RafaelNo caminho para o hospital, eu e David nos acomodamos no carro silenciosamente. A tensão do dia pesa, mas a presença de alguém que entende esse tipo de pressão ajuda. Depois de alguns minutos, David quebra o silêncio.— Sabe, Rafael, eu fiquei sem graça quando entrei no quarto da Beatriz. — Ele solta um riso nervoso e balança a cabeça.Eu olho para ele, surpreso, mas curioso.— Sem graça por quê?— Porque entrei no quarto de uma mulher casada sem sequer bater, eu não fui criado assim assim, eu respeito uma mulher solteira, imagine uma casada, eu tenho família, mãe, irmãs, filhas... Realmente quero me desculpar pelo ocorrido. — Ele faz uma pausa, ajustando os punhos de sua camisa. — Quero deixar claro que respeito Beatriz, e... ah cara, eu sou fiel à minha esposa.Assinto, entendendo o ponto.— Não precisa me explicar isso, David. Eu sei. — Sério, Rafael, eu sou louco pela Lizandra. Não consigo imaginar como seria ver alguém entrando no quarto dela sem aviso. Acho que perderi
BeatrizAssim que a porta se fecha, Rafael e David voltam ao lado da cama. Rafael segura minha mão, enquanto David olha para Lizandra, visivelmente preocupado.— Aproveitando que estamos todos aqui, acho importante explicarmos como está a situação das investigações e o que decidimos — diz Rafael, olhando para mim.Eu observo atentamente enquanto ele e David explicam sobre o condomínio, a segurança reforçada e a decisão de todos ficarem juntos.— É uma ideia incrível — digo, animada. — Fico mais tranquila sabendo que todos estão seguros e próximos.A conversa flui, e David até relaxa um pouco, soltando um comentário engraçado que faz Lizandra sorrir. Estamos discutindo os próximos passos quando o celular de Rafael vibra com uma mensagem. Ele lê rapidamente e nos olha com seriedade.— Acabamos de receber uma atualização da equipe. Parece que há uma novidade importante.Todos ficam atentos, esperando o próximo movimento, enquanto o clima de expectativa toma conta do quarto.Rafael rapid
Eu balanço a cabeça, determinada.— Não adianta, Rafael. Não vou sair do lado da minha filha. Você sabe o que eu passei. Ela quase morreu. Eu não a deixo aqui, de jeito nenhum, ela ainda precisa de UTI!Ele respira fundo, mas vê que não há como me convencer.— Muito bem, você fica. Mas você vai estar armada, e o hospital vai ser cercado de segurança.Minha mente entra em alerta.— Quero minha arma. Agora!David me encara, surpreso com a firmeza na minha voz, mas não diz nada. Rafael, sem argumentar, faz um gesto para um dos seguranças do hospital, que traz a arma. Pego-a e verifico o carregador instintivamente.— Vamos reforçar a segurança do hospital — Rafael diz, voltando-se para David. — David, preciso que você e Lizandra vão para o condomínio. A segurança dela também é prioridade.David hesita por um momento, olhando para Lizandra, que parece relutar em sair.— Lizandra, é melhor irmos. Aqui já está sob controle — ele tenta convencê-la.— Não sem Beatriz e Giulia.— Eu vou cuidar
Othon— Então é isso — concluo. — Estamos lidando com uma organização que não tem medo de sujar as mãos. Vamos fazer o mesmo.Yana aperta minha mão de leve, um gesto de apoio silencioso. Ao meu lado, Rafael e David se preparam para os próximos passos. Estamos todos no mesmo barco agora. Não há espaço para erros.Após traçarmos as primeiras estratégias, a sala se esvazia aos poucos. Rafael, David e eu permanecemos por mais alguns minutos conectados, ajustando detalhes enquanto Yana e Liam compilam as informações finais.— Não dá para ignorar o alcance dessa gente — digo, olhando para os arquivos na tela. — Eduardo Loureiro e Gustavo Herrera não são peões. Eles têm poder, influência, e provavelmente estão jogando em várias frentes.David passa a mão pelo rosto, um gesto que revela sua preocupação.— Não só isso, Othon. Esses homens podem estar conectados a outras organizações. Se a Nonsanty estiver usando a máfia local para proteger suas operações, estaremos lidando com um ninho de cob
