FelipeEu não costumo me perder em emoções, mas, quando Vivian me olha daquele jeito, seus olhos ainda vermelhos de chorar, mas brilhando de alívio, sinto uma onda de algo que nem sei como descrever. Orgulho? Felicidade? Talvez medo. Todas essas coisas misturadas. Tudo o que sei é que, ao segurar sua mão e sentir aquele momento, percebo que a minha vida acabou de mudar para sempre.Assim que saio do quarto, minha mente já está a mil. Eu preciso contar para a pequena Giulia. Não apenas porque ela é minha filha e merece saber, mas porque quero que ela seja parte disso desde o início. Caminho pelo corredor até encontrar minha mãe no jardim, ajudando Giulia a colher flores para um arranjo. Quando minha filha me vê, ela larga tudo e corre para mim, como sempre faz. Meu coração aperta com o gesto — aquela pureza dela, algo que quero proteger a todo custo.— Papai! — ela grita, abraçando minhas pernas.— Oi, minha princesa. Posso falar com você um instante? É importante. — Ergo-a nos braços
RafaelO toque das mãos dela no meu braço enquanto caminhamos pela calçada me desarma. Não é apenas a suavidade do gesto, mas o que ele carrega, a segurança, amor, uma conexão que há tempos encontrei e não me imagino viver sem ela. Beatriz sorri para mim de um jeito que faz o mundo ao nosso redor perder importância. Ali, com o sol da manhã aquecendo nossos passos e Rafa já seguro na creche, sinto uma paz que raramente consigo acessar. Mas junto com essa paz, algo se agita dentro de mim, um medo que nunca desaparece completamente.No laboratório, ela se inclina sobre o microscópio, os olhos brilhando com a mesma paixão que exibe quando fala sobre qualquer descoberta. Fico observando por um instante, perdido entre a admiração pela mulher que ela é e a gratidão por ela ter escolhido estar ao meu lado. Quando me aproximo, toco suavemente seu ombro, e ela ergue o rosto para mim com um sorriso que me deixa sem ar.— Está me espionando, doutor? — ela pergunta, o tom brincalhão iluminando o a
RafaelSerá que sou suficiente para ela?— Amor, pega o Rafa na creche, por favor. — Já estou indo Bia, quando voltar te ajudo com o jantar.O sorriso de Rafa ilumina meu mundo, assim que entro na creche para buscá-lo. Ele corre em minha direção com os braços abertos, e eu o pego no colo, girando-o no ar. Sua risada é um bálsamo para minha alma, dissipando qualquer resquício de dúvida que ainda rondava minha mente desde a conversa com Beatriz no laboratório.— Papai, fiz um desenho pra mamãe! — ele anuncia, agitando uma folha com rabiscos coloridos.— Tenho certeza de que ela vai adorar, campeão. Vamos lá mostrar pra ela?Rafa segura firme minha mão enquanto voltamos para casa. Ele fala sem parar sobre os amigos da creche, os brinquedos novos e a história que a professora contou. Tento prestar atenção em cada detalhe, mas minha mente já está em Beatriz. O olhar distante que ela tinha mais cedo não me escapa. Algo está pesando em seu coração, e eu preciso entender o que é.Ao entrar
FelipeO telefone vibra em cima da mesa, interrompendo a conversa animada que temos no jantar. O nome de Rafael aparece na tela, e sei que isso não é apenas uma ligação qualquer. Todos à mesa se calam enquanto atendo, sentindo o peso do silêncio. A pequena Giulia dorme tranquilamente no sofá da sala, um contraste com a tensão que rapidamente se instala no ambiente.— Rafael, tudo bem? — pergunto, tentando manter um tom leve.Do outro lado, ele é direto, mas sua voz carrega um tom de tristeza. — Felipe, Beatriz está sentindo muito a falta da Giulia. Ela tentou ser forte, mas não consegue mais. Acho que é hora de devolvê-la.As palavras pairam no ar como um soco. Olho para minha mãe, Giulia, que desvia os olhos da mesa. Ao redor, os rostos variam entre a surpresa e o entendimento. Meu coração pesa, mas sei que Rafael está certo.— Eu entendo, Rafael. Diga a Beatriz que vamos organizar tudo para levar a Giulia de volta em alguns dias.Quando desligo, o silêncio se torna quase insuportáve
