LipeAo entrar na sede da máfia, o ambiente parece normal, mas há algo no ar que não consigo ignorar. Uma tensão que me faz ficar mais atento. Caminho pelos corredores e noto meu pai, Cesare, em sua sala, concentrado no computador. Ele parece tão absorto que nem percebe minha presença quando passo.Resolvo ir até a sala onde trabalho. Enquanto preparo os relatórios que ninguém realmente verifica, algo me inquieta. A porta da sala de Cesare está entreaberta, e vejo que ele saiu às pressas, provavelmente para uma reunião. Deixo tudo de lado e, por pura intuição, volto ao seu escritório.Quando entro, percebo que o computador dele ainda está ligado. A tela aberta, sem bloqueio por senha. Não posso perder essa chance. Algo dentro de mim diz que isso não é coincidência.Começo a explorar os arquivos rapidamente. Acessando pastas e documentos, vejo informações sobre movimentações financeiras, rotas de carregamentos ilegais, e... meu nome.Meu sangue gela. Meu nome está associado a palavras
FelipeDirijo com o pé fundo no acelerador, o suor escorrendo pelas têmporas enquanto mantenho os olhos na estrada e nos retrovisores. O motor do carro ronca alto, mas não o suficiente para abafar o som dos tiros que começam a ecoar atrás de nós. Meu coração bate forte, mas minha mente permanece focada. Não posso perder o controle agora.— Temos companhia — digo, o olhar rápido no espelho, vendo o carro preto nos seguindo de perto.Vívian, ao meu lado, já está ajustando o assento, os olhos afiados como lâminas. Ela não precisa de instruções.— Liga para o Rafael. — diz ela, enquanto alcança a arma no compartimento escondido.Com uma mão no volante, abro o viva voz e disco rapidamente. Rafael atende no segundo toque.— O que foi, Felipe?— Estamos sendo seguidos, tiros disparados. Estou a caminho do hangar, mas temos problemas sérios aqui. — digo, a voz firme, mas tensa.— Quem está atirando? Quantos carros? — Rafael pergunta, claramente em alerta.— Um, talvez dois. Ainda não sei. Só
LipeDiante do homem que me criou, vejo o filme de toda a minha vida diante de mim.Ele deveria ter cuidado de mim, me defendido, lutado pela minha felicidade,mas não, estou diante do homem que destruiu o que eu tinha de mais sagrado, perdi os primeiros momento da minha filha...Não respondo nada a ele. Meu dedo aperta o gatilho. Um único disparo. A sala reverbera o mínimo som do tiro abafado pelo silenciador, e Cesare cai para trás, o corpo inerte.— Lipe... — Vívian sussurra, a voz trêmula.Giulia e Gian chegam correndo, pálidos. Minha mãe cobre a boca com as mãos, o choque estampado no rosto.— O que você fez? — ela murmura, com os olhos arregalados.— O que tinha que ser feito. — respondo. Minha voz não treme, mas por dentro, sinto uma tempestade.Gian Carlo, sempre tão controlado, perde o equilíbrio e se apoia na parede. Mas, em vez de gritar ou me enfrentar, ele suspira profundamente e pega o celular.— Vou resolver isso, como sempre faço — ele diz, já discando o número do médic
LipeA sala estava carregada com uma tensão quase palpável, como se a própria máfia estivesse presente, observando cada palavra, cada movimento. O silêncio foi quebrado pela minha voz firme:— Bem-vinda à família, Vívian.A tensão na sala parece diminuir um pouco, mas ainda paira no ar como uma tempestade prestes a cair. Gian caminha de um lado para o outro, claramente processando tudo. Minha mãe se senta finalmente, os olhos fixos em Vívian, analisando-a como só uma mãe sabe fazer.Vívian esboçou um sorriso tímido, mas antes que pudesse agradecer, Gian explodiu:— Isso é uma piada, certo? — Sua voz era um misto de incredulidade e fúria. Ele se levantou abruptamente, apontando o dedo na minha direção. — Primeiro você mata nosso pai, e agora espera que aceitemos isso como se fosse um jantar em família? Sem nem sequer pensarmos nas consequências?Suspiro, mantendo a calma.— Gian, eu não esperava que você entendesse de imediato. Sei que é muita coisa para digerir. Mas se eu não tivesse
