Gian CarloA porta do quarto se abre sem aviso, e a minha mãe entra como um furacão, com os olhos brilhando de determinação. Ela fecha a porta atrás de si, cruzando os braços enquanto me encara.— Precisamos terminar essa conversa!Eu solto uma risada amarga, olhando para ela com exaustão. — Você quer dizer o que? Terminar de me esmagar, não é?Ela ignora meu tom e dá um passo à frente. — Você tem duas opções, Gian Carlo. Ou manda Geisa embora do apartamento logo, ou eu desfaço o acordo de casamento com a máfia americana que colocou Maria na sua vida.Minha cabeça gira. A ameaça é como um golpe direto no estômago. Olho para ela, incrédulo. — Você está blefando.— Não estou filho. — Ela fala com uma calma assustadora, o tipo de calma que só Giulia consegue ter quando está prestes a destruir tudo à sua volta. — Maria foi dada a você com um propósito, Gian Carlo. Ela é mais do que apenas uma garota. Ela é uma peça em um tabuleiro muito maior, e eu não vou permitir que você brinque co
BeatrizA sala de conferências virou o meu segundo lar, os olhos fixos nos monitores, analisando cada movimento transmitido pelas câmeras dos brincos e colares. A operação de hoje é praticamente um replay da noite anterior, mas a tensão parece ainda maior. Autorizei a entrada do grupo na boate há poucos minutos, e agora é o momento de observar e garantir que tudo corra como planejado.Lua e Luana entraram com Robert e Rodrigo, os quatro impecavelmente caracterizados como jovens que vieram para se divertir e curtir a noite. Desta vez, eles estão interpretando dois casais. Lua e Rodrigo trocam olhares e risos como se fossem namorados apaixonados, enquanto Luana e Robert simulam uma cumplicidade que parece natural demais para algo encenado.Tobias, como na noite anterior, está disfarçado de segurança. Sua presença imponente ronda discretamente o grupo, sempre atento a qualquer sinal de perigo. Ele sabe exatamente onde deve estar para parecer invisível, mas é a sombra protetora que não d
BeatrizMárcio sorri, como se estivesse esperando essa pergunta.— Proporcionamos experiências. Não é todo dia que meninas como vocês têm a oportunidade de viver uma vida de luxo, rodeadas de pessoas influentes.— Influentes, como quem? — Lua pergunta, inclinando a cabeça, a expressão perfeitamente curiosa.Letícia lança um olhar cauteloso para Márcio, mas ele responde:— Políticos, empresários, artistas... Gente que pode mudar sua vida.No instante em que ele termina a frase, o sinal de Lua é enviado. Eles conseguiram o suficiente.— É hora de agir. — Minha voz corta o silêncio na sala de conferências.Rafael se levanta do banco no bar, ajustando sua jaqueta, enquanto Priscila e Lucas começam a se movimentar discretamente. Tobias se aproxima como se estivesse atendendo a uma solicitação de segurança.Na sala, Teresa e Ramiro se posicionam atrás de mim, enquanto dou as últimas instruções pelo fone.— Eles não podem sair da boate com as meninas. Fechem o cerco agora.Nos monitores, vej
Beatriz — Aqui fora, vocês não têm os mesmos privilégios que na boate. Querem falar agora ou preferem que tornemos isso mais complicado?Tobias, discreto, posiciona-se estrategicamente perto da porta, bloqueando qualquer possibilidade de fuga.— Não temos nada a dizer. — Letícia rebate, desafiadora.Rafael ignora, dirigindo-se a Márcio.— Você não parece tão confiante quanto ela. Quanto mais rápido colaborar, mais chances de não sair daqui em pedaços.Márcio olha de Letícia para Rafael, hesitante, enquanto Tobias cruza os braços, acrescentando à pressão silenciosa.— Eles não ligam para você, Márcio. — Rafael continua, sua voz gélida. — Quem está no topo vai sacrificar você sem pensar duas vezes.Márcio finalmente começa a tremer, os lábios movendo-se como se quisesse falar, mas Letícia o interrompe com um olhar cortante.— Cala a boca!Tobias avança, parando a centímetros de Letícia, a voz baixa e ameaçadora.— Talvez você devesse ser a próxima a calar a boca.Rafael faz um sinal p
