa com Letícia enquanto observa Lua e Luana com interesse crescente.Dentro da área VIP, Lua e Luana mantêm a postura descontraída, mas seus olhos captam cada detalhe do ambiente. Rodrigo e Robert, ao lado delas, também permanecem atentos, parecendo apenas jovens acompanhando suas colegas da escola.No bar, Rafael pede mais um drink sem álcool, mas mantém os olhos fixos na área VIP. Priscila e Lucas, sentados a algumas mesas de distância, trocam olhares e sorrisos, fingindo ser apenas mais um casal apaixonado. Tobias, em sua função de segurança, está estrategicamente posicionado perto da entrada da área VIP, observando cada movimento.Na sala de conferências, Liam ajusta as câmeras e murmura para mim:— O senador parece interessado nas meninas. Letícia está vendendo a ideia.Beatriz assente, mantendo o olhar fixo nas telas.— Essa é a confirmação que precisá
BeatrizObservo atentamente as imagens enquanto falo:— Liam, quero todo o tráfego de dados da Luxor agora. Se alguém tentar apagar algo, precisamos recuperar. Teresa, notifique as equipes externas para reforço. Essa operação ainda não acabou.Ramiro assente, ainda tenso.— É melhor retirarmos o senador discretamente. Se a imprensa souber agora, podemos comprometer o resgate das outras meninas.Beatriz concorda.— Rafael, conduzam todos para os veículos pela área de cargas, saiam pelos fundo imediatamente. Tobias, coordene a saída sem chamar atenção.Rafael acena me deixando claro que entendeu e faz sinal para Lucas e Priscila.— Vocês levam as meninas para fora. Rodrigo, Robert, escoltem elas. Não quero riscos.Lucas e Priscila conduzem Lua e Luana até a saída, passando pelo salão sem atrair olhares. As duas jovens mantêm as cabeças baixas, enquanto Rodrigo e Robert garantem que ninguém se aproxime.Tobias, por outro lado, coordena a saída dos alvos. O senador é colocado em um dos ve
RafaelChego ao condomínio com Marcos, André, Lucas, Priscila e Tobias. A tensão do dia ainda paira no ar, mas ao cruzar os portões e ver o ambiente tranquilo, sinto uma pequena onda de alívio. Cada um de nós tem um breve momento de despedida, um aceno, um “até logo”. Há muito ainda a ser feito, mas, por agora, podemos respirar.Quando entro na sala de conferências, Beatriz está em frente aos monitores, analisando algo com aquela concentração que a faz parecer inalcançável.— Bia, — chamo com um tom firme, mas carinhoso. — Já chega por hoje, meu amor.Ela protesta imediatamente, sem nem olhar para mim.— Rafael, eu só preciso verificar mais alguns detalhes. Se a gente não...— Não. Você vai para casa comigo. Agora!Ela finalmente levanta os olhos, um pouco surpresa, mas vejo que o cansaço começa a se sobrepor à teimosia. Depois de alguns segundos de hesitação, ela suspira, desliga os monitores e pega suas coisas.No caminho para casa, Beatriz quebra o silêncio.— As crianças estão to
Don FalconeO telefone em minha mão pesa mais do que deveria, mas a tensão que sinto vai além do aço frio que carregamos no sangue da máfia. Meu plano era simples, resolver as questões no Brasil, encontrar respostas sobre a morte de Cesare e sondar a aliança de Giulia com os americanos. Mas no nosso mundo, nada permanece simples por muito tempo. E agora, os russos resolveram testar a minha paciência.— Giulia. — Digo assim que ela atende. Minha voz é firme, mas controlada. Ela merece respeito, ainda que eu não baixe minha guarda nem por um segundo. — Preciso adiar a minha viagem. Houveram... complicações aqui.Ela fica em silêncio por um momento, mas eu sei que sua mente trabalha rápido. Giulia não é do tipo que faz perguntas desnecessárias.— Algo grave? — sua voz é calma, mas percebo o peso da preocupação nas entrelinhas.— Um carregamento de armas foi interceptado. — Respondo, caminhando até a janela de meu escritório, onde a noite em Palermo é iluminada pelas luzes da cidade. —
BeatrizDe volta a sala de conferências, ao lado de Teresa, Liam e Ramiro, cada um concentrado em sua função enquanto acompanhamos a equipe que foi para a casa onde o leilão será realizado. O silêncio aqui é quase sufocante, quebrado apenas pelo som dos teclados de Liam enquanto ele monitora e invade o sistema de câmeras do local.— Estou dentro. — Liam anuncia, ajustando os ângulos das câmeras para que possamos ter uma visão completa do que está acontecendo.Ramiro, ao meu lado, respira fundo, os punhos cerrados. Teresa mantém os olhos na tela, mas sua postura rígida denuncia o nervosismo.Na tela, vejo Rafael liderando o grupo. Todos com balaclavas, os rostos escondidos, armados e determinados. Eles entram na casa em silêncio, movimentando-se como sombras pelo enorme salão. O ambiente é luxuoso, mas o que está acontecendo ali dentro é repugnante.Adolescentes estão sentadas em um canto, vestidas com roupas que mal cobrem seus corpos, os olhos assustados. Homens e mulheres ricos circ