GiuliaEstou sentada na poltrona do meu quarto, o silêncio pairando pesado ao meu redor. Meu coração está dividido entre a dor, a raiva e uma determinação que parece crescer com cada respiração que eu tomo. Perder Cesare... o homem com quem construí uma vida, que foi meu parceiro em tantas batalhas, é uma ferida que ainda não consigo processar totalmente.Mas como posso lamentar por alguém que traiu tanto, que causou tanta dor? Ele destruiu vidas, inclusive a de Beatriz e da minha neta, a Giulia, sem sequer pestanejar. E pensar que ele me fez viver anos cega por ilusões, ignorando o verdadeiro monstro que se escondia por trás do homem que eu amava. Isso me queima por dentro.Felipe fez o que precisava ser feito. Era ele ou Cesare, e eu sei disso. Mas, mesmo assim, é difícil aceitar que tudo acabou dessa forma. No entanto, se tem uma coisa que sei fazer, é proteger os meus, e agora não é diferente.Levanto-me e caminho até meu quarto. Cada passo é pesado, mas cada movimento meu está ch
LipeO vento cortante da tarde soprava como uma advertência. Do alto da varanda dos fundos da mansão, a paisagem se estendia até onde o horizonte engolia a luz do dia, agora engolida pelo crepúsculo. Fecho os olhos por um momento, tentando me preparar para o que está por vir. Minha mente está um turbilhão de decisões e arrependimentos, mas sei que não posso hesitar. Hoje vou me despedir da minha mãe. As palavras estão presas na garganta, como se minha voz tivesse medo de tornar tudo isso real.Quando me viro, não preciso chamá-la. Giulia está lá, como sempre, prevendo meu próximo passo antes mesmo que eu o dê. Ela tem esse olhar penetrante, capaz de fazer você se sentir exposto, mesmo quando tenta esconder algo.— Você e Vívian ficam na mansão comigo. — diz ela, com a autoridade de quem sabe que não há espaço para questionamentos. — Ainda não sei até onde as ordens de Cesare alcançam, e não vou arriscar.Seu tom é firme, e não há brechas para debate. Apenas assinto, mesmo que a vontad
Giulia VassaloDois dias depoisSubo os degraus da mansão com Gian, Felipe e Vivian me seguindo em silêncio. Não digo nada até chegarmos aos quartos. Paro no corredor e me viro para eles.— Vocês têm 30 minutos para se arrumarem. Vamos à sede da máfia. Quero tudo resolvido hoje.Eles trocam olhares, mas ninguém se atreve a questionar. Entro no meu quarto, tiro a roupa que ainda carrega o cheiro do dia anterior e tomo um banho rápido. Quando estou pronta, com o cabelo preso e o olhar fixo no espelho, sei que não há espaço para dúvidas. Hoje não.Descemos juntos, todos vestidos de forma impecável, e o carro nos espera. Durante o caminho para a sede, no coração do Rio de Janeiro, o silêncio no carro é quase palpável. Gian parece inquieto, Vivian e Felipe mantêm expressões neutras, mas sei que todos estão alertas.A sede da máfia italiana no Brasil é uma fortaleza. Quando entramos, o peso do lugar parece cair sobre nós. Subimos até a sala que Cesare costumava ocupar. Não é a primeira vez
Felipe Minha cabeça está cheia, e o silêncio do quarto parece amplificar cada pensamento. Penso na minha mãe, Giulia. Ela sempre foi uma figura de calma, quase resignada, enquanto Cesare reinava sobre nossas vidas como um imperador. Uma mulher doce, que parecia aceitar o papel que o destino havia imposto a ela.Mas agora, depois da morte dele, vejo outra versão dela. Forte, resolutiva, capaz de comandar qualquer sala em que entre. É como se a sombra de Cesare nunca tivesse permitido que ela brilhasse, mas agora ela é o próprio sol. Não sei se fico mais impressionado ou assustado com o que ela pode fazer.Então, minha mente vai para minha filha, a pequena Giulia. Minha filha com Beatriz. Só o pensamento dela faz meu peito apertar de amor e saudade. Ela é tão doce, tão inocente, tão diferente de tudo isso que nos cerca. E sei que minha mãe não vai descansar até ter a neta Giulia nos braços. É uma batalha que está apenas começando.Enquanto estou perdido nesses pensamentos, a porta se a