Don FalconeA noite está mais densa do que o normal, como se o ar em torno de mim carregasse um pressentimento. A escuridão da minha sala não me incomoda; sempre preferi os lugares silenciosos, onde o poder não precisa ser gritado, apenas sentido. O relógio na parede faz um som suave e rítmico, cada tique-teque parecendo marcar mais um segundo de uma vida cheia de cálculos. Não há espaço para o erro aqui. Eu sou Don Falcone, e a palavra "fraqueza" não existe no meu vocabulário.A morte da minha esposa, Anna, foi o ponto final de uma parte da minha vida. O infarto não a levou apenas fisicamente, mas também levou algo dentro de mim — uma chama, uma vulnerabilidade que eu nunca imaginei ter. Desde aquele dia, a solidão tem sido minha única companhia constante. Nenhuma mulher, nenhuma amante, ninguém mais jamais se aproximou de mim com a mesma intensidade. Não porque eu não possa, mas porque eu não quero. A dor de perder Anna me tornou imune a qualquer tipo de apego. E, no entanto, ainda
BeatrizLiam, com as mãos ágeis sobre o teclado, acrescenta:— Vou programar um protocolo de alerta em tempo real. Qualquer movimento suspeito ou interação fora do padrão, vocês saberão na hora.Rafael aparece na tela, direto do galpão. Ele está ao lado de Tobias, ambos ainda no calor do interrogatório.— Beatriz, temos tudo o que precisamos aqui. — a sua voz é firme, mas o olhar carrega a exaustão de horas de pressão. — Vamos transportá-los agora.Beatriz assente, respondendo rapidamente:— Entendido. Levem os dois para a cela temporária, porém quero os presos afastados e amanhã os colocaremos para confirmar as identidades do pessoal que estará na boate.Tobias segue Rafael até o carro. Ele ainda sente a tensão nos ombros, mas seu foco permanece firme. Tobias murmura:— Amanhã será o dia mais difícil.Rafael o encara e diz, com frieza:— Ou o mais definitivo.Consigo sentir a determinação dos dois.Reúno a equipe para os preparativos finais.— Amanhã, a missão será de infiltração tot
TeresaO cheiro da noite ainda gruda em mim enquanto caminho ao lado de Marcos. A adrenalina da operação que acabamos de encerrar pulsa em minhas veias, mas tudo que quero agora é chegar em casa. Ele passa a mão na minha cintura, o toque firme e confortante que sempre me acalma, e caminhamos juntos pela calçada deserta. O silêncio da madrugada é quebrado apenas pelo som dos nossos passos, mas algo em mim se agita com uma mistura de exaustão e ansiedade.Ao abrir a porta de casa, hesito. Há algo no ar, uma sensação de que o mundo que deixamos ao sair para a operação não é o mesmo ao qual retornamos. Assim que empurro a porta, a bagunça na sala me faz parar. Um pote de sorvete derretido está esquecido sobre a mesa de centro. Tigelas de pipoca vazias estão espalhadas pelo chão, e a TV ainda está ligada, exibindo um filme que ninguém está assistindo. No sofá, Vivian está encolhida no peito de Felipe, ambos dormindo profundamente. No outro canto, John dorme abraçado com Yasmin, a nossa pe
Cesare VassaloNo silêncio da madrugada, enquanto o mundo lá fora repousa em uma falsa sensação de segurança, eu permaneço desperto. Meu mundo não conhece descanso. Aqui, não há espaço para fraqueza. A máfia não perdoa os despreparados, e eu sou a prova viva de que sobreviver é uma arte cruel.Diante do público, sou Cesare Vassalo, magnata de uma das maiores empreiteiras do Brasil, um homem de negócios impecável e dono de um império. Mas nas sombras, sou o estrategista implacável, o arquiteto de cada movimento no tabuleiro da máfia. Minhas mãos são de ferro, e meu coração, uma fortaleza. O destino me moldou para liderar, mas não sem antes me testar de todas as formas possíveis.Parte dessa provação foi Giulia. Ah, Giulia... Quando me forçaram a me casar, encarei o matrimônio como uma negociação, um acordo entre famílias que perpetuava o poder. As mulheres, para mim, eram ferramentas úteis, nada mais. Porém, naquele altar, ao levantar o véu de Giulia, o que vi não foi fragilidade, mas u