Othon— Concordo. Não deixaremos nada ao acaso. Vou reforçar os homens aqui e no condomínio, vamos fazer algumas substituições sem aviso prévio.Yana chega logo depois, com mais atualizações. Ela nos informa que as equipes já estão monitorando os endereços de Loureiro e Herrera. O foco agora é rastrear qualquer ligação direta entre eles e a planta da Nonsanty em Dias D’ÁvilaAntes que possamos continuar discutindo, Giulia mexe os pequenos dedos e murmura algo que faz Beatriz e Rafael se aproximarem imediatamente.— Papai... mamãe...As palavras saem fracas, mas claras o suficiente para arrancar lágrimas de ambos. Rafael segura a mão da filha, enquanto Beatriz acaricia seu rosto, a expressão suavizando pela primeira vez em horas.David olha para mim, o rosto endurecido.— Isso vai acabar. Esses desgraçados não vão sair impunes.— Pode apostar nisso. — respondo, sentindo a raiva fervendo sob a superfície.O que quer que aconteça a seguir, uma coisa é certa, não haverá piedade para quem
LiamChego em Dias d’Ávila sob o sol escaldante da Bahia, sentindo o ar quente misturado ao cheiro fresco de mato e terra. É uma cidade pequena, mas charmosa, com suas ruas tranquilas e um movimento que parece seguir um ritmo próprio, desacelerado, como se o tempo corresse de forma diferente aqui.Logo percebo que há apenas três semáforos espalhados pelas principais avenidas. Eles parecem quase simbólicos, regulando um trânsito que, na maior parte do tempo, flui calmamente. Os moradores andam pelas ruas com uma leveza que contrasta com a intensidade do polo petroquímico de Camaçari, ali ao lado, que praticamente define a economia da região.Meu objetivo aqui, no entanto, não é admirar o estilo de vida. A Nonsanty tem chamado atenção, e minha missão é descobrir o que há por trás de uma empresa que parece operar na sombra, em um local onde todos conhecem todos.A primeira coisa que me chama atenção são os bares e pequenas lanchonetes no centro da cidade. São cheios de histórias e conver
FelipeO condomínio de Rafael é surpreendentemente tranquilo, quase como se fosse um refúgio em meio ao caos que geralmente cerca nossas vidas. Enquanto caminho de volta para a casa em que estou hospedado, sinto uma calma que há tempos não experimentava. É irônico, penso, que aqui, no coração da máfia americana, eu me sinta mais em casa do que com minha própria família e organização.Minha mente vagueia para meu retorno ao Rio de Janeiro. Como vai ser quando eu voltar? A tensão com meu pai é inevitável. Algo me diz que ele tem mais a ver com o atentado contra Beatriz do que aparenta, mas ainda não tenho provas. Isso me consome, mas aqui, ao menos, posso respirar e focar em estratégias.Passo por um jardim bem cuidado, cheio de espécies que reconheço e outras que me são estranhas. A variedade de plantas me distrai, e me pego admirando a dedicação de quem cuida desse lugar. É quando ouço passos leves atrás de mim.— Bonito, não é? — uma voz feminina diz, quase musical.Viro-me e vejo um
RafaelSentado à cabeceira da mesa da sala de conferências, observo o grupo ao meu redor. Cada rosto traz a seriedade que o momento exige. Othon, Felipe, Marcos, André, Marlon, Tobias e David estão imersos na discussão sobre os próximos passos. A tensão é palpável, mas estamos alinhados. A máfia americana e argentina estão unidas, pelo menos por enquanto.Tobias começa a falar. Ele narra os detalhes do atentado contra Beatriz e Giulia, sua voz firme enquanto descreve o que viu.— Quando começaram a atirar, eu e Marlon revidamos. Fizemos o possível para manter a segurança delas, mas a coisa piorou quando o carro capotou após a batida lateral.Tobias faz uma pausa, o rosto sombrio enquanto continua:— Vi um homem descendo do veículo com uma arma em punho. Estava claro que ele queria finalizar a Beatriz. Não tive escolha. Atirei nele, mas o desgraçado estava de colete. Ele se jogou no carro e fugiu em alta velocidade.Marcos bate a mão na mesa, indignado, mas Tobias levanta a mão pedindo