GiuliaCada detalhe está em seu lugar, exceto a minha mente, que insiste em vagar. Estou caminhando pela mansão, inspecionando os cômodos, os corredores, o jardim. A casa respira história e poder, mas hoje sinto um peso diferente no ar. Quando encontro Don Falcone no escritório, ele levanta os olhos de um relatório, e sua presença parece dominar o ambiente. Não sei dizer se é por causa do que está acontecendo ou do jeito que ele me olha, mas alguma coisa mudou.— Don, que tal irmos juntos à sede? — sugiro, tentando parecer casual. — Temos muito trabalho acumulado e seria bom alinhar algumas coisas pessoalmente.Ele me observa por um instante, como se considerasse algo além do que eu disse, mas então assente. — Vamos.No carro, o silêncio entre nós é confortável, mas carregado. Na sede, trabalhamos em perfeita sintonia. É impressionante como nossas mentes se complementam; quando ele fala, já sei o que fazer, e ele parece antecipar meus pensamentos antes mesmo de eu dizer algo. Em me
Don FalconeEu me sinto como um garoto de quinze anos outra vez, perdido em uma confusão de sentimentos que não deveria mais pertencer a um homem da minha idade. Estou sentado no escritório, revisando relatórios que não conseguem prender minha atenção. A cada página, meus pensamentos são interrompidos por um par de olhos azuis, uma risada suave, o jeito firme e elegante de Giulia. E então, o beijo. Malldito beijo.Eu não deveria tê-la beijado. Não deveria sequer ter permitido que aquele momento acontecesse. Mas agora que aconteceu, não consigo apagar a sensação de seus lábios nos meus, do calor do seu corpo, do modo como ela gemeu, mesmo que suavemente. É insano, completamente insano, como ela me faz sentir algo que eu pensei ter morrido junto com a Anna.Estou dividido entre o desejo e a culpa. Anna foi a minha alma gêmea, a mulher que moldou a melhor versão de mim. Desde que ela partiu, me convenci de que meu coração havia sido enterrado com ela. Mas Giulia... ela mexe comigo de uma
FelipeEu nunca pensei que um sorriso tão pequeno pudesse carregar tanto peso. Giulia está no banco de trás, abraçando a sua boneca favorita, os cabelos loiros balançando ao vento, enquanto Vivian canta baixinho para ela. O carro desliza suavemente pela estrada, mas dentro de mim, a tensão é um nó que não se desfaz. Hoje é o último dia de Giulia conosco no Rio de Janeiro, e cada segundo parece escorrer pelos meus dedos como areia fina. Beatriz não aguenta mais a distância, e por mais que eu entenda, isso não torna a despedida mais fácil.Vivian segura minha mão enquanto dirijo. Seus olhos me observam com uma ternura que me desmonta. Ela sabe como estou me sentindo, porque sente o mesmo. Desde que soubemos que a pequena voltaria para a mãe, o clima entre nós ficou denso, mas decidimos não deixar isso apagar o brilho do dia de hoje. Esse é o nosso momento, e nada vai tirar isso de nós.Chegamos ao parque, um lugar cercado por montanhas e verde por todos os lados. O som da água correndo
GiuliaA água quente envolve meu corpo como um abraço, mas é o calor das minhas lembranças que realmente me consome. O vapor sobe ao meu redor, embaçando o espelho do banheiro, enquanto meus dedos deslizam pela pele molhada, massageando-a quase sem pensar. Não deveria estar pensando nisso, mas o beijo do Don Falcone continua invadindo a minha mente. A intensidade, o gosto, a forma como ele me segurou como se o mundo inteiro pudesse desmoronar ao nosso redor e ainda assim ele não me soltaria. Meu corpo reage à lembrança, uma onda de calor que não tem nada a ver com a água da banheira.Fecho os olhos e vejo o rosto dele, a expressão contida de desejo que se tornou inegavelmente explícita quando senti seu membro rígido pressionado contra mim. Minha respiração acelera, e uma inquietação toma conta de mim. Não posso continuar com esses pensamentos. Isso é errado, não é? Ou talvez seja apenas... inevitável.Saio da banheira, a água escorrendo pelo meu corpo em filetes quentes. Pego uma toa